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sábado, 22 de março de 2025

Ter Salários Dignos Não Arruína a Economia ou O Último Prego no Caixão do Neoliberalismo

Como introdução a mais um artigo que aqui quero deixar (principalmente para mim mas que, por certo também poderá interessar a outro qualquer leitor fantasma) poderia começar por dizer que não percebo nada de economia, mas, se calhar, a grande maioria dos economistas da nossa praça também não!

Depois de anos com a mesma ladainha de sempre "ai, não, não se pode aumentar os salários porque isso é mau para a economia e as empresas não aguentam" e lembrar aquele arauto da economia portuguesa, formado pela Católica, João César das Neves a dizer o aumento do salário mínimo é muito mau para os pobres, como pudemos ver nos últimos anos, tudo isso era um mito absurdo.


"O salário mínimo aumentou 61% em Espanha desde 2018, um crescimento vertiginoso que - apesar da recente explosão da inflação - supera em cerca de 40 pontos percentuais a evolução dos preços desde então. De 736 para 1184€ brutos por mês em 14 pagamentos, alcançando, segundo as estimativas do Governo, 60% do salário médio dos espanhóis. 

Em paralelo, e impulsionado por um ciclo económico expansivo, a taxa de desemprego caiu de forma sustentada, o nível de emprego cresceu ligeiramente e a desigualdade salarial atenuou-se. Embora se registem algumas travagens moderadas na criação potencial de postos de trabalho, a maioria dos analistas concorda que os aumentos do SMI trouxeram mais consequências positivas do que negativas. Uma conclusão comum a outras geografias e que coloca em causa algumas ideias que pareciam imutáveis.

Espanha não é, de longe, o único país que aumentou o salário mínimo nos últimos anos. Em períodos marcados pela forte inflação pós-pandemia e pela escalada abrupta dos preços da energia, outros países também reforçaram os seus salários mínimos. De um modo geral, novamente, com mais vantagens do que desvantagens. O caso do México é um exemplo disso. Ou o da Califórnia, um dos estados dos EUA que mais aumentou este indicador. Ou, mais perto, o de vários países da Europa de Leste, com a Roménia e a Bulgária à frente, onde os aumentos de dois dígitos se tornaram norma, melhorando a vida de milhões de trabalhadores.

Os supostos efeitos negativos, amplamente teorizados por muitos economistas e empresários - e contestados apenas por alguns, com os laureados com o Prémio Nobel da Economia David Card e Alan Krueger à cabeça - não se concretizaram. Os preços subiram, sim, mas por razões alheias ao salário mínimo. E, longe de ser um inimigo do pleno emprego, o desemprego está próximo de mínimos históricos.

Manuais desatualizados


Essas ideias, firmemente enraizadas no imaginário coletivo da economia neoclássica e nos manuais com que se formaram (e continuam a formar-se) várias gerações de académicos, começam a desmoronar-se. “O caso do salário mínimo é mais um exemplo de conceitos que a ortodoxia económica tomou como certos nos últimos 50 anos e que caíram desde 2008; argumentos que, carregados de ideologia, eram considerados inquestionáveis e não o são”, afirma Xosé Carlos Arias, autor do recém-publicado O tempo é ouro. Economia política do nanosegundo. “Quer isto dizer que o salário mínimo pode subir indefinidamente? Não, claro que há um limite… Mas parece ser mais elevado do que se pensava”.

“Os modelos convencionais falharam, sobrestimando os impactos negativos e subestimando os positivos”, acrescenta Juan Carlos Moreno Brid, professor de Economia da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Porquê? “Em grande parte, porque assumiam que o mercado de trabalho funcionava como o das laranjas. E não é assim… O mercado laboral é, sem dúvida, onde a economia neoclássica mais falhou na sua compreensão.”

Uma linha de pensamento partilhada por Attila Lindner, investigador do instituto alemão IZA, especializado em economia do trabalho, e professor no University College de Londres, com inúmeras investigações sobre o tema. “A evidência empírica sobre o salário mínimo sugere que, nos níveis atuais [no Ocidente], esta política tem efeitos mínimos sobre o emprego, ao mesmo tempo que aumenta significativamente a remuneração dos trabalhadores com salários mais baixos”. Algo, conclui, “difícil de conciliar com a visão neoclássica dos mercados laborais que dominou a profissão até ao início dos anos 2000, e que revela limitações importantes da teoria económica tradicional”.

Ao contrário de tantas outras variáveis laborais em que Espanha costuma estar na cauda da Europa, no que toca ao salário mínimo está agora perto do topo. Os seus 1.184 euros mensais são o quinto valor mais elevado da Europa, superado largamente pelos 2.261 euros do Luxemburgo, 1.956 da Irlanda ou 1.880 dos Países Baixos, todos eles países onde o custo de vida supera em muito o espanhol. Nada a ver com a realidade de há alguns anos, quando o salário mínimo espanhol estava entre os mais baixos da União Europeia.

Se tomarmos como referência 2018 - antes da pandemia e do forte aumento do SMN em Espanha -, o salário mínimo cresceu 61% desde então, enquanto os preços subiram apenas 19%. Esta diferença é ainda mais notória em países do leste e norte da Europa: na Lituânia, por exemplo, os preços aumentaram 41%, mas o salário mínimo subiu 160% (de um valor inicial muito baixo, 400 euros em 12 pagamentos, para os atuais 1.038 euros). Em Montenegro, Albânia e Croácia verifica-se um fenómeno semelhante. Também na Alemanha (+19%) e nos Países Baixos (+11%) houve ganhos significativos no poder de compra do salário mínimo.

Um raio de esperança

No México, os resultados foram igualmente claros. Durante os seis anos de presidência de Andrés Manuel López Obrador, o salário mínimo - que partia de valores muito baixos, mais típicos de economias empobrecidas do que de um país de rendimento médio - mais do que duplicou. Isto pôs fim a décadas de estagnação e trouxe esperança a milhões de trabalhadores. E, mais uma vez, sem o temido “efeito cascata”, que pressupunha que qualquer aumento do salário mínimo levaria automaticamente a uma subida de todos os salários, o principal argumento dos economistas (e políticos) tradicionalmente contra essa medida.

Rosalía Vázquez-Álvarez, economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e especialista em salários, assinala que, entre 2021 e 2022, 57% dos países do mundo aumentaram o salário mínimo nominal. Entre 2022 e 2023, a percentagem subiu para 59%. “Isto representa um aumento substancial em comparação com anos anteriores, o que indica que, em muitos mais países do que se esperava, as políticas de salário mínimo responderam de forma firme ao aumento da inflação”, comenta.

Os aumentos coincidiram com novos estudos científicos sobre o impacto do salário mínimo, que se viram reforçados pelos dados dos últimos anos. Foi neste contexto que a Academia Sueca concedeu o Prémio Nobel de Economia a David Card, reconhecendo a sua tese que contrariava a crença generalizada de que aumentos do salário mínimo destruiriam empregos. “Os aumentos no salário mínimo não têm necessariamente de levar à destruição de emprego”, justificou a Academia.

A conclusão geral não é que o aumento do salário mínimo não possa ter efeitos negativos, mas sim que não há uma consequência automática e que os aumentos recentes têm trazido mais benefícios do que prejuízos. Como enfatiza Luis Ayala, professor de Economia na UNED, “os estudos mais recentes mostram que os efeitos negativos sobre o emprego são pequenos, enquanto os efeitos positivos sobre a desigualdade salarial são muito comuns”.

A evidência empírica sugere que um salário mínimo bem implementado reduz a desigualdade e melhora a vida dos trabalhadores, sem que isso resulte numa perda significativa de empregos. A economia evolui e, com ela, o entendimento sobre os impactos das políticas salariais.

