A minha mãe pergunta-me que idade tinha a cantora (Cláudia Isabel) que morreu há dias de acidente de viação. Googlei mas o mais engraçado é que, os dois primeiros resultados, e estamos a falar de sites de jornais (Jornal de Notícias e Diário de Notícias), supostamente fontes de informação fidedigna, e surpreendentemente dão-me resultados bem diferentes:
"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
sábado, 31 de dezembro de 2022
Pista Sobre uma Morte Inesperada
fineartamerica.com |
Foi no verão de 2018 que acordei morto num quarto de Hotel. E, não sei como é com o resto das outras pessoas e se têm a mesma sensação do que eu, mas na minha vida parece que tudo se repete e volta a repetir - e é curioso que ainda hoje fiquei a saber que aquela cantora Claudisabel, que recentemente morreu de acidente de viação, já tinha dito que havia tido um outro no passado, e que lhe deixou sequelas - e também eu, lá voltei a morrer da mesma forma absolutamente estúpida.
Tinha acabado de chegar ao quarto com a cabeça aberta e toda ensanguentada. Trouxe gelo. Mas mais importante, ainda me lembrei de escrever um bilhete a explicar o sucedido: "bati na mala e abri a cabeça".
Já sabia que havia a possibilidade de acordar morto e depois como é que ia ser? Iam dar comigo com a cabeça toda ensanguentada. Ia ter que vir a polícia judiciária e chatear os meus pais e os meus colegas do ténis-de-mesa iam ser suspeitos, afinal, tinham sido as últimas pessoas que me viram vivo. E quem é que iria ser suspeito de me ter dado uma bordoada na cabeça? E porque motivo? Nunca ninguém iria desvendar o mistério! Isto ia ser pior do que o filme da Madeline McCann! Assim o mistério estava já desfeito numa folha branca com letras maiúsculas. Uma pessoa assim morre descansada!
Já era quase meia noite quando me lembrei que no dia seguinte tinha combinado de ir entregar as rodas do meu Scarlet. E ainda por cima ia trabalhar no dia seguinte, o último dia de trabalho de 2022, depois de uns dias de férias meio compulsivas, porque, voluntariamente, nunca me lembraria de gastar os poucos dias de férias que temos, ali entre o Natal e o ano novo. E lá as fui buscar aquela hora para não o ter que fazer na manhã seguinte antes de ir para o trabalho.
O impacto foi tão violento que percebi de imediato que a situação era grave. Meti a mão na cabeça e esta veio pintada de vermelho. Tinha aberto a cabeça e feito um belo dum hematoma, Enfiei a cabeça debaixo da caleira, e ali fiquei, durante uns minutos, a lavar a cabeça com água da chuva a jorrar por cima da cabeça tentando estancar a hemorragia.
Fui para casa, não incomodei ninguém. Meti-me na cama e esperei pelo sono profundo.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
Demência: O Tema Tabu do Futebol
terça-feira, 27 de dezembro de 2022
Quando Portugal Ardeu - O Livro Que Deveria Ser Obrigatório Ler
Estou em crer, e não acho que estou a ser pessimista, que a larga maioria dos portugueses não percebe um cu de política e nem se interessa em querer saber. E a metade que ainda vota é mais ou menos como o Fernando, aquele sujeito que se mete à frente das câmaras e que o apelidam de Emplasto: um dia é do Benfica no outro é do FC Porto, consoante aquilo que lhe dá mais jeito, ainda que a ele dá-lhe jeito porque a vida dele é ir assistir aos jogos de futebol e cobrar 2€ por uma fotografia. "Olha, estudásses"! Os portugueses também são do Benfica (PS) ou do FC Porto (PSD), ou doutro clube qualquer emergente, consoante aquilo que as televisões lhe dão a comer, mas que, na verdade, raramente é aquilo que melhor satisfaria os seus interesses, porque, infelizmente, a maior parte da população não tem qualquer consciência de classe. E na eleição seguinte deixa de ser do Benfica e passa a ser do FC Porto e tudo continuará sempre assim indefinidamente.
Se perguntarmos à maioria dos eleitores o porquê de votar neste ou naquilo partido, será que nos darão uma resposta minimamente válida? Será que sabem o que diz o programa dos diversos partidos ou votam por mera simpatia, pela carinha mais laroca ou aquele artista que aparece mais vezes nas televisões?
