sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Não Tens Fotografia?

Não sei. Talvez sejam sinais dos tempos. 

Não sei ao certo quantas pessoas fui conhecendo e que, só passado algum tempo, algumas vezes muitos meses depois é que conheci pessoalmente e soube como eram fisicamente. Não quero agora começar a contar, mas foram vários casos, várias mulheres que se calhar os dedos de uma mão não cheguem para contar. 

Confesso que gosto desse jogo de ir desvendando a outra pessoa aos poucos. As palavras que emprega, as semelhanças que tem connosco, a empatia, a sua cultura, as suas opões de vida. E claro que também percebemos quando o outro nos está a analisar e nos faz determinadas perguntas. Não somos parvos, especialmente quando até já temos uns cabelitos brancos. Por outro lado, já sou muitas vezes parvo no sentido de não usar muitas máscaras e filtros. Mostro-me quase sempre como sou e, querida, aquilo que tu vês, é aquilo que levas. Mas este jogo é, pelo menos comigo por vezes tem sido, um jogo um pouco arriscado e, quando finalmente nos encontramos com aquela pessoa, mesmo sem saber muito bem como ela é, isso quase que já não interessa muito, pois a cumplicidade já é muita. E tal como Cícero, que se aproximou demasiado do Sol, também nós podemos sair chamuscados. 


Mas entretanto parece que as coisas estão a mudar. A própria forma como as pessoas estão na internet tem vindo a mudar. Se antigamente só se usava um pseudónimo e uma imagem de perfil que nunca era a foto do próprio, agora as pessoas preferem usar o nome próprio e a própria fotografia o que, diga-se, é extremamente inteligente. Quer-se ver logo tudo. Tudo escancarado, se calhar, de preferência com uma foto de nu integral! Já não há tempo a perder, ou a ganhar. A vida é agora, a queca também. Fode-se primeiro, fala-se depois. 

E, se há vinte anos, a frase mais ouvida na internet era "donde teclas?", nos últimos meses constatei, com curiosidade, por duas vezes, duas diferentes mulheres, que de imediato perguntaram: "Não tens fotografia"? E deixamos de falar porque a curiosidade física delas era superior à curiosidade de conhecerem primeiro, minimamente, a pessoa que estava do outro lado. 

6 comentários:

  1. Tu gostas do jogo de ir desvendando o "interior" da outra pessoa, mas provavelmente muitas outras pessoas gostam de ver se o "exterior" atrai para ir desvendando o interior. Ou então não têm paciência para o jogo, não sei.
    Mudam-se os tempos...
    Mas certamente, no meio de tantas pessoas, existirão algumas que pensem como tu.
    SF

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    1. Olá menina!
      Claro que sim! "Deixa-me lá ver se o gajo não é asqueroso e se não ando aqui a perder o meu tempo"!
      Num dos casos, vê lá tu, a senhora nem sequer é cá do Continente, ou seja, provavelmente nunca sequer nos íamos conhecer pessoalmente, mas ela foi colocando as coisas de forma muito clara: "quero saber com quem estou a falar" mas assim sendo eu disse "não" e cada um foi à sua vidinha.
      Sim, certamente que ainda há pessoas que pensam como eu.
      Beijinho

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  2. Não se iam conhecer pessoalmente, não sabes...se calhar o intuito dela é vir para cá, para o Continente. E nem imaginas como aquilo que estou a dizer pode mesmo ser verdade.
    Toma bem conta de ti, sim?
    Beijinho
    SF

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    1. Só trocamos meia dúzia de frases, isso nem se coloca, nem faz qualquer sentido fazer conjeturas de que eventualmente nos viríamos a conhecer! Por isso mesmo eu cortei logo. "Ai queres ver uma foto minha primeiro"? Então ficas a querer!
      Eu tento tomar conta de mim. E se nos próximos dias não for raptado pelos vizinhos, esquartejado e queimado, e depois o meu corpo aparecer a 50Km, acho que deve estar tudo bem!
      E tu, tens tomado bem conta de ti?
      Abraço apertado.

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  3. É bem verdade! Nos meus primeiros tempos na internet, anos, eu usava um avatar e ninguém sequer sabia sequer o meu nome: eu era o Papelustro. Mesmo no Facebook demorei bastante até colocar uma foto de perfil. Ainda hoje não entendo que se tenha deixado de distinguir entre o que é público e privado, com tudo a ser partilhado e exposto. Nunca esteve nos meus planos conhecer as pessoas com quem me cruzava na net mas calhou conhecer algumas, algumas até que viviam bem longe, nos EUA, como aconteceu em Abril passado, uma mulher de S. Francisco. Há anos que trocávamos comentários no FB. Veio visitar Lisboa e eu dei lá um salto. Passamos o dia a conversar e a passear na Baixa, a comer natas, a subir ao Arco da Rua Augusta. Foi fixe. Um homem do Porto também me deixou boas recordações e um de Lisboa foi uma chatice pois era um tipo muito mais interessante do que parecia online, mas só queria sexo descomprometido quando eu teria gostado mesmo de o conhecer melhor, enfim, afastámo-nos depois de nos termos conhecido na vida real. Também houve um caso curioso, uma mulhere, creio que era lésbica e pensou que eu fosse também. Depois de nos termos encontrado para trocarmos uns livros ela nunca mais falou comigo...eheheh....e acabei por lhe perder o rasto.

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    1. Eu gosto, na medida do possível, de manter estas amizades mais ou menos virtuais sempre ligadas. Também é verdade que se calhar, como há mais de dez anos (com um pequeno intervalo pelo meio) me tenho mantido solteiro, será mais fácil. Mas gosto de pelo menos ir mantendo o contacto, saber do que é feito daquela pessoa.
      Eu já "perdi" duas pessoas, ambas de Lisboa, ambas com a sua importância. E tenho mesmo pena, mas não tenho forma de as contactar. Só se, e já pensei nisso, algum dia que passe na capital, espalhe folhas com o seu pseudónimo por toda a cidade. "Ravenbride, K. Procura-te"! Mas se calhar também temos de aceitar que as pessoas prefiram nos esquecer... mas eu tenho sempre pena...
      As minhas histórias são todas muito semelhantes, e ainda por estes dias conversava com a namorada do meu melhor amigo, que é budista, e que me dizia que era o Karma, e que se eu nada mudar, tudo terá sempre tendência para se repetir...

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