É sempre bom relembrar, nestes tempos em que tanta gente por cá opina sobre a Catalunha, como nós portugueses aqui chegamos. Na verdade, se hoje Portugal é um país independente de Espanha, deve-o em grande parte à Catalunha, que tentou a sua própria independência na chamada "Revolta dos Ceifeiros (ou Sublevação da Catalunha) em 1640, e ao facto de Madrid ter apostado tudo, com os seus melhores soldados, em decapitar a revolta catalã, o que, estrategicamente deixou a porta aberta, para que os portugueses pusessem fim ao reinado filipino e tivessem declarado a sua independência, que só foi reconhecida por Espanha em 1668, depois de quase trinta anos da Guerra da Restauração.
"Em 1640 há uma revolta na Catalunha. Há uma revolta de nobres na Catalunha apoiada pelos franceses. E o que é que Filipe III de Portugal e IV de Espanha (que é o mesmo) decide fazer? Primeiro, a revolta da Catalunha é um fogo muito mais perigoso do que estas alterações populares de Évora e as outras que se seguiram. Pretende acabar aquele fogo perigosíssimo porque estava estava mais perto da fronteira francesa. E porque também há, de facto, um movimento independentista na Catalunha, matando dois coelhos com uma só cajadada. Convoca o Duque de Bragança, que é o comandante do exército português por nomeação filipina, com o exército português para vir para Madrid combater, conjuntamente com o exército espanhol na Catalunha. E aí é que a nobreza portuguesa dá o seu grito de Ipiranga. E quarenta nobres, em 1640, combinam ir ao palácio, onde está a Duquesa de Mantua, que é a vice-rainha, prendê-la, para que ela dê ordens à guarnição militar que está em Almada para se render e tomar conta do palácio, para depois vir o D. João, de Vila Voçosa, nas calmas (para ver se não há problemas nenhuns) e ocupar o lugar como rei de Portugal.
E o que é que acontece? O exército espanhol não se virou de imediato para Portugal. Virou-se para a Catalunha, e este processo do exército espanhol ir combater a Catalunha, e pôr apenas um pequeno exército a tentar pela nossa fronteira do Alentejo, permite ao Duque de Bragança e à nobreza portuguesa, organizar as nossas fortalezas na fronteira, e permite a Portugal restaurar a sua independência.
Sem a Revolta da Catalunha, por um lado, e sem as alterações de Évora, não teria sido possível que a restauração da independência se tivesse feito no dia 1 de Dezembro de 1640. Primeiro, as alterações de Évora de 1637 foram o motor desta restauração da independência, Por que é que foram o motor? Porque obrigaram a nobreza a atuar. E era a nobreza que tinha que atuar porque eles é que tinham as armas. A revolta da Catalunha em 1640 permitiu, que a restauração fosse possível, em termos militares no dia 1 dezembro de 1640. Pode-me dizer "Ah, se não fosse em 1640, podia ser no século XVIII". Mas eu penso que já não seria mais."
"Na corte de Madrid pensava-se em tornar mais eficiente o jugo sobre Portugal. Havia um projeto de reforma administrativa, em que o país ficaria reduzido às proporções de simples província espanhola. Com o pretexto de serem ouvidos acerca da reforma, foram chamados à capital Espanha os grandes vultos da sociedade portuguesa, entre os quais os arcebispos e o bispo do Porto. Pelo mesmo tempo era investido no cargo de Governador das armas do reino, muito contra a vontade e após repetidas escusas, o próprio Duque de Bragança. Tratava-se de subornar, ou de incapacitar perante os portugueses (...) O golpe era de mestre. Não lhe tendo admitido as escusas, Olivares obrigava-o a pôr em execução a última ordem de Madrid em matéria militar: o levantamento em Lisboa de uma força importante de Cavalaria, nos Açores de alguns terços de Infantaria, e, na própria metrópole, de quatro regimentos de soldados experimentados e dois terços de voluntários. Todas estas forças seriam postas à disposição do gabinete de Madrid. O duque levantaria e equiparia nas suas terras, à sua custa, mil soldados. Os navios da frota portuguesa seriam entregues a oficiais espanhóis e incorporados da Armada de Espanha (...)
(1939) Uma grande esperança, de ordem internacional, os animava: a certeza de que encontrariam na França uma cooperação decidida. Richelieu, o hábil ministro de Luís XIII, encarregara um homem da sua confiança, Saint-Pé, de vir a Lisboa e promover a sublevação dos portugueses, ao passo que outros agentes fomentariam o levantamento na Catalunha. (...)
A revolta na Catalunha estalou, com efeito, em Junho de 1940. A ocasião era propícia: as tropas portuguesas deveriam ir combater os catalães revoltados; novos impostos recairiam sobre a nação. Um padre, Nicolau da Maia trabalha pela restauração entre os elementos populares de Lisboa (...)
Atribui-se uma influência decisiva, neste passo ao duque, à duquesa, D. Luísa de Gusmão, e à sua imensa vontade de ser rainha.Segundo uma versão que foi acreditada e divulgada, ela teria afirmado que "antes ser rainha uma hora do que duquesa toda a vida" (...)
Naquele dia 21 de Novembro, em Lisboa, e no próprio palácio dos duques de Bragança, onde João Pinto Ribeiro residia, se estabeleceu o plano do movimento revolucionário e se lhe marcou o dia e a hora: 1 de Dezembro, às nove da manhã (...)
A 1 de Dezembro, numa luminosa e serena manhã de Inverno lisboeta, juntavam-se no Terreiro do Paço umas dezenas de fidalgos, vindos em coches, em que transportavam armas, e um punhado de populares que o padre Nicolau da Maia convocara. Logo que as nove soaram nas torres da Sé, um grupo numeroso invadiu a entrada do paço e inutilizou, com alguns tiros, a resistência da guarda real, que correra às alabardas. D- Miguel de Almeida, um velho magnífico de energia, lançava-se à frente, de espada em punho clamando: "Liberdade! Liberdade! Viva El Rei D. João IV".
(História de Portugal - Restauração da Independência - Ângelo Ribeiro - 2004)
(História de Portugal - Restauração da Independência - Ângelo Ribeiro - 2004)
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