sábado, 22 de dezembro de 2018

O País dos Macacos de Imitação

Já depois de durante a semana ter ouvido uns comentários sobre o assunto no trabalho - imaginem, que "os sindicatos estavam a tremer com esta manifestação! (e eu só me ria!) - esta manhã a caminho do trabalho, ouvia na rádio sobre a tal pseudo-manifestação que prometia fazer parar Portugal e que iria causar grandes transtornos no trânsito. Contra o que se manifestariam?, perguntei-me. Não cheguei a saber. Mas ao que parece, fiquei a saber que não se falou de outra coisa nas televisões. Percebo. Na ausência de oposição séria ao governo socialista, que ainda assim, ironicamente, é feita maioritariamente pelos partidos de Esquerda que o suportam no parlamento, são os média em geral, com uma linha editorial muito clara, que tentam nas televisões e nos jornais capitalizar uma insatisfação que, se calhar, em boa verdade não existe porque, quando comparamos com com o governo anterior, a verdade é que, até ver, e dêem os argumentos que quiserem, o "diabo não veio com um governo apoiado por comunistas" e, seja lá pelo que for, a verdade é que as coisas estão incomparavelmente melhores.

Mas na volta, estas pessoas ligadas à extrema-direita portuguesa, que se juntam em perfis falsos criados no Facebook, e que felizmente que ainda têm muito pouca expressão no nosso país, se calhar deveriam estar a manifestar-se contra a devolução de feriados. Desde logo o feriado que tanto dizem prezar, como o da Independência a 1 de Dezembro e que o anterior governo de Direita cortou. Ou será que se manifestavam contra o aumento do salário mínimo? ou contra o défice mais baixo da história? se calhar era contra o maior investimento estrangeiro e com o menor desemprego dos últimos dez anos. Deve ter sido por isso que se lembraram de vestir os coletes dos automóveis e decidiram vir para as ruas, porque o país hoje, está muito melhor que há três anos! 

E logo a seguir a ouvir no rádio sobre a grande manifestação que ia parar Portugal, vi lá ao fundo da estrada, umas quantas pessoas nas beiras das estradas, vestidas de coletes verde-fluorescentes e de imediato pensei que era a tal manifestação. Tu queres ver que ainda me vão incendiar o carro? Mas quando passei nem para mim olharam. Afinal eram só uns cantoneiros que andavam de roçadoras na mão a limpar as beiras das estradas junto ao Estádio Jorge Sampaio.


O que acontece é que Portugal é um país de macacos de imitação. Ninguém tira nada da cabeça. Ninguém quer ser original. Aliás, historicamente, sempre imitamos tudo e todos. Os franceses principalmente, da República ao hino nacional que é uma cópia da marselhesa. São os recordes do Guiness e os desfiles parolos de Pais Natal; são os recordes do maior bolo-rei e da maior chouriça do mundo; são os lenços brancos nos estádios que só apareceram por cá há meia dúzia de anos depois de os verem em Espanha; são as feiras medievais que se propagaram como cogumelos com a chuva por todo o lado da Feira, que essa sim, é a terra onde se realizava uma feira na idade média; são os patrimónios imateriais da humanidade que, depois que descobriram que o cante alentejano foi património imaterial da humanidade, já todos querem que a parolice da sua terra também seja património mundial. Que levem a concurso o escarrar para chão, e os cagalhões dos cães nas beiras da estradas. Também pode ser que isso venha a ser património imaterial. 

Portugal é um país de macacos e trazer para cá os coletes verde fluorescente (deve andar tudo daltónico para chamar aquilo amarelo) foi só mais uma triste imitação que a extrema-direita agora se lembrou. Mas como se previa, ou como eu previa, aquilo foi uma tristeza. Tal como os racistas e xenófobos de extrema-direita são. Uma verdadeira tristeza. 

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