Muita coisa aconteceu desde o torneio de ténis-de-mesa do ano passado cá na semana cultural da união de freguesias. Este ano, e como já era mais do esperado não houve revalidação do título! E se no ano passado a minha presença no torneio deveu-se ao folheto que encontrei na caixa do correio, este ano tudo foi diferente porque passei de paraquedista a elemento da organização.
Findo o torneio do ano passado, logo tratei de me filiar na coletividade para poder bater umas bolas todas as semanas e tentar evoluir um pouco mais. E assim foi. O que não estava à espera era que, apesar do ténis-de-mesa na coletividade ser praticado quase só por lazer, pudesse ter tido a oportunidade de ter um treinador a sério, com curso de desporto e tudo, e bater bolas com o seu pai, um ex-campeão nacional. Se o ping pong sempre foi uma paixão de criança, e todos os intervalos lá estava no polivalente da escola a jogar, trinta anos depois, a vida encarregou-se de me presentear. E eu sinto-me muito grato por isso. É uma coisa tão simples, mas é algo que me faz feliz. Certamente que não é agora que vou treinar para competir, mas vou treinar simplesmente porque gosto. É essa a definição de amador, sinónimo de amante, apreciador ou diletante. Não por ofício ou obrigação como os profissionais, mas simplesmente por gosto.
Começamos a treinar nas manhãs de domingo e duas vezes a meio da semana, conforme a disponibilidade de cada um. Os meses foram passando e começamos a pensar na organização de um torneio cá na terra, mas por vários motivos acabamos por não reunir o apoio necessário para fazer um evento num espaço apropriado e onde pudéssemos captar atletas federados e não federados. Mas entretanto movido pela motivação de ter mais condições de treino indaguei os meus camaradas e presidente do clube sobre a possibilidade de conseguirmos arranjar um espaço melhor, com mais condições, e perguntei (depois de ter visto uma disputa do campeonato distrital) se por ali perto não haveria, por exemplo, uma escola vazia que se pudesse solicitar na Junta de Freguesia. Havia, e a uns quinhentos metros, e mesmo em frente de um café sede de um rancho folclórico, que por certo iria atrair atenções.
E assim foi. Tinha ficado decidido treinar na escola, à experiência, para ver como as coisas correriam, durante dois meses, até à data do torneio. Se houvesse adesão, seria para continuar, assegurara o presidente do clube. Começamos a treinar na antiga escola primária, e treino após treino mais gente começou a aparecer, mesmo que alguns mal soubessem pegar na raquete, mas nesses mais visíveis ainda eram os progressos mal passavam pela mão do
Mister.
Entretanto começou-se a preparar o torneio anual da semana cultural. Divulgou-se nas redes sociais, imprimiu-se cartazes e eu espalhei inclusive vários nos locais de maior afluência na minha freguesia e outros noutros locais. Na ausência de algum material para o torneio (que não houve nas duas edições anteriores) contactei a associação distrital da modalidade no sentido de saber da disponibilidade para emprestar. Fiquei surpreendido, a resposta foi muito favorável, emprestavam o que quiséssemos e incentivaram a divulgação da modalidade.
Os dois meses a treinar na escola, com treinos abertos e gratuitos para a população tinham sido um sucesso. Fizeram-se alguns vídeos que foram divulgados nas redes sociais. Já o número de inscritos para o torneio não foi assim grande sucesso. E todos aqueles, amigos e colegas, a quem disse para se inscreveram, nem um sequer, por diferentes motivos apareceu. Porque uns tinham um casamento, outros de tarde tinham cenas marcadas, outros porque por este ou aquele motivo, a verdade é que nem um só se inscreveu. E dois antes da data marcada tinha chegado o dia do sorteio. A mim havia-me calhado na fase de grupos o finalista do ano anterior e um nome que ninguém conhecia.
E até ao dia do torneio algumas coisas não correram como o devido. E o pior foi mesmo o balde de água fria que não esperava, mas esses aspetos prefiro agora não mencionar.
Mas o que interessa é que, mal ou bem, com melhor ou pior organização, com maior ou menos afluência o torneio realizou-se. O vencedor foi o óbvio, com os seus sessenta anos, que entretanto poderemos ver arbitrar nos nacionais. Eu acabei por vencer o meu grupo. O tal nome desconhecido era uma criança de onze anos! Ainda nos aquecimentos comentei logo com os meus colegas que o miúdo tinha muito jeito. Vinha pela mão do pai que também dava uns toques.
Quis o sortilégio do sorteio que nas eliminatórias se defrontassem, vejam só!, pai e filho! O filho de onze anos, implorava ao pai que o deixasse ganhar! E que é que vocês fariam no lugar do pai, hein? O pai acabou por jogar normalmente, e a três ou quatro pontos da vitória já eram visíveis as lágrimas nos olhos do pequeno jogador. Eu fui avançando nas eliminatórias mas já sabia, iria tão longe possível enquanto não apanhasse o nosso campeão! Mas pelo meio ainda perdi um set e comecei-me a enervar e tive com calma fui até à meia final onde perdi por 3-0 e venci depois o pai da criança para ficar em terceiro lugar.
