terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Presidenciais: Manipulação tão evidente

Abro agora o site do Diário de Notícias e fico a saber que o Tribunal Constitucional aprovou as dez candidaturas propostas à presidência da república. Dez candidatos e o que vemos na fotografia da notícia? Um só candidato, o mesmo candidato da direita, o tal que, apesar de nunca ter ganho umas eleições na vida, se diz há muito que, "nem que Cristo desça à Terra", ele ganha as presidenciais de 2016 à primeira volta. E porquê? Porque as sondagens existem unicamente para isso, para manipular a opinião pública.


E é também assim, que as pessoas, quase sem se aperceberem votam sempre nos mesmos. Nos mesmos que andam em todos os canais, anos a fio, promovendo-se, vendendo sempre a mesma banha da cobra. Votam nos mesmos que têm todo o destaque nos órgãos de comunicação social. 
Os outros, esses que têm opiniões diferentes, que não interessam ao sistema, esses são varridos para debaixo do tapete, para ninguém os ouvir. Não vá o povo ignorante começar a abrir os olhos.  

domingo, 27 de dezembro de 2015

Tão autobiográfico



"Fico contente que digas isso porque  eu sempre me senti assim, uma aberração, porque eu nunca fui capaz de seguir em frente...assim (num estalar de dedos)! Tu sabes. As pessoas simplesmente têm curtes, ou relações inteiras...acabam e esquecem! Seguem em frente como fariam se trocassem de marca de cereais! 
Tu nunca podes substituir ninguém. O que se perdeu perdeu-se. Cada relação, quando acaba, dá realmente cabo de mim. Eu nunca recupero completamente. É por isso que eu sou muito cuidadosa em envolver-me, porque... Magoa demais! Mesmo dar uma trancada! Atualmente eu não faço isso.... E vou ter saudades da outra pessoa, das coisas mais mundanas. Tal como eu sou obsecada com as pequenas coisas. Talvez eu seja louca, mas... "


Celine / Before Sunset (Antes do Amanhecer) / 2004

sábado, 26 de dezembro de 2015

Da importância do tempo




"Foi o tempo que perdi com a minha rosa que a fez tão importante."




Capítulo XXII - O Principezinho - Saint Exupérie

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Brave new World: livro e música



Dying swans twisted wings, beauty not needed here
Lost my love, lost my life, in this garden of fear
I have seen many things, in a lifetime alone
Mother love is no more, bring this savage back home

Wilderness house of pain, makes no sense of it all
Close this mind dull this brain, Messiah before his fall
What you see is not real, those who know will not tell
All is lost sold your souls to this brave new world...


"Brave New World" / Brave New World / Iron Maiden / 2000





- Não estou contente? - O selvagem olhou-a com ar de censura. Caiu inesperadamente de joelhos diante dela e, pegando-lhe na mão, beijou-a com reverência. - Não estou contente? Ah! Se soubesse! - murmurou. E reunindo toda a sua coragem para erguer os olhos para ela, continuou: - Lenina, como eu a admiro, verdadeiro píncaro da admiração, digna de tudo o que de mais precioso há no mundo... - Ela sorriu-lhe com ternura deliciosa. Oh, tão perfeita (ela inclinou-se para ele, os lábios entreabertos), criada tão perfeita e incomparável (cada vez mais próxima), criada com tudo o que há de melhor em todos os seres... - Lenina estava ainda mais próxima. O Selvagem pôr-se sùbitamente de pé.
- É por isso - disse ele, desviando os olhos - que eu queria primeiro realizar alguma coisa ...Quero dizer: provar que era digno de si. Não que eu julgue vir alguma vez a consegui-lo. Mas queria, pelo menos, provar que não sou absolutamente indigno. Queria realizar alguma coisa.
- Porque acha isso necessário?...
Lenina começou a frase, mas não a acabou. Havia uma nota de irritação na sua voz. Quando nos inclinámos para diante, cada vez mais perto, os lábios entreabertos, para nos vermos de repente e sem mais nem menos, enquanto um pateta imbecil se levanta, inclinados para um lugar vazio, meu Ford, tem-se razão, para estar sèriamente contrariada. 
- Em Malpaís -gaguejou o Selvagem em tom incoerente - era preciso trazer a pele de um leão das montanhas, quero dizer, quando se queria casar com alguém. Ou então um lobo. 
- Mas não há leões na Inglaterra - objetou Lenina com voz quase cortante. 
- Mesmo que os houvesse - acrescentou o Selvagem, com um ressentimento brusco e desdenhoso-, seriam destruídos com gases tóxicos ou qualquer coisa do género lançada de helicópteros. Mas eu não farei isso, Lenina! - Atirou o peito para a frente, animou-se a olhá-la e cruzou-se com o seu olhar de incompreensão contrariada. - Farei tudo - continuou com crescente incoerência -, tudo o que me ordenar. Existem jogos dolorosos, como sabe. Mas a dificuldade realça-lhes as delícias. Eis o que sinto. Quero dizer que, se me ordenasse, varreria  chão. 
- Mas nós aqui temos aspiradores - observou Lenina, assombrada-, e isso não é necessário.
- Não, já se vê que não é necessário. Mas há algumas coisas vis que se suportam nobremente. Eu quisera suportar qualquer coisa nobremente. Não me compreende? 
- Mas desde que existem aspiradores...
- Não é essa a questão.
- E Epsilões semiabortos para os fazer funcionar - continuou ela. - Assim, na verdade, porquê?
- Porquê? Mas por si, por si, por si! Apenas para provar que eu...
- E que relação poderá existir entre os aspiradores e os leões?...
- Para lhe provar quanto...
-Ou entre leões e o facto de estar contente por me ver?
Ela exasperava-se cada vez mais.
- Como eu a amo, Lenina - conseguiu ele dizer, quase em desespero de causa.

Brave New World / Aldous Huxley / 1932

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O que se quer

"Querer alguém, ou alguma coisa, é muito fácil. Mesmo assim, olhar e sentirmo-nos querer, sem pensar no que estamos a fazer, é uma coisa mais bonita do que se diz. Antes de vermos a pessoa, ou a coisa não sabíamos que estávamos tão insatisfeitos. Porque não estávamos. Mas, de repente, vemo-la e assalta-nos a falta enorme que ela nos faz. Para não falar naquela que nos fez e para sempre há-de fazer. Como foi possível viver sem ela? Foi uma obscenidade. Querer é descobrir faltas secretas, ou inventá-las na magia do momento. Não há surpresa maior. (...)

Querer é mais forte que desejar, pelo menos na nossa língua. Querer é querer ter, é ter de ser. Querer tem mesmo de ser. Na frase felicíssima que os portugueses usam "o que tem de ser tem muita força". Desejar tem menos. É condicional. Quem deseja, desejaria. Quem deseja, gostaria. Seria bom poder ter o que se deseja, mas o se deseja não dá vontade de reter, se calhar porque são muitas as coisas que se desejam e não se pode ter todas ao mesmo tempo.
Querer é querer ter e guardar, é uma vontade de propriedade; enquanto desejar é querer conhecer e gozar, é uma vontade de posse. O querer diminui-nos, mas o desejar não. Sabemos que somos completos quando desejamos - desejamos alguém de igual para igual. Quando queremos é diferente - queremos alguém com a inferioridade de quem se sente incapacitado diante de quem parece omnipotente. O desejo é democrático, mas o querer é fascista.
O que desejamos, dava-nos jeito, o que queremos fez-nos mesmo falta. Mas tanto desejar como querer são muito fáceis. Ter, isto é, conseguir mesmo o que se quer é mais difícil. E reter o que se tem, guardando-o e continuando a querê-lo, tanto como se quis antes de se ter, é quase impossível. Há qualquer coisa que se passa entre o momento em que se quer e o momento em que se tem. O que é?
"Cada pessoa - dizia Oscar Wilde - acaba por matar a coisa que ama". Mata-a, se calhar, quando sente que a tem completamente. (...)




