domingo, 12 de março de 2023

Como é Lindo Portugal com 75% de Analfabetos

Escrevia ontem Hélder Pacheco no JN:

"Em 5 de Fevereiro de 1927, no jornal "O Século", D. Virgínia de Castro e Almeida, autora de obras de literatura infantil e juvenil, escreveu: "(...) Aprenderam a ler! Que lêem? Relações de crimes; noções erradas de política; livros maus; folhetos de propaganda subversiva. Largam a enxada, desinteressam-se da terra e só têm uma ambição: serem empregados públicos. Que vantagens foram buscar à escoºla? Nenhuma. Nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os que esquecem as letras e voltam à enxada. A parte mais linda, mais forte e mais saudável da alma portuguesa reside nesses 75% de analfabetos".



1927 foi o ano da graça do nascimento do meu avô materno e um ano antes, a 26 de Maio o golpe de Estado que manteve o país sob o jugo de cinquenta anos de ditatura fascista católica. 

É curioso que, tantos anos se passaram, mas ainda hoje, em pleno século XXI, muitos ainda acham que a escola é uma perda de tempo. Passos Coelho reintroduziu o exame da 4a classe, porque o que é preciso é fazer a instrução primária e depois ir trabalhar, porque o trabalho dignifica, mas dignifica especialmente os pobres (de quem dizem que será o reino dos céus, melhor ainda se forem abusados pelos padres). Já as crianças filhas de papás ricos, essas não! Deus nosso senhor nos livre e guarde que se misturem com os pobrezinhos! Assunção Cristas, ministra e ex-líder do defunto CDS que "tem horrô à pobre", até dizia que vestia calças de ganga e botas só para ir visitar os bairros sociais porque uma pessoa quando se mistura com pobres ainda apanha uma doença venérea!

Cavaco Silva, introduziu as propinas na universidade e e criou a PGA, uma espécie de exame para limitar o acesso ao ensino superior (mais ou menos como ainda hoje as Ordem profissionais fazem para travar quem termina a universidade formado) e o CDS defende o recuso do ensino obrigatório para o 9ºano de escolaridade ao mesmo tempo que, sem se rir, defendeu que quem pode pagar deve poder meter os seus filhos na universidade. 

Vivemos tempos em que os responsáveis políticos de direita espumam pela boca com as aulas de cidadania como continuam a espumar contra tudo que seja aulas de educação sexual. 

No fundo, para uma certa elite burguesa portuguesa, no passado como ainda hoje em dia, lindo é um país analfabeto onde só os privilegiados tenham acesso a oportunidades. 

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