sábado, 6 de outubro de 2018

Por que é que as Pessoas defendem sempre os Agressores?

"Penso que por ser rico, bonito e um grande jogador
 as pessoas têm inveja de mim. Não encontro outra explicação"

Não é de agora, pois este já estava prometido no mês passado e há muito mais tempo que pensava escrever sobre isto. No entanto talvez me tenha sentido agora mais motivado a escrever, e dar até a minha opinião, na sequência do novo falatório da semana: o ressurgimento do tema da alegada violação por parte do herói nacional Cristiano Ronaldo, e da imediata reação das fãs (homens também claro, que eu sou inclusivo!), e que, tal como as fãs do Tony Carreira, logo vieram a terreiro defender o plagiador apesar de há dez anos se saber da verdade. Pois também com o Cristiano as fãs dizem que é tudo mentira e inveja como até diria o próprio. A gaja que o acusa é que é uma puta (neste caso sem alegadamente!) pois acabou-se-lhe o dinheiro e ela quer mas é mais.

Há muito que andava para pegar neste tema porque se há algo que me faz alguma confusão é ver as pessoas, principalmente as que me rodeiam no trabalho, mas muitas outras no universo internetesco, virem constantemente defender os agressores e porem contra as vítimas. Vejamos alguns exemplos:

– Uma portuguesa ou colombiana (não cheguei bem a perceber tão opostas eram as versões na imprensa) por certo que fez algo grave para levar nas trombas quando entrava num autocarro no Porto. 
Ah, mas ó Königvs, ela parece que estava a entrar à frente de não sei quem... Pois é, mas mesmo que isso tenha acontecido, isso dá logo todo o direito a que seja espancada brutalmente como se fosse uma assassina? É que eu cresci e fui educado, ouvindo dizer que perdemos a razão quando partimos para a violência, mas agora parece que não. Parece que qualquer motivo é válido para agredir os outros, e ainda assim permanecer com as simpatias! Eu faço uma caricatura de Maomé, porque acho que ainda vivemos em liberdade, mas mereço de imediato levar um tiro nos cornos. Não deixa de ser curioso e irónico que, tão rapidamente todos tenham deixado de ser Charlie. Parece que foi só naquela semana para as redes sociais. É pena. 

– E aquele casal homossexual espancado à porta de um centro comercial em Coimbra? Pois certamente que o casal homossexual não tinha nada que se pôr aos beijos no meio da rua. Mas onde é que nós estamos afinal? Em pleno século XXI, num Estado de Direito Democrático em que há liberdade? Não, parece que não. As pessoas têm de vir defender quem os agrediu com argumentos como "eu não estive lá, certamente que fizeram algo para merecer ser espancados". E com este tipo de argumentos não há mais nada para dizer. Só que, entre a vítima e o bárbaro agressor, as pessoas preferem sempre acreditar no agressor. É pena. 

– E o caso da rapariga que estava desmaiada e foi violada por dois trabalhadores duma discoteca de Gaia? Dizem-me que está tudo bem com a decisão judicial, afinal as gajas que vão para as discotecas são umas putas, umas oferecidas, que andam ali de mini-saia e com decotes a verem-se as mamas e depois sujeitam-se. No fundo, claro, a culpa é delas, nunca dos homens!
E o que é que faz o bom pai de família, aquele segundo o qual o juiz decide? O bom pai de família quando vê uma mulher desmaiada e inconsciente no chão, que não pode dizer nem sim nem não, chega ali viola-a e chama o amigo! Tal como por exemplo um médico! Um médico que vá operar uma mulher, que está anestesiada e não pode dizer que não, o que o bom médico de imediato faz é aproveitar a oportunidade e violar a mulher!

- E neste caso do Cristiano? Sem que ninguém lá tenha estado para ver, de imediato as pessoas defendem quem? O agressor pois claro, ainda por cima porque é rico e famoso. Então não se vê logo que acabou-se o dinheiro à mulher e ela agora quer é mais a grande puta? Ele pagou-lhe ela só tinha que estar calada!

Pois é. Só que há um pequenino problema. Um crime público não se apaga nem prescreve com dinheiro. Mau era se se apagasse, então é que os ricos nunca seriam punidos até porque, injustamente, numa sociedade tremendamente desigual, o Pedro Dias é chamado e descriminado de monstro na imprensa ao passo que o Duarte Lima é o senhor Doutor ex-deputado arguido por "alegadamente" ter morto a Catalina. Monstros é coisa de pobre. Não se vê logo?