"Tener sueldos dignos no arruina la economía" / El País 

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Editado:

Entretanto ficamos a saber que Espanha teve ser o maior superavit dos últimos trinta anos. E Ana Gomes partilha o meu post no Bluesky a satirizar o economista da Católica:

domingo, 7 de janeiro de 2024

Amar o Trabalho é Abraçar a Nossa Escravidão - Mais Glamour e Menos Salário

Tema extremamente interessante sobre as novas formas como as empresas, continuando a explorar e pagar mal aos trabalhadores, os seduzem a amar onde estão e o que fazem. Artigo de Juan Boix (escritor e professor de Filosofía e da Cultura na Universidade Complutense de Madrid) publicado no El País a 7 de Janeiro de 2023



Amar o trabalho é abraçar nossa submissão. As empresas comprovaram que cuidar do vínculo com o trabalhador aumentava a produtividade. É por isso que eles tentam nos seduzir de modo que a esfera do trabalho se confunde com a vida

Conheci a N. numa aplicação de encontros. Passeamos por Alicante à procura de uma pizzaria e conversamos sobre as nossas ocupações. N. estuda Belas Artes e trabalha num outlet de roupa desportiva. Ela conta-me que o seu trabalho é um pouco aborrecido, mas que coloca música nos auscultadores e as horas passam. E depois continua com desconcerto: as suas colegas estão encantadas com a empresa. Tem valores verdes e feministas, oferece-lhes um desconto em toda a loja e recompensa-as com um bónus se trabalharem a um bom ritmo. Um cocktail de ética verde, competição e chantagem consumista torna encantador um trabalho mal remunerado que consiste em empilhar caixas de sapatilhas para fazer exercício e ficar em forma para empilhar mais caixas de sapatilhas. Não imaginava encontrar, numa única tarde, semelhante desfile de sedução.

Paul Lafargue escreveu em "O Direito à Preguiça" que todas as misérias das sociedades capitalistas tinham uma única causa, e essa causa é o amor ao trabalho. Lafargue não se refere à ganância ou à inveja, mas à paixão desenfreada que os próprios trabalhadores sentem pelas suas ocupações. Assim, situava a fonte das nossas fadigas na esfera da reprodução social, uma mudança de perspetiva que nos permite questionar o trabalho a partir do afeto e da sua economia libidinal: como aprendemos a amá-lo? Quem o tornou tão atrativo, tão estranhamente edificante? Por que razão os nossos trabalhos nos deslumbram com uma retórica de vida boa quando só impedem isso, saturando com as suas exigências todos os tempos, todos os afetos, todas as capacidades que temos?

No seu livro "Intimidades Congeladas", a socióloga Eva Illouz fala-nos das experiências Hawthorne, desenvolvidos por Elton Mayo na Chicago dos anos vinte. Os resultados revelaram que a produtividade não aumentava tanto com uma melhoria das condições materiais do local de trabalho, mas prestando atenção aos operários. Mostravam que o cuidado de um vínculo afetivo entre trabalhador e empresa era uma chave para o sucesso e uma exploração tão sofisticada quanto desconhecida. A partir desse momento, avalia Illouz, o estilo empresarial e a gestão começaram a revolucionar-se, e as empresas dedicaram-se a investir nas obscuras artes da sedução: encheram-se de psicólogos e coaches ontológicos, transformaram o seu ambiente num espaço sinistramente amigável, empunharam as bandeiras da ajuda humanitária. O que Mayo descobriu nos anos vinte, o filme "Monstros SA" ensinava-nos em 2001: as paixões alegres geram muito mais energia do que o medo.

Não importa que trabalho tenhas, qualificado ou não, manual ou intelectual, sedentário ou nómade. Não importa se empilhas caixas ou ensinas álgebra, o trabalho tentará sempre seduzir-te, confundindo-se com a tua vida, com a sua crença, com os seus valores, com os seus anseios. A chave da servidão já não está em governar o corpo com várias disciplinas, como nos tempos do capitalismo industrial, mas em governar as almas, ou seja, governar o desejo. Trata-se de envolver completamente o sujeito no comportamento que deve seguir, como explicam os pensadores Christian Laval e Pierre Dardot, de relativizar a rigorosa fronteira entre lazer e negócio em favor do capital. O amor ao trabalho denunciado por Lafargue, em suma, é uma versão contemporânea do que La Boétie chamou de servidão voluntária: amar o trabalho é abraçar a nossa submissão.

Se atentarmos para o que o sociólogo Renyi Hong explica em "Passionate Work", essa gíria do entusiasmo conta com dois traços essenciais. O primeiro é uma armadilha ideológica: devemos ser felizes e viver bem apesar das dificuldades económicas. O segundo passa por reconhecer que a paixão pelo trabalho não é apenas um sentimento, mas uma estrutura afetiva: as formas contemporâneas do trabalho tornaram-se ao mesmo tempo mais desejáveis e mais exploradoras, de modo que nos pedem para seguir os nossos sonhos precisamente para combater os problemas económicos. A paixão pelo trabalho é mobilizada como um escudo, um meio de atenuar o esgotamento psíquico da incerteza económica e da escassez de rendimento. Assim, o trabalho deixa de ser um espaço de exercício da virtude ("o trabalho dignifica") para ser interpretado em termos de compensação psicológica ("não reclames, trabalhas no que gosta"): oferece-nos mais glamour e menos salário, disfarça a precariedade com as vestimentas da aventura, chama de flexibilidade à disponibilidade absoluta. A realização pessoal prometida é uma exigência velada de não parar de trabalhar, de nos tornarmos emocionalmente dependentes da nossa ocupação. Estamos diante de uma nova cultura das emoções onde estar motivado é sinónimo tanto de alto desempenho quanto da ausência de qualquer questionamento crítico.

O que quero dizer, explica-me N. com uma fatia de pizza na mão, é que às vezes temos que nos proteger do que desejamos, como clamava a artista Jenny Holzer nos seus letreiros luminosos. Ou, pelo menos, temos de estar cientes de como desejamos, do que damos quando amamos: já que temos de vender a nossa alma para pagar o aluguer e os carboidratos, vendamo-la um pouco caro. Se os ensinamentos do nosso coração sobre a vocação e suas fanfarrices nos levaram a estar submetidos em nome da liberdade e da paixão, a dissidência consiste em perguntarmos se podemos amar de forma diferente, se podemos transformar a maneira como desejamos para boicotar assim a cultura das emoções profissionais.

E o certo, felizmente, é que não estamos sozinhos neste aprendizagem do desamor. Onde parecia ser necessário trabalhar 10 ou até 12 horas, a greve de La Canadiense mostrou-nos, em 1919, em Barcelona, que bastava trabalhar oito, e hoje entendemos que é suficiente com 32 horas semanais. Onde parecia que as mulheres tinham que se dedicar ao lar e que o seu trabalho não era trabalho, mas o tributo devido ao seu amor, as greves feministas que começaram na Argentina em 2016 criticaram a divisão sexual do trabalho e deram visibilidade àquela maioria silenciosa que se desdobra em casa e não recebe salário.

Na segunda metade de 2021, cerca de vinte e cinco milhões de americanos deixaram os seus empregos: queriam uma vida com menos reputação e mais saúde mental, disse-se. O fenómeno foi apelidado de "A Grande Renúncia", e embora tenha durado muito pouco, aspirava a inaugurar o que o The New York Times chamou de "a era da anti-ambição". As greves na França na última primavera contra a reforma das pensões levantaram-se para reivindicar que a vida está noutro lugar, para além da meritocracia. Todas estas são histórias de desamor, mas de desamor bom: ensinam-nos a desapaixonar-nos do trabalho. Lembram-nos que a nossa relação tóxica com o nosso emprego não é incondicional, incentivam-nos a viver e amar de outra maneira. Porque não é amor. O que sentimos chama-se obsessão.