Para se saber de política portuguesa é preciso saber de onde vieram os partidos. É preciso conhecer o seu passado, saber o que foram os 48 anos de ditadura e saber quem lutou e pagou com própria vida o preço da liberdade; é preciso saber em que moldes se deu o 25 de Abril, e quem depois lutou, com atentados à bomba e dezenas de mortos e tudo para que, novamente, se instaurasse uma ditadura de extrema-direita; é preciso saber que posições tomaram os diferentes partidos; quem era a esquerda e de extrema-esquerda, quem era de esquerda e "pelo socialismo" e agora foge dele como o Diabo da cruz; é preciso saber de que lado estiveram os diferentes partidos, quem defendem, que os financia. Para se saber de política, bem mais até que saber de ideologias, é preciso ter memória, é preciso saber o que andaram a fazer no seu passado para facilmente podermos antecipar o que farão no presente apesar de toda a propaganda demagógica que nos querem vender.
É preciso também ter memória, que, como sabemos, infelizmente anda pelas ruas da amargura. Mas, se não vivemos esse tempo, esses acontecimentos - tal como eu não os vivi - então é preciso querer saber, é preciso interessar-se, é preciso estudar e ler.
E há muito que queria ler "Quando Portugal Ardeu" de Miguel Carvalho. Foi este verão. Aconselho a todos que, como eu, queiram abrir um bocadinho os olhos sobre o pós 25 de abril e sobre como se comportaram os diversos intervenientes. Mas advirto desde já que se podem escandalizar todos aqueles que comeram a cartilha oficial.
Introdução:
segunda-feira, 26 de dezembro de 2022
O Preço das Agendas
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
Antes da Ceia de Natal Fazer o Teste de Despiste do CHEGA!
sábado, 17 de dezembro de 2022
Mas, Enfim, Esqueçamos Isso...
Um País Deveria Ser uma Mãe
E também sirva de lição a muitos portugueses de mente muito pequenina, de pensamento salazarista que ficam muito revoltados quando o Estado português ajuda os mais carenciados, nomeadamente com apoios como o rendimento mínimo.
"Eu não sei se vou utilizar a palavra correta mas a Alemanha foi uma mãe para mim. A Alemanha é uma mãe. Eu perdi a minha mãe muito jovem, tinha 20 anos. A Alemanha é uma mãe. Quando eu fiquei sem trabalho a Alemanha vem-me perguntar a mim o que é que eu precisava. Não fui eu que fui à procura de ajuda. Foram ele que mandaram uma carta para casa. A Alemanha é um país sério, muito sério. As pessoas não riem. Não são como os portugueses. O alemão não ri. Quando o alemão diz não é não, quando diz sim é sim. E a Alemanha deu-me um apoio enorme.
A Alemanha disse: "Estás sozinha? Não tens dinheiro suficiente? Nós vamos-te ajudar. Precisas da língua? Nós pagamos-te um curso". Eu em Portugal trabalhei em contabilidade, "ai é? então nós pagamos-te um curso nessa área. Estás a passar frio? Então damos-te aquecimento".
Eu senti um conforto muito grande aqui. Eu tive vontade de voltar, claro. Só que o que me fez ficar foi "bom, já que aqui estou aprendo a língua e, já que estão-me a oferecer esta ajuda toda, então eu vou-lhes dar alguma coisa".
Agradeço imenso porque Portugal nunca me perguntou nada".
Toda a conversa pode ser ouvida aqui.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
domingo, 11 de dezembro de 2022
Para Já Só Quero é Mesmo Ter-te Cá
Resumo do Mundial 2022 por quem Não Vê Futebol
Reencontros com Desconhecidos
sábado, 10 de dezembro de 2022
A Idolatria Cega Mais do que a Luz do Sol
Empresários que vão ao espaço mas obrigam os trabalhadores a mijar para dentro de garrafas são os empreendedores venerados como exemplos a seguir.
Jogador da bola, narcisista, mal educado, acusado de violação e condenado por fuga ao fisco, que tem o maior ego jamais alguma vez visto, que coloca os seus interesses pessoais acima dos interesses das equipas onde joga, é que é apontado como ser humano extraordinário e como exemplo a seguir, e quem ousar comentar que a seguir ao Verão vem o Outono ou é invejoso ou ingrato!
Antigamente, como disse Bernard Shaw, o ser humano adorava ídolos de madeira ou de pedra; hoje em dia curva-se perante autênticos deuses de carne e osso por piores que eles sejam.
