Imagine o leitor que, inesperadamente, se encontra no centro de uma orgia. Saiba que existem regras de etiqueta e de boa educação que convém saber para não passar por rude e mal educado e depois acabar por ser excluído de novos convites.
"Um advogado de Hanovre, 44 anos: "Quando nos casámos, a minha mulher tinha 20 anos e eu 26. Passaram-se burguesmente quinze anos. A minha mulher não teve nenhuma aventura e eu deitei-me uma vez ou outra com uma prostituta, mas isso, então, não o sabia a minha mulher. Depois, fomos convidados para a casa de um dos meus colegas de Hamburgo. Éramos oito a jantar e a seguir ao café toda a gente se despiu e aqui a coisa pegou. Ninguém nos tinha prevenido e claro está foi um choque. Olhei para a minha mulher, ela olhou-me, encolhemos os ombros e então fizemos como os outros. Depois disto, tínhamos serões em nossa casa, ou em casa de amigos, duas vezes por semana.
(...) A monotonia da sexualidade conjugal é, com toda a evidência, o primeiro motivo para a conversão.
(...) A boa educação também conta, mas a que se recebeu em casa não conta: existe um savoir-vivre paralelo. As regras são estrictas e mais de um amador viu fecharem-se-lhe as portas do paraíso por ter esquecido que nem tudo é permitido na "sociedade permissiva". E essas regras variam segundo os grupos que têm princípios diferentes, quando não opostos.
(...) Participar numa orgia significa para aquelas ter aceite todos os homens presentes como virtuais amantes; aquelas que têm de escolher devem tomar a iniciativa. Neste caso, é o homem que se encontra embaraçado, porque repelir as avançadas de uma mulher é grosseiro. Enfim, é também repreensível escapar-se às relações lesbianas, que são de rigor. A homossexualidade masculina, pelo contrário, é excecional e sobretudo desconsiderada.
O casal é sagrado. Casados ou não, os que vêm juntos, juntos devem partir. É muito inconveniente segredar ao ouvido de uma mulher acompanhada para lhe pedir o seu número de telefone ou propor-lhe um encontro a "solo" para o dia seguinte. É permitido cumprimentar uma mulher sobre a sua beleza e até recomendado exaltar a sua habilidade; ridículo é, todavia, puxá-la ao sentimento, cair no romanesco, numa palavra "baratinar".
É indecente lançar-se quando uma mulher está muito rodeada. Convém tomar honestamente a sua vez. Melhor, ainda, ocupar-se das damas que "fazem renda". Do mesmo modo, é deslocado, para uma mulher, manobrar para arrancar um homem à sua parceira do momento.
A discrição é de regra, salvo para os velhos conhecimentos ou por virtude de um comum. A etiqueta manda que não se pronunciem senão os apelidos, até que uma simpatia mútua se manifeste e incite à troca de nomes e moradas.
Ficar vestido no meio da multidão despida, é grotesto e suspeito. Talvez se passe por um desses indiscretos que "vieram ver como aquilo se passa". Não se dão espetáculos para estranhos curiosos.
Antes que se desencadeie a ação propriamente dita, - o que acontece muito rapidamente, de costume - e logo que toda a gente se voltou a vestir, o tom é mundano e não é feita nenhuma alusão ao que se vai seguir, ou ao que acabou de terminar. A não ser para uns tantos libertinos intelectuais e combativos, a orgia é uma distração, não um assunto de conversa.
Nas reuniões de massas, a proporção exata de participantes dos dois sexos não é primordial. Certos "simétricos", contudo, não admitem homens ou mulheres sozinhos: o número deve ser par e os dois sexos representados em igualdade.
"Os Últimos Dias da Monogamia" / Laslo Havas - Louis Pauwels (1969)
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