Apenas quando o proletariado se desapaixonar e disser "eu não quero", todas as misérias capitalistas se dissiparão, promete Lafargue. Apenas desapaixonando-nos do trabalho poderemos direcionar nosso desejo para inventar uma vida boa. Não voltei a ver N., creio que agora vive em Bilbau. A pizzaria fechou na semana passada por falta de pessoal.

"Amar el trabajo es abrazar nuestro sometimiento" |  Juan Evaristo Valls Boix (escritor e professor de Filosofía e da Cultura na Universidad Complutense de Madrid) | El País 7 de Janeiro de 2023

sábado, 4 de junho de 2022

Conversas Improváveis (68): do Ombro Amigo à Mama Amiga


 Conversa no trabalho. Relações e infidelidades. 

Fazendo só um parêntesis para contextualizar os seguidores-fantasma do blogue que teimosamente ainda resistam em ler o que se passa por aqui, dizer que, depois de sete anos a trabalhar numa empresa que se chama "Terra-Mãe", acabei por não sobreviver à crise dos sete anos e ter mesmo que sair, eu e toda a gente (menos a colega mais velha na empresa) e então, desde o início do ano, estou a trabalhar num outro lugar que se chama "Voz-Calma". Obviamente que sim, só aceito trabalhar em empresas que considere que tenham um nome sonante, que se enquadre no meu perfil, caso contrário rejeito de imediato!

Um dos colegas é da minha opinião. Não há lugar mais propício às infidelidades que o local de trabalho. Eu sempre o disse e por aqui também terei escrito. Esqueçam as redes sociais. É no campo fértil do trabalho, muitas vezes com largas dezenas ou até centenas de trabalhadores, mas também até só com meia dúzia de colegas, como no meu anterior emprego, as coisas dão-se. 

Deu-se com pessoas que conheço e deu-se comigo mesmo por isso sei do que falo por experiência própria. Onde houve pessoas a conviver dia após dia após dia é muito mais fácil passar-se do trabalho para o quarto do Hotel ou para a minha casa ou, se quiseres, na tua. Não dizem que os Moteis estão cheios à hora de almoço? Certamente para a sobremesa ou para melhor fazer a digestão!

Quando trabalhei na Nokia, que é uma cidade viking da Finlândia, eu bem ia vendo namoros acontecer e acabarem. A colega do atendimento numa semana chegar ao trabalho com um colega, na semana seguinte chegar com outro. Infelizmente nesse mapa de turnos rotativos não fui incluído, mas alguma coisa de especial aquela colega deveria ter tal era a atração que provocava, mesmo nos colegas casados. 

E depois, como disse à minha nova colega que assinou contrato no mesmo dia que eu e que tem idade para ser minha filha (e eu ainda não percebi como de repente sou a pessoa mais velha numa empresa!) tudo é muito lindo aqui entre nós. Damo-nos bem, rimos, dizemos piadas, encomendamos comida, é fixe criar uma boa empatia entre todos. Contudo, com o teu namorado, e por mais que gostes dele, tens que lidar com todas as coisas menos boas. Mas se um dia o deixares por aquele colega de trabalho que está sempre ali, que é simpático e te trata bem, mais à frente perceberás que tudo voltará ao que era com o teu ex-namorado. (De repente já nem sei se estava a falar com a minha colega de trabalho ou se viajei no tempo para falar com a minha primeira ex-namorada que me trocou por um colega de trabalho...)

Entretanto e porque reforcei que o importante é cada casal ter as suas regras e ver o que funciona para si, lembrei uma conversa que tive com uma pintora que conheci no Tinder e que me disse que não levaria nada a mal se o companheiro, e só porque teve uma vontade momentânea, decidiu ir com alguém dar uma valente trancada. Porque são instintos e foi uma coisa do momento e isso é perfeitamente aceitável. Agora registar-se numa cena qualquer e andar à procura de alguém, isso seria traição e seria impensável. Interessante como diferentes pessoas têm diferentes pontos de vista sobre as relações. 

Mas mais importante, foi a frase que ficou, rematada pelo meu colega sobre as relações de amizade no local de trabalho. Tomem nota:

"Do ombro amigo à mama amiga é um pequeno passo".

sábado, 27 de novembro de 2021

Bruxaria: uma Profissão de Futuro


 A Bruxa de Matosinhos, que eu não faço ideia de quem seja, só de um cliente, Pinto da Costa, o bom católico e crente das Encenações de Fátima, recebe 50 mil euros por mês. Eu não faço ideia quantas horas a senhora trabalha por mês, e sei lá que sortilégios serão precisos só para aconselhar o presidente do Futebol Clube do Porto, mas assim à partida, não me parece nada mau salário!

Já um jovem que passa tantos anos  estudar - temos a geração mais formada de sempre não é? - chega ao mercado de trabalho e vai ganhar menos de 950€ / mês (menos que um salário mínimo em Espanha). E depois estranhem que um terço dos jovens queira emigrar e os patrões andem agora, todos os dias, a choramingar nos jornais que não conseguem contratar ninguém para trabalhar ser explorado. 

Concluindo.

Puto, se queres ser alguém na vida, não te mates a estudar medicina, engenharia, arquitetura, direito ou outras tretas quaisquer para acabares no bicha do centro de emprego. Se não tens jeito para dar uns pontapés na bola, então o melhor é começares já a ler o livro de São Cipriano e aprender a fazer umas bruxarias, porque isso sim é uma profissão com futuro!

sábado, 21 de março de 2020

Nunca Colocar Datas de Nascimento nos Currículos!

 
Eu já tinha deixado de o fazer. O empregador não tem nada que saber quando e que eu faço anos! Sim, tudo bem, vai acabar por saber, mas só vai saber se me contratar, porque, como é lógico, depois tenho que deixar os meus dados pessoais e cartão de cidadão e mais não sei o quê. Mas até ser contratado não! É um dado pessoal que nenhum entrevistador tem que saber. Querem saber a idade, tudo bem, colocamos lá vinte ou trinta anos ou o que for.

Vem isto a propósito de uma reportagem da BBC Brasil sobre um empresário que nas entrevistas de emprego quer saber o mapa astral dos entrevistados, porque não contrata ninguém de signo Touro! Provavelmente por esta altura não contratará ninguém com a Lua em COVID19!

Só que o signo astrológico e o mapa astral, bem como, por exemplo, as ideologias políticas, religiosas, o tamanho do pénis ou as preferências sexuais, ou se somos vegetarianos ou omnívoros são tudo questões pessoais e, escolher alguém em função disto é descriminação!

Olha agora eu não ser contratado só por causa do meu signo! Por acaso alguma empresa coloca na oferta de emprego: "venha trabalhar connosco, num empresa em que o CEO é do signo XPTO"?!

Mas por via das dúvidas já sabem:  nada de meter a data de nascimento no currículo!

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Quantos Anos é Preciso Trabalhar Para Compensar uma Licenciatura?

"O homem pode amar o seu semelhante até ao ponto de morrer por ele; 
mas não o ama tanto que trabalhe em seu favor." 
(Proudhon)

heraldsun.com.au/
Nesta sociedade, todos nós que vimos ao mundo somos obrigados a trabalhar para podermos sobreviver. Vamos para a escola e lá passamos muitos anos, uns mais do que outros, quer pelas diferentes capacidades de cada um, quer muitas vezes pelas possibilidades socio-económicas que os nossos progenitores têm, em poder, ou não, de nos proporcionar os estudos e mais concretamente ainda os estudos universitários. 

