"Os homens aglomeram-se na estupidez como a limalha de ferro no íman. É a estupidez, é o carneirismo, que faz andar a multidão de preferência por um lado do caminho e não por outro (...)
Nunca notaste a violenta reação, o simultâneo movimento de defesa de uma comunidade de estúpidos, quando aparece um inteligente? Quando um inteligente entra na sala, os estúpidos riem-se da sua gravata; quando aparece no meio do povo injuriam-no ou crucificam-no; Jesus lutou contra a estupidez dos formalistas; Buda contra a estupidez dos brâmanes. Quando um inteligente diz: "Para ir buscar especiarias à Índia, em vez de dar a volta por África, experimentemos navegar para oeste", acaba por fazer a viagem de regresso com grilhões nos pulsos, ainda mesmo que na ida tenha descoberto um continente.
Outra pausa. Continuou:
- E este desastre acontece-lhe porque lutou contra a compacta organização daqueles que escolheram por mote a frase: "Sempre se fez assim". Mas se se fizesse como sempre fez, ainda hoje queimar-se-iam nas praças as feiticeiras, atormentar-se-iam com ferro em brasa os epilépticos, enforcar-se-iam como em 1600 os que comem carne na Quaresma, apedrejar-se-ia a adúltura, usar-se-ia a tortura para obrigar à confissão. É por virtude de algum inteligente que do apedrejamento da adúltera se desceu aos seis francos com que o código francês pune o adultério; é por obra de algum inteligente que a tortura não sobrevive a não ser em formas atenuadas numa ou noutra esquadra balcânica, onde os pontapés no baixo-ventre se chamam interrogatório.
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