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terça-feira, 3 de junho de 2025

O Monólogo da Sara e o Céu da Língua do Gregório

O ano vai a meio e fui duas vezes ao teatro, nenhuma ao cinema, zero concertos e não acabei nenhum livro, mas fui uma vez ao Salão do Reino das Testemunhas de Jeová. Ah, pois, quão fixe isso é como experiência social?

Perdão. Escrevi sem pesquisar na internet e saiu merda. Mas agora fica assim. Não ando com cabeça para escrever e não me apetece ter agora de apagar e fazer uma nova introdução, afinal, só eu é que vou ler isto. Suspeito que já nem fantasmas leem este blog - ainda por cima tendo em conta que, ultimamente, e de há algum tempo para cá só abordo o tema política. 

Corrigindo. Não fui duas vezes ao teatro este ano porque, afinal, a penúltima vez que fui não foi neste inverno de 2025 mas sim em dezembro do ano passado. 

Fui ao Teatro Sá da Bandeira ver a peça "O Céu da Língua" do Gregório Duvivier. Quando li na imprensa acerca da peça, que desde logo me interessou, pensei, sei lá, que os bilhetes custassem uns 50€, afinal, agora parece que estamos todos ricos (na verdade eu estou mas já nem é rico em sonhos) porque tudo que é evento cultural esgota e a preços absurdos. Não é ter ou não ter dinheiro para dar, é achar um abuso. Ainda assim, bilhetes entre 12 e 22€ para o artista que é nem me pareceu assim muito exagerado, e a verdade é que ele estará agora mesmo em digressão pelo país com a mesma peça, e os preços duplicaram. 

Fui ver a peça sozinho. Ainda falei com um colega de trabalho mas ele acabou por não querer ou não poder ir. Estando sozinho podemos sempre entreter-nos a olhar em volta. A sala esgotou. À minha frente vários jovens, que pelo sotaque seriam, certamente, de famílias de "bem" e pareceu-me que nem sabiam muito bem ao que iam. Não me cruzei com ninguém conhecido meu, só vi mesmo a Capicua a passar e a dirigir-se ao seu lugar. 

Sobre a peça posso dizer que gostei bastante e, no final, até pensei: "isto está tão bom que até gostava de ter este texto e, caso estivesse em livro até o comprava". 

E voltei ao teatro há duas semanas para ver a peça "Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa" da Sara Barros Leitão. Da mesma forma já a tinha visto na imprensa, mas foi depois em  conversa (via net) com minha ex-colega de trabalho que acabamos a combinar ir ver a peça juntos (com o marido dela e meu colega de trabalho). 


“Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa" é o título roubado clandestinamente a um texto do livro “Novas Cartas Portuguesas”, e que dá o mote para este espetáculo.Partimos da criação do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico em Portugal para contar a história, ainda pouco conhecida, pouco contada, pouco reconhecida, pouco valorizada, do trabalho das mulheres, do seu poder de organização, reivindicação e mudança.
É a história das mulheres que limpam o mundo, das mulheres que cuidam do mundo, das mulheres que produzem, educam e preparam a força de trabalho.
Esta é a história do trabalho invisível que põe o mundo a mexer."

Bom, eu não posso dizer que sou entendido em teatro visto que ao longo da vida fui poucas vezes ao teatro. Também pouco acompanhei dos trabalhos televisivos desta atriz. Lembro-me de no ano passado, ou já há dois anos, de a ter apanhado na série da RTP "Dentro" que vi em semana que estive acamado. Vou acompanhando sim, um ou outro dos seus discursos políticos, sempre com uma enorme carga de emoção e magnetismo, e também já a apanhei numa ou outra entrevista na rádio. Sobre a peça, apesar de pouco entendido, posso sempre dizer se gostei ou não. E a verdade é que gostei muito. Achei a atuação da atriz (sozinha em palco) muito boa e tal como achei excelente todo o trabalho de pesquisa que se fez para dar vida e palco à luta destas mulheres. O espectador sai dali muito mais rico de conhecimento do que no momento em que tinha entrado. 

No final, e porque a peça estava inserida no programa do FITEI, houve direito a uma sessão de perguntas e respostas. Eu mantive-me caladinho, porque fico sempre muito tímido na presença de figuras públicas, ainda para mais com a luz que esta atriz irradia. 

O mais interessante de tudo é que ela mencionou que poderíamos adquirir o livro com o guião da peça, na sua própria livraria (Cassandra) e isso deixou-me bastante interessado e, de repente, fez-me lembrar da peça do Gregório Duvivier e do texto que gostaria de ter.

