Na entrevista acho que foi amor à primeira vista. Ela podia ter escolhido qualquer um. Diz-se que houve centenas ou milhares de candidatos já nem sei. Mas escolheu-me a mim. Afinal são sempre elas que escolhem, não é? Desta última vez eu lancei a corte a várias, rejeitei uma ou outra antes, mas esta foi realmente a que me deu o melhor dote para casar com ela. Enamorei-me e já estamos casados vai fazer cinco anos. Mas aconteceu o que acontece mais ou menos com todas as relações.
A paixão foi fulminante. Desmesurada. E já se sabe como é na paixão. Fode-se a toda a hora em tudo que era sítio. Era no Escritório; no laboratório de Investigação & Desenvolvimento; na Produção; na Cave; nas casas de banho dos homens e das mulheres; experimentamos no banco do empilhador enquanto eu conduzia em marcha-atrás; era em todo o lado. Claro, menos em cima da mesa de ping pong que é sagrada! E assim continuou por muitos meses. Éramos felizes. Fazíamos planos a dois para o futuro. Íamos para todo o lado juntos, davamo-nos muito bem e a palavra discussão não fazia parte do nosso léxico. Éramos o casal modelo de toda a gente.
Sempre vivemos um para o outro e as coisas iam rolado bem, mas aos poucos o cenário começou a mudar. No último ano comecei a aperceber-me que ela me esconde coisas. Percebi que se me aproximo do telemóvel dela ela fica perturbada. Algo se passa. Cá para mim anda passarinho novo a voar no meu jardim. Comecei a ficar de sobreaviso. Na cama começou-se a escudar em relação ao sexo. Passei a ser sempre eu a abordá-la. E se ao início parece que ainda ia fazendo o frete, aos poucos começaram a aparecer as estratégicas dores de cabeça. Grande coincidência! Sempre que eu lhe começava a passar as mãos pelos sítios recônditos lá vinham a desculpa "hoje não estou com cabeça para isso". Mas é preciso cabeça para foder? É preciso é ter vontade! E depois ainda dizem que as mulheres são multifacetadas e que fazem várias coisas ao mesmo tempo! Mas afinal nem ter uma dor de cabeça e foder conseguem fazer ao mesmo tempo! Fartei-me quando comecei a ouvir os "só pensas nisso". Deixei de me importar e de a procurar para esses assuntos. Quando lhe passarem as dores de cabeça que me procure, se quiser. Talvez nessa altura seja eu que queira brincar de achacado às enxaquecas.
A relação degradou-se. Vamos estando juntos por estar. Talvez seja mais por estarmos habituados um ao outro que por outra coisa. Nem sei se ainda somos amigos sequer, talvez sejamos uns meros amigos-sósia. Os amigos desabafam e apoiam-se mutuamente. A frustração acumulada é muita. A motivação nenhuma. Ambos sabemos que não temos futuro juntos. Só o lado prático de manter as mesmas rotinas e de viver na mesma casa. Talvez a maior motivação para ficarmos juntos seja a vergonha que iríamos sentir ao admitir a derrota da separação.
Isto assim não pode continuar. Ando a pensar pôr termo a esta situação. Mas sinto-me dividido. E eu não sou homem de várias mulheres, se uma já dá tanto trabalho, sinceramente não sei como há homens que conseguem andar com duas ao mesmo tempo. Mas o fim está próximo. Sente-se. Acho que não há salvação possível. Nem com terapia para casais. Mas como eu também já sei, nem sempre tem que ser um drama. E quem sabe até podemos ficar bons amigos...
... e há uma grande diferença nisto tudo. Um emprego e a mulher que amamos, não é bem a mesma coisa.
Sem comentários:
Enviar um comentário