1952 - Pavilhão dos Desportos - 1991 - Pavilhão Rosa Mota - 2019 - Arena Super Bock |
Este disco voador extraterrestre aterrou na cidade do Porto há sessenta e nove anos, mesmo em cima do Palácio de Cristal, que tinha sido inaugurado em 1865. Chamaram ao disco voador "pavilhão dos desportos" mas o antigo nome do espaço sobreviveu até aos dias de hoje ainda que não haja nenhum palácio para ver.
Entretanto em 1991, no mandato de Fernando Gomes (PS) à frente da câmara municipal do Porto, este decide homenagear a grande atleta e campeã olímpica portuense atribuindo-lhe o nome ao pavilhão dos desportos, passando este a designar-se "Pavilhão Rosa Mota", facto que não obteve qualquer contestação pública.
Os anos foram passando e o uso do pavilhão, que acolhia dos mais variados espetáculos e eventos, foi entrando em decadência, talvez, especulo eu, devido à falta de manutenção. Onze anos depois da mudança de nome, Rui Rio (PSD) chega à câmara municipal e por lá haveria de ficar doze anos sem nada ter feito, apesar de em 2005 o LNEC ter afirmado que estava em risco de cair. Ainda teve um projeto pensado, que causou grande polémica, porque previa a construção de um centro de congressos na zona do lago e teria de ser destruído parte do jardim e cortadas árvores (nada que Rio não tivesse feito na destruição da Praça da Liberdade pelo lápis de Siza Vieira). A verdade é que o que fica para a história é que Rui Rio nada fez pelo pavilhão Rosa Mota e este continuou a degradar-se ao longo dos seus doze anos de mandato e a cidade perdeu 5.7 milhões de euros de fundos comunitários para o restaurar.
Há seis anos chega à Câmara Municipal do Porto Rui Moreira (CDS/Independente) que inicia o processo de recuperação em 2014 com o lançamento de um concurso público que foi tudo menos pacífico.
Chegados a 2019 temos o disco voador que destruiu o Palácio de Cristal restaurado e independentemente de qualquer polémica, há que dar o mérito a quem fez alguma coisa para não o deixar implodir sobre si mesmo. Quem nada faz é que nunca é criticado.
Mas a polémica rebentou porque o mecenas privado quis ficar com a toponímia para si - "não há almoços nem restauros grátis"! - mas, segundo consta, o que estava acertado seria manter-se o nome da atleta e acrescentar-se o nome da marca de cervejas Ora, quando Rosa Mota soube da mudança de ideias, e da sua subalternização, como é óbvio, mandou-se ao ar e promete agora uma guerra nos tribunais com a câmara municipal.
O que eu acho disto tudo? Que não temos que andar a mendigar homenagens. Se o senhor presidente da câmara Rui Moreira deu o dito por não dito, eu, no lugar da Rosa Mota, o que fazia era de imediato exigir a retirada do meu nome daquele local. A Rosa Mota não fez como o outro que pagou a sua própria estátua, não exigiu nada, foi a câmara que decidiu homenageá-la, se agora outro presidente resolve subalternizar o seu nome, está no seu direito, mas a atleta também tem o direito, se quiser, de obrigar a autarquia a retirar o seu nome.
Um dia destes iremos passear pelos jardins Coca-Cola de Serralves ou subir à Torre McDonald's dos Clérigos, tal como o Coliseu do Porto não passou a ser da IURD mas é agora AGEAS e parece que ninguém se importou muito com isso, não houve manifestações, nem gente amarrada a cadeado, nem as gentes da cultura portuense muito incomodadas com isso.
Rosa Mota, conjuntamente com Carlos Lopes e Eusébio, foram dos maiores atletas portugueses do século vinte. Eu vi inúmeras maratonas de Rosa Mota, aquela menina franzina da Foz, que quando arrancava deixava toda a gente para trás. E não foi agora a primeira vez que foi maltratada. Lembro que há muitos anos, devido à falta de apoios, ameaçou correr por outro país de língua portuguesa (Angola ou Moçambique não lembro ao certo). Rosa Mota como atleta não tinha rival à altura. Mesmo numa altura em que se achava que as mulheres não deveriam correr a maratona porque eram inferiores aos homens. Rosa Mota sempre venceu as suas maratonas. Foi campeã europeia, mundial e olímpica! Infelizmente perdeu agora a corrida contra o capitalismo.
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