É caso para dizer que, de facto, a idolatria cega mais do que a luz do sol.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2022
As Personalidades do Ano da Time
Em 1927, ano em que nasceu o meu avô, a revista estado-unidense Time começou a publicar quem, no seu entender deveria ser o "Man of the Year" posteriormente designado de "Person of the Year.
Em 1938 Adolf Hitler foi considerado "Man of the Year".
Em 2007 Vladimir Putin foi "Person of the Year" e já neste ano de 2022 foi a vez de Zelensky a personalidade do ano.
Tudo pessoas de bem.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
Conversas Improváveis (73) - Pretos & Brasileiros
imagem roubada da net |
terça-feira, 29 de novembro de 2022
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
A Indiferença É a Maior Forma de Violência
Há milhares de padres a abusar de crianças
“Mas, enfim, esqueçamos isto”quarta-feira, 23 de novembro de 2022
Semana Negra de Compras
Portátil HP em Outubro custava 529€
Na mesma loja, e nesta semana negra de compras, o mesmíssimo computador está com uma promoção fantástica de 549€! Aproveitem já antes que esgote!!
segunda-feira, 21 de novembro de 2022
Enquanto os Teus Lábios Estão Vermelhos...
Não é Linda a Puta da Caridade?
Temos que reaproveitar e ser mais sustentáveis e dar a nossa roupa que ainda está em bom estado a quem, infelizmente, não tem o que vestir. Devemos colocar a roupa e calçado que já não usamos nos ecopontos.
A realidade:
A gestão desses ecopontos têxteis é privada e enviada para exportação para ser vendida a países carenciados.
Não é Linda a Puta da Caridade?
Hoje, no Jornal de Notícias:
"A Ultriplo, que tem três mil contentores, refere que, após responder “a todos os pedidos recebidos” dos parceiros sociais, o excedente é comercializado para países como os Camarões, a Gâmbia, a Síria e a Índia. “Não obstante o viés comercial desta operação, estas roupas visam responder às necessidades de populações com um poder de compra extremamente reduzido”, explica a empresa ao JN.
Algo semelhante faz a H Sarah Trading que, com mais de 2500 equipamentos, exporta para países como o Líbano e o Iraque, “permitindo prolongar o ciclo de vida de muitos artigos que em território nacional não seriam reutilizados”, referem.
Confrontados com as críticas que apontam que estão a criar um problema ambiental noutros países, as empresas afirmam que são uma solução para impedir que milhares de roupas utilizáveis vão parar ao lixo e aos aterros.
domingo, 20 de novembro de 2022
Torneio de Ténis-de-Mesa Bombeiros de Melres
A ideia foi do meu colega que até já foi da direção dos bombeiros. Reunimos com o responsável que foi extremamente acessível e pusemos o plano em marcha. Pedi ao ao meu colega da empresa se me fazia o cartar, e percebi que para um especialista é coisa para estar pronto em vinte minutos, que, depois de pronto, foi aprovado pelo responsável.
Fase da promoção. Cartazes imprimidos toca a afixar por aí, ainda que tivesse sido uma quase formalidade. Já sabia perfeitamente que poucas pessoas aqui da terra se iriam inscrever e que o grosso das inscrições viria dos interessados das redes sociais.
Seguidamente reunir com a edilidade local, expor o que estávamos a fazer e solicitar ajuda para oferecer uns troféus aos melhores.
Acho que me revelei um razoável relações públicas e cultivador de amizades desportivas e rapidamente já tinha trinta pessoas inscritas. Se primeiro estava ansioso por poder ter poucas pessoas, depois, comecei a ficar ansioso e a entrar em paranoia porque começava a ter pessoas a mais e mesas a menos.
Cartaz, promoção, troféus, material. Mais uma vez a associação, simpaticamente, emprestou-me tudo o que precisava e aquilo ficou com um ar extremamente profissional. E ainda conseguimos duas extra, cortesia da central aqui da EDP.
Era chegado o dia do sorteio e eu acordei a pensar que não iria jogar. Porque era preciso alguém estar na mesa a controlar o que iria acontecer, porque assim poderia tirar todas as fotografias que me apetecesse, porque assim não estaria dividido entre a organização e ainda me preocupar com ter que ir jogar.