A verdade, triste, é que uma pessoa completa, a quem não falta nada, não é capaz de querer outra pessoa como deve ser. No momento em que se sente que tem o que se quer, foi-lhe devolvida a parte que lhe fazia falta e passou a ter tudo outra vez. Fica peneirenta, sente-se gente outra vez. É feliz, está satisfeita e deixou de ser inferior à sua maior necessidade. O ter destrói aquilo que o querer tinha de bonito. Uma necessidade ocupa mais o coração, durante mais tempo, que uma satisfação. Querer concentra a alma no que se quer, mas ter distrai-a. Nomeadamente, para outras coisas e outras pessoas que não se têm. (...)

Querer é poder, não só porque porque há coisas que não se conseguem sem que sejamrealmente queridas, mas porque é realmente um poder. Quem não quer nada sofrer, por definição, de uma fraqueza. Por outras palavras, quem não quer nada a não ser o que se tem, não avança - tem uma situação que não arrisca, que não aquece nem arrefece. Porque é que estas pessoas, que parecem nada querer, são sempre as pessoas que queremos mais? Entre duas pessoas, quem está sempre prejudicado junto da outra pessoa, porque o querer é uma coisa que lhe está na cara. As vontades verdadeiras não se disfarçam. 

Como então resolver o problema? Em primeiro lugar, nunca se pode ter nada ou ninguém tão completamente quanto se quis. No caso de se ter a pessoa que se quer, e haver outra que nos quer ter, nunca nos podemos dar completamente. Quem nos quer, quer-nos in toto, mas satisfaz-se com pouco. Não se pode dar mais. Um bocadinho tem de parecer bastante. E se dermos tudo, tem de parecer pouco. Ela nunca pode perceber. Senão perdemo-la. É preciso haver sempre uma parte que parece inacessível. O que é o mistério de uma pessoa senão a parte dessa pessoa que adivinha, que se sonha que (sobretudo) se desconhece? É preciso haver bocados de nós que não se dão, que permanecem por descobrir, que pareçam uma espécie de desafio, mesmo que apeteça dá-los totalmente. 

No caso de ser uma pessoa que se quer, é preciso querer manter essa vontade, como uma coisa que é rara e boa só por si. É preciso ver que é a própria vontade a coisa mais querida que pode haver. Querer é como fazer luz. Aquilo que a luz ilumina (que pode ser tudo) nunca pode ser tão importante como a própria luz (que tudo pode iluminar). Em certo sentido, é necessário não querer o que se tem, e não ter o que se quer. Porque é muito difícil querer o que se tem e ter o que se quer. Só por isso. 
Quando se quer realmente, dar-se-ia tudo por ter. A coisa ou a pessoa que se quer têm o valor imediato igual a todas as coisas e pessoas que já se têm. Trocavam-se todas as namoradas, ou todos os namorados, que já se namoraram pelo namoro de uma única pessoa que se quer namorar. É esta violência. É esta injustiça. Mas é também a beleza, Quem aceitaria que um novo amor significaria apenas parte de uma vida? Não sendo a vida inteira, não sendo tudo o que importa, numa dada altura, num dado estado do coração, por que nos haveríamos de ralar?

Querer é uma arte delicada. Ser querido também é. Idealmente quem tudo quisesse nunca aceitaria tudo o que lhe fosse dado, para não perder a prenda principal, que é a vontade verdadeira de outra pessoa, e tudo faria, até, para causar problemas, entraves entre uma pessoa e outra, exagerando diferenças entre elas, esquecendo semelhanças. Nada atrai como a diferença e a estranheza ligeiramente longínquas. Por outro lado, quem fosse querido nunca daria mais do que é necessário para a outra pessoa continuar a querer. Ora continuar a querer - coisa que se deve tentar conseguir - não é nada a mesma coisa que ter. Continuar a ser querido não é a mesma coisa que ser tido. 

O querer é bonito porque, concentrando-se na coisa ou na pessoa que se quer, elimina o resto do mundo. O resto do mundo é uma entidade muito grande que tem graça e tem valor eliminar. Querer um homem em vez de todos os homens, uma mulher em vez de todas as mulheres é fazer a escolha mais impossível e bela. Acho que se pode ter tudo o que se quer de muitas pessoas ao mesmo tempo, mas não se pode querer senão uma pessoa. Ter todas as pessoas não chega para satisfazer, mas basta querer só uma, e não a ter, para nos insatisfazer, É por isso que se tem de dar valor à vontade. Poder-se-á querer ter alguém sem querer também ser querido por essa pessoa? Eu não sei. (...)

Ter o que se quis não é tão bom como se diz, nem querer o que não se tem é assim tão mau. O segredo deve estar em conseguir continuar a querer, não deixando de ter. Ou, por outras palavras, o melhor é continuar a ser querido sem por isso ser deixado de ser tido. O que é que todos nós queremos no fundo dos fundos? Queremos querer. Queremos ter. Queremos ser queridos. Queremos ser tidos. É o que nos vale: afinal queremos exatamente o que os outros querem. O problema é esse. 

"Os meus problemas" / Miguel Cardozo / 1988

sábado, 19 de dezembro de 2015

A Morte do Amor




Her penultimate sighs

Called softy on the kindling wind

Her saintly eyes filling with tears, lifting with truth

And then a golden flash like the onset of Heaven

Leaving her screams breaking my heart

And in the grip of fire

I knew the death of love...


The Death Of Love /  "Godspeed On The Devil's Thunder"/ Cradle of Filth / 2008

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Películas amolgadas!

Acho que vou comprar esta carroça: diz que tem "películas amolgadas" nos vidros! Não há muitas por aí assim! É uma oportunidade!




Anúncio retirado do OLX

Eu cheira-me que o vendedor quereria dizer "película homologada" mas eu pouco percebo da coisa. E a propósito a fotografia da carroça é meramente ilustrativa, nada tem a ver com o anúncio. Acho que só se estivesse doente é que comprava uma carroça com películas amolgadas, quanto muito películas impecáveis ora!

Como uma cona destrói o melhor treinador do mundo

Até fui pegar agora no telemóvel para ver em que dia tinha escrito que o Mourinho seria despedido, e a minha convicção era que seria mesmo despedido antes do Natal, e a nota que deixei, com o título deste texto, data de 3 de novembro. 

"Não sabias da médica ninfomaníaca do Chelsea"? havia-me perguntado certo dia o meu colega de trabalho. E de facto não, não fazia a mais pequena ideia. Sabia sim que Mourinho havia despedido a médica do clube, mas não fazia a mais pequena ideia, que esta médica era extremamente zelosa e prestável, vinte e quatro horas, sempre disponível, sempre a pensar no melhor para os jogadores do clube. E trabalhadores assim dedicados é muito raro hoje em dia! A médica, Eva Carneiro, segundo disse o ex-namorado, recebi inclusive chamadas a meio da noite, de jogadores com dói-dóis, e ela de imediato deixava a sua vida pessoal e lá cuidar deles, regressando na manhã seguinte.


Doutora Eva Carneiro ex-médica do Chelsea (Imagem Via Pinterest)

E o que fez José Mourinho, reconhecidamente o melhor treinador de futebol do mundo? Despediu-a, fundamentando a sua decisão no facto de ela distrair os jogadores!

"Pois então está explicado o porquê do Chelsea, um clube campeão na época passada, e agora com os mesmos jogadores estarem a perder jogos atrás de jogos depois da sua saída ainda em agosto" deduzi. 

Os jogadores ficaram amuados, tiram-lhes a médica querida, disponível para todo o serviço, que quando se queixavam de uma dor muscular a qualquer hora da noite, já não tinham quem lhes tratasse do dói-dói. E assim claro, não há condições, os jogadores entrarem em depressão!

"Pois bem podes ter a certeza que o Mourinho nunca mais dá a volta à situação" alvitrei. Já o meu colega achava que não, estava certo que ele ainda daria a volta à situação, afinal estávamos a falar de Mourinho, e ele achava que o Chelsea poderia ainda muito bem ainda ser campeão, ou quem sabe até mesmo campeão europeu! Mas eu não. Sempre estive muito ciente que nunca devemos menosprezar o poder da cona na sociedade e afinal tinha mesmo razão.

