domingo, 9 de dezembro de 2018

Compreender Finalmente o Amor

"Paulo Pott não respondeu.
- Que diz? perguntou ela. 
Êle pegou-lhe numa das mãos para a convidar ao silêncio e disse-lhe:
- Para ter alguma coisa de aproximativo sôbre a mulher e sôbre o amor, estudei a psicologia dos indivíduos e a psicologia colectiva: li as histórias dos romancistas mais fantasistas e os tratados mais sábios mais positivos; estudei demoradamente as obras dos antigos e dos ultra-modernos; fiz falar os homens que foram amados e os que foram atraiçoados; examinei o problema do ciúme, da fidelidade, da perfídia; tentei experiências nos outros e em mim próprio; recolhi confissões; analisei casos inumeráveis; interroguei uma mulher inteligente  que um hábito mental torara capaz de estudar em si própria os fenómenos e de me explicar as causas, os sintomas e as conseqüências; o meu cérebro tornou-se um ficheiro; creio que nada mais me resta ler de novo ou sentir àcêrca do amor, porque vi todos os tipos e previ todos os casos. Pois bem, minha senhora: ao fim de tantos anos de experiências, de análises e de me meditações, cheguei a uma conclusão... Devo dizê-la?
-Diga.

(...) 

Passos na areia. A voz de Lem-Lem Teoldé. 
- Dir-me-á depois - murmurou Liana.
O engenheiro entrou, trazendo no braço o casaco de lã flexível guarnecido pelas peles.
- Demorei-me, - disse êle, - porque não encontrava as chaves. Não sei onde as pões. Seria mais fácil encontrá-las se as pusesses sempre no mesmo lugar!
Liana não respondeu. Olhou com para o marido com êsse olhar frio, inimitável, das mulheres que começam a não amar. Paulo Pott sabia ainda beijar a mão às mulheres e a de Liana demorou-se-lhe nos lábios.
Tinha o olhar frio das mulheres que começam a já não amar, mas o tom da sua voz era triste, enquanto as mulheres que se preparam para atraiçoar têm um timbre alegre (...)



No dia seguinte, o engenheiro dirigiu-se para o Sul, para onde se prologava o caminho de ferro.
- Venho pedir-lhe emprestado um livro, - disse Liana, entrado na casa do juiz. - Tem algum que fale de amor?
- Só tenho livros que falam de amor, - respondeu Paulo Pott, levando-a para um aposento onde as estantes da biblioteca chegavam ao teto. 

(...)

- Depois de haver estudado o amor nos livros dos que o analisam e na epiderme dos que o praticam; depois de haver interrogado as mulheres instintivas e as mulheres que raciocinam, depois de ter analisado numerosos casos, lido muitas historietas, ouvido a resposta dos competentes, visto os gráficos dos aparelhos que registam as curvas do pensamento, os imprevistos da vontade, as oscilações do sentimento, depois de haver escutado os que explicam pela química os mistérios do amor e os que explicam pela electricidade, depois de ter dado ouvidos aos homens fingidos que restringem o amor a uma fórmula de eqüação e aos exaltados que o dilatam nas rimas dum poema, começo a crer que, para compreender alguma coisa do amor, é necessário seguir o método adoptado por ti ...
- Por mim?
- É o método mais racional, mais sério, mais científico, mais positivo...
Sem abrir os olhos, ela perguntou:
- Mas que método?
Êle curvou-se-lhe sôbre o rosto e respondeu:
- _________ ___________.

FIM


"O Homem que procura o Amor" / Pitigrilli (Dino Segrè)  1929



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