Mas ao fim da tarde falei com uma amiga que me chamou à razão. Que não fazia sentido todo o trabalho que tive para depois nem sequer ir jogar. E assim foi. Ainda por cima porque, comigo, éramos precisamente 44 atletas, o que era perfeito, pois dava onze grupos de quatro cada.
Chegado o dia do torneio acordei por volta das quatro da manhã e já não dormi mais com a ansiedade. Cheguei à sede dos bombeiros cinquenta minutos antes da hora de começar e já lá estava a equipa de Braga para começar o aquecimento! E é assim que tem que ser, chegar sempre cedo, ao contrário do que nós temos feito quando nos deslocamos a outros torneios.
Aos poucos e poucos as pessoas foram chegando e eu fazia o papel de anfitrião e, assim que via alguém chegar, ia ter com essa pessoa, perguntava quem era e de onde vinha e dizia que foi comigo que falou e dava-lhe alguns detalhes de como se ia realizar a competição.
Eu tinha calhado no penúltimo grupo e pensei que só iria entrar em ação por volta das 10:30, mas os planos saíram-me furados. O meu grupo foi dos primeiros a estar completos e lá fui à pressa buscar a raquete e o pano para cabelo e digo para o meu colega de trabalho, que também veio jogar: "é hora de entrar em ação"!
De repente um enorme colorido formou-se no pavilhão e as seis mesas estavam todas ocupadas com atletas a competir. Tudo foi decorrendo de forma muito fluída e conseguimos mesmo, antes de irmos todos almoçar, realizar a eliminatória dos 16 avos de final.
Eu tinha previsto que nenhum atleta nosso ficaria nos oito primeiros lugares, os classificados para os quais tínhamos troféu simbólico.
Recebemos inscrições de clubes de Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo, Braga, Porto e claro, Gondomar. E o raciocínio lógico era: "ninguém vem fazer tantos quilómetros para chegar aqui e não dar uma para caixa"!
Por outro lado tenho a noção que, mesmo sem termos treinador e nenhum nunca ter sido federado, parece-me que estamos ao nível de algumas equipas dos distritais ou challenge.
Os atletas mais fracos fariam sempre, no mínimo, três jogos contra outros três atletas. Mas, ainda assim replicamos uma ideia que vimos noutro torneio e que nos pareceu interessante: fazer uma Liga B em que os atletas eliminados poderiam continuar a competir e ninguém teria que se ir embora. E isto tinha ainda outra utilidade. O bar estaria aberto com petiscos para o pessoal comer, e, quantas mais pessoas por ali andassem, mas consumiriam e mais dinheiro se angariaria para a campanha da compra de uma ambulância.
Ao contrário de vários outros grupos tive sorte e calhei num grupo acessível e fiquei em primeiro lugar evitando assim, a seguir, jogar contra primeiros classificados de outros grupos. Nos 1/16 de final defrontei um colega do meu clube, que tinha ficado em terceiro lugar noutro grupo, vencendo e avançando na competição. Estava nos dezasseis melhores e iria agora tentar nos oito melhores.
Calhou-me um atleta brasileiro de Braga, de boa técnica e de imediato comecei, vá lá saber-se porquê, a tremer. Venci o primeiro jogo e o segundo, e recordo que entre jogos troquei umas palavras com um atleta de São Pedro da Cova que estava a arbitrar e que me disse mesmo "estás a tremer, até se nota daqui! tem calma que jogas melhor do que ele". Ele também também está nervoso mas tu estás todo a temer". E era verdade. Eu mesmo sentia-me a tremer e já tinha acontecido recentemente, no torneio de Ovar. Achei que os muitos torneios que tenho disputado me tinham deixado muito mais solto, mas, vá lá saber-se porquê, nestes dois últimos voltei a ficar muito ansioso.
Nos oitavos de final deparei-me com outro atleta de Braga com quem já tinha jogado em Ovar no torneio por equipas e que tinha vendido e fiquei com o seu contacto para os convidar para este torneios que estávamos a organizar. "Desta vez vou-te ganhar, vai ser a minha desforra", disse-me! Mas apesar de também ser bom tecnicamente, talvez o seu estilo de jogo não encaixe bem no meu, e voltei a vencê-lo. Até aqui tinha defrontado seis atletas e todos vendi por 3-0.
E assim em pezinhos de lã estava nos quatro melhores, o que para mim, era um excelente resultado!
