"O que é o amor? Parece-me que só poderemos considerá-lo como o efeito resultante das qualidades em nós produzidas por um belo objeto; estes efeitos arrebatam-nos; inflamam-nos; se possuirmos o objeto, eis-nos contentes, se nos for impossível tê-lo, desesperamos. Mas qual é a base desse sentimento?... O desejo. Quais são os resultados deste sentimento?...A loucura. Falemos do motivo e provemos o resultado. O motivo consiste em possuir o objeto: pois bem! Tentemos consegui-lo, mas com sagacidade; gozemo-lo quando o tivermos; consolemo-nos no caso contrário: mil outros objetos semelhantes e, frequentemente muito melhores, consolar-nos-ão da perda daqueles; todos os homens, todas as mulheres se parecem; não há amor que resista aos efeitos de uma sã reflexão. Oh! Não há maior engano do que essa loucura que, absorvendo em nós os resultados dos sentidos, nos coloca em tal estado que deixamos de ver e existir, senão para o objeto loucamente adorado! É isso viver? Não será antes privar-se, voluntariamente, de todas as doçuras da vida? Não será querer permanecer devorado por uma febre ardente que nos absorve e devora, deixando-nos apenas a felicidade dos gozos metafísicos, tão semelhante aos efeitos da loucura? Se devêssemos amá-lo sempre, a esse objeto adorável, se fosse certo que nunca devêssemos abandoná-lo, seria indubitavelmente uma extravagância, mas, pelo menos, desculpável. Acontece isso? Têm-se muitos exemplos dessas ligações eternas, que nunca se desmentiram? Alguns meses de gozo que depressa devolvem ao objeto o seu lugar verdadeiro, fazem-nos corar pelo incenso que queimámos nos seus altares e vamos muitas vezes ao ponto de nem sequer conceber que ele tenha podido seduzir-nos até esse ponto.
Oh, raparigas volumptuosas! Entregai-nos, pois, os vossos corpos, tanto quanto puderdes! Fodei, diverti-vos, eis o essencial; mas fugi cuidadosamente do amor."
A Filosofia na Alcova (Os Preceptores Imorais) 1795/ Marquês de Sade
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