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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Merditocracia

 Merditocracia é fazeres uma valente merda no ministério da saúde e depois não seres reconduzida mas o governo arranja-te um valente tacho noutro sítio para continuares a tua carreira merdosa.




domingo, 7 de abril de 2024

A Meritocracia é uma Justificação do Sistema



"É um dos grandes cientistas do comportamento, mas Robert Sapolsky não acredita que tenha qualquer mérito. E não diz isso com modéstia, mas com convicção. Este divulgador acredita que o livre arbítrio é uma ilusão, e que não somos mais do que a soma de uma série de fatores que escapam ao nosso controlo.

Sapolsky passou três décadas a estudar babuínos selvagens no Quénia, mas acabou por escrever livros, mundialmente famosos, o comportamento humano. Segundo a sua teoria, esta evolução estava escrita e não teve capacidade de escolha real. No seu novo livro, "Decidido", desenvolve esta ideia recorrendo à neurologia, filosofia e sociologia. Não és tu, não sou eu, é o determinismo. A frase, além de ser a melhor das desculpas, coloca questões morais sobre os conceitos de culpa, castigo, mérito ou esforço. 

Afirma que o livre arbítrio não existe. Como é então formada uma decisão sobre a qual acreditamos ter controlo?

Um comportamento é o produto final do que aconteceu no teu cérebro há um segundo. É a biologia, sobre a qual não temos controlo, a interagir com o ambiente, sobre o qual não temos controlo. A neurobiologia influencia as tuas decisões, assim como a genética, a geocronologia e as ciências sociais. Não é que todas estas disciplinas sejam diferentes, mas tornam-se numa única disciplina.

Então, o facto de ter escrito um livro não dependeu do seu esforço e vontade?

Escrever este livro exigiu muito trabalho, mas consegui fazê-lo e há um "eu" em todo este processo. Mas se realmente parar e analisar, percebo que terminei o livro devido ao tipo de pessoa que sou. E isso deve-se a muitos eventos que estão fora do meu controlo. É preciso muito trabalho para fazer isso e para refutar a crença de que tu ganhaste o que és e outras pessoas não o ganharam.

Tanto que quase ninguém o faz. Porque é que o conceito de meritocracia está tão na moda?

A meritocracia é uma justificação do sistema. As pessoas que têm mais poder são as que têm mais razões para amar e manter esta ideia. Podemos pensar que não faz sentido. Mas, por outro lado, se tiveres um tumor cerebral, queres garantir que sejas operado por um grande médico. É necessário garantir que os trabalhos difíceis sejam realizados pelas pessoas mais competentes. Mas isso deve ser feito sem lhes dizer que são melhores, que merecem estar ali, que o ganharam. O problema com esta ideia é que pode acabar com a motivação.

E pode gerar frustração. Nem toda a gente pode ser um grande médico.

Os Estados Unidos são um exemplo muito evidente disso, porque temos esta mitologia cultural incrivelmente enraizada, a ideia de que qualquer pessoa, se trabalhar arduamente, pode ter sucesso. Qualquer pessoa pode ficar rica se estiver suficientemente motivada. Qualquer criança pode vir a ser presidente. E a realidade é que, se nasceres na pobreza, há aproximadamente 90% de chances de continuares na pobreza quando fores adulto.

Se não existe livre arbítrio, o que acontece com conceitos como culpa e castigo?

Se alguém é violento, é preciso impedir que faça mal, mas isso não significa que seja culpa dele. Em vez de uma prisão, ele deveria ser colocado numa espécie de quarentena. É muito mais fácil olhar para alguém sem educação e sem sucesso e simpatizar e dizer que as circunstâncias o tornaram quem é. Mas se tiveres de olhar para um polícia que acabou de disparar contra um homem desarmado simplesmente pela cor da sua pele, porque num segundo pensou que aquela pessoa que segurava um telefone o estava a apontar com uma arma... É muito mais difícil concluir que é o produto do que viveu.

(entrevista publicada no jornal El País a 22 de Março)

domingo, 12 de novembro de 2023

Meritocracia é Saber Nascer com a Cor Certa e com a Carteira Certa dos Pais

Regresso, de novo, à mentira da meritocracia. 

Já aqui tinha lembrado que a palavra meritocracia aparece pela primeira vez no livro satírico e distópico "The Rise of Meritocracy", e lembrei que OCDE afirmou que uma família portuguesa pobre precisa de cinco gerações até os descendentes terem um salário médio.