Desde criança que ia ouvindo dos adultos que se quisesse ser alguém na vida (seja lá o que isso queira dizer) que teria que estudar, ou então, em alternativa, ir acartar baldes de massa (só porque nasci com um pénis).

Ninguém dizia às crianças "estuda para seres culto e saberes muitas coisas" ou "vê se te esforças na escola para aprenderes e não seres um ignorante". No fundo as crianças passarão longos anos a fio nas escolas, e mesmo durante a vida adulta, para serem treinados para o trabalho e em função disso terem expectativas melhores ou piores na retribuição salarial. E muitas vezes escolhe-se em função disso, das expectativas salariais, porque sinceramente, eu duvido que haja tanta gente com vocação para medicina!

Quando eu era miúdo, ouvia muito falar na quarta classe, que eram os estudos que a maioria da população tinha, e ouvia também falar no "quinto ano" ou então no "sétimo ano", que já era uma coisa importante! Mas aos poucos e poucos a sociedade portuguesa foi mudando e os estudos e os empregos também. Se quando eu era criança a grande parte das mulheres ainda ficava em casa a cuidar da casa e dos filhos, nas últimas décadas já trabalham homem e mulher e chegados ao fim do mês muitas vezes não há dinheiro para se pôr de lado. 

Entretanto os estudos obrigatórios passaram para nove anos e de nove para doze anos (apesar do CDS ser contra). Os primeiros nove, segundo ouço falar, são agora quase de passagem obrigatória, e os doze são, se calhar a nova quarta classe. Cada vez mais os alunos vão para as universidades, e longe vão também os tempos em que as meninas ficavam em casa a aprender a bordar, e são agora elas que enchem mais as universidades. Aconteceu também o processo de Bolonha, as licenciaturas estão mais curtas, e entretanto investe-se mais em mestrados e doutoramentos que, de facto, depois compensam realmente mais do ponto de vista salarial. 

Só que, fruto de todas estas mudanças, e da recente crise que implicou a última vinda do FMI a Portugal, os salários praticados vêm sendo nivelados muito por baixo, e a crise serve de desculpa para se pagar menos e os patrões embolsarem ainda mais. E já não há vergonha para se oferecerem salários mínimos, ou pouco mais que mínimos a licenciados. E depois temos ainda o problema da falta de empregabilidade, ou seja, o jovem adulto passa três, quatro ou cinco anos na universidade, para depois ir dobrar roupa para uma loja ou estar na caixa de um hipermercado. 

Diz-se que em Portugal ainda é dos países onde mais compensa fazer fazer um curso superior visto que o salário mínimo é miserável. Mas, vamos lá ver uma coisa: quantos anos é que um jovem licenciado tem que trabalhar para compensar ter passado cinco anos a estudar a mais?

Vamos fazer umas pequenas estimativas. Segundo alguns estudos, o salário base anual dos recém-licenciados, no primeiro emprego, situa-se entre os 13 280 euros e os 17 856 euros anuais, ou seja, mais coisa menos coisa mil euros.

Vamos então supor o seguinte. Um jovem com o 12º anos, começa agora a trabalhar e nos primeiros cinco anos tem um vencimento médio de 700 euros. Ao fim de cinco anos ganhou cerca de 50 mil euros. Já o jovem que foi para a universidade, e que por lá estará durante cinco anos, vai pagar propinas, muitas vezes terá que pagar o aluguer de um quarto e todas as despesas inerentes ao estudo, como manuais, material, etc.

Se daqui por cinco anos o jovem que se ficou pelo 12º ano terá ganho cinquenta mil euros, o recém licenciado só daqui por cinco anos ganhará o seu primeiro salário (sim, é verdade que entretanto poderá fazer uns biscates, mas esse dinheiro será para sustentar os seus estudos). Fazendo as contas sem aumentos salariais será então assim:

Daqui por seis anos e seguintes:

                                  58.800    /    14.000
                                  68.600    /    28.000
                                  78.400    /    42.000
                                  88.200    /    56.000
                                  98.000    /    70.000
                                107.800    /    84.000 
                                117.600    /    98.000
                                127.400    /  112.000
                                137.200    /  126.000
                                147.000    /  140.000
                               156. 800    /  154.000
                                166.600    /  168.000
                                   
Respondendo, um licenciado que fique cinco anos na universidade, com estes valores estimados que introduzi, precisa de dezassete anos para ultrapassar o rendimento obtido por um aluno que se ficou pelo secundário.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

da Desigualdade entre Trabalhador e Patrão

Gritam os patrões que é precisa mais flexibilidade laboral, que é muito difícil despedir em Portugal ainda que a regra contratar toda a gente a contrato, mas mesmo assim, mesmo ao fim de ano e meio ainda não sabem se o trabalhador serve ou não para a função.

Os patrões queixam-se mas a flexibilidade laboral levou a que, no governo de Passos e Portas, os despedimentos tivessem sido liberalizados. O patrão pode despedir quase só porque sim porque lhe apetece. O patrão pode agora até despedir uma pessoa que esteja na empresa há trinta anos que só lhe paga doze de indemnização.

Mas vamos ver uma coisa. Se o trabalhador faltar por cinco vezes seguidas ao trabalho de forma injustificada dá imediato direito à entidade patronal para despedir o trabalhador. Já o trabalhador pode estar, como eu estou, não há cinco mas há trinta dias seguidos sem receber o salário de Setembro, sem qualquer justificação oficial e no entanto eu não posso despedir a minha entidade patronal. Posso-me até queixar que é muito difícil despedir o patrão em Portugal!

E é mesmo pena que a puta da tão falada flexibilidade laboral seja só para um dos lados: o dos patrões.

via Twitter

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Pelo Pagamento do Salário Antecipado

Eu gostaria de deixar aqui uma sugestão, que até me parece que faz todo o sentido, para que qualquer partido de Esquerda que defenda os interesses dos trabalhadores, ou até para algum sindicato possa pegar nela se quiser.

Visto que já não é a primeira vez que me acontece trabalhar as quatro semanas contratualizadas para depois ter direito ao pagamento mensal, que significa que o pagamento deverá ser feito trinta dias depois de iniciado o trabalho, mas tendo em conta que até já estive dois meses com o salário atrasado, e como neste mês, até ao momento também ainda não vi nenhum, eu pergunto:

- Então e se fizéssemos ao contrário? E se todas as empresas que querem o seu trabalhinho feito, seja com contrato a termo ou sem termo, passassem a ter que pagar o mês adiantado, em vez de ser o trabalhador a ter que estar trinta dias  à espera do pagamento do primeiro dia de trabalho?

Até nem precisava ser pagamento mensal, poderíamos pensar num pagamento semanal como se faz em alguns países, mas o que não faz sentido nenhum na lei, é ser o trabalhador, a parte mais fraca e desprotegida, a ter que esperar por um trabalho já feito, mas depois quando vamos ao supermercado não podemos pedir fiado, tal como os bancos também não se comovem minimamente se a pessoa disser que ainda não pagou o empréstimo, ou mesmo que diga "vão lá à minha empresa cobrar o dinheiro que eu já trabalhei e está ganho, mas ainda não o recebi".

Se na maioria dos serviços temos de pagar primeiro e só depois ser servidos, sim, porque ninguém vai ao cinema, vê o filme e depois é que paga - não, a pessoa, mesmo que depois tenha detestado o filme, tem que o pagar antecipadamente porque sem pagamentozinho não há filmezinho - e porque se queremos alugar uma casa até temos que pagar, não um mas dois meses antecipados, e temos que ter dinheiro para o efeito, então porque raio no emprego tem que ser diferente?