E foi assim que, uma simples cona destruiu o melhor treinador de futebol do mundo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Bactéria Multirresistente

Estaríamos em 1998... 

Todos os dias apanhava o 56, um daqueles autocarros, compridos e articulados. Vestia-me de preto da cabeça aos pés, tinha uma imensa juba loira pelo fundo das costas, de meter respeito, e usava as mesmas botas pretas, todos os dias, quer fizesse calor ou frio. Nos dedos anéis, um verde com uma caveira, outro com um pentagrama prateado em fundo preto, e um outro ainda que era um olho vermelho que refletia a luz de onde quer que olhassem, parecendo que estava a olhar para quem para ele olhasse. Ora usava um, ou todos os anéis numa só mão ou em ambas as mãos, e usava também diferentes fios. Recordo uma Estrela-do-Caos que me acompanhou muitos anos...  e curiosamente ainda nos dias de hoje a uso apesar de já não ser a mesma.

Certo dia, sentado no banco plástico cor-de-laranja do autocarro, que demorava mais ou menos meia hora a chegar ao destino, e enquanto folheava um catálogo em formato revista de uma conhecida editora alemã , um homem mais alto que eu, de cabelo curto e já com entradas na testa e que usava uns pequenos óculos e uma pasta que lhe davam um ar muito intelectual, interpela-me:


Foto emprestada da net
"Essa revista..." não sei ao certo o resto das restantes palavras, mas o certo é que um completo desconhecido me interpelou. Eu virei-me para trás, respondi-lhe simpaticamente, como aliás costumo fazer sempre com pessoas desconhecidas que me abordam, e começamos a conversar sobre música.

E se à primeira vista ninguém diria que aquela pessoa, vestida de uma forma completamente diferente da minha, e aparentando ser totalmente diferente de mim, mais à frente descobri que não poderia partilhar gostos mais parecidos, fossem eles musicais, de estilos de vida, como até visões da própria sociedade. 

E um pequeno gesto pode - como já várias vezes falei disso aqui no blogue - mudar muitas coisas na vida de uma pessoa. Se até então esta era uma pessoa desconhecida que simplesmente apanhava o mesmo autocarro que eu, a partir dali começamo-nos a encontrar nas mesmas paragens de autocarro e a conversar.  E foi assim, num pequeno gesto, uma simples interpelação num transporte público, que conheci aquele que, durante muitos anos viria transforma-se no meu melhor amigo.

Curiosamente foi esta pessoa que, já há uns quantos anos, me disse certo dia, a propósito da minha resiliência, que por mais mais dificuldades que a vida me coloque, eu resisto e resisto, sempre... como uma "Bactéria multirresistente".

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Enredos imprevisíveis

Ontem, reunidos antes de irmos, em filinha como nos casamentos para o restaurante, conversava-se sobre cinema. Eu, e um dos patrões, que me dizia "que sorte que tiveste em ver o Matrix sem saber nada" e depois acrescentava que agora nem vale a pena ir ao cinema pois nos traillers eles agora contam tudo. "Se um filme tem duas boas piadas, eles mostram-nas e a pessoa já não é surpreendida e fica parva a ver o filme era só isto"? e depois ficávamos quase boquiabertos a pensar que o Matrix daqui a nada faz vinte anos!! Vinte anos! Como o tempo voa.

E lá  pelo meio eu atirei que não fui ver o filme que toda a gente viu, e que também fará vinte anos em breve. Referia-me ao Titanic... 
"Mas deixem-me adivinhar... será que a história é sobre um barco que embate num icebergue e afunda"? Afinal parece que não, era só mais uma história de amor...  mas que deduzo que não acabe como o Romeu e Julieta... mas acabaram ao menos molhados - certo?!


Ser de direita por preguiça

Faz hoje uma semana, fruto do grande volume de trabalho e de uns imprevistos de última hora, acabei por ter de sair hora e meia mais tarde da empresa. E fruto desta mudança de rotina acabei por apanhar no rádio do carro o Pessoal e Transmissível da TSF, e que há muito não ouvia (como se não tivesse o programa na net disponível para poder ouvir quando quiser).

Apanhei a entrevista já a meio, com um cronista português que escreve na Folha de São Paulo. E já perto do fim da entrevista, fala-se de política, o cronista diz que não inveja o futuro do novo primeiro-ministro e é então que o Vaz Marques pergunta ao cronista Pereira Coutinho:

- Como é que formou as suas convicções ideológicas? Foi pela leitura, foi por transmissão familiar... - De onde é que vêm?

Acho que foi preguiça. Eu acho que nunca conseguiria ser de esquerda, porque ser de esquerda envolve uma grande admissão de energia. É preciso ter muita energia para ser uma pessoa de esquerda.

Mudar o mundo dá muito trabalho...

Mudar o mundo dá muito trabalho e indignação permanente. Eu não tinha essa energia. Até por razões de saúde eu não poderia ser uma pessoa de esquerda.  



"A preguiça é a mãe de todos os vícios"

Precisamente. Eu nunca que conseguiria ser uma pessoa de direita devido ao espírito inquieto que tenho. Porque questiono, porque reivindico, porque me insurjo, porque tenho um espírito lutador. Até porque sou um romântico e sonhador, apesar de há muito já não acreditar na utopia de que conseguiria mudar o mundo.

(A entrevista pode ser ouvida aqui)

Jantar de - não sei quê - da empresa

- "Já reparaste que há precisamente um ano, tu e eu estávamos sentados exatamente nestas posições, um à frente do outro?"

Foi o que perguntei ontem à colega do departamento financeiro, no jantar de "Natal" da empresa. E de facto, é incrível como este ano passou de forma tão rápida. Parece que me deitei ontem, vindo do jantar da empresa de 2014, em que recebi um mini-Kamasutra na troquinha de prendas, deite-me e acordei hoje a pensar no jantar de ontem em 2015. 

E foi precisamente este pormenor, estas pequenas coisas que presto atenção, este detalhe insignificante, esta coincidência de me ter sentado aleatoriamente, e de novo, um ano depois, precisamente em frente da mesma colega, que fez disparar um clique na minha cabeça, e me deixou a pensar "como este último ano voou tão depressa". 

E tanta coisa me aconteceu neste ano último que passou. Tantos acontecimentos surpreendentes e inesperados num turbilhão de intensas emoções. E esta minha colega já tem um filho que no jantar de 2014 ainda não existia... 

E tudo aconteceu num abrir e fechar de olhos. Deitei-me ontem no jantar de 2014, e acordei hoje, no dia seguinte ao jantar da empresa de 2015.


Yule celebrava o Solstício de Inverno no norte da Europa (hoje chamado Natal)


O Jantar? 

Correu muito bem até... tirando a parte da música brasileira em altos berros, em que quase se tinha de berrar à mesa e ninguém se ouvia, ah, e a bailarina - mas não tinha varão ok? - que animava as hostes dos juvenis do clube de futebol lá do sítio, enquanto dançava e se roçava neles, como se de um ritual de iniciação se tratasse.  

Mas correu muito bem. Sim é verdade, eu não celebro o Natal, ou se quiserem, celebro tanto o Solstício de Inverno como o Solstício de Verão ou os Equinócios da Primavera e do Outono. Ainda assim, apesar de não festejar, até nem me importava nada de poder gozar mais três feriados - afinal por que raio só é feriado no Solstício de Inverno? Não deveríamos festejar também os outros três? Os outros três não são igualmente importantes? Isso é uma completa descriminação... Até acho que vou já telefonar à Catarina Martins para ela falar com o primeiro-ministro que deu à Costa para propor três novos feriados! 

