domingo, 19 de abril de 2020

A Pandemia Cá na Aldeia

Foi no início do mês de Março que foram confirmados os primeiros casos de infeção por coronavírus em Portugal (ainda que já poderia haver por aí mais casos, simplesmente assintomáticos). Mas apesar do vírus já estar aí a propagar-se há uma semana, cá no burgo as pessoas lembram-se de ir numa excursão, três autocarros, só de mulheres, celebrar o dia da mulher.

E a prova de como andar por aí misturado com outras pessoas dá mau resultado, é que, graças a esta excursão, além do motorista, várias mulheres ficaram infectadas, e, pelo menos num dos casos que foi sabido, resultou mesmo num internamento nos cuidados intensivos. Ou seja, apensas duas semanas depois do vírus ter aterrado em Portugal, já cá tinha vindo também visitar a minha aldeia. 

E se pensarmos, isto é muito interessante. As pessoas viajam e, para poupar nas despesas fazer couchsurfing, pois este vírus faz o mesmo, anda por aí a visitar o mundo inteiro mas fazendo humunsurfing!

Entretanto dez dias depois de conhecido o primeiro caso, o governo, e muito bem, decreta o encerramento das escolas. Só que as escolas foram encerradas para os miúdos ficarem fechados em casa. Encerrar as escolas temporariamente não foram férias, era para os miúdos não se misturarem. Mas não foi isso que eu vi. Na minha rua o que vi foi os miúdos andarem todos juntos a brincar, jogando à bola ou a andar de bicicleta. E se, de forma geral as pessoas deram bons exemplos, outras pessoas houve que mereciam era uns chapadões no focinho.

Tomei conhecimento de um caso muito próximo, em que uma pessoa, mesmo sabendo que estava infetada, resolveu continuar a trabalhar como se nada fosse. Talvez achando que não tinha grande mal devido ao seu trabalho ser, cuidar de um idoso! E foi precisamente o filho do idoso que, vendo-a com tanta tosse, resolveu mandá-la embora ou que apresentasse um documento atentando que não estava infetada. A estupidez é tanta que a pessoa não pensou que, se infetasse o idoso e este morresse ela ficaria sem trabalho. Não dá para entender.

Cá na aldeia quem mais deve estar a lucrar, e ainda bem, será a merceeira porque o negócio não ia lá muito bem. Como agora as pessoas, e bem, não se querem expor, serão estes negócios de proximidade a lucrar mais, evitando assim que as pessoas façam deslocações. Por outro lado esta senhora também se expõe bastante ao vírus porque contacta com muitas pessoas, que entram loja adento e nem sempre haja respeito do devido distanciamento social. Mas são as mercearia da aldeia que vão fornecendo as pessoas naquilo que elas mais precisam. Ainda por estes dias telefonou-lhe uma rapariga, duma família fechada em casa por estar infetada com coronavírus, perguntando se lá poderia ir e a senhora da mercearia acedeu, advertindo no entanto que fosse protegida com máscara e luvas.

Nestes dias de quarentena o silêncio impera. Interrompido algumas vezes por moto-serras a deitar pinheiros e eucaliptos abaixo porque é tempo de limpar em volta das casas. O fim-de-semana da Páscoa foi dos dias mais silenciosos, não se ouvia qualquer barulho humano, só mesmo os passarinhos. Já neste fim-de-semana que hoje termina - se é que isso interesse para alguma coisa, porque os dias passaram a ser todos iguais - mais parecia que vivo junto a um autódromo e havia uma competição de motociclismo a decorrer lá ao longe na estrada nacional.

Faz amanhã, dia vinte, um mês que estou por casa. Faz também um mês que decidi não tomar a medicação. Por agora, aparentemente, está tudo bem. Depois logo se vê o que vai acontecer.

Sem comentários:

Enviar um comentário