quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Como é que Charles Currencies irá Governar a Câmara de Lisboa?


Em algumas páginas de notícias estrangeiras Carlos Moedas, o vencedor das autárquicas em Lisboa é traduzido de "Coins" ou "Currencies".  Aqui estou Manuel Acácio, Charles Currencies! 

Charles Currencies passou toda uma campanha, pelo menos daquilo que me foi chegando na net (até porque como sabem, eu não vivo na capital) a atacar as bicicletas e a promover os automóveis, o que, diga-se é de se dar valor. Num tempo em que tantos falam em sustentabilidade, promover o uso da bicicleta porque tem zero emissões e é uma prática saudável, o candidato da coligação de direita conseguiu de facto ser original e, fruto dessa coligação conseguiu mesmo ser eleito presidente da câmara. 

Só que Charles Currencies, apoiado por uma longa lista de partidos: PSD / CDS / ALIANÇA / PPM / MPT / RIR (são tantos que nem sei se me estou a esquecer de algum!) conseguiu sete mandatos de vereação, os mesmos sete que Medina apoiado por PS / LIVRE, mas a CDU elegeu 2 vereadores e o BE um vereador. Concluindo, Charles Currencies é presidente de uma câmara municipal onde tem 7 deputados e a oposição 10 deputados, ficando com uma câmara praticamente ingovernável. 

Sim, é verdade e também pensei nisso. É lógico que esta hora Pedro Steps Rabbit e Crest Assumption estão a dar voltas à cabeça para tentar entender como é possível que Currencies tenha ganho a câmara municipal, se só tem sete mandatos e a oposição tem dez! Desde que caíram do governo em 2015 que Rabbit e Assumption anda não percebem como funciona a democracia em Portugal, e temos de compreender que as regras das autárquicas também não simples de entender!


Mas o que interessa agora é saber como é que  Currencies irá governar a câmara. Eu acho que a resposta está na imagem-'meme' que coloquei acima para se perceber melhor. Currencies foi um "animal feroz" contra as bicicletas em campanha eleitoral, mas será um gatinho muito fofinho a tentar fazer passar as suas ideias junto da oposição, sob risco das coisas não lhe correrem muito bem.


Nada Disto Tem Importância

Mark Thompson

 Na sequências das arrumações que andei a fazer e em que enchi o Ecoponto azul, tropecei em alguns papeis que talvez devessem estar todos guardados no mesmo sítio, ou talvez até já tenha passado mais do que tempo suficiente para que pudessem estar incinerados. Bom, para já continuarão a existir, depois, bom, depois logo se vê. 

Numa folha solta, que foi arrancada de um dos meus cadernos, datada de 21 de Julho de 2000, que manuscreveste a tinta preta, escrevias algo que poderia ser uma folha do teu diário, ou até um post num blogue: 

"Estou completamente desolada.

Desolada

Desolada

Desolada

Apetece-me fugir para longe, tão longe onde eles não me encontrarem. Eu e o Königvs, os dois por esse mundo fora, fazendo da vida uma eterna felicidade. 

Muitas coisas vão mudar, a minha relação com os meus pais, com o meu irmão. Só há uma coisa que não vai mudar: a minha maneira de pensar, de existir.  Às vezes mais vale calar do que dizer as coisas que pensamos, porque as pessoas não compreendem. Não tem importância. Nada tem importância".

Depois deste desabafo a nossa vida juntos não haveria de ser propriamente uma eternidade. Foram mais seis anos e meio. E não foram sempre  uma constante felicidade. Porque, se cada um de nós, individualmente, muitas vezes não sentia feliz, mesmo que isso nada tivesse que ver com o outro, então a soma não podia ser feliz. Tal como a vida das pessoas também não é uma constante, muito menos de constante felicidade. Mas fomo-nos tendo sempre um ao outro e isso foi muito importante, porque antes de tudo, cada casal deve ser amigo e cuidar um do outro. E cuidávamos. 

