quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Quantos Anos é Preciso Trabalhar Para Compensar uma Licenciatura?

"O homem pode amar o seu semelhante até ao ponto de morrer por ele; 
mas não o ama tanto que trabalhe em seu favor." 
(Proudhon)

heraldsun.com.au/
Nesta sociedade, todos nós que vimos ao mundo somos obrigados a trabalhar para podermos sobreviver. Vamos para a escola e lá passamos muitos anos, uns mais do que outros, quer pelas diferentes capacidades de cada um, quer muitas vezes pelas possibilidades socio-económicas que os nossos progenitores têm, em poder, ou não, de nos proporcionar os estudos e mais concretamente ainda os estudos universitários. 

Desde criança que ia ouvindo dos adultos que se quisesse ser alguém na vida (seja lá o que isso queira dizer) que teria que estudar, ou então, em alternativa, ir acartar baldes de massa (só porque nasci com um pénis).

Ninguém dizia às crianças "estuda para seres culto e saberes muitas coisas" ou "vê se te esforças na escola para aprenderes e não seres um ignorante". No fundo as crianças passarão longos anos a fio nas escolas, e mesmo durante a vida adulta, para serem treinados para o trabalho e em função disso terem expectativas melhores ou piores na retribuição salarial. E muitas vezes escolhe-se em função disso, das expectativas salariais, porque sinceramente, eu duvido que haja tanta gente com vocação para medicina!

Quando eu era miúdo, ouvia muito falar na quarta classe, que eram os estudos que a maioria da população tinha, e ouvia também falar no "quinto ano" ou então no "sétimo ano", que já era uma coisa importante! Mas aos poucos e poucos a sociedade portuguesa foi mudando e os estudos e os empregos também. Se quando eu era criança a grande parte das mulheres ainda ficava em casa a cuidar da casa e dos filhos, nas últimas décadas já trabalham homem e mulher e chegados ao fim do mês muitas vezes não há dinheiro para se pôr de lado. 

Entretanto os estudos obrigatórios passaram para nove anos e de nove para doze anos (apesar do CDS ser contra). Os primeiros nove, segundo ouço falar, são agora quase de passagem obrigatória, e os doze são, se calhar a nova quarta classe. Cada vez mais os alunos vão para as universidades, e longe vão também os tempos em que as meninas ficavam em casa a aprender a bordar, e são agora elas que enchem mais as universidades. Aconteceu também o processo de Bolonha, as licenciaturas estão mais curtas, e entretanto investe-se mais em mestrados e doutoramentos que, de facto, depois compensam realmente mais do ponto de vista salarial. 

Só que, fruto de todas estas mudanças, e da recente crise que implicou a última vinda do FMI a Portugal, os salários praticados vêm sendo nivelados muito por baixo, e a crise serve de desculpa para se pagar menos e os patrões embolsarem ainda mais. E já não há vergonha para se oferecerem salários mínimos, ou pouco mais que mínimos a licenciados. E depois temos ainda o problema da falta de empregabilidade, ou seja, o jovem adulto passa três, quatro ou cinco anos na universidade, para depois ir dobrar roupa para uma loja ou estar na caixa de um hipermercado. 

Diz-se que em Portugal ainda é dos países onde mais compensa fazer fazer um curso superior visto que o salário mínimo é miserável. Mas, vamos lá ver uma coisa: quantos anos é que um jovem licenciado tem que trabalhar para compensar ter passado cinco anos a estudar a mais?

Vamos fazer umas pequenas estimativas. Segundo alguns estudos, o salário base anual dos recém-licenciados, no primeiro emprego, situa-se entre os 13 280 euros e os 17 856 euros anuais, ou seja, mais coisa menos coisa mil euros.

Vamos então supor o seguinte. Um jovem com o 12º anos, começa agora a trabalhar e nos primeiros cinco anos tem um vencimento médio de 700 euros. Ao fim de cinco anos ganhou cerca de 50 mil euros. Já o jovem que foi para a universidade, e que por lá estará durante cinco anos, vai pagar propinas, muitas vezes terá que pagar o aluguer de um quarto e todas as despesas inerentes ao estudo, como manuais, material, etc.

Se daqui por cinco anos o jovem que se ficou pelo 12º ano terá ganho cinquenta mil euros, o recém licenciado só daqui por cinco anos ganhará o seu primeiro salário (sim, é verdade que entretanto poderá fazer uns biscates, mas esse dinheiro será para sustentar os seus estudos). Fazendo as contas sem aumentos salariais será então assim:

Daqui por seis anos e seguintes:

                                  58.800    /    14.000
                                  68.600    /    28.000
                                  78.400    /    42.000
                                  88.200    /    56.000
                                  98.000    /    70.000
                                107.800    /    84.000 
                                117.600    /    98.000
                                127.400    /  112.000
                                137.200    /  126.000
                                147.000    /  140.000
                               156. 800    /  154.000
                                166.600    /  168.000
                                   
Respondendo, um licenciado que fique cinco anos na universidade, com estes valores estimados que introduzi, precisa de dezassete anos para ultrapassar o rendimento obtido por um aluno que se ficou pelo secundário.

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