Se queremos acabar com a praga dos salários em atraso, em que no fundo é o trabalhador que tem de esperar e financiar as empresas, então só há mesmo um caminho: o fim do trabalho fiado e o pagamento antecipado do trabalho. 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Não Trabalhar a Partir de Casa




Já não é de agora que há pessoas que trabalham a partir de casa. Não precisam deslocar-se para a empresa. Muitas podem até mesmo trabalhar a partir de qualquer sítio.

E eu agora estava cá a pensar com as minhas barbas... 
Quer dizer...
Eu levanto todos os dias cedo. Vou para o banho e tomo o pequeno-almoço, meto-me no carro e faço cinquenta quilómetros a poluir o ambiente num carro a gasóleo, para depois basicamente ficar na empresa à espera da hora de sair, nove horas depois. 

- Será que não dá para não trabalhar a partir de casa?

sábado, 4 de maio de 2019

Por Que é Que Ninguém Está Empenhado nas 35H Semanais para Todos os Trabalhadores?



Nesta última semana comemorou-se o dia do Trabalhador, mas ironicamente, aos poucos, no 1 de Maio, começa a ser instituído o Dia da Promoçãozinha, à custa de trabalhadores que, em vez de folgarem este feriado (como antigamente) não, vão mas é trabalhar que os mais ricos de Portugal, os merceeiros, querem ganhar mais um bocadinho de dinheiro à custa do dia do escravo. 

De relance apanhei as reivindicações da CGTP. Querem a curto prazo um salário mínimo de 850€.

Mas o que eu não entendo é o porquê de ninguém, nem partidos nem centrais sindicais, nem governo, estarem empenhados em dar as 35 horas de trabalho semanal para todos, e não só para alguns, como aconteceu com a devolução aos funcionários públicos por parte deste governo. 

Neste momento uns trabalham 35 horas por semana, os outros que se fodam, que trabalhem mais um mês e meio por ano!! Sim, disse bem, os funcionários públicos trabalham, só no horário de trabalho normal, menos um mês e meio por ano! Que ricas férias! E ainda passam a vida em greves! 

Acho que não me enganei, e não é preciso ter um curso de matemática para fazer (como a outra) as contas. 

1 Hora a menos por dia são:

5 Horas a menos numa semana

Como trabalhamos 11 meses por ano, são 5 horas x 48 semanas:

Que dá o belo número de 240 Horas!! 

Como um mês de trabalho são 160 Horas, 240 Horas representam, precisamente, um mês e meio a mais de trabalho para um trabalhador do privado. 

Mas um trabalhador numa empresa privada trabalha bem mais que 240 horas num ano, quando comparado com um funcionário público. Nada contra a devolução de direitos cortados pela coligação de Direita, mas, se somos todos trabalhadores, todos devemos trabalhar o mesmo número de horas, e ter os mesmos dias de férias. Isso sim é Igualdade, e não haver trabalhadores de primeira, de segunda e de terceira categoria. Contudo não vejo Ninguém, nem partidos, nem sindicatos, nem governo, empenhados em combater essa tremenda Injustiça. 

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Trabalhadores Pseudo-Dedicados

"Um estudo conduzido no Reino Unido pela Ashridge, da Hult International Business School, uma faculdade de gestão, concluiu que em 28 empresas existem colaboradores que parecem ter um elevado grau de empenho, parecendo sempre muito ocupados, quando na realidade trabalham pouco e prejudicam a produção coletiva, noticia a BBC.

Estes trabalhadores, que a equipa de pesquisa batizou de “pseudo-dedicados” caracterizam-se por se saberem vender bem, promovem-se em reuniões de equipa e têm a tendência de se juntarem às conversas que lhes convém, no local de trabalho. Por isso, são normalmente encarados como colaboradores “altamente dedicados”. (Jornal Económico)

Conheço-os bem. Todos conhecemos não é? Todos, vírgula, pois na verdade, só um bom trabalhador pode identificar um trabalhador pseudo-dedicado. Quando um pseudo-dedicado está na presença de outro pseudo-dedicado o mundo deles é aquele, são ambos espertos, os outros, os verdadeiros bons trabalhadores é que são uns otários.

Na imagem abaixo vemos um exemplo do trabalhador pseudo-dedicado. Mal o patrão ou a chefia abriu a porta ou ficou num ângulo em que o possa observar, ele ataca furiosamente o teclado:



Mal o chefe ou o patrão vira costas e o trabalhador pseudo-dedicado lá volta à sua rotina de fazer o menos possível. Não há como dizê-lo doutra forma. O trabalhador pseudo-dedicado é um especialista, especialmente na arte de não fazer um caralho! Mas aparenta, sempre, logicamente quando as chefias estão por perto, muita pró-atividade e dinamismo! Está sempre preocupado com a empresa! O trabalhador pseudo-dedicado passa o dia a consultar páginas da internet que não era suposto, de telecrã na mão a atualizar a rede social mas, subitamente, quando alguém se aproxima, rapidamente comuta para o que era suposto estar a fazer. Só que por vezes é lento, e quando a porta abriu lá vemos aquela comutação de janelas tããããão lenta! Acho que há trabalhadores pseudo-dedicados que deveriam fazer um curso para pseudo-dedicados, para se tornarem mais rápidos na arte  invisível de mudar de janela sem ninguém se aperceber!

O trabalhador pseudo-dedicado tem um ego imenso. É o maior. Não há ninguém como ele. Os outros é que são uma merda. Ele é que trabalha muito e os outros é que não fazem nenhum. São super despachados, principalmente a despachar o seu trabalho para os outros! Mas quando entram mais pessoas para a empresa "no tempo deles é que era"! Sozinhos faziam o trabalho de três ou quatro pessoas! Eu nem quero imaginar como seria!

O trabalhador pseudo-dedicado é especialmente dedicado na arte da coscuvilhice. A informação é poder, logo, há que se fazer amigo de toda a gente, ou, no mínimo, tentar parecer amigo de toda a gente, estar sempre em cima do acontecimento, ter o máximo de informação para se conseguir sempre antecipar ao que irá acontecer. Por exemplo, se há uma auditoria ou um trabalho mais chato de se fazer, convém antecipadamente saber a data, para que, com tempo se elabore uma estratégia de fuga, de fugir com o rabo à seringa! Porque a verdade é essa, o pseudo-dedicado é muito esperto, principalmente na arte de fazer o menos possível da forma mais rápida possível, nem que para isso tenha de atalhar caminho e deixar tudo mal feito!

Só que, infelizmente, não se consegue enganar toda a gente ao mesmo tempo. Há ângulos de visão diferentes e, aos poucos, estes pseudo-dedicados começam a ser apanhados nos seus estratagemas. E nós, os trabalhadores comuns, até fazemos de conta, mas por favor, não insultem a nossa inteligência ou os nossos ouvidos! Eu estou-me a cagar se os pseudo-trabalhadores não fazem um caralho! Não sou eu que lhes pago o salário! Eu não sou polícia, quem paga que abra os olhos, se quiser. Mas já me incomoda um bocadinho, quando vejo certos espertinhos a picar o ponto depois de almoçar, ficando assim com quase meia hora de almoço que eu. Contudo, também não me estou a ver no papel de queixinhas. Incomoda-me e revolta-me, mas, o papel de queixinhas está reservado aos pseudo-dedicados. No entanto, quando elas tiveram que sair, certamente que sairão.