Os senhores convidados, entre os quais o autarca procedeu à entrega dos prémios, deixou elogios aos treinos realizados na escola primária e deixou-nos à vontade para por lá ficar. De imediato aproximei-me dele, agradeci, mas a verdade é que ainda estou para saber porque raio não mais para lá voltamos.
Toda aquela gente que ia treinar se perdeu. O pai e o filho, que no torneio logo se mostraram interessados em fazer sócios e treinar também nunca apareceram. Acabamos por angariar mais dois jogadores, o Leandro e o Paulo, sempre cheios de motivação e continuamos à espera que o treinador venha do exílio, ou do fim do trabalho escravo como ele diria.
Vai daí vi divulgado nas redes sociais o tornei anual do Ala Nun'Alvares em que também se iria realizar um torneio de "populares" que é como quem diz não federados. E nem pensei duas vezes! De imediato falei com os meus colegas e inscrevi-nos a todos. Mas logo os avisei que iríamos levar uma valente tareia! O torneio aconteceu numa sexta-feira, às oito da noite, à mesma hora que se realizava, umas mesas ao lado, um jogo do campeonato nacional de femininos! Eu era uma espécie de gladiador deslumbrado por pisar pela primeira vez o Coliseu de Roma, mesmo sabendo que estava a fazer o aquecimento para morte! Fiquei mesmo deslumbrado! Eu ali no pavilhão multiusos a pisar aquele vinil e a jogar naquele espaço com mesas profissionais e a ter a oportunidade de competir.
Dois colegas nossos, incluindo o nosso melhor representante, infelizmente não puderam ir. Um amigo meu foi e depois ainda tirou algumas fotos para recordar. A minha ideia em ir, era que, por um lado iria competir o que é sempre importante, por outro seria fazer alguns contactos e aprender, ver ali ao vivo como é que quem sabe, organiza as coisas. E aconteceu um pouco de tudo isso.
Começamos por treinar, bater bolinhas, e rapidamente percebi que o nível amador ali era alto, nada comparável aos nossos torneios que levam pessoas que estão habituadas a jogar uma ou duas vezes por ano! Nos gestos de manobrar a raquete rapidamente ficamos a saber o nível de determinado jogador ainda que, uma coisa é bater bolinha, outra bem diferente é jogar.
Ao certo não sei, mas estariam por ali entre trinta e quarenta atletas. Por ali estavam pessoas mais velhas, de cabelos brancos, tantos homens como mulheres, por certo alguns ex-federados, e também malta jovem do desporto escolar. Percebi que a organização dividiu bem o mal pelas aldeias. Todos os grupos (de três ou quatro pessoas) tinham uma mulher, e nenhum de nós ficou no mesmo grupo. Eu fiquei num grupo com dois miúdos de dezoito anos, um rapaz e uma rapariga, que me tratavam por você. Equipados a rigor, como grande parte dos presentes, com equipamentos de marcas de ténis-de-mesa, o que já diz muito do nível das pessoas. Nós fomos de forma descontraída, nem sequer vestimos os pólos do clube (ficará para a próxima vez!)
Como sempre entrei muito nervoso. Por isso talvez seja importante competir mais. Talvez todo este nervosismo comece a desaparecer, ou não. Nao sei. Mas às vezes parece que o meu maior opositor está dentro de mim mesmo e as coisas não me saem naturalmente. De repente, no primeiro set já estava a perder 6-0 contra o rapaz! Como é possível estar eu a perder os pontos todos? Respirei fundo, tentei acalmar-me e fiz um e outro ponto seguido. E de repente já dava para sentir o nervosismo no adversário. E a verdade é que consegui mesmo empatar a 10-10 e depois ganhei o set. E a partir daí parece que a tensão abrandou e comecei a jogar mais tranquilamente. Venci a primeira partida e depois a segunda contra a menina que também jogava bem e estava apurado para os oitavos de final em primeiro lugar. Os meus dois outros colegas também se conseguiram apurar o que foi ótimo!
Nos oitavos de final a todos nós nos calharam mulheres! E não vale a pena fazer grande mistério, a verdade é que todos perdemos contra elas! A mim calhou-me a irmã da menina que perdera comigo na fase de grupos. E neste caso se calhar não entrei focado o suficiente. Os jogos foram muito renhidos, mas ela venceu as duas partidas, para minha incredulidade no final. Porque cá entre nós, não fiquei totalmente convencido. Acho que tinha jogo para lhe ganhar, mas ela venceu bem. De qualquer das formas, caso eu vencesse, iria ficar-me pelos quartos de final porque iria defrontar o senhor que venceu o torneio com grande destaque.
Lá continuamos até ao final, a ver as restantes eliminatórias e entretanto as meninas que tinham estado a disputar o jogo do campeonato nacional, incluindo a
campeã nacional também por ali apareceram, e estavam a apoiar as suas amigas, incluindo a que jogou contra mim! Entretanto o Leandro telefona ao meu colega, e este informa-o que já tínhamos sido todos eliminados, ao que ele terá falado em limpeza, porque o meu colega diz-lhe "Sim sim, limpavas isto tudo. Até parece que tem por ali uma vassoura"!
Foi muito fixe, competir ali, num clima de boa disposição e desportivismo. Entretanto logo veremos o que se sucederá na nossa coletividade onde estão previstas obras para breve.