Este teu desabafo tem vinte anos. Não precisaria de te dizer algo que certamente, também tu já o aprendeste por tua conta. Todos os dias nós acumulamos experiência e todos os dias somos um bocadinho diferentes do dia anterior. Mas nada disto tem importância. 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Segurança Social Vai Pagar Subsídio de Fuga à Prisão



Na sequência da fuga à prisão por parte do banqueiro João Rendeiro, e antecipando já as negociações para o Orçamento do Estado de 2022, os partidos de Esquerda vieram já reivindicar junto do primeiro-ministro António Costa que, por uma questão de igualdade de tratamento e fazendo cumprir a Constituição que eije igualdade de tratamento, que o Estado apoie também os mais carenciados que não têm possibilidade de fazer turismo pela Europa e depois, tranquilamente e sem ser incomodado pela justiça, escolham o melhor país para viver que não tenha acordos de extradição para Portugal. 

Inês Sousa Real, líder do PAN, partido que também tem votado favoravelmente os orçamentos no governo socialista em minoria no parlamento, veio também já reivindicar o mesmo para os animais, nomeadamente para cães de raças perigosas condenados à morte por morder pessoas. 

António Costa foi sensível a estas justíssimas reivindicações, fez as contas e está em condições de assegurar que a Segurança Social irá financiar todos aqueles que,  com decisões transitadas em julgado e a aguardar pena de prisão, e que, por insuficiência económica enão tenham capacidade de fugir do país, a Segurança Social irá agir rapidamente e financiar todas essas pessoas para que tenham um tratamento igual aos banqueiros deste país que não metem os costados no xelindró. 

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Há Muitos Anos que a Política em Portugal Apresenta este Singular Estado



No passado domingo foi dia de eleições autárquicas. Quando no dia seguinte - sim, porque desta vez demorou-se tanto tempo a saber os resultados que, quando fui dormir ainda deveriam estar a contar os votos da abstenção! percebo que regressaram velhos dinossauros e caciques outrora dados como acabados para a política, e lembro-me sempre deste texto de Eça Queiroz publicado na revista Farpas.


Junho / 1871

"Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder, trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos, como uma pela que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos. Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da Fazenda, a ruína do País! Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País. Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros liberais, e os interesses do País! Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio — a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País. Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País... Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis... Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador... E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai, feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto tão triunfante!

Daqui provém também este caso singular: Um homem é tanto mais célebre, tanto mais consagrado, quantas mais vezes tem sido ministro – isto é, quantas mais vezes tem mostrado a sua incapacidade nos negócios, sendo esbanjador da fazenda, ruína do País, etc. Assim o Sr. Carlos Bento foi uma primeira vez ministro da fazenda. Teve a sua demissão, e não foi naturalmente pelos serviços que estava fazendo à sua pátria, pelo engrandecimento que estava dando à receita pública, etc... Se caiu foi porque naturalmente a opinião, a imprensa, os partidos coligados, o poder moderador, o julgaram menos conveniente para administrar a riqueza nacional. E o Sr. Carlos Bento saiu do poder com importância. Por isto foi ministro da fazenda uma segunda vez. Mostrou de novo a sua incapacidade – pelo menos assim o julgou, por essa ocasião, o poder moderador, impondo-lhe a sua demissão. E a importância do Sr. Carlos Bento cresceu! Por consequência foi terceira vez ministro. Caiu; devemos portanto ainda supor Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: que naturalmente deu provas de não ser competente para estar na direcção dos negócios. E a sua importância aumentou, prodigiosamente! É novamente ministro: se tiver a fortuna de ser derrubado do poder, e convencido pela opinião de uma incapacidade absoluta, será elevado a um título, dar-se-lhe-ão embaixadas, entrará permanentemente no Almanaque de Gota. Ora tudo isto nos faz pensar – que quanto mais um homem prova a sua incapacidade, tanto mais apto se torna para governar o seu país! E portanto, logicamente, o chefe do Estado tem de proceder da maneira seguinte na apreciação dos homens: O menino Eleutério fica reprovado no seu exame de francês. O poder moderador deita-lhe logo um olho terno. O menino Eleutério, continuando a sua bela carreira política, fica reprovado no seu exame de história. O poder moderador, alvoroçado, acena-lhe com um lenço branco. O caloiro Eleutério, dando outro passo largo, fica reprovado no 1 ano da Faculdade de Direito. O poder moderador exulta, e quer a todo o transe ter com ele umas falas sérias. O bacharel Eleutério, avançando sempre, fica reprovado no concurso de delegado. O poder moderador não pode conter o júbilo, e fá-lo ministro da Justiça. E a opinião aplaude! De modo que, se um homem se pudesse apresentar ao chefe do Estado com os seguintes documentos: Espírito de tal modo bronco que nunca pôde aprender a somar; Reprovações sucessivas em todas as matérias de todos os cursos. O chefe do Estado tomá-lo-ia pela mão, e bradaria, sufocado em júbilo: – Tu Marcellus eris! Tu serás, para todo o sempre, Presidente do Conselho!