Mas como os pseudo-dedicados gostam de mostrar que se preocupam muito com a empresa, passam a vida a enviar e-mails às chefias. A fazer queixinhas, a mostrar como os outros é que são maus trabalhadores, para que eles passem pelos pingos da chuva. Daí que seja normal ver um pseudo-dedicado chegar a chefe. Porquê? Porque um chefe não tem de trabalhar como os outros, só tem que mandar os outros fazer!

Por isso, muito cuidadinho com risinhos e palmadinhas nas costas. Pode ser só um trabalhador pseudo-dedicado a espetar-te uma faca nas costas. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

EU e a Empresa - Como Se Fosse Uma Relação

Na entrevista acho que foi amor à primeira vista. Ela podia ter escolhido qualquer um. Diz-se que houve centenas ou milhares de candidatos já nem sei. Mas escolheu-me a mim. Afinal são sempre elas que escolhem, não é? Desta última vez eu lancei a corte a várias, rejeitei uma ou outra antes, mas esta foi realmente a que me deu o melhor dote para casar com ela. Enamorei-me e já estamos casados vai fazer cinco anos. Mas aconteceu o que acontece mais ou menos com todas as relações. 

A paixão foi fulminante. Desmesurada. E já se sabe como é na paixão. Fode-se a toda a hora em tudo que era sítio. Era no Escritório; no laboratório de Investigação & Desenvolvimento; na Produção; na Cave; nas casas de banho dos homens e das mulheres; experimentamos no banco do empilhador enquanto eu conduzia em marcha-atrás; era em todo o lado. Claro, menos em cima da mesa de ping pong que é sagrada! E assim continuou por muitos meses. Éramos felizes. Fazíamos planos a dois para o futuro. Íamos para todo o lado juntos, davamo-nos muito bem e a palavra discussão não fazia parte do nosso léxico. Éramos o casal modelo de toda a gente. 


Sempre vivemos um para o outro e as coisas iam rolado bem, mas aos poucos o cenário começou a mudar. No último ano comecei a aperceber-me que ela me esconde coisas. Percebi que se me aproximo do telemóvel dela ela fica perturbada. Algo se passa. Cá para mim anda passarinho novo a voar no meu jardim. Comecei a ficar de sobreaviso. Na cama começou-se a escudar em relação ao sexo. Passei a ser sempre eu a abordá-la. E se ao início parece que ainda ia fazendo o frete, aos poucos começaram a aparecer as estratégicas dores de cabeça. Grande coincidência! Sempre que eu lhe começava a passar as mãos pelos sítios recônditos lá vinham a desculpa "hoje não estou com cabeça para isso". Mas é preciso cabeça para foder? É preciso é ter vontade!  E depois ainda dizem que as mulheres são multifacetadas e que fazem várias coisas ao mesmo tempo!  Mas afinal nem ter uma dor de cabeça e foder conseguem fazer ao mesmo tempo! Fartei-me quando comecei a ouvir os "só pensas nisso". Deixei de me importar e de a procurar para esses assuntos. Quando lhe passarem as dores de cabeça que me procure, se quiser. Talvez nessa altura seja eu que queira brincar de achacado às enxaquecas. 

A relação degradou-se. Vamos estando juntos por estar. Talvez seja mais por estarmos habituados um ao outro que por outra coisa. Nem sei se ainda somos amigos sequer, talvez sejamos uns meros amigos-sósia. Os amigos desabafam e apoiam-se mutuamente. A frustração acumulada é muita. A motivação nenhuma. Ambos sabemos que não temos futuro juntos. Só o lado prático de manter as mesmas rotinas e de viver na mesma casa. Talvez a maior motivação para ficarmos juntos seja a vergonha que iríamos sentir ao admitir a derrota da separação. 

Isto assim não pode continuar. Ando a pensar pôr termo a esta situação. Mas sinto-me dividido. E eu não sou homem de várias mulheres, se uma já dá tanto trabalho, sinceramente não sei como há homens que conseguem andar com duas ao mesmo tempo. Mas o fim está próximo. Sente-se. Acho que não há salvação possível. Nem com terapia para casais. Mas como eu também já sei, nem sempre tem que ser um drama. E quem sabe até podemos ficar bons amigos... 

... e há uma grande diferença nisto tudo. Um emprego e a mulher que amamos, não é bem a mesma coisa.  

domingo, 18 de novembro de 2018

A Fidelidade Laboral Não Compensa - Queres um Aumento? Muda de Emprego!



Ser "fiel" para com a entidade patronal não compensa. Minimamente. Vamos ficando porque nos sentimos bem, porque estamos confortáveis, mas não somos valorizados naquilo que mais interessa, que é a retribuição do nosso trabalho ao fim do mês, porque palmadinhas nas costas não compram bens no supermercado para comermos. E a larga maioria dos trabalhadores trabalha porque precisa, não trabalha porque gosta do que faz. E os anos passam (e eu que o diga) e aumentos salariais nem vê-los. 

Por outro lado, quem está empregado e muda de emprego é logo valorizado à cabeça. 
- Não é estranho isto?
Valoriza-nos mais quem não nos conhece, que aqueles para quem trabalhamos há anos e que sabem que desenvolvemos um bom trabalho. E se calhar é assim em tudo na vida. 

Portanto, se queremos ser valorizados e receber um aumento salarial só temos uma solução: mudar de empresa. Não podemos esperar que sejamos valorizados pelo bom desempenho, temos simplesmente procurar quem nos valorize mais. Isto é um concelho que eu mesmo deveria seguir. Porque não o fazemos? Isso são outros quinhentos. 

domingo, 16 de setembro de 2018

Bem-vindos Às Falsas Promessas do que Seria o Trabalho no Século XXI

Quando eu era miúdo prometiam-nos uma vida muito melhor. Diziam-nos que num futuro próximo as máquinas de escrever iam ser substituídas por computadores e imaginem que até se dizia que o papel iria desaparecer. Infelizmente o papel não desapareceu, e por causa disso temos um país infestado de eucaliptos. Diziam também que iríamos ter de trabalhar muito menos horas por dia e com os computadores até se poderia passar a trabalhar de casa.

As novas máquinas vieram, e hoje, ao contrário de quando era criança, em que basicamente a maioria das pessoas só tinha uma motorizada para se deslocar, hoje, toda a gente tem o seu carro, dois ou mais até, ou pelo menos um para cada elemento do agregado familiar. Hoje, ao contrário do tempo em que era criança, todos já têm o seu computador de secretária ou portátil, têm dois ou três, e todos até têm o seu telemóvel com acesso à internet. A indústria sofreu uma verdadeira revolução e até aí estão os robots para, supostamente, substituir os humanos. Mas afinal, até que ponto a nossa vida mudou verdadeiramente para melhor? A vida mudou realmente para melhor, ou as pessoas passaram a ter de trabalhar muito mais para comprarem as merdas que o capitalismo meteu na cabeça das pessoas não podem sem as ter? 

Pois é. Afinal todas as promessas não passaram de mentiras deslavadas e continuamos a ter de trabalhar de sol a sol, tal como antigamente. Simplesmente já não nos levantamos com o sol com uma enxada na mão para ir cavar. A única coisa que mudou foram os objetos dos escravos trabalhadores. Se antigamente os trabalhadores usavam foices e martelos, hoje vão para a jorna de trabalho (olha o Google nem sabe o que é jorna e sublinha como se fosse erro!) e vão para a jorna dobrar roupa, estar o dia todo, de pé a passar códigos de barras ou de telefone na mão a atender clientes ou a impingir-lhes serviços. As ferramentas foram a única que mudou.

