domingo, 5 de março de 2023

As Fotografias que me Pediste para Apagar


 Não é assim que se começa, mas, sinceramente, acho mesmo que nem sei por onde começar. Faz tanto tempo.... E logo eu que escrevo (e falo) como um soldado com uma metralhadora descontrolada. Mas tenho andado tão desgastado, físico e mentalmente, que pouco ou nada tenho escrito nos blogues que até estão todos de parabéns porque este ano fazem dez anos. 

O título já tinha há várias semanas guardado no rascunhos: "As fotografias que me pediste para apagar". Depois, quando chegar ao fim, logo vejo se o mantenho o título ou se crio outro qualquer. Sempre que escrevo não tenho uma regra, na maior parte dos casos escrevo o texto e só depois no fim dou o título, mas noutros casos, como creio que será este o caso, já tenho o título na cabeça e depois desenvolvo o texto por forma a ser coerente com o título. Eu sei, e não é falsa modéstia, que não sei escrever - e olha que até num curso de escrita criativa já estive - mas ao menos acho que consigo sempre uns títulos bastante criativos!

Já por várias vezes me apeteceu escrever-te. E ei sei perfeitamente que só poderia ser por aqui. Corro até o risco da mensagem não te chegar, que será o mais provável, mas será assim mesmo. Acho que não tenho o direito de te enviar um e-mail. Fico-me aqui pelo meu diário que ninguém lê. 

Concordei que nos afastássemos. Foste pedindo, primeiro com jeitinho, depois com alguma insistência e, após muita resistência da minha parte, porque não desisto sem dar luta, lá acedi (não sei se a deixar de ser egoísta) e a deixar-te ir...

Um dia destes reli a tua carta (que está aqui na mesinha de cabeceira) e esse talvez tivesse sido um dia bom para te escrever pois estava com as emoções à flor da pele. E que carta tão bonita que me escreveste... Tu escreves muito bem, ter-te-ei dito isso na altura, e se assim foi volto agora a repetir-me. 

Se a memória não me atraiçoa, neste momento em que escrevo estamos a dias fazer seis anos. Seis anos que fui operado e seis anos que nos afastamos. Afastamo-nos porque tu gostavas demais de mim. Mas também porque, aos poucos, comecei a aperceber-me que, sempre que nos encontrávamos, as minhas mãos só sabiam procurar as tuas. Acho que esse foi o sinal por demais evidente para mim, que também eu, aos poucos, comecei a gostar demais de ti. 

(dias depois...)

E seis anos é tanto tempo... 

Foste a única pessoa que me veio ver. Creio que já tinha tirado os pontos ou agrafos ou lá o que era. E vieste tu, lá do teu reino, de tão longe, só para estar dez ou quinze minutos comigo, só para te certificares que eu estava bem. E, partindo-me quase dois costelas, abraçaste-me e voaste para longe de mim...

Por estes dias meti-me na carroça e rumei a sul e, por mera obra do acaso, passei no exato local onde nos encontramos pela primeira vez e, apesar do tempo ir apagando algumas coisas, de imediato aquele local fez-me viajar para ti e para esse primeiro dia que nos encontramos. 

No dia seguinte estive naquele parque daquela cidade que adotamos para os nossos encontros. O parque foi renovado, está mais cuidado, e a estufa, junto à qual te roubei aquelas duas fotografias - desculpa!, mas não podes dizer que roubei porque foram de comum acordo! essas mesmas que depois tantas vezes me imploraste para eu apagar, e essa mesma estufa está hoje ainda mais branca do que na altura.

Estou a pensar lá voltar este ano, no mesmo feriado do dia em que nos encontramos pela primeira vez. Quem sabe talvez revisite todos os sítios onde estivemos juntos. Quem sabe até não leve duas bicicletas. Ou uma mantinha. Não vá por artes mágicas tu leres esta mensagem e quereres também aparecer...

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