quarta-feira, 26 de maio de 2021

Cândido (ou a Arte da SIC Aldrabar os Espectadores)



A última novela que terei visto na televisão foi Kubanacan em 2004. E foi por essa altura que deixei de ver novelas. O mais curioso é que nem sequer cheguei a ver o final da novela porque a SIC, sem qualquer respeito pelo espectador, andava sempre a mudar a merda da novela de horário, e, ainda por cima, nessa altura, ainda não existia aquela coisa de puxar a fita atrás e ver o que deu no dia anterior.

Eu continuo sem ver televisão. É verdade que tenho aqui no quarto um televisor mas que se o ligar não funciona porque nem sequer tem a caixa maravilhosa da Televisão-da-Treta (TDT). Serve para ligar o leitor de DVD e ir vendo uns filmes. Contudo, geralmente pelas 19h, quando chego a casa, e a minha mãe anda de volta da cozinha e está na companhia do meu padrasto, eu junto-me a eles. E, se nos últimos anos sempre foram clientes do Preço Certo com o Fernando Mendes, a verdade é que, depois da curiosidade da primeira temporada daquele programa "Quem-quer-andar-a-passear-de-jipe-com-o-agricultor-que-apanha-menos-sol-que-um-gótico?" foram-se deixando ficar pela SIC, e logo no primeiro episódio que apareceu a novela Eta Mundo Bom que eles a foram acompanhando e eu também por arrasto.

E não teremos sido caso único, porque a minha colega me ia dizendo que a novela já ia rivalizando com o Preço Certo a nível de audiências, o que é de facto algo de assinalar, visto que a RTP e o Fernando Mendes aquela hora não costumam dar hipóteses a ninguém.

"Eta Mundo Bom" é, curiosamente, uma novela inspirada no romance "Cândido (ou o Otimismo)" de Voltaire (1759) que até foi o último livro que comprei recentemente para ler quando tiver oportunidade. A novela, que acabou nesta segunda-feira, teve um tom de comédia, muito leve, recheada de maus e trapaceiros, mas e em que o lema do ingénuo Cândido, citando o seu mestre e professor de filosofia Pancrácio, é: "tudo o que acontece de ruim na vida da gente, é para melhorar" (no livro de Voltaire: "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis")

Só que, parece-me, a SIC nunca soube muito bem o que fazer com este Ferrari de audiências. E foi triste constatar que, quinze nos depois de Kubanacan, a estação adota os mesmos métodos vergonhosos, sem olhar a meios para atingir os seus fins. Sem qualquer respeito pelos espectadores, mudou a novela constantemente de horário, mais para trás e mais para a frente; vários dias deixou de a transmitir, prolongando a novela anterior até ao noticiário, e, pior, começou a editar vergonhosamente a novela, que tem quarenta minutos, mas da qual passou só a transmitir quinze! Num dado momento a polícia persegue os bandidos, na cena seguinte já está tudo bem sem o espectador perceber nada do que acabou de acontecer.

E entretanto os meus pais regressaram ao Preço Certo.

2 comentários:

  1. Olá bom dia !
    Curiosamente deixei de ver novelas pela mesma razão. Mas a falta de respeito pelos telespectadores não é exclusiva da SIC outras estações seguiram-lhe as pisadas.
    Por conveniência pessoal, tenho um contrato com uma operadora onde o serviço TV está incluído mas onde também gostam de nos atirar poeira para os olhos. Cabe-nos a nós fazer a selecção, e conseguimos aproveitar cerca de 10% da carrada de canais (alguns repetidos). É de salientar que o canal rádio é muito bom. :)
    Temos de andar de olhos abertos porque como diz o povo "Anda meio mundo a enganar o outro".
    :)
    Um bom dia !

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    1. Obrigado pelo comentário ;) bom feriado e bom fim-de-semana!

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