Mas volto a sublinhar, um crime público não se apaga só porque se tem dinheiro e se tenta comprar a vítima, tal como um pedófilo compra o silêncio de uma criança com doces. Por falar em pedófilos, um dia a criança decide dar com a língua nos dentes, afirmar que o padre a violava mas é uma chatice. Ironicamente não vejo ninguém a defender os padres, afirmando que esses supostos casos de pedofilia na Igreja Católica são tudo delírios de crianças que se querem aproveitar dos santos padres que, como é óbvio, têm um comportamento inatacável. Caso para dizer que até para se ser violador é melhor cair em graça que ser engraçado!


Ah, mas ó Königvs, sabes que há muita gente a aproveitar-se das situações para tirarem proveito. E por acaso acham que sou ingénuo e não sei disso? Não sei se já contei já aqui no blogue, mas se contei conto de novo porque eu mesmo acompanhei uma situação dessas no meu anterior trabalho. Nova gaja que vem trabalhar e tem formação com um colega. A coisa vai evoluindo e ela começa-se a insinuar para ele lhe saltar para cima. Ele tendo namorada começa a resistir. Na sequência desta abordagem agressiva e consequente nega, e cheia de orgulho ferido ela não tem mais nada. Certo dia resolve rasgar a roupa (isto deve ser excesso de novelas brasileiras) e vai-se queixar aos recursos humanos que ele a tentou agarrar no elevador. Logicamente que, quem é que seria despedido se ele não tivesse todas as mensagens explícitas que eles trocaram? Seria ele, não ela como acabou por acontecer.

Daí que seja sempre preciso muito cuidado com julgamentos na praça pública, porque esses são os piores. O que aconteceu naquele hotel em 2009 entre o Cristiano e a senhora, só os dois sabem ao certo. Compete pois à justiça investigar. Ainda assim, quando estamos certos que nada de mal fizemos não andamos a tentar negociar o silêncio da suposta vítima como foi o que aconteceu. Eu não fiz nada de mal mas contrato advogados e detetives privados e digo (está escrito!) "tem de ser menos", e pega lá 375 mil dóllars e não digas que vais daqui... Se calhar só eu acho estranho. E só isso parece-me que que augura nada de muito de bom para o herói nacional.

Ainda assim, o seu clube de fãs lá continuará a defendê-lo com unhas e dentes, e ai de quem diga o contrário, que merece logo ser empalado na Praça Pública como aconteceu com o Paulo Dentinho que escreveu no Facebook algo que poderia muito bem ter sido escrito por mim: 


4 comentários:

  1. Será certo isto?
    Eu discordo do que estás a fazer. Simplesmente porque não gosto de ver ataques ás pessoas.
    Se estivesses aqui a atacar a moça e a dizer que ela é oportunista ou outra coisa qualquer eu ia igualmente discordar da tua postura.
    Estás a dar algo como certo, não será isso injusto? Não sei. Para mim, não é tão fácil julgar os outros.
    Talvez por seres tu, custa-me ler isto ainda mais.
    Mas quem sou eu...eu não sou ninguém.

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    1. Olá!
      Antes de mais obrigado pelo teu comentário. Na verdade gostava mesmo que comentassem mais, mesmo que fosse só para dizer que não concordam nada comigo.
      Mas se me permites, eu acho que a linha do meu texto até é de defesa, não de ataque. De defesa das vítimas ou, supostas vítimas se quiseres. Fala-se tanto em bom nome dos arguidos, mas é muito curioso como ultimamente ninguém se preocupa com o bom nome das vítimas. Se por um lado se fazem julgamentos e logo se condenam as pessoas na opinião pública, por estes dias temos assistido a uma condenação da (suposta) vítima!
      Estou farto de ouvir as pessoas sempre a defender os agressores. Na 6a feira, por exemplo, passei o dia a ouvir dois homens e uma mulher, a defender que a culpa duma mulher em Gaia ter sido violada (foi provado em tribunal!) enquanto estava desmaiada no chão duma discoteca, porque as mulheres que vão para discotecas são umas putas. Desculpa, mas não concordo com isto, mesmo que eu nunca tenha posto os pés numa discoteca.
      Há não muito tempo, quando falei do caso de uma empresa aqui do norte que estava a tentar humilhar uma mulher, colocando-a dia-após-dia, há ano e meio, a montar uma palete e a desmontar a mesma palete fazendo trabalho inútil, disseram-me que não sabem das circunstâncias, e que tudo isso é obra dos sindicatos para dar mau nome às empresas. Sim, a sério!