E na meia-final, e pela terceira vez este ano, calhou-me em sorte o meu camarada comunista. E pela terceira vez venceu-me, e, desta vez, ao contrário das duas anteriores, com alguma facilidade. Eu caí para o jogo de atribuição de terceiro e quarto lugar e ele avançou para a final.
Eu perdi o terceiro lugar por um triz (3-2) e o meu camarada na final também não conseguiu farinha do atleta de Braga que venceu com todo o mérito o torneio.
Eu posso dizer que, mesmo que tivesse ficado no último lugar, fiquei muito contente com a organização. Estivemos mesmo de parabéns. Tudo decorreu como planeado e toda a gente foi muito elogiosa connosco. Tudo decorreu com enorme desportivismo, e depois de toda a trabalheira que tive, em que durante uma semana andei a correr para a associação, a transportar mesas, separadores, e a montar o espetáculo, no fim, valeu mesmo a pena. Correu tudo muito bem. Promovemos a nossa terra, promovemos o ténis-de-mesa e competimos em sã convivência.
Um dos colegas que comigo ajudou na organização disse-me mesmo que lhe disseram: "já fomos a torneios oficiais que não tinham este nível de organização" e não há dinheiro que pague ouvir uma coisa destas.
O Reencontro 25 Anos Depois
O Torrejon ligou-me e vinte e cinco anos depois continua a chamar-me Satan.
Parece que ia haver um convívio em casa de um deles. E como dias antes eu até me tinha registado no Whatsapp, então, ele lá acabou por me adicionar ao meu primeiro grupo que depois comecei a ter um cheirinho do que serão os tais grupos de Whatsap que sempre ouvi falar mas que não conhecia.
Da primeira turma de Electronica Industrial de 1997 éramos dezoito. Nessa altura eu ainda não tinha e-mail nem sequer computador! Haveria de comprar o primeiro computador por duzentos e cinquenta contos com o dinheiro da bolsa de estudo que recebia. Por outro lado em 97-98 eu deveria ser dos melhores clientes dos Correios de Portugal - "onde é que está o Königvs? Deve ter ido aos correios - isto num tempo em que os CTT eram dos melhores correios do mundo porque ainda pertenciam ao Estado.
Estivemos juntos cerca de três anos. Oito horas por dia em regime de Big Brother com direito a dormirmos, tomarmos banho e pequeno-almoço juntos, durante dois ou três meses na cidade de Lisboa. As nossas idades andariam entre os dezoito e os vinte e cinco anos.
Talvez isto tenha sido uma espécie de recruta, uma tropa, uma guerra colonial sem o uso de armas mas que deixou na memória um tempo em que tivemos que conviver, todos, uns com os outros. E essa ligação fica para sempre. Nomes como Satan, Piri, Pintas, Baguim, Foca Cabeluda, Porca, o Puto, Barbosa, Casquilho, ou expressões como "eu sento-me onde quiser", ficarão para sempre no arquivo de nostalgia da nossa memória, passe o tempo que passar, ou então, até que o Alzheimer nos separe.
Em 1997 eu vestia-me de preto da cabeça aos pés. Calçava Doc Martens 365 dias por ano quer fizesse chuva ou calor, usava anéis cavernosos da Alchemy nos dedos, cruzes invertidas ao pescoço e casacos com pentagramas. Gostava muito de futebol e sofria com as derrotas do Benfica e, politicamente, admirava Francisco Louçã. Hoje em dia uso mais alguma corzinha, calço Camport ou Skechers, não vejo futebol, deixei até de ser benfiquista e só tenho olhos para o ténis-de-mesa. Politicamente, continuo sempre a olhar para quem tem menos e para os excluídos, e esses só são defendidos pela esquerda (a sério e não só de nome!) ainda que, tantos anos depois continue a achar que esta democracia que nos rege é uma valente treta que não me representa. Nem sequer é uma democracia de verdade.
Estou em crer que foi passado dez anos (2012?) que nos juntamos pela primeira vez e jantamos num restaurante do Porto. Ou pelo menos foi a minha primeira vez. E, por acaso não creio que um restaurante seja o melhor evento para se conviver, mas os portugueses dão o cu e três vinténs para comer fora. Ficamos ali emparedados entre um e outro colega, a conversar com o da frente e outro do lado, isto se houver afinidade nas conversas. Depois fazem-se as contas e vai cada um para sua casa. Reunir na casa de uma pessoa ou noutro sítio qualquer aberto, é, sem qualquer dúvida, muito melhor.