De resto, continuamos a ter que trabalhar de sol a sol, oito horas por dia. Talvez hoje ainda se trabalhe mais, visto que antigamente as pessoas só se levantavam com o sol, e hoje, graças aos carros, já todos poderemos ir trabalhar para bem longe de casa, nem que para isso tenhamos de sair de noite, e percamos duas horas de viagem, todos os dias e viagens essas que os patrões não pagam. Mas depois as pessoas revoltam-se é com a mudança da hora! Se trabalhássemos duas horas de manhã e duas horas de tarde, alguém andava a discutir se era preciso ou não mudar a hora? Andamos sempre a discutir o que não interessa para nada, em vez de exigirmos as mudanças que interessam verdadeiramente. 


Sim, o futuro chegou, a nossa realidade mudou e foi higienizada, e tomamos dois ou três banhos por dia, mas ao contrário do que se pensa, a nossa realidade mudou para pior. Acham que não? Então pensem um bocadinho. Hoje já ninguém se reforma aos cinquenta anos, ao contrário do tempo em que era criança. Hoje, em pleno século vinte e um, vamos ter de trabalhar em prol de outro ser humano, não até aos cinquenta anos mas sim até morremos! Quão espetacular é isso, trabalhar até morrer? E vamos ter de trabalhar até morrer porque não vai haver dinheiro para pagar as reformas. Mas dizem-nos até, como se nós fôssemos muito burros, que é por causa da "esperança média de vida"! Maldita esperança média de vida que deveria era de diminuir para não sermos obrigados a trabalhar, sem forças, até aos setenta anos! E dizem-nos ainda, como se fôssemos muito burros, que temos de fazer muitos bebés para que depois, quando eles crescerem, nos possam pagar as reformas que não vamos ter porque não há dinheiro para as pagar!

Quando eu era criança, maioritariamente só o homem o trabalhava e o dinheiro de uma só pessoa chegava para construir uma casa. Acham que estamos melhor hoje? Hoje quase nenhum jovem terá dinheiro para comprar um terreno e construir uma casa! Antigamente a mulher ficava em casa a tomar conta dos filhos que não precisavam de infantários nem de amas. Eram verdadeiramente educados pelos pais. Hoje são educados por quem? Eu vou ter um filho para quê? Para ter de pagar para os outros o educarem? Antigamente as crianças brincavam livremente, tal como eu brinquei, sem horários, pelo menos até aos seis anos de idade, quando então tínhamos de ir para a escola primária.  

Hoje trabalha o homem, trabalha a mulher e aos seis meses as crianças vão para a ama ou para o infantário que é mais uma despesa no orçamento familiar. As pessoas correm de um lado para outro, as crianças correm de um lado para o outro. As pessoas não têm tempo nem pachorra para se ouvirem. Não têm disponibilidade física nem mental para ainda chegar a casa, depois de um longo dia de trabalho, e terem de fazer as tarefas domésticas, cuidar dos filhos, ouvir os problemas do cônjuge ir para a cama e ainda ter vontade fazer sexo. Temos setenta, repito, 70% de divórcios e as crianças além de correrem de um lado para o outro por causa das dezenas de atividades que os pais agora as obrigam a fazer, têm ainda de correr de casa da mãe para casa do pai por causa da guarda partilhada. E há uma nova geração de gente que cresceu em famílias disfuncionais, que mais não foram que armas de arremesso entre pais e mães. 

A vida supostamente melhor que o século vinte e um prometia, no final de contas, é ser ainda mais escravo do trabalho e ter cada vez menos tempo. É trabalhar mais horas, é fazer mais horas-extra que agora deixaram de ser pagas porque se inventou uma coisa chamada banco de horas, e é trabalhar de noite com menos horas de subsídio noturno (muito obrigado aos senhores Passos Coelho & Paulo Portas), e é, por exemplo, trabalhar sábados e domingos no turismo, que em Portugal está a fazer dinheiro como ninguém faz no mundo, e ter um salário principesco de 620€. Repito: 620€ para trabalhar aos sábados e domingos!!  E é viver num dos países da Europa onde os patrões se aumentam a si mesmos 40%  em três anos, mas onde ironicamente os escravos, perdão, é a força do hábito, onde os trabalhadores (que agora lhes chamam colaboradores) são os menos aumentados da Europa. 

sábado, 1 de setembro de 2018

Batem as Portas em Tons de Insolvência

O corno é sempre feliz enquanto não sabe nada do que se passa nas suas costas, e do que em breve pode ficar a saber. E não raras as vezes, senão quase sempre, só sabemos o que querem que nós saibamos. Mas mesmo o mais otimista, como eu geralmente costumo ser, e se bem me lembro eu era (pretérito imperfeito) provavelmente, a pessoa mais otimista da empresa, mas (conjunção adversativa) perante a crueza das evidências temos que nos render aos factos. 

E os factos, tal como diz o ditado português: "donde se tira e não se põe, não há nada mais rõe"!

Lembro ainda muito bem as palavras proféticas do gajo que manda, aquela sigla CEO que ninguém sabe o que quer dizer, mas que parece uma coisa importante: "Estamos num ponto em que, ou vamos ganhar milhões, ou então vamos encerrar portas, porque estão a ser contraídos empréstimos avultados".

E quando não há dinheiro para comprar matéria prima não se produz. Se não se produz, não se vende. Se não se vende não há dinheiro para matéria prima. Se não há matéria-prima para produzir as pessoas não têm nada para fazer. E não ter nada para fazer até pode nem ser de todo desagradável, mas por outro lado não deve ser muito agradável ter que pagar a pessoas no fim do mês para não fazer nada, mais desagradável ainda quando não se tem muito dinheiro para lhes pagar. 
Resta esperar mais ou menos tranquilamente pelo que irá acontecer. 

Batem as portas em tons de insolvência, como se fosse mais uma empresa a fechar. 


sábado, 28 de julho de 2018

A Flexibilização Laboral é Só Para um Lado: O dos Patrões

Os políticos, principalmente os mais à direita (incluindo o PS) falam constantemente que é preciso flexibilizar o mercado de trabalho, que dito por palavras mais acessíveis às pessoas, é como quem diz poder despedir só porque apetece. Chegamos ao trabalho e como o patrão anda com os quilhões inchados porque se chateou com a mulher, vai daí e despede o primeiro trabalhador que lhe aparece à frente só porque sim. Flexibilizar é isto, é simplesmente poder despedir só porque apetece aos patrões. Flexibilizar é o eufemismo para precarizar. 

Mas não basta poder despedir quando apetece. Isso seria pouco. Era preciso despedir quando apetece sim, mas fazê-lo de forma a não gastar muito dinheiro, porque senão era uma chatice! Os patrões queriam poder despedir mas dar um pontapé no cu de um trabalhador que está numa empresa há quinze ou vinte anos mas sem ter que pagar o que sempre foi devido! E esse foi um dos muitos favores que Passos Coelho e Paulo Portas fizeram aos patrões, no fundo para quem a direita, mais ou menos neoliberal governa. 

Antigamente uma pessoa que estivesse numa empresa vinte anos, caso fosse despedida, trazia de indemnização de vinte salários (30 dias por cada ano de trabalho) enquanto que a partir de 2012, passou -se a receber doze dias de indemnização por cada ano de trabalho. 



No entanto a tão apregoada "flexibilização laboral", vendida tantas vezes como uma coisa boa, só é pena que só funcione para um dos lados: sempre para o lado dos patrões! Os patrões, após o governo de Portas e Passos, puderam passar a despedir quase livremente não pagando nada por isso, nem pelas horas-extra que tiveram uma redução brutal na sua compensação, e pior ainda, inventou-se uma coisa extraordinária: trocou-se trabalho suplementar por não trabalho!