Mas apesar de não festejar o Natal, de não fazer árvore nem presépio, nem pôr pais-natal ridículos à janela, nem comprar prendinhas para dar a ninguém (nem as receber obviamente) acho que não devo dar uma de mal-disposto e recusar-me a fazer a troquinha de prendas (simbólicas) no jantar de "Natal" da empresa. E a palavra "Natal" eriça logo alguns colegas, como me eriça a mim, mas ironicamente, eu, que sou sempre tão "do contra", acho que devo socializar, porque este jantar, no meu entender, deve precisamente servir para isso, para nós (que somos tão poucos) socializarmos um pouco uns com os outros, e até nos divertirmos, fora daquela rotina de todos os dias. 

Ainda assim, o jantar da empresa, a meu ver, e já mandei a boca, deveria ser celebrado no dia em que a empresa faz anos, no dia em que foi registada. E nesse sim, todas as pessoas, de todas as empresas, de todo o mundo, poderiam socializar, num jantar ou noutra coisa qualquer. As empresas até poderiam dar o dia - porque não? - e fazerem uma qualquer atividade que estimulasse o espírito de grupo, e não se lembrarem só destes jantares, só porque estamos em dezembro, e é solstício de inverno, porque para quem não saiba, é o que significa Natal. 

Dez milhões de coisas que a gente É




É / Tudo tanto / Tulipa Ruiz / 2012

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Vejo-te, mas nunca és tu....

Isso não acontece só com as separações por via da morte, acontece também nos casos das separações amorosas. E apesar de racionalmente ser mesmo impossível ver tal pessoa, por ela estar bem longe num outro país, mas basta um vislumbre dos mesmo cabelos, das mesmas formas do corpo, dos mesmos óculos de sol que lhe tapavam metade da cara, que ao longe, o nosso cérebro logo nos engana e faz-nos acreditar que sim, que é mesmo aquela pessoa. E também aí se fica muito nervoso e o coração dispara. Depois aos poucos aproximamo-nos e comprovamos que não é quem queríamos que fosse.

Quanto ao seu pai… É curioso como até nisso nós não somos todos iguais, e não há nenhum ministério da igualdade ou lei que nos faça iguais, porque seremos sempre todos diferentes, todos mais ou menos especiais. Isso há-de ter uma qualquer explicação, talvez um dia a conheçamos. E eu continuo sem saber por que será que há pessoas que têm a capacidade, o dom, ou a maldição, e eu acredito mesmo que se trata de uma maldição, pois só pode ser uma maldição muito grande, ver quem já morreu. Tal como só pode ser uma maldição ter informação privilegiada sobre tudo e sobre todas as pessoas, mesmo de pessoas de quem nunca se viu, só dos outros nos falarem delas em conversa. Tão grande maldição que é preciso ter acompanhamento para não se dar em maluco…





Talvez um dia a Carla volte a ver o seu pai. Talvez eu mesmo volte a estar com o meu pai que não vejo há mais de vinte anos. Mas isso ainda podia esperar mais uns dias. Por agora contentava-me só em ter o abraço da mulher que amo, que perdi, e que vejo por aí de vez em quando. Nunca é ela, porque não poderia ser, mas como eu tanto queria que fosse…


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Este pequeno texto foi um comentário meu a uma crónica de uma senhora que escreve (e como escreve bem) num blogue que visito frequentemente, e onde maioritariamente se fala sobre política mas não só. Eu vou comentando com as minhas alarvidades, umas vezes mais, outras menos, mas cada vez mais nos poucos textos que fogem ao tema da política.

No texto, a autora fala do seu pai, que já partiu (e eu ainda me lembro de ler textos em que ela falava dele ainda vivo)  e de como agora, por vezes, acontece achar que o está a ver. O coração dispara, o corpo fica a tremer, mas depois constata que era uma mera ilusão, era simplesmente uma pessoa parecida e o seu desejo de o poder voltar a reencontrar.

"Não foi a primeira vez que isto me aconteceu. O coração e, logo a seguir, as pernas, às vezes também as mãos, foram sempre enganados. Pessoas sensatas explicaram-me que é normal, coisa que eu nunca duvidei ser. Os olhos procuram similitudes com padrões conhecidos. Os olhos procuram, respondo, o que o coração deseja ver. E o coração, que é sempre o pobre tolo, tem de aprender, uma e outra vez, a perder."


E também eu já fiquei com o coração a disparar e o corpo a tremer perante a possibilidade de me estar a cruzar com alguém que me é muito importante. Eu fui escrevendo, apaguei umas partes, acabei por deixar outras ali que não fazem nenhum sentido, estive quase (como muitas vezes acontece) a apagar tudo, mas acabei mesmo por submeter um comentário que acabou por se revelar demasiado sentido e demasiado pessoal. Demasiado íntimo e demasiado revelador. Mas para que as palavras desse comentário não se percam por aí, agora vão ficar aqui também.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Chama-me nomes que eu gosto

Eu fui assinante da revista Proteste durante, não sei, mas talvez durante uns dez anos ou mais. Há quem diga bem, há quem diga mal, é como tudo, cada um tem a sua opinião, e logicamente eu também tenho direito à minha. Ouço muitas pessoas dizerem, "ah e tal a gente liga para lá mas perguntam-nos logo se somos sócios". 

Mas vamos lá ver uma coisa. A DECO não é uma instituição pública! Parece mas não é! E se calhar, digo eu, se existisse um organismo verdadeiramente eficaz, público, de fácil acesso e gratuito, instituições como a DECO não teriam tanta razão de existir, pelo simples facto de ninguém ser tolo suficiente a ponto de pagar por algo, que pode ter melhor e de forma gratuita. 

Eu deixei de ser associado por um único motivo: fiquei desempregado. Ao ficar desempregado, e apesar de ter recebido uns milhares de euros de indemnização (em bom tempo, ainda antes do FMI e dos fascistas assaltarem o poder) fruto de dez anos na mesma empresa - e não, não fui para o Brasil gastá-los em mulheres (mas é preciso ir tão longe?) como diziam alguns colegas mais novos - mas tinha a consciência que poderia estar muito tempo até conseguir de novo arranjar emprego. E infelizmente (ou talvez não) estive mesmo. 

E como tal, e por certo concordarão comigo que não é preciso assinar a Proteste para o saber, é só mero senso comum, comecei logo a cortar gastos supérfluos. E assinar uma revista de consumo, quando se fica desempregado e se vai em teoria consumir menos, era para mim um gasto supérfluo. E foi só esse o motivo pelo qual cessei a minha ligação de tantos anos com a instituição de defesa do consumidor. 

Goste-se ou não, uma coisa é certa, ser associado da DECO tem vantagens inequívocas, porque quando precisamos, eles atuam, e nunca cheguei a descobrir o que fazem, mas mal eles entra em ação as empresas ou os prestadores de serviços parece que se borram logo de medo, e dão-nos tudo que temos direito e ainda mais se for preciso. 

Esqueçam o Livrinho de Reclamações. Não serve para nada. Aquilo mais parece um muro das lamentações, ou então uma forma de acalmar os cavalos aos clientes. A pessoa enfurece-se, fica cheia de raiva e depois descarrega ali no livro, pensando que  adianta alguma coisa. Eu ainda continuo à espera que a ANACOM me responda há não sei quantos anos. Não responde e agora? Para que servem as queixas afinal?

Com a DECO não, a coisa fia fininho. Certa vez deixei uma máquina fotográfica para reparar na loja Ensitel. Os gaijos disseram-me "quando estiver pronto nós telefonamos". O que me comecei a aperceber é que nunca ia ficar pronta, pois nunca telefonavam, e isto depois de eu ter feito uma visitinha à loja. Queixa na DECO e dias depois estão-me a ligar, não para dizer que a máquina fotográfica estava reparada, mas para levantar uma nova, no pacote, com os acessórios novos também! Rápido e eficaz. O que eu me pergunto é o porquê das empresas só agirem corretamente quando esta instituição toma conta da ocorrência.

Existe uma ASAE, essa sim uma polícia pública, que deveria servir para fiscalizar o que andamos a comer. Mas não faz nada, é preciso vir a DECO fazer análises para descobrirmos que andamos, por exemplo, a comer carne contaminada com salmonella ou carnes proibidas. E então depois disso sim, lá vai a ASAE ver o que se passa. Tenho ideia que os agentes da ASAE gostam muito é de entrar feiras adentro, de preferência de metralhadoras em punho - certamente para mostrar o quanto são machos - para... apreender filmes piratas! Isso sim é perigoso ver filmes pirateados, já comer algo estragado que nos pode levar à morte, isso não tem qualquer importância!

