quarta-feira, 12 de maio de 2021

As Encenações de Fátima São um Insulto à Inteligência


Esta será a segunda publicação seguida no blogue sobre livros. Quem por aqui passar, achará que este ano de 2021 tem sido muito pródigo em leitura o que até não corresponde muito à verdade. 

Acontece que, depois de ter lido há uns bons anos o livro "Fátima Nunca Mais" do padre Mário de Oliveira, consegui arranjar este antigo e esgotado livro "Fátima Desmascarada - A Verdade Histórica Acerca de Fátima Documentada com Provas", publicado em 1971 (ainda durante a ditadura) pela mão de João Ilharco e terminei-o agora, a poucos dias do 13 de Maio, 104 anos depois da primeira encenação das aparições na Cova da Iria.  

E o que eu ainda hoje me pergunto é se a maioria das pessoas que acredita nas ditas aparições tem noção dos factos ocorridos, ou se pelo menos se foi tentar inteirar  do que aconteceu em 1917, ou, se pelo contrário, e, como eu suspeito, como a maioria das pessoas simplesmente anda no mundo por ver andar as outras, e, se já os meus pais acreditavam na Lúcia - "sabes mais o que a Lúcia!" - e até iam a pé a Fátima - "porque me sinto lá muito bem", pois então eu também vou acreditar. Factos para quê?

Mas será que as pessoas têm noção que os relatos de Fátima são uma cópia exata das encenações de La Salette e de Lourdes? As mesmas crianças analfabetas e doentes, as mesmas palavras "não tenhais medo", as ameaças e o dever de fazer penitências, até a existência dos mesmos "segredos", que a santa "exigiu" não serem revelados para depois a alcoviteira Igreja, muito convenientemente os ter revelado, e termos ficado a saber que a mãe daquele que defendia a igualdade entre as pessoas - ama o teu próximo como a ti mesmo" - afinal era anti-comunista, e que segredo que contou era que os portugueses tinham que rezar muito para que o mal da Rússia não se espalhasse, e que iria ser convertida em breve!

Os mesmos segredos, os mesmos tiros na água. Afinal a mãe de Deus ainda acerta menos que uma taróloga na televisão: nem a Inglaterra foi reconvertida (segredo de La Salatte) nem a Rússia (segredo de Fátima) o foi. Mais grave ainda, a Nossa Senhora "afirmou" aos pastorinhos a 13 de Outubro que a Grande Guerra terminara nesse dia. Infelizmente esta só veio a terminar muito tempo e mortes depois.

O que eu acho é que, se ao longo dos anos a Igreja fez muito dinheiro com a crendice ignorante das Offshores de La Salette, Lourdes e Fátima, aos poucos e poucos, e à medida que as pessoas começam a ter cada vez mais instrução e educação, estas histórias da carochinha começaram-se a virar contra a própria religião. Fenómenos como estes das "aparições" em que a Igreja mente descaradamente e de forma que hoje dá vergonha, mais não faz do que criar exércitos de ateus, e já se questiona mesmo o fim da religião a curto prazo na Europa, porque em vários países o número de ateus e agnósticos já supera o número de pessoas religiosas. 

Para concluir dizer que recomendo vivamente qualquer um destes livros. A católicos crentes ou descrentes nas aparições de Fátima, bem como a qualquer outra pessoa, como eu por exemplo, que não tenho religião, mas gosto de ver saciada a minha fome de conhecimento. E agora, aqui deixo, como de costume, alguns excertos do livro (os parêntesis são meus) para vos deixar com alguma água na boca:

"O sobrenatural de Fatima foi obra de um pequeno grupo de eclesiásticos, inteligentes e ousados, que tinham contra o regime republicano, implantado em 1910, grandes ressentimentos". 

(isto vai de encontro ao que eu já sabia, pois, como aqui deixei alguns excertos, os responsáveis pela ditadura de 1926 foram, além dos monárquicos, os católicos.)

