"O amigo, efetivamente, ali estava, tendo nas mãos um grosso livro de páginas furadas por uns pequenos orifícios sobre os quais passava vagarosamente os dedos pálidos, cheios de nós como um bambu, olhando para o ar, com o olhar vago.
O presidente sentou-se a seu lado, pegou-lhe na mão e apertou-lha com modo afetuoso.
- Já? - perguntou o cego com um sorriso na direção dele, mas um pouco desviado. - Acabaste?
- Acabei sim. Que estás a ler?
- Vergílio.
- É o prémio Goncourt deste ano?
- Não. Só leio livros antigos. Todo o livro novo não é mais do que a mistura de ideias, de factos e de nomes tirados de outros livros e dispostos numa ordem um tanto diferente. Apenas impresso, vai tomar lugar nas estantes até que um novo escritor dali o tire para extrair uma ideia, um facto uma data ou um nome, que misturará com outros elementos tirados doutros livros, para deles fazer um novo livro. Mais vale ler um livro antigo.
"O Homem que Procura o Amor" - Pitigrilli (Dino Segrè)
"O Homem que Procura o Amor" - Pitigrilli (Dino Segrè)
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