* Artigo publicado hoje na Folha de São de Paulo por Ricardo Araújo Pereira
"E cá estamos novamente. O sistema financeiro opera sem freio nem regulação, dois ou três bancos vão à falência, o Estado intervêm para evitar o efeito de contágio, os bancos falidos prometem se comportar e, uns anos depois, começa tudo outra vez.
E cá estamos novamente. O Silicon Valley Bank, o Signature Bank e o Credit Suisse estão em dificuldades. O mais fascinante, para mim, é a frequência com que bancos caem. O negócio dos bancos é infalível. Trata-se de comprar dinheiro barato e vendê-lo mais caro. Eles comercializam um produto de que todo o mundo gosta e que não estraga. Nunca ninguém foi ao banco dizer: “Desculpem, estas notas são da semana passada. Este dinheiro não está fresco”. Nunca.
Os bancos são administrados por pessoas que estudaram nas melhores universidades e usam as melhores gravatas. É gente inteligentíssima a gerir um negócio seguríssimo. Ainda assim, os bancos vão à falência constantemente.
No entanto, há bastantes sinais de que os bancos são administrados por gente superior ao mortal comum. Quando o mortal comum vai à falência, ele vai à falência. O banco é recapitalizado.
Não é uma ajuda: é uma recapitalização. Ajudas são para pobres, que não conseguem se governar. Esses devolvem a ajuda com juros dolorosos, para não se esquecerem do que fizeram. Mesmo que alguém quisesse, não poderia recapitalizar um pobre, porque ele nunca teve capital para começar.
O ramo mais atraente para quem quer construir uma carreira de sucesso é ser proprietário de um banco falido. Enquanto o banco não vai à falência, os acionistas retiram todos os benefícios que ser banqueiro oferece; quando vai à falência, não suportam nenhuma das desvantagens de falir - o Estado toma conta de tudo.
Quem deve R$ 5.000 pode ter problemas: intimações, tribunais, penhoras. Quem deve R$ 5 milhões, em princípio, está mais à vontade. Se você contrair empréstimos, já sabe: o segredo é apontar para cima.
Para os devedores, aplica-se o mesmo princípio de mérito que rege o resto da sociedade: os maiores e mais talentosos têm mais dinheiro e prestígio.
Eu teria todo o gosto em fundar um banco falido. Desgraçadamente, não tenho curso de economia ou gestão e temo que a minha falta de preparação técnica me levasse a criar um banco bem-sucedido e próspero. Só os mais conceituados e bem pagos gestores parecem ter a capacidade para conduzir um banco estrondosamente à bancarrota.
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