Acho que foi no fim-de-semana passado que comecei a pensar que no tinha acabado de pedir na roulotte. Perante a pergunta sobre qual molho eu queria no prego, respondi prontamente "Ketchup". Mas por que é que eu pedi Ketchup e não Mostarda ou Maionese? Eu estaria a pedir Ketchup porque de facto é um molho que eu muito aprecio, ou estaria a pedir por outro motivo?
Sinceramente já não me lembro quando comi pela primeira vez um prego em pão de hamburguer. Mas tenho quase a certeza que estaria com ela. E de certeza que até então nunca que tinha provado um prego com maionese, com mostarda e com ketchup para já ter formulado a minha escolha. Hoje, tantos anos depois, continuo a pedir Ketchup nos pregos em pão de hamburguer, porque era assim que ela me dizia que gostava. Que assim era melhor. Mas era melhor para ela. Será que era mesmo o melhor para mim?
Há pessoas que chegam à roulotte e pedem tudo. Pedem todos os ingredientes que estejam disponíveis: alface, tomate, cogumelos, milho, cebola, ervilhas, batata-palha, ovo, queijo, fiambre, tabasco no bife, e mais algum ingrediente que me possa estar agora a escapar! E à pergunta - molhos? Respondem: "todos"! E a senhora ou o senhor, apertam no frasco de cada molho que está pendurado, e apertam-no como se estivessem a ordenhar uma vaca, e ejaculam para cima da sande montes de molho em círculos e mais círculos. E depois repetem no segundo molho e no terceiro, e fica para ali uma bela bodeguice.
Talvez porque estas pessoas nunca que tiveram a oportunidade de parar para pensar sobre qual será o seu molho preferido. Então, na dúvida, pedem todos. Afinal, estão a pagar, e assim sentem-se reconfortados, estão a pedir o máximo de comida possível, o máximo de ingredientes, e o máximo de bodeguice.
Por mim escolheram o Ketchup. E eu aprendi a gostar de Ketchup no prego. Talvez fosse agora preciso nascer de novo, para conseguir decidir o que eu gosto verdadeiramente. Ou então talvez de uma nova namorada, para me dar a provar outro molho, para eu provar outro sabor, e ver como afinal este novo melhor é melhor que Ketchup.
No filme Runnaway Bride, que saiu no mesmo ano que comecei a namorar com a pessoa que me fez gostar de Ketchup no prego, também podemos ver a protagonista, a sorridente Júlia Roberts, que em determinado momento do filme é confrontada pela personagem de Richard Gere, que nem sequer nunca soube como gosta dos ovos. Ela gosta dos ovos conforme for a forma que o namorado com quem estiver no momento gostar.
E, durante muitos anos pedi, a acompanhar, por norma, uma torrada ou uma tosta mista, um néctar de pêssego. E também agora vejo que era como ela gostava. Era o que ela bebia. E será, ocorre-me agora, que também ela ainda hoje, sem se aperceber, faz determinadas escolhas porque fui eu que lhas plantei sub-repticiamente? E que escolhas serão essas? Ou será que, por ter passado a dividir a sua vida com outra pessoa, já não restará qualquer resquício da minha influência? Se é importante para mim saber? Claro que não é importante! São só meras curiosidades retóricas.
Mas nós estamos sempre a ser influenciados nas mais pequenas coisas, mesmo sem nos apercebermos. E há coisas que nos ficarão para sempre. Sim, eu sei, "sempre" é muito tempo. Professora de química do oitavo ano: "As tampas colocam-se sempre viradas para cima". E não sei porquê mas esta frase ficou.me sempre na cabeça, e sempre que abro uma rolha de uma garrafa e a coloco em cima de uma mesa, a verdade é que a viro sempre para cima. Sim, muito provavelmente os professores, depois dos pais, talvez sejam das pessoas que mais nos influenciam ao longo da vida.
E sempre que vou dar saída de um Hotel, ouço a frase dela: "Vê se não deixamos nada caído". E sempre que vou dar saída num Hotel, reviro os lençóis, espreito debaixo da cama, vou duas vezes à casa-de-banho e olho por todo o lado, para ver se não deixo nada caído em nenhum lado.
E muitos anos depois, provei um néctar de Manga Laranja. "Mas isto é muito bom", disse-lhe. Mas e eu, afinal, de qual é que gosto mais? De Pêssego ou Manga Laranja?