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terça-feira, 1 de agosto de 2023

A Falácia da Meritocracia e Porque Deixamos de Ler na Adolescência

"Aos 20 meses de idade, um bebé de uma família de alto nível cultural articula 200 palavras enquanto um bebé de uma família de baixo nível cultural articula 20. É ultrajante. Eles aprendem a ler tarde e, quando começam a usar a leitura para aprender, faltam palavras. Muitas vezes eles não gostam aprender. Muitos de nós descobrimos as nossas vocações na escola, mas se não formos capazes de entender, nunca nos vamos entusiasmar com nada".




Entrevista a um professor do ensino secundário sobre os jovens e a leitura a propósito do seu livro "(En) Plan Lector - Sobrevivir a la adolescencia sin dejar de leer", publicada este domingo no El País. Por um lado deixa bem evidente a falácia da meritocracia, por outro é assustador o que smartphones e redes sociais estão a dazer. Aqui ficam alguns excertos:

"Por que é que na adolescência deixamos de ler?
Os jovens estão mais focados em compartilhar experiências com os amigos. O telemóvel é um lazer muito mais acessível. Assistir a um vídeo de 30 segundos não custa nada, mas pegar num livro exige esforço, mesmo que a recompensa seja muito maior.

A concentração dos meus alunos caiu muito com os smartphones. Tocamos no telemóvel cerca de mil vezes por dia e nos conectamos cerca de 150 vezes. Com o telemóvel na mesa, ages como uma pessoa com um QI muito mais baixo. Muitas vezes as crianças que brilham academicamente praticam balet ou música, que exigem muita concentração. As crianças geralmente estão muito cientes de que não se lembram dos vídeos curtos que viram ou que ficam nervosas se não houver uma mudança na atividade. Assistem às séries a uma velocidade de 1,5x porque são incapazes de suportar o ritmo normal, e até mesmo a música é acelerada. Nenhum deles acabou de ouvir uma música, eles sempre clicam no botãozinho antes disso. Isso faz com que sua capacidade de atenção seja esmagada.

Por isso, é impossível que leiam um romance. 
Eles leem porque não têm escolha, mas depois gostam muito. Na minha escola, levamo-los à biblioteca uma vez por semana para ler. Eles não podem tirar o telemóvel ou fazer qualquer outra atividade. A maioria adora. O fundamental é uma boa seleção de textos e deixá-los com tempo para ler. A leitura seria o exercício perfeito para que as crianças se tornassem donas de sua capacidade de se concentrar novamente. É uma luta que vale a pena levantar nas escolas diante de tantos tablets. As redes sociais ganham dinheiro com sua fragmentação de atenção. Eu sempre digo às crianças que elas são o produto, caso contrário elas estariam a pagar pelas redes sociais. É falsa essa ideia de que as redes sociais são um novo meio de comunicação, são sim um meio de publicidade. Temos que nos interessar pelo mundo deles. E isso é muito difícil. Tenho 11 anos no ensino secundário e no início tinha as chaves para entender as crianças e agora custa-me muito. Porque antes eu via televisão e eles também. Mas agora não porque eles estão no Youtube, TikTok...

Insiste muito na falta de compreensão da leitura em todos os níveis... 
Se eu não tenho palavras para nomear algo isso não existe para mim. Aos 20 meses de idade, um bebé de uma família de alto nível cultural manuseia 200 palavras e de baixo nível cultural 20. É ultrajante. Eles aprendem a ler tarde e, quando começam a usar a leitura para aprender, faltam palavras. Muitas vezes eles não gostam aprender. Muitos de nós descobrimos as nossas vocações na escola, mas se não formos capazes de entender, nunca nos vamos empolgar com nada.

A afirmação de que a leitura melhora a empatia é surpreendente no livro. Todos nós que somos leitores achamos que experimentamos a sensação de nos colocarmos no lugar de uma pessoa que não tem nada a ver conosco no início. A literatura faz-te entender que, além dessas diferenças está o ser humano".

terça-feira, 21 de setembro de 2021

A Árvore do Homem



Este ano de 2021 não tem sido particularmente rico em leituras. Estou em crer que deverá ter sido a seguir ao Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado que iniciei a leitura do livro "A árvore do homem" de Patrick White. 

Tinha o livro na estante, que me terá chegado às mãos por aquela minha ideia meia maluca de trocar Plantas por Livros e, depois de pegar nele e me ter informado, quer da história do romance, quer do autor que ganhou o Nobel da Literatura, resolvi avançar para a sua leitura. 

A minha edição do livro é do Círculo de Leitores e tem 650 páginas de uma letrinha muito pequenina. Talvez isso tenha ajudado a que este tenha sido, ultimamente, dos livros que mais demorei a ler, tanto que pelo meio li uns três, o Fátima Desmascarada de João Ilharco, O Ingénuo e Cândido, Ou o Otimismo de Voltaire. 


O romance está muito bem escrito e conta-nos a história da vida de Stan Parker e da sua mulher Amy que se mudam para os arredores de Sydney depois de Stan ter desfloresta um terreno de eucaliptos que herdou depois da morte do pai. E o livro é a história da vida simples e monótona dos Parkers, que por vezes é abalada por grandes acontecimentos como grandes inundações, incêndios, a guerra ou o nascimento dos filhos, mas é também a história das suas crises existenciais, do amor e a espiritualidade, as tentações e a luxúria, da falta de comunicação e diálogo, e muito também sobre como lidar com os outros e connosco próprios. Afinal, o que queremos para a nossa vida?

Mas talvez toda aquela rotina monótona também me tenha desincentivado a querer avançar rápido no livro. Mas não o abandonei. Fui sempre voltando a pegar a nele e avançando aos poucos, fazendo questão de o acabar e querer saber do rumo ia levar os filhos do casal quando saíram de casa, Ray, o puto traquina que só fazia asneiras e tinha má índole, e Telma, a miúda enfezada a adoentada mas que com toda a sua disciplina e ambição começou a subir na vida. 

A Árvore do Homem é um livro sobre a vida das pessoas e sobre o significado da vida. Não é propriamente um livro fácil de ser lido, pelo menos não o foi para mim. Mas muita vezes os melhores frutos da árvore são também os mais inacessíveis de lhe chegar.