Desta vez uma notícias sobre a forma como são tratadas as minorias no que à Saúde diz respeito. Em dois dias, duas notícias. Uma no reino de sua majestade e a outra, hoje, no Brasil. 

Ficamos a saber pelo Guardian que na Inglaterra, os bebés negros têm três vezes mais possibilidades de morrer do que os bebés brancos. Percebem? Os bebés brancos tiveram o "mérito" de ter estudado para nascer brancos, e isso fez toda a diferença no seu futuro!

Lê-se na notícia que: "Desde 2020 a taxa de mortalidade de crianças brancas manteve-se estável em cerca de três por 1.000 nascidos vivos, mas para os bebés negros aumentou de seis para quase nove, de acordo com dados do National Child Mortality Database, que reúne dados sobre as circunstâncias das mortes de crianças.


As taxas de mortalidade infantil nos bairros mais pobres da Inglaterra aumentaram para o dobro das áreas mais ricas, onde as taxas de mortalidade caíram. A taxa de mortalidade para os bebés asiáticos também aumentou 17%. A mortalidade infantil geral voltou a aumentar entre 2022 e 2023, com o aumento das desigualdades entre zonas ricas e pobres e comunidades brancas e negras.


Já hoje, no jornal Folha de São Paulo:



"A discriminação racial leva homens e mulheres negros a deixar de cuidar de doenças crônicas, que em diversos casos poderiam ser tratadas antes de evoluírem para um problema maior.

“Não houve nenhum momento na minha formação em que a diversidade foi abordada. Muitas patologias e questões que deviam ter sido estudadas [porque acometem mais determinada parcela da população] nunca foram vistas”, disse Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra.

Para a médica, que na graduação foi a única aluna negra entre cem estudantes, o modelo baseado em metas de atendimento não permite que profissionais realizem consultas direcionadas às necessidades do paciente.

“Quando falamos de mulheres negras, estamos falando de uma população que, muitas vezes, não é vista. Eu faço parte dessa parcela, e consigo olhar para essas mulheres de forma diferente.”

“Quando uma pessoa entra no escritório, está lá o médico carrancudo que supõe que ela é cisgênero e heterossexual. Ele não cogita que seja uma mulher que gosta de outras mulheres ou um homem que gosta de outros homens, e se, em algum momento da consulta, o paciente deixa isso claro, tem uma grande chance de ser maltratado.”

De acordo com ele, o preconceito e a heteronormatividade —na qual orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas— excluem gays, lésbicas, trans e não binários do sistema de saúde”.


Concluindo, a mentira da "meritocracia" tão propalada por estes dias pelo neoliberais e direita em geral, mais não é do que ter o "mérito" de nascer com a cor certa, com a sexualidade certa, numa zona do território certo e com a carteira certa dos pais!

A propósito, se quiserem comprar o livro "The Rise of Meritocracy", aproveitem! Está com 10% de desconto e portes grátis! Só custa 167€! É que é preciso mesmo muito mérito para poder ler um livro destes!


terça-feira, 1 de agosto de 2023

A Falácia da Meritocracia e Porque Deixamos de Ler na Adolescência

"Aos 20 meses de idade, um bebé de uma família de alto nível cultural articula 200 palavras enquanto um bebé de uma família de baixo nível cultural articula 20. É ultrajante. Eles aprendem a ler tarde e, quando começam a usar a leitura para aprender, faltam palavras. Muitas vezes eles não gostam aprender. Muitos de nós descobrimos as nossas vocações na escola, mas se não formos capazes de entender, nunca nos vamos entusiasmar com nada".




Entrevista a um professor do ensino secundário sobre os jovens e a leitura a propósito do seu livro "(En) Plan Lector - Sobrevivir a la adolescencia sin dejar de leer", publicada este domingo no El País. Por um lado deixa bem evidente a falácia da meritocracia, por outro é assustador o que smartphones e redes sociais estão a dazer. Aqui ficam alguns excertos:

"Por que é que na adolescência deixamos de ler?
Os jovens estão mais focados em compartilhar experiências com os amigos. O telemóvel é um lazer muito mais acessível. Assistir a um vídeo de 30 segundos não custa nada, mas pegar num livro exige esforço, mesmo que a recompensa seja muito maior.

