sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Séneca Sobre a Amizade

Num tempo em que podemos ser presos preventivamente durante um ano e depois ficar dez anos à espera de ser julgado só porque temos amigos que nos emprestam dinheiro, ou até acontecer um golpe de Estado por causa de um comunicado da Justiça porque parece que os nossos amigos disseram umas coisas e pronunciaram o nosso nome, apeteceu-me lembrar os conselhos de Séneca, num dos meus livros preferidos: Cartas a Lucílio (mas que por brincadeira também lhe podemos chamar por estes dias de "Cartas a António Costa):



"Nada é mais agradável à alma do que uma amizade terna e fiel. É bom encontrarmos corações atenciosos, aos quais podes confiar todos os teus segredos sem perigo, cujas consciências receias menos do que a tua, cujas palavras suavizam as tuas inquietações, cujos conselhos facilitam as tuas decisões, cuja alegria dissipa a tua tristeza, cuja simples aparição te deixa radiante! 

Tanto quanto for possível, devemos escolher aqueles que estão livres de afecções: de facto, os vícios rastejam, passam de pessoa para pessoa com a proximidade e qualquer contacto com eles pode ser prejudicial.

Tal como numa epidemia, devemos ter o cuidado de não nos aproximarmos das pessoas afetadas, porque correremos perigo só de respirarmos perto delas, também, em relação aos amigos, devemos ter o cuidado de escolher aqueles que estão menos corrompidos: a doença começa quando se misturam os homens saudáveis com os doentes. Não estou, com isto, a exigir-te que procures e sigas apenas o sábio: de facto, onde encontrarás um homem destes, que procuro há tanto tempo? Procura o menos mau, antes de procurares o óptimo.

(...) Evitemos, sobretudo, os temperamentos tristes, que se lamentam de tudo e não deixam escapar uma única ocasião de se queixarem. Apesar de toda a fidelidade e de toda a bondade que possa demonstrar, um companheiro perturbado, que chora por tudo e por nada, é um inimigo da tranquilidade.

Cartas a Lucílio / Séneca

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