E porque agora já não estamos a seis pessoas de qualquer pessoa do mundo mas sim a uma mensagem nas redes sociais, vai daí, enviei-lhe mensagem e, do outro lado - não sei se foi ele mesmo ou alguém que lhe gere a rede social - respondeu que sim!, que está a vir para Portugal e que trará alguns exemplares. E assim sendo, mal veja que a peça passa cá pelo Porto tentarei saber como posso adquirir o texto. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Catarina e a Beleza de Ficar a Arder sem Bilhetes para o Teatro

Por uma ou outra vez tinha pensado ido ir ver a peça "Catarina e a Beleza de Matar Fascista" mas, por causa da pandemia a peça acabou cancelada. Até que, subitamente, foi noticiado agora que voltaria a Viseu e Penafiel. Bom, é desta pensei. E no dia seguinte preparei-me para comprar bilhetes... E não é que, para os três dias, daqui a mês e meio, já estava tudo esgotado? No dia seguinte a ter sido anunciado?

Pá, eu sei que o New York Times considerou a pela do Tiago Rodrigues como sendo uma das melhores da Europa, mas esgotar as três data para Penafiel no dia seguinte a ser anunciado? Por favor! Que é feito daquela coisa dos portugueses deixarem sempre tudo para a última?


sábado, 26 de fevereiro de 2022

Regresso ao Teatro Dois Anos Depois

Contam-se pelos dedos as vezes que fui o teatro. Acho que não é por mais nada, é tão simplesmente por não ter sido habituado a ir. Não ter nas minhas relações (que sempre foram muito poucas) pessoas que me convidassem ou incentivassem a ir. Mas a verdade é que comecei a ir mesmo sozinho. 

Tinha ido a última vez ver "Boudoir" uma peça inspirada em Filosofia na Alcova do Marquês de Sade, protagonizada por Maria João Abreu. Entretanto meteu-se uma pandemia pelo meio. Mas a verdade é que, mesmo durante a pandemia quis ir ao teatro ver "Catarina e a Beleza de Matar Fascista", mas por causa dos constrangimentos da própria pandemia, de constantes adiamentos e até de infeções entre os atores, acabei por não conseguir ver. 

Mas entretanto lá regressei de novo ao teatro. Foi no sábado passado. Tinha visto na newsletter da cidade de Matosinhos e desde logo fiquei com ideia em ir. É verdade que fazer 80Km num sábado à noite, sozinho, pode ser um pouco dissuasor. Mas contra isso decidi logo comprar o bilhete on-line. Assim, já não me poderia arrepender mais tarde.

E lá fui ver "Nossa Senhora da Açoteia", encenada e interpretada por Luís Vicente, que cresci a ver e a rir-me quando fazia de Átila em Duarte e Companhia. 

"A ação decorre em meados dos anos 60 do século passado, numa aldeia do Algarve litoral, quando ainda eram pujantes a faina da pesca e a indústria da conserva de peixe, e os homens e mulheres viviam do mar e para o mar.

A peça revela-nos encadeadas sequências de condenações familiares diversas, umas evidentes, outras obscuras. São narradas por uma personagem do tempo dos nossos avós. Fala-se de um outro tempo, portanto; e também de uma outra memória".

"Ah o que eu queria era que a Nossa Senhora me aparecesse"!

Como facilmente se percebe eu não sou conhecedor de teatro. Mas sei dizer se gostei ou não. E a verdade é que gostei bastante. A peça alterna momentos trágicos e cómicos. E é bastante educativa. Revela bem como era a vida miserável em Portugal, nomeadamente no Algarve, na década de sessenta pouco depois de ter começado a guerra colonial. Miserável e ingrata, principalmente para as mulheres.


Cada vez mais, não sei se é de estar a ficar velho, chamam-me a atenção as peças de teatro do que os filmes, principalmente os da moda, amaricanados. Tentarei estar mais atento ao que se passa e às peças que passem por cá no grande Porto e tentar apoiar mais esta arte. A sala estava bem composta, mas maioritariamente eram mulheres e eu terei sido dos mais novos. 

sábado, 5 de junho de 2021

Maria João Abreu e a Última Ida ao Teatro

Como bom acumulador de tralha, costumo guardar todos os bilhetes de concertos, idas ao cinema, até pulseiras de festivais! E por estes dias andava aqui no quarto a fazer umas grandes arrumações, quando encontrei este folheto da peça de teatro "Boudoir". 

Tinha visto que a peça, que se inspira na obra do Marquês de Sade iria estar em cena no Teatro Constantino Nery em Matosinhos e comentei na altura com namorada se ela não quereria ir comigo. Quando li "sete diálogo libertinos" pensei que fossem diálogos de vários livros da obra, não estava propriamente à espera que fossem diálogos exclusivamente da "Filosofia na Alcova" (La Philosophie dans le boudoir)! Porque de facto é bastante arrojado e a peça retratou-o muito bem.

A peça foi protagonizada pela Maria João Abreu que interpretou a depravada Madame de Saint-Ange. Eu não sou crítico de teatro, ainda por cima porque contam-se pelos dedos as vezes que fui ver uma peça, mas gostei e acho que a atriz e restante elenco esteve bem. 