A concentração dos meus alunos caiu muito com os smartphones. Tocamos no telemóvel cerca de mil vezes por dia e nos conectamos cerca de 150 vezes. Com o telemóvel na mesa, ages como uma pessoa com um QI muito mais baixo. Muitas vezes as crianças que brilham academicamente praticam balet ou música, que exigem muita concentração. As crianças geralmente estão muito cientes de que não se lembram dos vídeos curtos que viram ou que ficam nervosas se não houver uma mudança na atividade. Assistem às séries a uma velocidade de 1,5x porque são incapazes de suportar o ritmo normal, e até mesmo a música é acelerada. Nenhum deles acabou de ouvir uma música, eles sempre clicam no botãozinho antes disso. Isso faz com que sua capacidade de atenção seja esmagada.

Por isso, é impossível que leiam um romance. 
Eles leem porque não têm escolha, mas depois gostam muito. Na minha escola, levamo-los à biblioteca uma vez por semana para ler. Eles não podem tirar o telemóvel ou fazer qualquer outra atividade. A maioria adora. O fundamental é uma boa seleção de textos e deixá-los com tempo para ler. A leitura seria o exercício perfeito para que as crianças se tornassem donas de sua capacidade de se concentrar novamente. É uma luta que vale a pena levantar nas escolas diante de tantos tablets. As redes sociais ganham dinheiro com sua fragmentação de atenção. Eu sempre digo às crianças que elas são o produto, caso contrário elas estariam a pagar pelas redes sociais. É falsa essa ideia de que as redes sociais são um novo meio de comunicação, são sim um meio de publicidade. Temos que nos interessar pelo mundo deles. E isso é muito difícil. Tenho 11 anos no ensino secundário e no início tinha as chaves para entender as crianças e agora custa-me muito. Porque antes eu via televisão e eles também. Mas agora não porque eles estão no Youtube, TikTok...

Insiste muito na falta de compreensão da leitura em todos os níveis... 
Se eu não tenho palavras para nomear algo isso não existe para mim. Aos 20 meses de idade, um bebé de uma família de alto nível cultural manuseia 200 palavras e de baixo nível cultural 20. É ultrajante. Eles aprendem a ler tarde e, quando começam a usar a leitura para aprender, faltam palavras. Muitas vezes eles não gostam aprender. Muitos de nós descobrimos as nossas vocações na escola, mas se não formos capazes de entender, nunca nos vamos empolgar com nada.

A afirmação de que a leitura melhora a empatia é surpreendente no livro. Todos nós que somos leitores achamos que experimentamos a sensação de nos colocarmos no lugar de uma pessoa que não tem nada a ver conosco no início. A literatura faz-te entender que, além dessas diferenças está o ser humano".

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Viva a Meritocracia!


É fácil falar-se em "meritocracia" quando segundo a OCDE, uma família portuguesa pobre precisa de 5 gerações até os descendentes terem um salário médio.

Sobre a "meritocracia" o que pouca gente sabe é que é um termo pejorativo, inventado Michael Young, escritor de esquerda, no seu livro satírico de 1958 e que se chamava The Rise of Meritocracy

A obra retrata uma Inglaterra do futuro em que as pessoas são classificadas de acordo com sua inteligência, medida por testes padronizados. Os "mais inteligentes" recebem a melhor educação e têm acesso aos melhores empregos, e os “menos inteligentes” ficam com o que sobra. Mas esse sistema, que Young batiza de “meritocracia”, contém distorções evidentes:  os “mais inteligentes” são-no, em parte, justamente porque recebem educação de qualidade – sem a qual os "menos inteligentes" jamais terão qualquer hipótese de ascender. O livro mostra como um sistema aparentemente justo se pode tornar uma máquina de produzir e agravar injustiças. Termina na Revolta da Meritocracia, uma convulsão social que se passa em 2033. 

Resumindo: o termo “meritocracia” é pejorativo. Isso não impediu que, ao longo das décadas, fosse mudando de significado – e acabasse adotado pela direita como exemplo de coisa positiva, o que Young detestava. "O livro era uma sátira, uma advertência (que, nem preciso dizer, não foi ouvida)”, escreveu ele em 2001, um ano antes de morrer, no artigo Down with Meritocracy publicado no jornal inglês The Guardian.  

Ironicamente a piada de Young virou dogma e hoje dizem-nos que vivemos em tempos de "meritocracia" e que tudo aquilo que alcançamos depende apenas do nosso trabalho árduo. E se não conseguimos a culpa é nossa, é porque não nos esforçamos o suficiente, porque afinal, para direita, todos podemos ser ricos. Viva a "meritocracia"!!