      Estou farto, por isso já tinha "prometido" uma publicação deste cariz. E juntou-se a tudo isto o caso (já antigo) do Cristiano. E se leres bem, no texto eu referi que, só eles os dois é que sabem verdadeiramente o que aconteceu naquele quarto de Hotel. No entanto, o que tu ouves, generalizadamente, é as pessoas defenderem o (suposto) agressor. E não estamos a falar de piropos, de supostos assédios. Estamos a falar de violação, é um assunto sério. E como eu ainda hoje comentei no trabalho, mesmo entre marido e mulher se o sexo não é consentido é violação.

      Para o bem dele, espero mesmo que ela seja uma aproveitadora. Não porque tema que ele vá para a cadeia. Não! Ele já esteve envolvido num grave caso de fuga ao fisco, em que qualquer cidadão comum ia dentro, e no caso dele (como de outros, Messi por exemplo) basta voluntariamente pagar uns milhões e está tudo bem. E isso é justiça? Não acho que seja.

      Admito estar errado, mas não creio que tenha julgado. Eu não estive lá, não vi, não sei o que aconteceu. Mas acho triste que num caso duma suposta violação, todos ou quase todos, logo tenham vindo a correr dizer que ela é uma puta.

      O que me parece é que as pessoas não conseguem separar a emoção da razão. Este caso toca-nos especialmente a nós portugueses porque o Cristiano é português. Porque ate agora nunca ouvi ninguém vir dizer que este ou aquele americano está a ser alvo de uma aproveitadora.
      E, se é verdade que eu não pertenço à claque das Ronaldettes, eu dou-te um exemplo que até também já estive para escrever, e talvez ainda o faça. O meu ator preferido, de longe, deves saber, é o Kevin Spacey. E eu sei que ele está envolvido nuns casos, não de violação mas de forte assédio a outros homens. Será que é por eu o idolatrar que vou para as redes sociais dizer que ele é inocente e que aquilo é tudo obra de quem tem inveja dele? Não! Se ele cometeu algum crime deve ser punido tal como qualquer outra pessoa. Se ele vai deixar de ser o meu ator preferido? Bom... isso depois eu escrevo no texto a publicar!

      Lamento ter-te desiludido. Mas obrigado mais uma vez pelo comentário.
      E certamente que tu és alguém que vale a pena escutar.

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  2. Sim, eu tive conhecimento dessa decisão e que ainda por cima foi mantida pelo Tribunal da Relação. E é triste isso.
    É um mundo em franco declínio este onde estamos é o que é.
    Quando leio notícias como essas perco cada vez mais a pouca esperança que poderia ter na sociedade.
    Eu não me considero fã do Ronaldo, apenas acho todos os factos muito estranhos, quer para um lado quer para o outro, e daí seja difícil para mim tomar uma posição sequer, quanto mais andar por aí a acusar/defender um ou outro.
    Não acho correto dizer que ele é um violador, assim como não acho certo dizer que ela é uma interesseira.
    Uma coisa é certa, não é um assunto para atirarem para debaixo do tapete. Apurem-se os factos independentemente do estatuto de cada um deles.
    Qualquer pessoa é capaz de qualquer coisa por motivos que podemos nem saber, ou ás vezes até sem quaisquer motivos, sei lá! Só porque podem fazê-lo.
    Não me desiludiste.
    Eu sou apenas alguém anónimo.

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    1. Há muito que eu digo que o pior que temos em Portugal é a justiça ou, se calhar, a falta dela. Temos decisões de juízes absurdas como diminuir uma indemnização a uma mulher que deixou de poder ter relações sexuais por culpa duma maternidade, porque já tinha cinquenta anos e isso já "não é importante". Ou num acórdão irem buscar argumentos à bíblia justificando que a mulher adúltera merece ser apedrejada. Nesta decisão do tribunal da relação o que choca é que tenham dito que houve um clima de "sedução" e que os violadores não usaram da força... mas para que seria precisa a força se ela estava inconsciente? Admito que ser juiz não deve ser nada fácil e sei que só têm de aplicar leis feitas pelos políticos, mas há coisas que mesmo para um leigo parecem não fazer muito sentido. E depois, nunca que a justiça ou o acesso à justiça é igual para todos, aliás, eu mesmo por aqui já me queixei disso. Limita-se o acesso à justiça aos pobres para que os maiores sejam defendidos. No fundo defende-se sempre os mais forte. Diz-se que a justiça é cega mas o que eu acho é que ela tem os olhos bem abertos, e distingue muito bem pobre do rico!
      Fica bem, anónimo.

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