Sempre que, por exemplo, tenho de ir trabalhar para fora, para Lisboa, por exemplo, e mesmo que saia da empresa ás cinco da manhã e chegue ao hotel às duas da manhã, vou ganhar quanto? Nada! Zero cêntimos! Vou depois ficar essas horas a não trabalhar! Fantástica a flexibilização laboral não é? Fantástica para os patrões que não me pagam nada pelo esforço suplementar de trabalhar doze ou dezasseis horas seguidas. 

Como se não tivesse bastado permitir que se pudesse despedir quase livremente, e tornado o valor do trabalho suplementar irrisório, reduziram-se também os dias de férias (de 25 para 22 dias), mas não satisfeitos, ainda acabaram com quatro feriados porque os portugueses ainda só eram o segundo país da União Europeia em que os trabalhadores mais horas trabalhavam por ano e com um jeitinho podíamos chegar a número um!

Então já sabemos que a "flexibilização laboral" é uma coisa muito boa, mas o que é que se flexibilizou a favor das trabalhadores?

Nada! Pois é, a flexibilização é boa mas é se for a nossa favor. Se for a favor dos outros já não presta!

Vamos a um exemplo prático. Eu vou entrar no quinto ano de trabalho na mesma empresa. A flexibilização laboral é muito boa, mas se eu hoje encontrar uma empresa que me dê melhores condições e eu me quiser mudar, continuo a ter que esperar os mesmos dois meses, para poder sair da empresa onde estou. Por que é que não se passou todo esse tempo, sei lá, para no máximo quinze dias? Pois é.  Então deixem de atirar areia para os olhos das pessoas e vão-se mas é foder todos mais a precarização laboral.


segunda-feira, 5 de março de 2018

Ferraz: As Pessoas Querem Trabalhar, Não Querem é Ser Escravas dos Patrões

Há duas semanas Ferraz da Costa, conhecido por ter sido, aos 34 anos, o "patrão dos patrões", fazia a capa do Jornal I, e podia-se ler o título: "As empresas não conseguem contratar porque as pessoas não querem trabalhar". 

Isto é não é nada de novo. Alguém que nunca teve dificuldades na vida, que nasceu numa bolha onde até se pode escolher a empresa para onde se quer trabalhar, venha chamar os outros de piegas, malandros ou pior.

Mas em primeiro lugar eu gostaria que me explicassem, que o Ferraz explicasse, como é que, entre 2011 e 2015, segundo o INE, cerca de 500 mil portugueses emigraram, indo à procura de melhores condições de vida, condições essas que não encontravam no seu próprio país. Ora bem, seguindo a lógica do Ferraz, como os portugueses são malandros e não querem trabalhar, então, emigraram para outros países para continuarem a ser malandros e a não fazer nenhum! Mas que puta de lógica é essa? 

Depois, eu gostaria que o Ferraz explicasse muito bem, como é que só os patrões portugueses se queixam dos trabalhadores portugueses. É que, nos países de destino, os emigrantes portugueses são conhecidos por serem bons trabalhadores e garantia de produtividade. Então espera lá. Cá, no seu próprio país os portugueses são malandros e não querem trabalhar, mas emigram para o estrangeiro e, em vez de continuarem a não querer fazer nada, como que por milagre trabalham muito e bem! 

Eu vou fazer um desenho. Os trabalhadores portugueses são os mesmos. Mas o que muda são os patrões. Então onde é que está o defeito Ferraz?


Ferraz, eu até te vou dar dois exemplos que, nem de propósito, acompanhei bem de perto na semana que passou. Duas pessoas, uma à procura de trabalho, a outra que, apesar de já estar a trabalhar, procura um trabalho pós laboral para ganhar mais algum dinheiro. 

O primeiro caso é de uma uma amiga minha. Acabou o curso e teve ofertas de trabalho na sua área no grande Porto. O salário que lhe ofereciam? Era o salário mínimo para um tipo de trabalho que é altamente especializado! A mesma oferta mínima que dá para qualquer trabalho indiferenciado que não precisa de qualquer formação. Só que o salário mínimo mal chegava para pagar o aluguer da casa onde estava e para comer. Não dava para mais nada! Então o ela que fez? Voltou para a sua terra natal, onde pretendia arranjar um trabalho que lhe permitisse ir juntando algum dinheiro para ir comprando alguma maquinaria para montar o seu próprio negócio.

Enviou dezenas de currículos para tudo e mais alguma coisa. Ela queria era trabalhar e ganhar algum dinheiro, mesmo que fosse o salário mínimo. E na sua cidade natal, na casa da mãe não tinha que pagar o aluguer de uma casa. E de tanto currículo enviado chegou uma oferta de trabalho para ficar "à experiência" num restaurante da cidade. Ia ganhar o salário mínimo mesmo tendo que trabalhar 11-12 horas às sextas-feiras e sábados e teria ainda de trabalhar aos domingos! Tudo isto por um salário mínimo! É espetacular não é?

Mas só lá trabalhou uma semana. Nem sequer lhe deram qualquer contrato a assinar. Mas afinal parece que as outras pessoas que lá trabalhavam também não tinham qualquer contrato de trabalho. Tudo na paz do senhor! Ela saiu porque começou a odiar aquilo. A forma como era tratada, quase humilhada por vezes. Pressão e mais pressão. Veio-se embora. Ligaram-lhe de novo no sentido dela mudar de ideias. Ela não mudou. Ela quer muito trabalhar sim, mas não quer ser escrava. 

O segundo caso duma colega de trabalho. A minha colega, junto de pessoas conhecidas, arranjou o contacto de uma padaria/pastelaria onde pretendiam contratar um serviço de limpeza diário. Seria um trabalho para três horas diárias e ela viu ali a oportunidade de, por um lado ganhar um dinheiro extra, que dá sempre jeito, e por outro, quem sabe, a oportunidade de começar a trabalhar por conta própria, até porque tem a ambição de, um dia, quem sabe ter um negócio seu, e pode muito bem passar por uma empresa de limpezas.

Chegada lá, indagou o patrão sobre quanto é que ele pretendia pagar à hora por aquele serviço de três horas diárias. O senhor disse-lhe que tinha pensado em 2,75€ à hora!! Portanto, ela sairia da minha empresa, ia-se deslocar para este segundo local de trabalho para, ao fim de três horas de andar a limpar, que é um trabalho desgastante, e ganhar essa exorbitância de 8.25€!!! Parece que o senhor não queria gastar muito dinheiro. Pois é... mas se não quer gastar dinheiro então que limpe ele! Assim não gastaria qualquer dinheiro, era só poupar!

Sabes Ferraz, os portugueses querem muito trabalhar até porque o dinheiro não cai do céu para aqueles que não tiveram a sorte de serem filhos de pais ricos. E as pessoas precisam de dinheiro para comer. As pessoas querem muito trabalhar mas não querem é ser escravas dos patrões. 

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Vão os Robots descontar para a Segurança Social?

Via Google Images

Visto que em breve os nossos empregos vão ser substituídos por robots - no fundo o sonho molhado de todos os patrões: ter alguém que trabalha 24h por dia sem se queixar, sem parar constantemente para atualizar o Facebook, para falar do jogo da bola do dia anterior, das novas promoções do supermercado; sem pausa de manhã nem de tarde para comer, sem direito a ser pago nem a ter direito a férias nem a subsídio de férias, nem a receber para fazer horas-extra, nem com direito a fazer greve... - a pergunta que se impõe é:

- Vão os patrões ser obrigados a fazer descontos dos seus robots para a Segurança Social para pagar as reformas dos humanos?

Mais grave ainda: que irá fazer toda esta gente, em breve nove biliões de seres humanos durante todo o dia? Consumir milhões de produtos feitos com o trabalho dos robots? Mas consumir com que dinheiro?
Pois é...