E vem esta introdução a propósito de eu ter visto uma revista Proteste na copa lá do trabalho, em cima de uma mesa onde as colegas por norma costumam deixar folhetos das mercearias dos gaijos mais rico do país. "Olha uma Proteste" pensei! E lá fui andando a ler aquilo, no tempo que demora a comer uma sande ou uma peça de fruta, naqueles breves minutos, em que "a hora de comer é a mais pequena". 

Retirado da Revista Dinheiro & Direitos Nº132


E encontrei por lá um artigo extremamente interessante:

"Um homem foi condenado pela Relação de Guimarães por ter chamado "chula" à irmã numa mensagem enviada por telemóvel". A grave ofensa ficou-lhe por 1120€ de multa + 750€ de indemnização à irmã! Chamar chulo a alguém pode custar quase dois mil euros!!

Fiquei também ainda a saber, que a coisa seria ainda bem mais grave se acontecesse em meios de "comunicação social" como por exemplo as redes sociais.  E a revista dá ainda um exemplo: 

"Por exemplo, comentar com alguém que que o marido de "sicrana" lhe é infiel, pode fazê-lo sentar no banco dos réus e ser condenado, mesmo que a mulher esteja realmente a ser enganada pelo mais mais-que-tudo.

A justiça portuguesa é realmente anedótica. Alguém pode ser condenado só por abrir a boca e dizer uma verdade. O crime de violência doméstica é público, e qualquer um de nós pode ser cúmplice se souber que alguém trata mal outrem e não denunciar. Mas se depois denunciar uma traição ainda pode ser condenado! Parece que ainda estamos no tempo - há não tanto tempo assim - em que "entre marido e mulher não metas a colher" e em que não se podia abrir a boca para falar de certos assuntos. 

E isto de chamar nomes pouco recomendáveis a alguém pode realmente sair um bocado dispendioso para o pessoal que gosta de sair à noite e comer a primeira coisa que lhe aparece à frente! Quer dizer, nem será preciso ser com alguém desconhecido! Se calhar mesmo entre marido e mulher! Vai que um dos dois com o entusiasmo resolve puxar de um léxico mais ordinarão, e o outro não gosta? - cuidado com isso! 

"- Isso, dá-me com força e chama-me puta".

Ó querida, eu chamo tudo que quiseres, mas primeiro assina aqui, a dizer que te posso insultar à vontade! Não vá o diabo tecê-las!

domingo, 29 de novembro de 2015

Nunca me deixes II


E acabou
Estou-me a afundar
Mas não estou a desistir!
Estou só a deixar-me ir

Oh deslizando para fundo
Oh tão frio, mas tão doce


Never let me go / Ceremonials / Florence + the Machine / 2012

Somos da idade que parecemos

Há coisas mesmo muito interessantes... Como numa só semana vários acontecimentos, coincidentemente,  se interligam entre si à volta do mesmo tema e eu consigo ter diferentes ângulos de visão: desde logo o meu mas também dos outros.

A meio da semana na capa do Jornal I: "A crise da meia-idade existe mesmo e a fase negra é entre os 40 e os 42". 


"Estou fodido" pensei. 

Eu a pensar que só as mulheres quando entravam nos 40 é que tinham preocupações, com as intermitências do relógio biológico, as hormonas aos saltos e a chegada da menopausa. 
Já não basta a crise nas carteiras, a crise do país - que já vem pelo menos já desde a terramoto de 1755 - a crise na índole dos políticos, e quer dizer, estou a um passo de enfrentar outra crise, agora esta existencial? Já não há pachorra para tanta crise, nem para notíciazinhas de treta nas capas dos jornais. Não sabem encher chouriços com notícias positivas!?

Entretanto no dia seguinte uns sujeitos iam passar pela empresa para dar uma formação, que depois afinal parece que era só para saber das necessidades dos trabalhadores (eu não sou colaborador, eu trabalho, não colaboro ok?) para então se proceder à dita formação. 
E eis se não quando, enquanto eu e os meus colegas comíamos descansadamente na pausa a meio da manhã, irrompe pela copa adentro a colega que esteve com eles, completamente em pânico a dizer, que aquelas pessoas estão completamente diferentes:
- "Eles não são os mesmos"! 
Eu até pensei "queres ver que os gaijos foram raptados por extra-terrestres em discos voadores"? Diferentes como? Mas depois lá percebi.
- "Eles não são os mesmos"! e dizia isto, completamente chocada, enquanto colocava as mãos na cara, como que tentando perceber, o quanto terá envelhecido também ela, nesse espaço de tempo que não os viu. 
- Mas há quanto tempo foi isso"? perguntei.
- Eu só cá estou desde 2012!

Nova conversa, de novo na copa e novamente sobre o mesmo tema.

Fala-se de idades, com os meus colegas mais novos que ainda nem entraram nos trinta!, a queixarem-se de como o tempo passa depressa, disto e daquilo e como vai ser no futuro e tal e coisa. 
E eis se não quando, eu caio na asneira de me virar para uma colega, só quatro anos mais nova, e uso a expressão "da nossa idade"! Pois de imediato ela reclamou que não é nada da minha idade! De facto quatro anos faz toda a diferença. Quando eu chegar aos 100 ela só terá 96. Certo!

Mas é muito interessante, que eu, coerentemente, já usei a mesma terminologia "da nossa idade" com outra colega, esta 3/4 anos mais velha e também ela, coerentemente, diz que não somos nada da mesma idade! E neste caso ela sente-se  já velha, apesar de como eu, não parecer nada a idade que tem. Eu creio que será o peso do número... ou então queres ver que estará ela mesma a passar pela tal crise da "meia-idade"? Ò diabo!

E já no final da semana comecei com um novo livro do Aldous Huxley, livro de que nada sabia, comprei usado, baratinho, por ser deste autor, e já bem velhinho e tudo. E olho para a dobra da capa que resume o tema abordado no livro e fico a saber que aborda precisamente a morte:

"O problema da morte, questão obsessivamente que o homem enfrenta desde que alcançou a faculdade de pensar, e a exploração do que é objeto na sociedade moderna de consumo são retratados neste romance com um sarcasmo impiedoso e cáustico."

"Os bosques apodrecem e extinguem-se 
A nuvem desfaz-se em chuva sobre o solo
E o homem lavra a terra, e sob a terra jaz ,
E após muitos verões também o cisne morre."

E depois olho para a primeira página e vejo a data da assinatura - um ano depois de eu ter nascido - e penso como este livro, já velhinho, amarelecido e oxidado pelo tempo, e eu, teremos a mesma idade. " Se eu tivesse nascido um livro, hoje também estaria assim, amarelecido e oxidado pelo tempo." 

Mas depois lembro-me também, como ainda há alguns dias, novamente mais uma pessoa ficava como que escandalizada quando soube da minha idade. "Eu dava-lhe uns vinte e cinco"! Acho que vou então fazer de conta que somos da idade que parecemos... Se pareço que tenho vinte e cinco, tenho mesmo vinte e cinco não é? e assim ainda me faltam quinze anos para a tal crise existencial da meia-idade! 

sábado, 28 de novembro de 2015

Sem tirar nem pôr

Sempre achei que devo ter a cara mais banal do mundo, pois desde adolescente que há sempre alguém a comparar-me com outra pessoa, que sou mesmo muito parecido com não sei quem.

E nos últimos dias isto voltou a acontecer.

Na última caminhada que fiz, faz hoje uma semana, ia eu a caminhar tranquilamente só nos meus pensamentos (que são sempre muitos) quando de repente uma senhora se aproxima de mim e pergunta-me:

- "O senhor não se chama Fernando"?

Esta senhora, professora da secundária, achava que eu tinha sido seu aluno.

