Eu estava aqui deitado a ler um pouco. Como a estrada da casa dos meus pais só dá para passar um carro de cada vez, e no larguinho mais acima dá sempre sol, costumo deixar o jipe no monte em frente (por aqui também se usa a palavra "sorte" para designar um terreno não murado), e onde ainda se pode ver, pendurada num pinheiro, uma placa da ERA. Ao que parece todos aqueles milhares de hectares já têm dono. Parece que o compraram. Parece. Uns tipos já por aqui estiveram, fazendo-e passar por novos donos, e até disseram aos meus pais que podem usar aquele bocado de terreno (que os meus próprios pais limparam) para o que quiserem (para colocar lenha para a lareira por exemplo). Mas parece que não se sabe nada ao certo. Afinal, pergunto-me, quem é que compra tamanho terreno para depois não fazer nada dele? Mas o que sei é que tem pinheiros demasiado perto da casa, apesar de todo o mato estar limpo. E como os pinheiros dão uma boa sombra todo o dia, é ali que agora tenho vindo a deixar o carro ao fim-de-semana.
Mas de repente irrompe a minha mãe quarto adentro: "Tens de ir tirar o jipe do monte. Os bombeiros já estão aqui, isto está tudo a arder, o fogo já deve estar mesmo aqui perto". Levanto-me à pressa, calço-me, pego nas chaves do carro (pelo meio ainda vi o carro dos bombeiros a ir-se embora) e lá fui eu pegar no jipe e levá-lo para minha casa. Pelo caminho vi muitas pessoas a olhar para o imenso fumo preto que se via por cima da igreja. Em breve parece que a aldeia iria ficar engolida pelas chamas. E a meio do caminho de casa, já via, ao longe, outros focos de incêndio, com enormes colunas de fumo (mas este era branco) na direção do que me parecia ser o Parque Botânico do Castelo.
Já em casa e entretido a fazer qualquer coisa no jardim, liga-me a minha mãe. Foram ver, e afinal o fogo nem é deste lado do rio Douro! aparentava ser só lá para os lados de Arouca, bem longe daqui portanto. Afinal, e como ao que parece, eu estou sempre a dizer: "não podemos generalizar". E não podemos mesmo, porque, até o fumo tem uma exceção. Afinal, nem sempre onde há fumo há fogo!
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