domingo, 12 de abril de 2020

Cuidado Com O Que Se Deseja

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Os sinais estavam lá e os cães de Pavlov percecionaram-nos. Um novo Setembro se seguiu e tudo se repetiu. E talvez porque as crianças precisem de se entreter para que não fiquem aborrecidas, então, em vez de tirarmos uma sesta depois de almoço, em vez disso havia filmes. É verdade que sempre tínhamos que passar o tempo de alguma forma, mas eu sempre achei que faria mais sentido ficar em casa, do que ir todos os dias para o trabalho  ficar simplesmente à espera que as nove horas passassem.

Talvez seja do cair da folha. Eu por exemplo ficava sempre muito mal em Setembro. Talvez também haja qualquer doença que dá nas empresas por essa altura do cair da folha. Não sei. Mas o que sei é que desta vez não houve as necessárias explicações. Afinal, já todos tínhamos passado pelo processo, não é? Acho que deve ser mais ou menos como quando o marido (ou esposa) trai o respetivo e, depois de perdoado, quando o voltar a fazer, não deve sentir qualquer necessidade de voltar a contar. Para quê? Uma vez corno, corno para sempre não é? Então falar para quê?

Depois da prolongada chuva deste Inverno (e já ninguém se lembra que tivemos cheias este Inverno, pois não? Nem que o Trump mandou assassinar o Soleimani e vinha aí a terceira guerra mundial no início do ano, ou que em Portugal os média descobriram que afinal a Isabel dos Santos não é uma empreendedora mas sim uma grande ladra, não é?) mas, depois das chuvas do Inverno vinha aí a Primavera. E eu tenho sempre tanto para fazer no jardim.




E se há coisa que me chateie mesmo é, no Inverno, todos os dias, ter de sair de casa ainda de noite para ir trabalhar e quando regressar ser novamente noite. Tanta vida lá fora desperdiçada. Nem sequer nos apercebemos da mudança das estações.

"Se ao menos agora ficar desempregado..."

Mais valia que tudo isto se decidisse de uma vez por todas. Ou sim ou sopas. Ao início é o choque. Se a empresa fechar lá vem o fantasma do desemprego para nos assombrar. O processo de andar todos os dias a ver anúncios e mandar currículos e ir a entrevistas e aparar a barba e vender-mo-nos o melhor possível como putas nos classificados dos jornais. Mas depois começamos a relativizar. É assim com tudo. Criam-se defesas. Não há-de ser o fim do mundo.

Mas o tempo passa. Um ano, dois anos, três anos. Tudo continua na mesma. Nem fode nem sai de cima. Os anticorpos avançam e a vontade de seguir um novo rumo já é muito superior ao medo da incerteza. E a Primavera está quase a chegar e os dias vão ficar maiores. E eu tenho sempre tanto para fazer no jardim.

Eu não acredito propriamente no que diz o Paulo Coelho no Alquimista, que o universo conspira a nosso favor para concretizar os nossos desejos. Ainda por cima porque há tantos desejos contrários, de tantas pessoas diferentes, que o universo iria ficar completamente baralho acerca de quem conspirar a favor.

Mas a verdade é que eu secretamente, desejava ficar por casa nesta Primavera. E o universo lá me fez a vontade. Eu só acho é que não seria era necessário lançar uma pandemia mundial só porque eu tenho tanto que fazer no jardim, mas tudo bem. De qualquer forma eu já aprendi a minha lição. É preciso muito cuidado com o que se deseja.

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