"A República reduzira a importância social do clero e os seus rendimentos, e isso levou os padres a hostilizarem abertamente o novo regime, tanto no púlpito como fora dele. E se eclodisse em Portugal um fenómeno sobrenatural, capaz de causar alguns engulhos a republicanos e livre-pensadores?

Usando de prudência e de absoluto sigilo, dois ou três eclesiásticos começaram a estudar um plano de atuação - e desses conciliábulos nasceram as aparições da Cova da Iria, na freguesia de Fátima, distrito de Santarém. Os autores do sobrenatural de Fátima pretendiam alcançar três objetivos imediatos:

1º Tentar a fundação duma nova Lourdes, que conservava então o primeiro lugar entre os centros de peregrinação do mundo católico.

2º Arranjar uma copiosa fonte de receita para a propaganda católica

3º Fazer de Fátima uma arma contra o regime republicano 


O Meio Geográfico e Social 

"Os habitantes do lugar de Aljustrel eram profundamente religiosos e, na sua quase totalidade, analfabetos. 

A mãe de Lúcia, aos serões, à luz da candeia, lia aos filhos episódios do Velho Testamento - nos quais a divindade está em contacto direto e permanente com os homens - e a "Missão Abreviada", que relatava a aparição de La Salette. Lúcia por consequência, considerava facto trivial a aparição de entes sobrenaturais a qualquer pessoa. 

A dureza da vida, como sempre acontece, torna a fé mais viva. Foi neste meio propício, no mais alto grau, à crença do sobrenatural, que fizeram agir os três pequenos videntes, que em 1917 tinham dez, nove e sete anos de idade. 

Os Pais dos Videntes

(O pai de Lúcia, António dos Santos, o "Abóbora", era homem de tabernas e da pinga, constantemente bêbado e nunca acreditou nas "aparições"; já Manuel Marto, pai de Jacinta e Francisco, que "não regulava bem da cabeça" era dado ao misticismo e sempre acreditou nelas).

"Francisco Marto, de nove anos de idade, e a sua irmã Jacinta, de sete, na historia de Fátima não passaram de comparsas sem qualquer relevo...

 
Francisco, apesar de ser dois anos mais velho que a irmã Jacinta, mentalmente valia menos do que ela. "Tinha os olhos parados e sem expressão" - escreveu a seu respeito o jornalista Leopoldo Nunes. Olhos parados e sem expressão denunciam atrofiamento das atividades mentais e falta de entendimento. 

O padre Ferreira de Lacerda, que interrogou Jacinta em 1917, deixou-nos este expressivo retrato:

"É bastante vergonhosa a pequenita Jacinta e não fala a todas as pessoas. Para conseguir que me falasse, foi necessário dar-lhe um terço, recordação que trouxera de Lourdes. Um pouco mais à vontade, a Jacinta respondia-me ao ouvido o que recordava das aparições, tendo como inabalável resposta, a maior parte das vezes, o silêncio  ou não me recordo. E o padre Lacerda acrescenta:

"Quando lhe faço algumas perguntas sobre as palavra que Nossa Senhora proferiu responde:
"Não me recordo bem, a Lúcia é que deve saber".

 Lúcia, ou porque entendeu mal a lição, ou porque quis colaborar com os seu mentores, afirmou no dia da última aparição (13 de Outubro de 1917) que a Senhora lhe tinha dito que a Grande Guerra (1914-1918) havia acabado naquele dia e que a esperassem, dentro em breve, o regresso dos soldados portugueses que combatiam em França. A Grande Guerra, como toda a gente sabe, veio a ter o seu termo em 11 de Novembro de 1918.

