Regresso, de novo, à mentira da meritocracia.
Já aqui tinha lembrado que a palavra meritocracia aparece pela primeira vez no livro satírico e distópico "The Rise of Meritocracy", e lembrei que OCDE afirmou que uma família portuguesa pobre precisa de cinco gerações até os descendentes terem um salário médio.
Desta vez uma notícias sobre a forma como são tratadas as minorias no que à Saúde diz respeito. Em dois dias, duas notícias. Uma no reino de sua majestade e a outra, hoje, no Brasil.
Ficamos a saber pelo Guardian que na Inglaterra, os bebés negros têm três vezes mais possibilidades de morrer do que os bebés brancos. Percebem? Os bebés brancos tiveram o "mérito" de ter estudado para nascer brancos, e isso fez toda a diferença no seu futuro!
Lê-se na notícia que: "Desde 2020 a taxa de mortalidade de crianças brancas manteve-se estável em cerca de três por 1.000 nascidos vivos, mas para os bebés negros aumentou de seis para quase nove, de acordo com dados do National Child Mortality Database, que reúne dados sobre as circunstâncias das mortes de crianças.
As taxas de mortalidade infantil nos bairros mais pobres da Inglaterra aumentaram para o dobro das áreas mais ricas, onde as taxas de mortalidade caíram. A taxa de mortalidade para os bebés asiáticos também aumentou 17%. A mortalidade infantil geral voltou a aumentar entre 2022 e 2023, com o aumento das desigualdades entre zonas ricas e pobres e comunidades brancas e negras.
Já hoje, no jornal Folha de São Paulo:
"A discriminação racial leva homens e mulheres negros a deixar de cuidar de doenças crônicas, que em diversos casos poderiam ser tratadas antes de evoluírem para um problema maior.
“Não houve nenhum momento na minha formação em que a diversidade foi abordada. Muitas patologias e questões que deviam ter sido estudadas [porque acometem mais determinada parcela da população] nunca foram vistas”, disse Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra.
Para a médica, que na graduação foi a única aluna negra entre cem estudantes, o modelo baseado em metas de atendimento não permite que profissionais realizem consultas direcionadas às necessidades do paciente.
“Quando falamos de mulheres negras, estamos falando de uma população que, muitas vezes, não é vista. Eu faço parte dessa parcela, e consigo olhar para essas mulheres de forma diferente.”
“Quando uma pessoa entra no escritório, está lá o médico carrancudo que supõe que ela é cisgênero e heterossexual. Ele não cogita que seja uma mulher que gosta de outras mulheres ou um homem que gosta de outros homens, e se, em algum momento da consulta, o paciente deixa isso claro, tem uma grande chance de ser maltratado.”
De acordo com ele, o preconceito e a heteronormatividade —na qual orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas— excluem gays, lésbicas, trans e não binários do sistema de saúde”.
Concluindo, a mentira da "meritocracia" tão propalada por estes dias pelo neoliberais e direita em geral, mais não é do que ter o "mérito" de nascer com a cor certa, com a sexualidade certa, numa zona do território certo e com a carteira certa dos pais!
A propósito, se quiserem comprar o livro "The Rise of Meritocracy", aproveitem! Está com 10% de desconto e portes grátis! Só custa 167€! É que é preciso mesmo muito mérito para poder ler um livro destes!
Sem comentários:
Enviar um comentário