Os políticos, principalmente os mais à direita (incluindo o PS) falam constantemente que é preciso flexibilizar o mercado de trabalho, que dito por palavras mais acessíveis às pessoas, é como quem diz poder despedir só porque apetece. Chegamos ao trabalho e como o patrão anda com os quilhões inchados porque se chateou com a mulher, vai daí e despede o primeiro trabalhador que lhe aparece à frente só porque sim. Flexibilizar é isto, é simplesmente poder despedir só porque apetece aos patrões. Flexibilizar é o eufemismo para precarizar.
Mas não basta poder despedir quando apetece. Isso seria pouco. Era preciso despedir quando apetece sim, mas fazê-lo de forma a não gastar muito dinheiro, porque senão era uma chatice! Os patrões queriam poder despedir mas dar um pontapé no cu de um trabalhador que está numa empresa há quinze ou vinte anos mas sem ter que pagar o que sempre foi devido! E esse foi um dos muitos favores que Passos Coelho e Paulo Portas fizeram aos patrões, no fundo para quem a direita, mais ou menos neoliberal governa.
Antigamente uma pessoa que estivesse numa empresa vinte anos, caso fosse despedida, trazia de indemnização de vinte salários (30 dias por cada ano de trabalho) enquanto que a partir de 2012, passou -se a receber doze dias de indemnização por cada ano de trabalho.
No entanto a tão apregoada "flexibilização laboral", vendida tantas vezes como uma coisa boa, só é pena que só funcione para um dos lados: sempre para o lado dos patrões! Os patrões, após o governo de Portas e Passos, puderam passar a despedir quase livremente não pagando nada por isso, nem pelas horas-extra que tiveram uma redução brutal na sua compensação, e pior ainda, inventou-se uma coisa extraordinária: trocou-se trabalho suplementar por não trabalho!
Sempre que, por exemplo, tenho de ir trabalhar para fora, para Lisboa, por exemplo, e mesmo que saia da empresa ás cinco da manhã e chegue ao hotel às duas da manhã, vou ganhar quanto? Nada! Zero cêntimos! Vou depois ficar essas horas a não trabalhar! Fantástica a flexibilização laboral não é? Fantástica para os patrões que não me pagam nada pelo esforço suplementar de trabalhar doze ou dezasseis horas seguidas.
Como se não tivesse bastado permitir que se pudesse despedir quase livremente, e tornado o valor do trabalho suplementar irrisório, reduziram-se também os dias de férias (de 25 para 22 dias), mas não satisfeitos, ainda acabaram com quatro feriados porque os portugueses ainda só eram o segundo país da União Europeia em que os trabalhadores mais horas trabalhavam por ano e com um jeitinho podíamos chegar a número um!
Então já sabemos que a "flexibilização laboral" é uma coisa muito boa, mas o que é que se flexibilizou a favor das trabalhadores?
Nada! Pois é, a flexibilização é boa mas é se for a nossa favor. Se for a favor dos outros já não presta!
Vamos a um exemplo prático. Eu vou entrar no quinto ano de trabalho na mesma empresa. A flexibilização laboral é muito boa, mas se eu hoje encontrar uma empresa que me dê melhores condições e eu me quiser mudar, continuo a ter que esperar os mesmos dois meses, para poder sair da empresa onde estou. Por que é que não se passou todo esse tempo, sei lá, para no máximo quinze dias? Pois é. Então deixem de atirar areia para os olhos das pessoas e vão-se mas é foder todos mais a precarização laboral.
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