quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Os Três "R" da Ecologia e a Aberração de Aumentar o IUC dos Carros Velhos

Primeiro proibiram os pobres de entrar com o carro velho em Lisboa e ninguém fez nada... 




O que quer que esteja escrito no orçamento do Estado para 2024 não interessa nada pois atualmente só se discute o aumento do IUC para os carros de quem não tem dinheiro para comprar um mais moderno, ou porque não acha que ter um carro caro é uma prioridade. 

O assunto IUC secou por completo todas as outras discussões na opinião pública, o que, diga-se, só favorece o governo. Não se fala de verbas para o SNS, para médicos nos urgências dos hospitais, ou para, de uma vez por todas resolver o problema dos professores; ou a questão da habitação. Nada! Discutem-se sim os aumentos de 1000% nos carros velhos dos pobres. 

Tenho visto muitos argumentos interessantes contra, quer do ponto de vista da justiça fiscal, quer pelo lado ambiental. Mas o meu ponto de vista é, se calhar, o mais elementar de todos, e já assim foi quando António Costa, então presidente da Câmara de Lisboa, decidiu proibir os carros velhos, dos pobres, de entrar na capital, o que a meu ver é uma completa aberração e um contrassenso. 

Aprendemos todos na escolinha os três R da ecologia, do ambiente ou da sustentabilidade. Ora, se bem me lembro, os três R dizem que, primeiro, devemos Reduzir. E reduzir significa desde logo produzir menos. Então se o tema é carro, devemos produzir menos carros. Devemos comprar menos carros. 

O R que vem a seguir é Reutilizar. Significa isto que devemos utilizar as coisas o máximo tempo possível, e não andar sempre a mudar para impressionar a vizinhança ou para tentar engatar uma loira burra que se impressione com o tamanho do empréstimo em que nos metemos para mostrar um bólide moderno. 

Devemos então utilizar o mesmo carro o maior número de anos possível. Devemos estimá-lo, fazer as revisões, repará-lo, para só então, quando não for economicamente viável, ter que o trocar por outro. De preferência, outro caso usado. Isto era o que se deveria fazer, sempre!

As marcas, como acontecia antigamente, deveriam manter o mesmo modelo em produção, e que fosse fiável por dez, vinte ou trinta anos, como muitos modelos emblemáticos foram produzidos no passado. Hoje em dia, fruto da voracidade capitalista que só pensa em lucro e mas lucro, o que interessa é produzir muito, muitos novos modelos, para que as pessoas sintam que já estão desatualizadas e que se sintam pressionadas a ter o último grito da tecnoclogia- tal como acontece com a indústria têxtil ou da tecnologia -  mesmo que um carro seja só um objeto com o intuito de levar a pessoa do ponto A ao ponto B e, nesse particular são todos iguais. Têm quatro rodas, assentos, e andam rasteirinhos ao chão, em cima da terra. Ainda nem sequer levantam voo!, e isso sim, seria realmente uma mudança tecnológica. Mas até lá são todos iguais.  

Produz-se muito, muito depressa e mal. Tão depressa que não raras as vezes as marcas mandam recolher determinados modelos porque vêm com defeitos de fabrico. E além de serem produzidos dezenas de novos modelos todos os anos (ainda que cada vez mais iguais), parecem feitos de merda porque não valem nada a ponta dum corno! Estão sempre a avariar, e os custos de reparação são altíssimos! Além de depois ter que se esperar meses por peças de substituição!

E assim sendo, e porque têm uma pegada ecológica muito menor ao não consumir tanto, as pessoas deveriam ser incentivadas e beneficiadas por manter carros antigos. Mas o que é que faz o governo? Precisamente o contrário! Penaliza fortemente as pessoas que reutilizam o mesmo carro anos sem fim! A medida do governo é absurda, por um lado, do ponto de vista da justiça fiscal, porque penaliza os mais pobres mas, por outro, porque incentiva o consumo, a compra massiva de novos carros, o contrário do que se deveria fazer.

Ninguém está minimamente interessado em proteger o ambiente ou pelo menos ser sustentável. Ninguém! A única coisa que interessa é o negócio, o dinheiro. Há vinte anos andava o Durão Barroso a dizer "comprem carros a diesel, são os mais eficientes e serão o futuro". Vinte anos depois já não prestam! Porque agora o que interessa é vender carros elétricos, mesmo que isso seja um embuste, porque têm uma pegada ecológica muito superior, e, ao contrário do que se disse, as pessoas não estão a comprar elétricos para as grandes viagens, nem poderiam, porque as baterias ainda não dão esse número de quilómetros de autonomia sem terem que ser recarregadas. 

O que o ambiente precisa é de menos carros. Nós não precisamos trocar um carro a gasolina ou gasóleo por um elétrico! Nós precisamos de produzir menos carros, de usar menos o carro diariamente! Precisamos de melhores transportes públicos. Precisamos de comboios, que infelizmente andaram a ser destruídos e ainda nem sequer temos uma ferrovia de alta velocidade. 

Quanto ao resto, é tudo tanga. Ninguém está interessado em produzir menos, aliás, quem mais consome, até é beneficiado em IRS! E agora tudo conta: a mercearia, dormir em hotéis, ir ao restaurante, ir ao cabeleireiro, deixar o carro na oficina! Toda a nossa sociedade está organizada para o consumo. Consuma muito que nós damos-lhe mais dinheiro!

Ninguém está minimamente interessado no ambiente. Nem os governos, nem as pessoas. 



2 comentários:

  1. Ora ai está uma analise sob o ponto de vista correto!
    infelizmente é o que menos se fala...

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    1. Sim, já vi protestos absurdos. Li coisas nas redes sociais de levantar os os pelos das sobrancelhas! do géneros "os ambientalistas são uns atrasados mentais". Eu até tinha pensado estar presente no protesto organizado de hoje no Porto mas o alerta de mau tempo desincentivou. Mas também que não pressinta que o protesto é organizado pelos fascistas do partido ilegal, porque certamente não me associarei a uma manifestação organizada por eles. Aquilo é gente que não interessa nem ao Diabo!

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