No dia 19 de Outubro de 1917, o cónego Nunes Formigão interrogou mais uma vez os videntes, e fez notar a Jacinta que a guerra não havia terminado no dia 13. A pequenita, sem ter a mais pequena noção do que dizia, insistiu:
"Nossa Senhora disse que, quando chegasse ao céu, acabava a guerra".
O cónego Formigão objetou:
- "Mas a guerra não acabou".
- "Acaba, acaba" - teimou a pequenita.
- "Mas então quando acaba?"
- "Cuido que acaba no domingo". 
Avalie-se por aqui a total inconsciência da infortunada criança. De outra vez, ao descrever a retirada de Nossa Senhora do local das aparições, disse:
- "Quando ela entrou pelo céu dentro, parece que as portas se fecharam com tanta pressa, que até os pés iam ficando de fora, entalados".

A Vidente Lúcia  

"É fácil avaliar a profunda deformação mental que a intensa catequese, a que foi submetida, devia ter produzido no cérebro débil duma criança de seis anos, que desconhece as mais elementares noções das realidades, criança tão ignorante e tão inconsciente que, quatro anos depois, a acreditarmos no que se lê em "Jacinta", não compreende o que sejam meses e anos e não sabe distinguir uns dos outros dias de semana.

Antero Figueiredo, dá mais uns retoques, mas o retrato permanece fiel:
"Lúcia, a menos criança das três, na idade, no corpo e no tento, tinha aspeto de uma serrana rude: face trigueira, boca larga, lábios grossos, as sobrancelhas espessas e quase travadas, sobre o olhar duro, davam-lhe o aspeto trombudo de arrenegada". 

Jacinta e Francisco tinham desaparecido muito oportunamente, a esses nenhum descrédito poderiam trazer para o prestígio de Fátima. Mas Lúcia? Poderia ela continuar a fazer-se mulher em liberdade sem que todo o "affaire" redundasse e estrondoso descalabro? A esta pergunta responde Antero de Figueiredo, com toda a ortodoxia da sua "mentalidade católica":

"Lúcia tem nesta altura (1921) catorze anos. O Bispo solícito, pensa também nessa pastora da Cova da Iria, que é necessário educar e instruir - nessa vidente que convém ocultar e isolar das vistas do mundo, poupando-a às inúmeras perguntas sempre impertinentes e às vezes inconvenientes das curiosas multidões sôfregas de mistério. É preciso sequestrá-la; necessário até que, não a vendo, ignorando-lhe absolutamente o paradeiro, pessoa alguma pense mais nela - a esqueçam."

"Lúcia é o tipo perfeito de criatura egocêntrica. Ao relatar os acontecimentos que se relacionam com as aparições, usava sempre o pronome eu e raríssimas o pronome s.  
 A primeira fase de adaptação de Lúcia aos interesses de Fátima vai ser realizada no Porto, no asilo de Vilar, dirigido por freiras, para onde é levada secretamente em 17 de Junho de 1921. Antes de para ali ser levada, comparece ante o bispo de Leiria, que, "entre outras instruções lhe impôs estas ordens terminantes":
- "A menina a ninguém anuncia para onde vai". 
- "A menina nunca mais fala a ninguém nas aparições de Fátima".
- "No colégio ninguém diz quem és

Para evitar inconveniências comprometedoras, como a afirmação que a guerra tinha terminado em 13 de Outubro de 191, é indispensável que se cale, é necessário que desapareça da cena da vida até ao momento em que, daquela massa amorfa, saia uma criatura que nada tenha em comum com a serrana de Aljustrel. 

Provas de Que a Virgem Não Apareceu em Fátima

"Se alguém por graça especial da Divindade, fosse objeto da visita duma entidade celestial, não poderia deixar de se sentir possuído duma intensa e sobrenatural alegria. Na Cova da Iria, muito ao contrário, ao julgarem-se na presença da Virgem os videntes sentem-se aterrorizados. 

Lúcia afirmou sempre, e por forma categórica, que a Virgem lhe havia dito, no dia da última aparição, que a Grande Guerra tinha acabado nesse dia - 13 de Outubro de 1917. 

