sábado, 7 de novembro de 2020

Mais Historiadores, Menos Epidemiologistas


Na pandemia de pneumónica de 1918, difundida pelo mundo por causa do regresso das tropas da casa, a máscara foi o grande método de proteção, conjuntamente com outras recomendações como não cuspir, não tossir nem espirrar em cima das outras pessoas e evitar os grandes aglomerados de pessoas. A pandemia chega aos Estados Unidos em Outubro, e voluntariamente quatro em cada cinco pessoas usa uma máscara para se proteger e para proteger os outros. Entretanto graças a bandalheira que se instaurou, o uso da máscara acabou mesmo por ser obrigatório e com multas pesadas para quem não cumprisse. 

Os jornais publicaram instruções sobre como as pessoas poderiam fazer suas próprias máscaras em casa. Pessoas que não cumpram podem enfrentar pena de prisão, multas ou ter seu nome publicado no jornal, revelando que são os “preguiçosos das máscaras”.
E se hoje em dia os avisos chegam por telemóvel, há cem anos os conselhos importantes como o de arejar as casas eram afixados nos autocarros.


Mas depois do uso generalizado de máscara ter resultado e as infeções tinham baixado muito, as autoridades de saúde resolveram levantar estar restrições logo em Novembro, um mês depois da chegada da pandemia aos Estados Unidos. Houve imensas festas na rua, milhares de máscaras espalhadas pelo chão, com as pessoas a dançar e abraçadas umas às outras. Resultado: as infeções voltaram a subir e a máscara acaba por voltar a ser obrigatória em 1919, só que desta vez há enormes manifestações contra o uso das máscaras, prisões, devido àquilo que se designa por "cansaço pandémico".


Ora, se a política prestasse mais atenção aos historiadores e à história, já teria antecipado que, ou se ataca a dispersão de uma pandemia logo no início, com medidas obrigatórias ou, se deixar as coisas nas mãos da responsabilidade individual a coisa vai descambar com ajuntamentos como os que vimos por estes dias na Nazaré e já com mais de três mil casos diários reportados. Mais. Quando depois quiser impor alguma coisa, começarão a aparecer os negacionistas dos movimentos anti-máscara ou, pior, dos negacionistas da própria pandemia, exatamente como aconteceu em 1918.

Não era preciso inventar muito, bastaria olhar para o que aconteceu há cem anos. As mesmas formas de combater a transmissão da doença, as mesmas reações que as pessoas começaram a ter fruto do cansaço pandémico. Por isso, se calhar, teria sido bem mais importante os governos rodearem-se de historiadores e não tanto de epidemiologistas. 

1 comentário:

  1. Sem nada a acrescentar, subscrevo, mais doloroso (e patético) se torna observar a actual realidade com precedentes históricos onde nos apoiar; acho que a questão da responsabilização individual tem um duplo sentido, por um lado não hostilizar as pessoas e por outro lavar as mãos do assunto "há casos a mais porque voçês não se sabem comportar" o que, em termos de estratégica politica eleitoral, é bem pensado, e é assim que aqui se fazem as coisas, bem comum é inexistente.

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