- "Até a sua voz é igual. Sei que ele depois foi estudar artes para o Soares dos Reis no Porto. Ele tinha um irmão gémeo, mas há muito que não sei o que é feito deles".

(Depois fiquei a refletir como será interessante para os professores, imaginarem como serão aqueles jovens no futuro.)

Entretanto a meio da semana:

Olhando fixamente para a minha barba, como se ela tivesse crescido da noite para o dia, o patrão estabelece uma comparação que me surpreende:

- "Tu pareces aquele vocalista daquela banda...aquele tipo que tem uma pêra enorme"...

Eu tento ajudar:

- O baixista de System of a Down?


Shavo Odadjian, baixista da banda System of a Down

De facto nunca me tinha ocorrido. É que é, sem tirar, nem  pôr. 

O peixe já não morre pela boca

"Pela boca morre o peixe" diz o ditado popular. 

Mas diz mal. Esta expressão está completamente desatualizada e merecia ser reformulada. 

Porque o peixe hoje em dia mal abre a boca para falar. 

O peixe agora usa os dedos para comunicar. É ver as pessoas em todo o lado, no restaurante, na esplanada do café todas de boca fechada. Comunicam sim mas com os dedos. 




E muito se fala com os dedos. Dizem-me que até há relações que acabam nas pontas dos dedos, seja no computador seja no telemóvel, seja noutra bugiganga eletrónica qualquer. 

Dizem-me que as palavras têm outra dimensão, muito maior, quando escritas, bem diferente do cara-a-cara. Mas as palavras ditas não são exatamente as mesmas palavras, que as palavras escritas? Bom, talvez a diferença esteja na forma como se quer interpretar a mensagem. E para quem não quer interpretar mal ou ser mal interpretado, pode sempre falar pela boca e não usar tanto os dedos não é? Relações-que-se-acabam-pelos-dedos. Isso faz-me pensar no que a humanidade se está a tornar. 

Bom, poderíamos dizer então que "o peixe morre pelas barbatanas" porque os peixes não têm dedos. Mas os peixes são pescados pela boca. Não fazia muito sentido não é?

Eu também não sou inventor de ditados populares, mas uma coisa é certa: cada vez menos o peixe morre pela boca.Tão simplesmente porque se usa agora muito mais os dedos para falar.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Nunca cheguei a beijar-lhe os joelhos

10 de Janeiro
(...)
Contou-me então a sua história com a mulher dum amigo: ao fim de um mês, decidiram acabar, conscientes de que não deveriam.
- Foi a única coisa grandiosa da minha vida. Não que me sentisse apaixonado, ela também não se apaixonara por mim. Mas era bom, aquilo poderia ter prosseguido por muito tempo. E foi somente por dever que renunciámos, Bonito, heróico, hem? - Pretendia falar com um certo cinismo. - Ainda hoje me parece espantoso, um indivíduo como eu! Mas é verdade! E o mais incrível é que nenhum de nós se sentia em pecado, compreendes? - Eu achava graça à palavra pecado na boca de um ateu. - Não enganávamos o marido, eu era sinceramente amigo dele. No entanto... Isto: ele viria a sofrer se soubesse o que se passava. Pronto.
- Cansaram-se um do outro, foi o que foi.



- Não, pelo contrário. E ficaram muitas coisas incompletas. Por exemplo, só ontem me lembrei: nunca cheguei a beijar-lhe os joelhos. Se soubesses como esse pequeno pormenor, este pequeno nada que não cheguei a fazer, me dói... Às vezes penso que vou quebrar todas as minhas decisões só para lhe beijar os joelhos, depois talvez fique enfim repousado... Mas não... Deitámo-nos duas vezes, compreendes? Não conseguimos, apesar de tudo, vencer uma certa timidez, há dezenas de coisas que não fizemos, e me queimam a existência só porque não as fiz. - Tirara o anel do dedo, brincava com ele em cima do tampo da mesa. - Seja como for, não voltamos a trás, acabou-se.
Não sei porquê, senti-me subitamente esse marido e perguntei-lhe com ar natural, como se de nada suspeitasse:
- Conheço-o?
Hesitou (ou pareceu hesitar), disse:
- Não. - Insistiu: - Que milagre fará um bicho como nós suspender um prazer só porque...? Não é espantoso? - Olhava para mim, muito sério, como se quisesse dar-me a entender que desistira, e estava disposto a morrer sem lhe beijar os joelhos. Que com esse gesto demonstrava por mim uma amizade profunda.

Bolor / Augusto Abelaira / 1968

Nada dura para sempre...

(porque infelizmente)

"Nada dura para sempre...

... nem mesmo a chuva fria de novembro"



(e no entanto)

"Não achas que precisas de alguém?
Toda a gente precisa de alguém?
Não és a única"

"November rain" / Guns N' Roses / 1992

domingo, 22 de novembro de 2015

Pelo direito a comer uma salada

Vivemos numa sociedade cheia de pré-conceitos e hábitos generalizados, como se toda a gente tivesse de gostar ou de se comportar da mesma forma. E a coisa começa logo no berço. 
Ninguém sabe porquê, mas os meninos que têm uma pilinha vestem-se de azul; as meninas, essas nascem com uma ratinha e vestem-se de cor-de-rosa. Às meninas deixa-se crescer o cabelo, mas aos meninos, apesar deste crescer de igual forma, e também ninguém sabe muito bem porquê, mas corta-se também, porque... Lá está, na verdade também ninguém sabe porque o faz, mas como vivemos num mundo, em que se anda por ver andar os outros, e em que pensar dá muito trabalho, então também temos de cortar o cabelo aos meninos para não serem diferente dos outros. Que é que ainda iriam pensar!? Que somos uns pais anormais? Deus nos livre e guarde de sermos diferentes dos outros! E deve ser por isso que todos presumem que gostamos todos do mesmo, mas não, nem todos gostamos do mesmo. 

freeimages.com


Ontem num restaurante:

Eu: Esta salada tem vinagre?
A empregada (de voz grossa e ríspida:
- "Tem".
Eu até estava ali junto de pessoas que nem conhecia, não quis, pronto, sabem como é, dar uma de pessoa conflituosa e mal disposta, porque se estivesse sozinho ou na companhia de conhecidos, ela de imediato iria levar com um:
- "Pois então traga-me uma sem vinagre faz favor". 

Tudo isto porque os restaurantes devem acreditar que toda a gente gosta das saladas empestadas de azeite, vinagre, sal, ou outros molhos que decidam para lá meter. Mas não, há pessoas como eu, que odeiam vinagre. E então, como o meu dinheiro vale tanto com as pessoas que gostam de vinagre, há uma coisa muito simples que se poderiam fazer, que era, colocar os molhos à parte, e cada um tempera a sua salada como lhe apetecer. Ou então perguntavam. Também não perguntam se queremos o bife bem passado, mal passado ou assim-assim? Se não depreendem que todos gostam do bife da mesma maneira, por que raio é que assumem que todos gostam da salada gordurosa e a saber a vinagre hein? 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Fodes-me ou queres que chame a polícia?!

Eu nem sou de ler notíciazinhas da treta. Por norma entro num ou outro site dos jornais (para estar minimamente informado pois não tenho televisão) e faço a ronda pelas notícias, e até raras são as vezes em que abro uma notícia, muito menos aquelas notíciazinhas da treta, sensacionalistas, e que agora nem sequer desvendam a notícia, para levar as pessoas a abrir se quiserem saber mais. Não sou desses, quero informação, não quero lixo sensacionalista.

Mas desta vez abri uma exceção à regra e resolvi entrar para ler mais. O título era este:

"Chamou a polícia porque o homem lhe recusou sexo".

O caso passou-se em Gaia, num casal, ela com 48 ele com 60 anos. Mas do ponto de vista da notícia encontramos logo, além de dados contraditórios, coisas importantes que ficaram por explicar para melhor compreendermos o drama desta mulher (e deste homem também!). Vamos aos factos. Primeiro ficámos a saber que:

- A mulher apanha o marido a ver porno e logo em seguida "exigiu" que este interrompesse a sua sessão recreativa, que deixasse de consolar a vista, e tratasse mas é de a consolar a ela.