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

O Candidato Mais Velho das Autárquicas 2021

Não tenho acompanhado grande coisa da campanha eleitoral nem sequer me interessam os debates do Porto ou Lisboa, afinal, não voto em nenhuma dessas autarquias. Interessa-me acompanhar minimamente o que se passa na minha freguesia e no meu concelho. Fui acompanhando algumas candidaturas, mas em consciência sei que só tenho uma opção de voto na freguesia, e duas para a câmara. 

Sei que a cobertura jornalística tem sido miserável e parcial. Contudo há exceções. Ontem, por exemplo, fiquei maravilhado com a reportagem da Antena 1 que acompanhei no carro. 

Na aldeia dos Cortiços em Macedo de Cavaleiros a Antena 1 encontrou um candidato com 101 anos, Mário Cardoso, nas listas da CDU, que é mais velho que o partido, o PCP (que tem 100 anos) e assume-se comunista desde sempre (apesar de também ter chegado a votar nos socialistas).

"Não íamos votar porque não nos deixavam falar. Os PIDE logo nos abafavam. Uma vez eu estava com o meu pai numa feira (o meu pai já era revolucionário naquele tempo) e estávamos a falar a respeito de política e vieram logo prender o meu pai e o compadre. Eram preso e nunca mais se viam. 

"Eu sou comunista sim senhor por causa que detesto aquele homem que come o pão e não trabalha, porque um comunista quer o que é direito, não quer o que é dos outros". 

"A gente agora queixa-se com mimo. Agora não falta nada. Agora come melhor a minha cadela do que comia a gente antigamente". 

Na reportagem da Antena 1 ficamos também a saber que Adriano Correia de Oliveira, cantor de intervenção, dedicou a Mário Cardoso a música "Em Trás-os-Montes à tarde":

 


"Um homem nunca devia
Mandar noutro homem
Todos juntos é que vamos
Mandar na terra.
Assim falou um pastor 
Por entre matos e urzes 
Nas cercanias da herdade 
Onde a esperança se faz vida 
Onde o trigo é testemunha 
Da vontade colectiva 
Em Trás-os-Montes à tarde 
Na Herdade dos Cortiços. 
Trigo que nasce da terra 
No fim de muita canseira 
Como um filho é gerado 
No ventre da companheira 
E se o trigo é um filho 
Da terra que o fez medrar 
Não pode mandar na terra 
Quem a terra não amar.

Assim falou um pastor 
Na tarde que adormecia 
Assim falou acordado 
Com muita sabedoria 
Da terra nasce o centeio 
Nasce o vinho nasce o grão 
Com o trabalho do homem 
A terra se faz em pão. 
Homem que manda no homem 
Como quem manda no gado 
Não cabe aqui entre a gente 
Terá de ir pra outro lado 
Aqui quem manda na terra 
É vontade colectiva 
Em Trás-os-Montes erguida 
Na Herdade dos Cortiços.


A reportagem da Antena 1 com Mário Cardoso pode ser ouvida aqui.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

A Árvore do Homem



Este ano de 2021 não tem sido particularmente rico em leituras. Estou em crer que deverá ter sido a seguir ao Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado que iniciei a leitura do livro "A árvore do homem" de Patrick White. 

Tinha o livro na estante, que me terá chegado às mãos por aquela minha ideia meia maluca de trocar Plantas por Livros e, depois de pegar nele e me ter informado, quer da história do romance, quer do autor que ganhou o Nobel da Literatura, resolvi avançar para a sua leitura. 

