domingo, 6 de setembro de 2020

The Inside Job - A Verdade da Crise

Dizem-nos que esta pandemia é a pior crise que há memória, ainda assim eu não tenho visto bancos e seguradoras a falir, ou gestores a suicidarem-se. E agora que passam doze anos da crise de 2008 do subprime americano, achei por bem relembrar como tudo aconteceu e ver o documentário "The Inside Job (A verdade da crise) que venceu o Óscar de melhor documentário em 2011. Como dizem que a memória coletiva só dura dez anos, se calhar convinha a muita gente ver ou rever para se lembrar do que foi esta crise, quem a provocou e de como continua basicamente tudo na mesma. Um filme que recomendo vivamente.

"Em Setembro de 2008, a falencia do banco de investimento dos EUA Lehman Brothers e o colapso da maior companhia de seguros do mundo, a AIG desencadearam uma crise financeira global. 

Esta crise não foi um acidente. Foi causada por uma indústria descontrolada. Desde 1980 o crescimento do setor financeiro americano provocou crises cada vez mais dramáticas. Cada crise provocou mais danos, e, paralelamente, a indústria ganhou cada vez mais dinheiro.  

Depois da grande depressão os EUA viveram 40 anos de crescimento económico, sem que se desse uma única crise financeira. O setor financeiro estava escrupulosamente regulado. Na sua maioria os bancos eram empresas locais e era-lhes proibido especular com as poupanças dos clientes. Os bancos de investimento, que transacionavam ações e obrigações eram sociedades pequenas e privadas. 

A administração Reagon, apoiada por economistas e lobbyistas financeiros, deu início a um período de 30 anos de desregulação financeira....

Porque é que existem os grandes bancos? Porque os bancos gostam do poder dos monopólios. Porque os bancos gostam do poder das influencias. Porque os bancos sabem que quando são demasiado grandes, serão salvos. 

Há trinta anos, se pedisse um empréstimo para comprar uma casa, o empréstimo era concedido por alguém que contava recuperar o seu dinheiro. Desde então criou-se a securitização, e quem concede um empréstimo já não corre riscos se o devedor não pagar.

No sistema antigo, quando um proprietário pagava a sua hipoteca todos os meses, o dinheiro ia para a entidade de crédito local. E como se tratava dum empréstimo de longa duração, as entidades eram cautelosas. No novo sistema as entidades venderam as hipotecas a bancos de investimento. Estes reuniram milhares de hipotecas e outros empréstimos, para criar produtos derivados complexos, a que chamaram ativos tóxicos ou CDO (collateralized debt obligations). Os bancos de investimento venderam os CDO a investidores. Neste modelo, quando os proprietários pagavam a sua hipoteca, o dinheiro ia para investidores espalhados por todo o mundo. Os bancos de investimento contratavam agências de rating para avaliar os CDO e muitos deles receberam a cotação de AAA, a nota mais alta em termos de investimento. O sistema era uma bomba-relógio. Às entidades já não interessava se o proponente podia pagar por isso começaram a fazer empréstimos de maior risco. Os bancos de investimento também não se preocupavam. Quantos mais CDO vendessem mais altos eram os seus lucros. E as agências de rating, que eram pagas pelos bancos de investimento, não eram responsabilizadas se a cotação dum CDO se revelasse mal atribuída. 

Entre 2000 e 2003, o número de empréstimos para hipotecas quase quadriplicou.

A banca de investimento referia empréstimos subprime por terem taxas mais altas. Isto conduziu a um aumento intensivo dos empréstimos predatórios. Alguns empréstimos tinham taxas de subprime desnecessariamente  e foram concedidos muitos empréstimos a quem não podia pagá-los. 

Em 2007 a Goldman foi ainda mais longe. Começou a vender CDO concebidos de forma  a que quanto mais os clientes perdessem, maiores fossem os lucros da Goldman Sachs. 

Em 2008 as execuções tinham disparado em flecha da "cadeia-alimentar" securitizada. As entidades de crédito não conseguiam vender os empréstimos à banca de investimento e, à medida que as hipotecas iam sendo executadas, dezenas delas faliram.

Sexta-feira 12 de Setembro o Lehman Brothers ficara sem liquidez e a banca de investimento afundava-se rapidamente. A estabilidade do sistema financeiro global estava comprometida.

A 4 de Outubro de 2008 Bush aprovou uma fatura de resgate de 700 mil milhões. Mas as bolsas continuaram a cair com receio duma recessão global já implantada.

Os homens que destruíram as suas próprias empresas e lançaram o mundo numa crise afastaram-se dos destroços com as suas fortunas intactas. Os cinco executivos de topo do Lehman Brothers ganharam mais de mil milhões entre 2000 e 2007. E quando a empresa foi à falência eles ficaram com o dinheiro todo. 

Porque há-de um engenheiro fianceiro receber entre 4 a 100 vezes mais do que um engenheiro normal? Um engenheiro normal constrói pontes; um engenheiro financeiro constrói sonhos. E quando esses sonhos se transformam em pesadelos, foram os outros a pagá-lo.

O sistema financeiro americano foi seguro durante décadas. Mas depois algo mudou. O setor financeiro virou costas à sociedade, corrompeu o nosso sistema político e fez mergulhar a economia mundial numa crise. Com imenso esforço, evitámos o desastre e estamos a recuperar. Mas os homens e as instituições responsáveis pela crise continuam no poder. E isso tem que mudar. Eles dirão que precisamos delese que aquilo que eles fazem é demasiado complicado para que possamos entender. Dirão que não volta a acontecer. Vão despender milhares de milhões a combater a reforma. Não será fácil. Mas há coisas por que vale a pena lutar.



Inside Job - Charles Ferguson (2010)

2 comentários:

  1. Olá,
    muito boa esta sua exposição.
    E que tal também pensarmos em grande e olharmos para esta pandemia que está e matar, a arruinar, a deixar sem emprego, sem saúde.... uma boa parte da humanidade ?
    Crise para quem ? Sempre para os mesmos.
    Da culpa de quem ? Sempre dos mesmos.
    Sim porque mesmo não seguindo todas as notícias diárias e desastrosas que nos entram pela casa dentro todos os dias, há coisas que não nos passam ao lado, e numa entrevista francesa, ouvi que o Vírus foi criado no Instituto PASTEUR em 2003 para criar uma vacina. Vacina essa que, em acordo com a Microsoft em 2018, para o lançamento da 5G, é portadora de nanopartículas e ao ser injetada no ser humano o torna vulnerável. Assim sendo é útil reduzir a população para melhor ter o seu controlo. Hitler e Salazar devem certamente ter deixado clones pois agora estes estão fechados em laboratórios para nos tramar pela calada. (http://vérité.covid.19.fr)
    Boa noite.

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  2. Olá Tina boa noite,

    Nesta questão da pandemia eu não sou muito apologista de teorias da conspiração. Mais, duvido que alguma vacina vá resolver o que quer que seja. Se estiver errado cá darei a mão à palmatótia! Agora, claro, há sempre muita coisa que nós não sabemos, mas é sempre preciso algum cuidado com profecias reveladas à posteriori ;) e sobre esta pandemia muita gente fui avisando... e é também muito culpa da forma como estamos a tratar o ambiente...

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