"O meu pai, desde pequenino, dizia uma coisa que eu achava que era um tique "posso estar enganado mas..." e nós gozávamos com ele. Ele falava connosco em inglês (a minha mãe é inglesa) e então ele de vez em quando fazia uns erros e quando isso acontecia eu dizia "ó pai isso não está certo". Ele dizia: "Ó pá, isso é a melhor coisa que me podes dizer!"
Também eu Miguel, gosto muito que me digam quando tenho um pedaço de alface metido no meio dos dentes, uma catota no nariz, ou, me digam que estou errado, por exemplo no português. Ainda me lembro, quando teria uns quatro ou cinco anos e dizia "camboio" e depois me corrigiram que era comboio que se dizia. Tal como fiquei agradecido quando a primeira namorada me disse que não se dizia "quaisqueres" porque o plural de qualquer é quaisquer. Ou recentemente, quando me disseram que era logótipo que se dizia e não "lógo-tipo". Gosto de aprender mais, porque infelizmente ninguém sabe tudo, muito menos eu, que a única certeza que tenho, é a de que pouco ou nada sei. Mas infelizmente a maioria das pessoas não pensa assim, e está sempre tão cheia de certezas acerca da sua ignorância.
Estou em crer que a primeira vez que coloquei as pessoas da empresa em alvoroço, foi quando disse que tinha "tartarugas da Florida". Não, o problema não tinha nada que ver com as tartarugas, tinha sim com a forma como pronunciei "Florida". Tal como se diz em "jardim florido", a palavra "Florida" que designa o Estado norte americano, por ser de origem hispânica e não anglo-saxónica, pronuncia-se como no português.
De imediato tentaram-me corrigir afirmando que eu estava a pronunciar mal. É Flórida que se diz, porque afinal toda a gente, incluindo os jornalistas da televisão assim dizem. E se se diz na televisão, quem és tu para dizer de forma diferente! E preparou-se de imediato um verdadeiro pelotão de fuzilamento e todos, sem exceção, afirmaram que eu estava errado, tão simplesmente porque a ignorância é muito atrevida e é tão cheia de certezas. Então a primeira coisa que se lembraram - tão inocentes! foi de pesquisar a palavra com acento, querendo provar que a palavra é acentuada (coisa que nunca foi) e lá me mostraram sites em que a palavra aparecia acentuada, não sabendo que um motor de busca como o Google simplesmente apresenta resultados para aquilo que pesquisamos, e se alguém assim escreveu mal, e pesquisamos mal escrito, iremos ter como resultado aquilo que pesquisamos.
O fanatismo é tão grande que quando mostrei sítios como o dicionário online Priberam.pt, ou o Ciberdúvidas, verdadeiro sítio de esclarecimento da língua portuguesa, que diz como se pronuncia "Florida" era porque eram "sítios que me interessavam"! Tu queres ver que eu lhes disse para escreverem mal, só porque era como eu achava que é?!
Claro que remar contra a maré é sempre muito mais difícil do que se nos deixarmos levar. Continuo tantas vezes a perguntar-me porque me importo e porque entro em tantas discussões que à partida sei que não vão levar a lugar algum e que o melhor seria deixar as pessoas continuarem na sua ignorância. No fim desta discussão, e mesmo depois de perceberem que estavam errado, ainda ouvi um "mas eu vou continuar a dizer Flórida", e de todos eles, acho que só mesmo um terá querido corrigir-se.
Por uma outra vez tinha cinco pessoas à minha volta, (sim, contei-as na altura perante tal insólito que estava a acontecer!) e, qual manada de hienas a rosnar, só porque eu disse que "posso estar enganado mas acho que se diz "dep" e não "dip" porque o nome se escreve com dois p e não com dois e" referindo-me ao ator Johnny Depp, ídolo de algumas das pessoas que lá estavam e não propriamente o meu ator preferido. E, em vez das pessoas se questionarem se estão certas, não, logo afirmaram convictamente que eu estava errado!, porque afinal parece que toda a gente que conhecem diz Johnny Dip!
Claro que remar contra a maré é sempre muito mais difícil do que se nos deixarmos levar. Continuo tantas vezes a perguntar-me porque me importo e porque entro em tantas discussões que à partida sei que não vão levar a lugar algum e que o melhor seria deixar as pessoas continuarem na sua ignorância. No fim desta discussão, e mesmo depois de perceberem que estavam errado, ainda ouvi um "mas eu vou continuar a dizer Flórida", e de todos eles, acho que só mesmo um terá querido corrigir-se.
Por uma outra vez tinha cinco pessoas à minha volta, (sim, contei-as na altura perante tal insólito que estava a acontecer!) e, qual manada de hienas a rosnar, só porque eu disse que "posso estar enganado mas acho que se diz "dep" e não "dip" porque o nome se escreve com dois p e não com dois e" referindo-me ao ator Johnny Depp, ídolo de algumas das pessoas que lá estavam e não propriamente o meu ator preferido. E, em vez das pessoas se questionarem se estão certas, não, logo afirmaram convictamente que eu estava errado!, porque afinal parece que toda a gente que conhecem diz Johnny Dip!
Numa outra situação, falava-se de politica, assunto diga-se, que há muito me aborrece, não fosse eu o único a defender as minorias, os trabalhadores, e a igualdade, ao passo que os meus caros colegas, estão sempre do outro lado da barricada, e confesso que, estar ali sempre enfiado numa trincheira, isolado, sempre a ser bombardeado por todos os lados que há muito me cansa, ainda por cima, porque nunca ninguém vai convencer os outros de nada, porque as pessoas baseiam-se sempre nas suas convicções morais, e muitas vezes mesmo com factos à frente dos olhos, não os vão querer ver. E desta vez eu até estava ao longe, mas quando alguém falou, para dar um exemplo de como os imigrantes são perigosos, citou o argumento do "Arrastão de Carcavelos" ao que eu só disse: "deixem-me só fazer um parêntesis, é que o arrastão é só mais um mito urbano, que nunca existiu e foi uma invenção da extrema-direita, de alguns polícias, empresários e de alguns autarcas".
Adiantou alguma coisa eu ter chamado a atenção que a pessoa estava com um bocado de alface enfiada nos dentes? Não! Nada! Só serviu para a pessoa se exaltar, afirmar convictamente que tinha a certeza que isso foi realmente verdade, que "quinhentos pretos entraram praia adentro e roubaram toda a gente". E pronto, lá fui eu fazer uma pesquisa, enviar um e-mail com o relatório da polícia, com um relatório da Amnistia-Internacional, e com um artigo a falar da péssima cobertura jornalística do tal pseudo-arrastão que nunca existiu. Anos mais tarde, voltou-se a falar no Arrastão e a mesma pessoa, mesmo depois de ter recebido toda essa informação, voltou a repetir o mesmo, que o arrastão existiu! Sim, para que é que uma pessoa anda a gastar o seu latim, se as pessoas simplesmente querem-se manter ignorantes e não querem retirar o pedacinho verde entre os dentes mesmo quando lhes dizemos que ele está lá?
Miguel, também eu gosto muito que me corrijam, principalmente quando falo ou escrevo algo errado, então com erros de português fico agradecido, mas infelizmente, a verdade é que as pessoas não gostam de ser corrigidas
A sociedade convida à preguiça de seguir a manada!
ResponderEliminarRefletir cansa...
Olá boa noite Ceres,
EliminarSim, a sociedade adora que as pessoas sigam em manada, que ninguém pense pela sua própria cabeça, e que ninguém ouse ser diferente!