Ironicamente, pouco tempo depois de protagonizar esta peça de Sade, que para além dos diálogos filosóficos é como se sabe de cariz sexual e bastante explícito, a protagonista Maria João vê-se envolvida numa sátira à sua pessoa por causa da expressão "chuva dourada" que usou num programa de televisão quando um outro ator esteve internado entre a vida e a morte. 


A segundo ironia é que, com a chuva dourada ou não, o tal ator lá acabou por se salvar e a Maria João Abreu acaba por morrer relativamente jovem, e, se calhar, todos aqueles que a gozaram, acabaram depois por se mostrar todos muito comovidos com a sua partida antecipada.  

domingo, 12 de maio de 2019

Coisas Que Me Lembram de Ti (3) - O Teatro


Uma cidade que tu gostas. Um filme que abortou antes de começar. Um dia de chuva miudinha. O surpreendente conforto da traseira duma carroça.

domingo, 7 de abril de 2019

Teatro: Odeio este Tempo Detergente


Já tinha ouvido falar da peça na rádio. Ana Nave apresentava em palco a poesia de Ruy Belo, interpretada por si e por Maria João Luís, acompanhadas musicalmente por José Peixoto que reconhecemos, por exemplo, dos Madredeus. 

Eu nunca li Ruy Belo, quase não leio poesia, não sei se iria gostar da poesia de Ruy Belo. Bom, mas certamente que iria gostar da Ana Nave. Há pessoas de quem os nossos olhos gostam muito de olhar. E a Ana Nave é uma pessoa que os meus olhos gostam mesmo muito de olhar e os ouvidos de ouvir. 

Em boa verdade eu não vou ao teatro e ficava sempre bem acrescentar que não sei bem porquê. Mas na verdade até sei. Eu não vou ao teatro porque nunca fui habituado a ir. Nunca me convidam a ir, não me relaciono com pessoas que tenham por hábito ir; não me relaciono com pessoas que me digam que foram ver determinada peça e que me aconselham a ir ver.

Mal soube que a peça ia estar no Teatro Constantino Nery em Matosinhos, fiquei inclinado a ir. Comentei com uma amiga que vive nessa cidade, e estava tudo acertado para irmos juntos ver esta peça. Mas, à última hora, por questões pessoais, ela não pôde ir.

E ainda bem que foi à última hora, pois já eu tinha estacionado a trezentos metros do teatro. Se me tivesse dito com muitas horas de antecedência, eu poderia ter encontrado aqui uma desculpa para ter ficado em casa, afinal, quem é que vai ao teatro sozinho? 

Fiquei no carro a ler enquanto esperava que a chuva parasse e fui comprar o bilhete. Dias antes tinha telefonado e a senhora que simpaticamente me devolveu a chamada, disse-me que, para duas pessoas, no próprio dia arranjava bilhetes, e que se viesse um pouco mais cedo, até arranjava melhores lugares. Fiquei na terceira fila, a meio, muito bem situado, a poucos metros do palco. 

Antes do teatro fui jantar. Imensos restaurantes por aquelas ruas de Matosinhos junto ao Porto de Leixões e o Rio Leça. Entrei, sim, é uma mesa só para mim, e escolhi um bife. Saquei do livro que ando a ler e coloquei-o em cima da mesa. É sempre bom aproveitar estes tempos mortos para adiantar umas páginas. O bife estava bom, mas achei que havia bife demais e batatas a murro e verduras de menos. Come-se demais. Come-se carne demais. 

E lá fui para o teatro. Perguntei ao segurança onde era a casa de banho. Subi ao primeiro piso. Quando saía entrava um senhor, alto, forte, de grandes barbas brancas. O rosto fez-me lembrar o Alfred Molina no filme Fridha Kahlo. Desci e encostei-me a um canto. À minha frente um casal. Ela tinha uns sapatos um tanto ao quanto góticos. Quando subi os olhos vi que o estilo condizia com a argola que tinha no nariz. 

As portas abriram-se. Procurei o meu lugar e sentei-me. A sala estava quente. Tirei o casaco e dobrei-o por cima das pernas. No palco de um chão preto, estava disposta do lado direito uma mesa com um computador portátil e uma cadeira, na frente dum ecrã onde se projetavam imagens, e do lado esquerdo do palco, sozinhos, estavam dois pares de sapatos.... à espera que as atrizes entrassem em cena para os virem calçar.

"Odeio este tempo detergente" é um espetáculo de sessenta minutos, com duas atrizes e um músico reconhecidos, e que custa menos que um bife na brasa. E se calhar deveríamos todos ir mais vezes ao teatro. Ali não são precisos óculos porque ali tudo é tridimensional, real e genuíno. Nem há pipocas, nem gente a falar e a olhar para o telemóvel. E no fim há aplausos e as atrizes curvam-se perante o público.

(e não deixa de ser absurdo que o Estado cobre mais do dobro do IVA por uma ida ao teatro que por uma tourada)