Bastaria o facto da previsão do fim da guerra para 13 de Outubro de 1917 ter falhado, para que as pessoas honestas e esclarecidas não devessem acreditar na realidade das aparições, mesmo que fossem católicas. Mas a grade maioria dos crentes nas aparições de Fátima é constituída por pessoas ignaras, que acreditam em tudo, incluindo as mais estúpidas e absurdas superstições.   

La Salette / Lourdes / Fátima

La Salette também forneceu dois motivos para a nova história de Fátima (..) Outro diz respeito ao conteúdo de um dos segredos. Um deles, em La Salette, prometia a conversão da Inglaterra ao credo católico; em Fátima a conversão, da Rússia. Em face dos sucessos históricos, aconselhamos os autores das aparições a que sejam mais prudentes, quando se puserem a profetizar....

A respeito da pequena Jacinta, diz o cónego Nunes Formigão:
"Pouco antes de morrer perguntaram-lhe se queria tornar a ver a mãe, ao que respondeu que a família durava pouco tempo e que em breve se encontrariam no céu".
Os pais sobreviveram-lhe mais de trinta anos e existem vivos irmãos e irmãs. Santa Jacinta Marto não se abona como profetiza. 

O Segredo da Nova História de Fátima

"Se atenderem os meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguição à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á à Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz". 

Nos mais elevados setores da Igreja católica, acreditou-se, numa das fases cruciais da guerra de 1939-45, que a Rússia, derrotada, viria a converter-se e que o Papa se tornaria o chefe de todo o mundo cristão. 

Mas voltemos à revelação do segundo segredo e reparemos nesta afirmação:

"Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabereis que é o grande sinal"..

A aurora boreal de 25 de Janeiro de 1938, não foi afinal uma aurora boreal, como afirmaram os ignorantíssimos astrónomos e toda a imprensa europeia., mas sim uma peça de fogo de artifício, queimado por Deus com o fim exclusivo de avisar Lúcia de que a Grande Guerra Mundial (1939-1945) iria deflagrar daí a dezanove meses!  

3 comentários:

  1. Olá muito boa tarde!
    Fátima, La Salette, Lourdes, e muitas outras "ceitas", conseguem encher os corações dos fracos ao mesmo tempo que lhe esvaziam as carteiras.
    Um tema deveras interessante, pois é sabido que histórias bem contadas movem multidões e lideres astutos movem fortunas.
    Fui criada numa família com princípios ligados à igreja, e a minha mãe contava-me que nas sextas-feiras da quaresma não se podia comer carne excepto se pagasse a bula ao padre. ????? Nunca entendi, pois quem tinha dinheiro (para pagar o padre) podia comer carne, enquanto os pobres se comessem carne estavam em pecado.
    A minha boca sendo igual a todas as outras, com o meu dinheiro se me apetece como carne, não é o padre que manda na minha casa. :)
    Um bom fim de semana!

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    1. Olá boa tarde Tina,

      Olhe eu aqui nem estou a criticar a religião católica, porque pode-se ser perfeitamente católico - como observa o padre Mario de Oliveira - e não acreditar nas encenações de Fátima. Mas quando lemos o que se passou, e verificamos que as encenações foram tão mal fabricadas, que considero mesmo um insulto à inteligência das pessoas! Até aos anos oitenta a maioria da população era analfabeta, o problema é que as pessoas mais comuns, olhe, mesmo aquelas que não tinham dinheiro para pagar a carne que comiam ao padre! - já começam a abir os olhos, e cada vez mais a igreja vai perdendo fieis!
      Bom fim-de-semana!

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    2. Ora nem mais.
      Uma colecção de encenações todas fabricadas com a mesma base.
      O exemplo da carne era só mais um que funcionou durante muito tempo. No nosso interior talvez até ainda perdure.
      E no dia de hoje as pessoas mesmo tendo acesso a muita informação nem sempre despertam para a realidade! :)

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