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Reuters |
Vivemos um período complicado das nossas vidas e dos diferentes países por todo o mundo, sob a ameaça de um vírus invisível que causa uma doença, e que, nas pessoas de mais idade e nos mais fragilizados, pode levar à morte e tem sido a tragédia que se conhece.
Apesar de por estes dias não andar a acompanhar grande coisa das notícias, até para a minha saúde mental, vou no entanto vendo o essencial; as capas dos jornais, dou uma vista de olhos, principalmente, no Público e no The Guardian e vou acompanhando o que os jornalistas que sigo no Twitter vão dizendo e partilhando.
Mas houve uma coisa por estes dias que realmente me chocou, e que acho que deve chocar qualquer pessoa. Nos Estados Unidos, que é um país considerado rico, não é?, em Las Vegas (estado do Nevada mesmo ao lado da Califórnia) foi decidido uma coisa espantosa para ajudar os sem abrigo! Então, neste país rico, dos mais capitalistas e poderosos do mundo, que é que se lembraram de fazer?Decidiram usar um parque de estacionamento e pintar umas linhas de metro e meio, como mandam as regras da distância social, fazendo assim um parque de estacionamento isolado para os sem abrigo! Não é genial? De que mente brilhante terá saído esta ideia genial? É que isto merece um Nobel da economia!
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Não, infelizmente não merece e eu estava a ser irónico. É desumano. Não tem outro nome, é desumano. É o desprezo pela vida humana levado ao extremo. Eu certamente teria vergonha de viver num país assim. Com tantos hotéis fechados, com tantos pavilhões desportivos fechados, com tantas outras infraestruturas fechadas e nos Estados Unidos, num dos ditos países mais ricos do mundo, é desta forma que tratam as pessoas? Por que é que, por exemplo, o presidente americano, conhecido empresário multimilionário não dá o exemplo e disponibiliza os seus hotéis e
resorts de golfe para ajudar os sem abrigo? Não, tratam-se as pessoas como um monte de esterco.
Já eu vivo em Portugal, num país da Europa mas um país dito pobre. Não fomos à lua, não criamos guerras artificiais para explorar as riquezas dos outros países, vivemos com as nossas dificuldades de salários baixos e em que as pessoas muitas vezes têm que emigrar para terem melhores condições de vida. Mas no meu país pobre, que vive com as dificuldades que se conhece, vindos, ainda por cima, de uma grave crise económica mundial, que nos meteu o pé no pescoço, neste meu país tratam-se todas as pessoas doentes todas por igual, sejam ricos ou sejam pobres. No meu país dito pobre, um adolescente de 17 anos não é impedido de ser tratado num hospital porque não tem seguro de saúde. Nos Estados Unidos esse jovem morreu sem ser tratado. Em Portugal certamente que se tinha feito tudo para que isto não acontecesse.
Mas veio agora esta pandemia e já nos está a mostrar muitas coisas. Mesmo em Portugal, com gente que defende o capitalismo selvagem americano a quase ter virado comunista!
Branko Milanovic, um dos mais reconhecidos economistas da desigualdade e autor, por exemplo, dos livros "A desigualdade no Mundo" e de 2019 "Capitalism, alone", escreveu no Twitter:
"The rich people in the US never thought that a broken health care system will ever matter to them. Now it does."
("Os americanos ricos nunca pensaram que um sistema de saúde falido lhes interessaria. Mas agora interessa)
E o que eu acho é que países ricos têm capacidade financeira para tratar dos seus doentes. Todos, sejam ricos ou pobres. Países ricos não têm 140 milhões e pobres e 41 milhões de sem abrigo como tem os Estados Unidos. Países ricos preocupam-se com todos os seus cidadãos, não se preocupam só com as contas bancárias dos mais ricos fazendo leis para que os mais ricos paguem cada vez menos impostos. Os Estados Unidos é um país rico, mas só para alguns. Muito poucos.