A minha edição do livro é do Círculo de Leitores e tem 650 páginas de uma letrinha muito pequenina. Talvez isso tenha ajudado a que este tenha sido, ultimamente, dos livros que mais demorei a ler, tanto que pelo meio li uns três, o Fátima Desmascarada de João Ilharco, O Ingénuo e Cândido, Ou o Otimismo de Voltaire. 


O romance está muito bem escrito e conta-nos a história da vida de Stan Parker e da sua mulher Amy que se mudam para os arredores de Sydney depois de Stan ter desfloresta um terreno de eucaliptos que herdou depois da morte do pai. E o livro é a história da vida simples e monótona dos Parkers, que por vezes é abalada por grandes acontecimentos como grandes inundações, incêndios, a guerra ou o nascimento dos filhos, mas é também a história das suas crises existenciais, do amor e a espiritualidade, as tentações e a luxúria, da falta de comunicação e diálogo, e muito também sobre como lidar com os outros e connosco próprios. Afinal, o que queremos para a nossa vida?

Mas talvez toda aquela rotina monótona também me tenha desincentivado a querer avançar rápido no livro. Mas não o abandonei. Fui sempre voltando a pegar a nele e avançando aos poucos, fazendo questão de o acabar e querer saber do rumo ia levar os filhos do casal quando saíram de casa, Ray, o puto traquina que só fazia asneiras e tinha má índole, e Telma, a miúda enfezada a adoentada mas que com toda a sua disciplina e ambição começou a subir na vida. 

A Árvore do Homem é um livro sobre a vida das pessoas e sobre o significado da vida. Não é propriamente um livro fácil de ser lido, pelo menos não o foi para mim. Mas muita vezes os melhores frutos da árvore são também os mais inacessíveis de lhe chegar.

Conversas Improváveis (62) - Antes & Depois



Última semana de Autárquicas. 
Os candidatos aceleram a propaganda, os cartazes, maiores ou mais pequenos (consoante o financiamento) sucedem-se, é o porta-a-porta e os folhetos a amontoarem-se na caixa do correio. 

No folheto do PS que detém Junta e Câmara, vem um "Antes e Depois" de várias obras aqui na freguesia. 

A minha mãe: 

"Deviam também pôr aí um "Antes & Depois" da casa do Presidente da Junta"!

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O Paraíso Que Era Portugal nos Anos 60

Por estes dias andei a separar um montão de tralhas para deitar ao lixo, desde toda uma sérias de capas ainda do tempo da escola, bem como o primeiro computador (que me custou 250 contos!) e toda uma série de tralhas que já não faz sentido estar estar guardadas, apesar de eu ainda ter espaço (até porque estou solteiro e não tenho filhos) mas é preciso que nos livremos de um monte de tralha desnecessária, para que outras tralhas ocupem o seu lugar.

Foram horas e horas a passar os olhos por muita tralha antiga, até que cheguei a um monte de revistas, a maioria de Heavy Metal que fui colecionando ao longo dos anos e que, definitivamente, não irão para o lixo, mas encontrei também outros tipos de revistar, mormente Notícias Magazine, dos tempos em que comprava, quase religiosamente, todos os domingos, o Jornal de Notícias. Mas porque há hábitos que se perdem, há muitos anos que deixei de comprar, quer revistas ou jornais de quaisquer espécie.

Um número em particular da Notícias Magazine chamou-me a atenção. A capa do  #832 de Maio de 2008 sobre os quarenta anos do Maio de 68 fez-me pegar e abrir a revista. No meio de várias reportagens interessantes, como, por exemplo, o feminismo em Portugal, as "Três Marias", as drogas, o rock, os equipamentos eletrónicos dos anos sessenta, até que passo por uma entrevista com Jacinto Godinho, vencedor do Grande Prémio Gazeta 2006 pelo documentário da RTP "Ei-los que partem - Uma história da Emigração Portuguesa".

E as imagens dos portugueses nos arredores de Paris, em bairros de lata, fotografados por Gérald Bloncourt chocam, e levam a questionar, mas que raio de boa vida se levaria no Portugal fascista de Salazar para ser preferível ir viver para outro país naquelas condições?