Mas logo em seguida há a primeira contradição do Jornal de Notícias, que começa por dizer no título que a mulher chamou a polícia porque o homem se recusou a piná-la, para logo em seguida, no corpo da notícia, dizer que ela disse à Polícia de Segurança Pública que:

- "...o homem não a conseguiu satisfazer sexualmente e por isso ficou irritada com ele"

Mas afinal, ele recusou-se a foder ou fodeu mas teve uma má performance? É que são coisas completamente diferentes! Que raio de jornalismo é este de trazer por casa?! 

Mas mais abaixo o JN reva-nos mais detalhes:

"Tudo terá começado cerca das 3.30 horas, no passado fim de semana, com a mulher a acordar e a surpreender o homem a ver um filme pornográfico. Depois, terá satisfeito sexualmente o companheiro e solicitado que ele procedesse de igual forma para com ela. Mas o homem disse estar cansado e não atendeu ao pedido da companheira. Seguiram-se alguns desentendimentos entre o casal, que acabariam com a mulher a ligar para os Sapadores de Gaia e para a PSP a alertar para uma situação de violência doméstica."




Ora bem, mais uma vez há muito por esclarecer. Três e meia da madrugada e um homem de 60 anos a ver pornografia. Bem, deve ser bem mais educativo que estar nas redes sociais! Vai daí é surpreendido pela mulher que o "satisfaz"... Mas ao satisfazê-lo não se satisfez a si própria também? A ponto de exigir mesmo da parte dele? Lá está, a notícia é muito vaga e sem detalhes importantes!

Depois, irritada, a mulher acaba por ligar para a Polícia. Mas para quê, é o que ficou por dizer! Para pedir uma indemnização por foda incompetente ou para foder com os agentes que chegaram ao local? Mais uma vez o jornal é omisso!

Como desculpas, o homem disse que estava cansado (as dores de cabeça são para as mulheres) e que estava com sono. Mas às 3h30 da manhã estava a ver porno. E interessava saber porquê! Estava com tesão e pensava auto-recrear-se, ou estava com insónias e resolveu ocupar o tempo? Nada sabemos também nada sobre isso. 

Independentemente das contradições e omissões, uma coisa é certa, a vida parece estar a complicar-se para os homens! As mulheres para ir ao "sacrifício" não é preciso muito, abrem as pernas, pensam no episódio da novela do dia seguinte, e passados três minutos - bem menos que o sacrifício de ir ao dentista! - e já estão despachadas. Os homens já não é bem assim! Não basta abrir as pernas, ah pois, e mais, se as coisas não correm bem, elas chamam a polícia e nos acusam de maus tratos e violência doméstica! 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Dúvidas Existenciais - Tapar as Matrículas

Há coisas que me intrigam. 

Tenho andado a sondar um determinado tipo de veículo - não, claro que não estou a pensar desfazer-me do meu cavalo preto. Era o que havia de faltar! - Alguém está a imaginar o Lone Ranger sem o seu Silver? Ou o Lucky Luke, o cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra, sem Jolly Jumper "o cavalo mais esperto do mundo"? Não pois não?! Pois, tal como a mim, já ninguém me está a imaginar, sem os meus longos cabelos loiros ao vento e a galope do meu cavalo preto! "Não serias tu" já me disseram.

Mas como dizia, há coisas que me intrigam, e a mais recente, é o facto de quase toda a gente fotografar os seus carros que quer vender, mas depois tapam a matrícula! Mas porquê? Isso é o que eu gostava de saber. Eu estou em crer que as pessoas nem sequer se questionam. Como andam no mundo por ver andar os outros, simplesmente fazem o que vêem os outros fazer. E se alguém se lembrou de ocultar a matrícula, então será bom eu ocultar também. "Pelo sim pelo não..."

Mas no dia-a-dia ninguém tapa as matrículas dos carros pois não? Nem mesmo quando passam pelas novas auto-estradas, aquelas que antes eram gratuitas para o utilizador, mas que depois passaram a ser pagas, e ainda mais caras que as outras, as que têm portagens. Ninguém oculta as matrículas no dia-a-dia, porque até dá multa! Aliás, não ter luz de matrícula já dá multa!


Espera. É por causa da privacidade dizem. Pois deve ser isso deve. 
Os portugueses em geral prezam muito a sua privacidade. Só usam é o seu nome pessoal em tudo que é sítio da net, e deixam a morada e o número de telemóvel nos anúncios onde vendem os carros. Depois nas redes sociais dizem quando vão de férias e quando chegam. Tiram mil-e-uma-fotografias a si mesmos, e contam todos os peidos que dão, e ainda aqueles vão dar brevemente. Mas os portugueses são extremamente zelosos da sua privacidade claro, mas tão zelosos que depois ocultam as matrículas dos carros quando os colocam à venda. 

A mim o que me dá a entender, é que, quem não deve não teme. E quem tapa as matrículas, é porque tem algo a esconder, e pela matrícula podemos saber, por exemplo, junto de uma seguradora, se o carro já foi acidentado ou não.  E não me parece que seja para preservar a sua privacidade. Ou então, não têm mesmo nada a esconder e são só parvos. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Vem como tu és


"Vem como tu és, como tu eras
Como eu quero que tu sejas
Toma o teu tempo, mas despacha-te
A escolha é tua, mas não te atrases"


"Come as you are" / Nevermind / Nirvana (cover de Yuna) 1992

domingo, 8 de novembro de 2015

Descubra as diferenças...


Que é que se retira daqui destas imagens forjadas?



- Primeiro: Fazer musculação combate a calvíe. Boa! Finalmente foi descoberta a cura para a queda de cabelo masculina! Os carecas vão já todos começar a fazer musculação para voltar a ter uma cabeleira farta!

- Segundo: Se por um lado, fazer musculação faz crescer cabelo na cabeça, por outro fá-lo cair no peito e na barriga! Espetacular! Se cair também nas axilas e genitais, o mulherio todo vai já começar a fazer musculação, pois assim evita a idas aos centros de estética!

Haja paciência. - Será que há mesmo alguém, uma única pessoa no mundo, que clica nestas publicidades?

Oficinas: a verdadeira selvajaria

Estou em crer que hoje em dia, encontrar um bom mecânico, ou uma boa assistência técnica, é quase mais difícil que encontrar um bom dentista ou um bom médico de outra qualquer especialidade. E por bom mecânico, quero dizer, bom profissional, que sabe mexer onde deve e deixar um trabalho bem feito, e não ter de andar às apalpadelas - tipo um amante inexperiente - e dar cabo de umas coisas, até finalmente encontrar o sítio certo onde enfiar a chave.

Mas depois há os que sabem ir ao sítio certo, mas têm a mania que são espertos, aquela esperteza saloia tão típica de Portugal, em que se mete uma peça já usada e se cobra o valor de uma nova, ou se arranja aqui mas se tira uma peça dacolá para outro carro, ou se arranja aqui mas avaria-se acolá. Ainda hoje estou sem perceber como é que falta uma tampa da ótica dos médios - teria sido na Norauto onde deixei para trocar lâmpadas? Sim, porque no meu carro, para trocar um simples médio é preciso desmontar rodas e mais não sei o quê! (Na verdade depois de ter esfarrapado os braços, acho que agora já sei como fazer, e sem demorar duas horas).