"Foi uma consequência da crise do modelo económico do Estado Novo. Por variadíssimas razões, os campos ficaram esgotados, não tivemos a capacidade de basear a nossa produção industrial apenas nas matérias primas nacionais. A mecanização tardia nos campos, nos anos cinquenta, introduziu mais uma crise neste modelo, voltando a produzir muitos desempregados: a industrialização absorveu parte da mão-de-obra mas não a absorveu toda. França porquê? Porque a América estava fechada. E no Brasil praticamente tinha deixado de existir trabalho para mão-de-obra barata. 

Porque é que as pessoas emigravam na década de sessenta? 

A guerra foi um fator, mas o motivo principal que levava as pessoas a saírem do país era a falta de emprego. A agricultura ocupava muita gente e quando a mecanização chegou aos campos, com a introdução das ceifeiras, a partir dos anos cinquenta e muito fortemente na década de sessenta, deixou de haver trabalho". 



Aos poucos querem apagar e reescrever uma história passada. Branqueador o nosso ditador, que, afinal, nem matou tantas pessoas como os outros. Se calhar até era fofifnho. Se calhar nunca vivemos tão bem como no tempo de Salazar. Se calhar, o que precisávamos, hoje, a meio dos anos vinte do terceiro milénio é de outro Salazar! 

Não! Vivemos 48 anos de obscurantismo, de repressão, fome, miséria e de morte. De prisões e mortes arbitrárias. De um atraso descomunal. A vida era tão difícil que os portugueses arriscavam um ano de cadeia a tentar emigrar ilegalmente. E só na década de sessenta, nos últimos anos governados pelo ditador, cerca de um milhão de portugueses emigrou, principalmente para França. 

Não precisamos de outro Salazar. Precisamos é de aprender alguma coisa com a História. 

# Quem Foram os Responsáveis pela Ditadura em Portugal?

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

E Se Eu Te Dissesse Porque é Que Toda a Gente Anda a Dizer "Top"?


Durante a tarde tinha apanhado na rádio a reposição do programa da Inês Menezes "O Baile das Palavras", que explorou as nuances das palavras entre duas pessoas que falam o mesmo português, mas em Portugal e no Brasil. Nuances como, por exemplo, dizermos em Portugal "partir uma perna" e os brasileiros "quebrar uma perna"; ou como aqui "aquecemos" o leite ao passo que lá eles dizem "esquentam" o leite; ou ainda aqui "magoaste" o braço e do lado de lá do Atlântico dizem "machucar" o braço.

À noite, estive à conversa com a minha amiga carioca, e acabei por lhe contar sobre o programa e manifestar o meu desagrado por, cada vez mais pessoas por aqui estar sempre a usar expressões em inglês, quando na nossa língua, que deveríamos defender, há outras para ser usadas. 

E lembrei-me do maior vírus que está a infestar a linguagem e as pessoas em Portugal, e, para o qual parece que ainda não existe vacina:

"Agora por aqui toda a gente diz "top". É top isto, top aquilo. É top o caralho que os foda! 

A minha amiga ri e responde: 

"Isso é daqui! Top é gíria de São Paulo"!

E caiu-me a ficha! porque não fazia ideia de onde é que isso do "top" tinha começado e, claro, faz todo o sentido porque cada vez mais, devido às redes sociais cada vez mais os portugueses se abrasileiraram sem se dar conta disso. 

E não deixa de ser muito curioso que, aquando do Acordo Ortográfico de 1990 que a maioria dos portugueses foi contra, e até se dizia que era uma subserviência ao Brasil (e curiosamente os brasileiros também estavam contra o mesmo acordo!) e era só gente revoltada por cá, porque tínhamos acabado com as consoantes mudas, mas é mesmo muito irónico agora constatar que, são os próprios portugueses a abdicar da sua língua, primeiro utilizar de forma parola o inglês, e depois a abdicar dos nossos regionalismos, da cultura e diferença das nossas cidades, a diferença entre dizer "estrugido" ou "refogado", para, voluntariamente e sem que ninguém os tenha obrigado, a adotar um linguajar com um estrangeirismo, que até é uma gíria de uma região do Brasil.