Quem tem um carro, como a maioria das pessoas hoje em dia tem de ter para se deslocar, tem sempre várias opções para fazer as manutenções de X em X quilómetros no seu veículo:
- Ir à marca mas já sabe que pode inchar valentemente
- Ir às oficinas (supostamente) de baixo-custo, que floresceram mais que as lojas de Ouro
- Ir ao mecânico lá do bairro que até parece ser um amigalhaço e em que as faturas é coisa dos domínios do imaginário.
- Ou fazer o trabalho sozinho em casa, e se não souber muito bem como, pode-se sempre ir ao Youtube ver uns vídeos na esperança de tentar não destruir o carro!


freeimages.com

Ora bem, eu como não me quero habilitar a fazer o trabalho sozinho - apesar de me parecer que fazer uma revisão, em que se muda óleo e filtros não deve ter grande sabedoria - pago para me fazerem o trabalho. E o meu bólide estava agora com 150 mil Km. Então o que é que eu fiz? Pedi vários orçamentos pois acho que é o que de mais sensato há a fazer, e fi-lo para as oficinas o mais perto possível do local de trabalho, para se possível, deixar lá o carro de manhã e depois passar para ir buscar. Os resultados não deixam de ser, sem dúvida, assombrosos! 

- Primeiro orçamento, simulado no site da Midas que garante 40% mais barato que a revisão da marca. Quarenta por cento é muito dinheiro pensei. Então a brincadeira lá ficava por 170€

- Segundo orçamento, na Bosh Car Service, oficina que genericamente ouço toda a gente (bem ou mal) dizer bem, solicitado por e-mail: 190€.

Nem quero pensar quanto é que a marca me iria cobrar!

Pois é, na marca, são 95€.

Feitas as contas, na marca paguei menos 45% que na oficina que diz fazer 40% mais barato que na marca! Dá para entender? Não, mas o que é que isso interessa? Vale tudo, menos arrancar olhos. 

sábado, 7 de novembro de 2015

Eu dava-te os Parabéns...

Se eu tivesse o teu número de telefone, hoje, podia-te ligar para te dar os parabéns. E nem precisávamos ficar cinco horas ao telefone - até porque parece que faz mal à saúde não é? - mas podia-te ao menos perguntar como é que tu estás e como é que vai a tua vida. Se aqueles problemas todos - que podiam dar um belo argumento de novela da noite - já foram ultrapassados. E podia-te perguntar se ainda sonhas em sair da agitação da cidade, porque sei que para ti, (tal como para mim) a felicidade está nas pequenas coisas, e se ainda sonhas ter o teu próprio negócio, mas num sítio tranquilo, rodeado pelos cheiros de alfazemas e outras plantas aromáticas.

E eu podia fazer um pouco de conversa - e bem sabes que comigo não há direito a silêncios constrangedores - e dizer-te, que ainda por estes dias, as minhas colegas de escritório, me faziam lembrar as conversas que me contavas das tuas colegas de escritório... É verdade! Quando por estes dias ouvia "O meu marido até ficou contente quando decidimos ter outro filho" lembrei-me logo do pavor das tuas colegas e dos "Hoje  acho que não devo conseguir fugir ao castigo"!

Ou podia simplesmente enviar-te um e-mail. Mas tu já não recebes e-mails nos endereços que me deste...

Bom, poderia sempre escrever-te uma carta. Ah, como era tão fixe quando escrevia cartas, e quando as recebia também. Acho que hoje em dia já ninguém escreve nem recebe cartas pelo simples prazer de as escrever e de as ler. Acho que me sinto velho só de pensar nisso! Os putos hoje em dia nem devem saber o que é um selo, quanto mais passar-lhes a língua delicadamente - assim mais ou menos quase como lhe estivéssemos a fazer um minete - e colá-los no envelope com a saliva. Só tal ideia deve-lhes causar repugnância, como se fosse coisa do tempo dos homens das cavernas, tempos em que ainda não se tinha ainda internet nem telemóvel, e não se acordava de noite, só para ir ver a rede social. O horror que deveria ser viver nesses tempos!
Pois é, mas não poderia enviar-te uma carta... porque não sei onde moras.   

Eu hoje até de dava os parabéns, se tivesse como o fazer. 

Admirável Mundo Novo - Pré-Condicionamento

"...estão todos vestidos de verde", disse uma voz doce, mas clara, começando no meio de uma frase, "e as crianças Deltas estão vestidas de caqui. Oh não, não quero brincar com as crianças Deltas. E os Epsilões são ainda piores. São tão estúpidos que nem sabem ler ou escrever. E, além disso, estão vestidos de negro, que é uma cor ignóbil. Como estou contente por ser uma Beta."
Houve uma pausa. Depois a voz recomeçou:
"As crianças Alfas estão vestidas de cinzento. Elas trabalham muito mais que nós, porque são formidavelmente inteligentes. De facto, estou muito contente por ser um Beta, pois não trabalho tanto. E, depois, somos muito superiores aos Gamas e aos Deltas. Os Gamas são patetas. Estão todos vestidos de verde e as crianças Deltas estão vestidas de caqui. Oh, não, não quero brincar com as crianças Deltas. E os Epsilõe são ainda piores. São tão estúpidos que nem sabem..."
O Diretor pôs o interruptor na primitiva posição. A voz calou-se. Apenas o longínquo fantasma continuou a murmurar debaixo dos oitenta travesseiros. 
- Ouvirão isto repetido ainda quarenta ou cinquenta vezes antes de acordar; depois novamente na quinta-feira: e igualmente no sábado. Cento e vinte vezes, três vezes por semana, durante trinta meses. Em seguida passarão a uma lição mais avançada.





- Rosas e descargas elétricas, o caqui dos Deltas e um cheiro a assa-fétida, ligados indissoluvelmente antes que a criança saiba falar. Mas o condicionamento que não é acompanhado por palavras é grosseiro e inteiriço. É incapaz de fazer  conhecer as distinções mais delicadas, de inculcar as mais complexas formas de conduta. Para isso são necessárias palavras, mas sem nexo. Enfim, a hipnopedia, a maior força moralizadora e socializadora de de todos os tempos. 


Os estudantes garatujaram isto nos seus cadernos. O conhecimento colhido diretamente na sua origem.
O Diretor carregou novamente no interruptor.
"...são formidavelmente inteligentes", dizia a voz doce, insinuante, infatigável. "De facto, estou muito contente por ser um Beta, pois..."
Não exatamente como gotas de água, se bem que a água seja capaz de, lentamente, perfurar o mais duro granito, antes como gotas de lacre líquido, gotas que aderem, se incrustam, se incorporam a tudo em que caem, até que, finalmente, a rocha nada mais seja que uma única massa escarlate. 
- Até que o espírito da criança seja essas coisas sugeridas e que a coma dessas coisas sugeridas seja o espírito da criança. E não apenas o espírito da criança, mas igualmente o espírito do adulto, e para toda a vida. O espírito que julga, deseja e decide, constituído por essas coisas sugeridas. Mas todas essas coisas sugeridas são aquelas que nós sugerimos , nós!
- Com entusiasmo, o Diretor quase gritou. - Que o Estado sugere. Deu um murro sobre a mesa mais próxima . - Disto resulta por consequência...
Um ruído fê-lo voltar-se.
- Oh Ford! disse, noutro tom. - Então não acordei as crianças!?

Capítulo Segundo / Admirável Mundo Novo / Aldous Huxley / 1932

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Já não sei bem ao certo. Mas acho que comecei a ler este livro teria entre 15 e 17 anos... por aí. E sei que não o cheguei a acabar. Aconteceu-me o que acontece a muita boa gente, simpática como eu, que decide emprestar as suas coisas, mas que depois infelizmente estas não fazem o caminho de volta. E como eu sempre detestei emprestar coisas que depois não voltavam. Sei que fiquei sem alguns livros e sem alguns discos além de outras coisas mais, à custa de não querer dizer que não, e isto porque as pessoas não sabem o que significa a palavra emprestar.  
Mas sei muito bem que gostei de livro pois não mais o esqueci, e quase tinha prometido a mim mesmo, que um dia ainda o haveria de o ter e de ler, desta vez até ao fim. E foi por isso, por ter gostado do livro, que voltei recentemente ao autor, e peguei no Contraponto, e entretanto já li outras coisas, e até devo receber por estes dias outro livro dele. Provavelmente voltarei a citar excertos deste livro, por certo para falar da personagem "multi-resistente" da obra, que se questiona acerca da sociedade onde vive, sociedade esta do futuro, imaginada por Huxley, e que tantas semelhanças tem com a atual, em que vivemos neste momento.