quinta-feira, 30 de novembro de 2017

The Temple com Zé Pedro


"Baby Hate" - Diesel Dog Sound / The Temple (2004)

com Zé Pedro (1956-2017)

"Nothing is pure anymore..."

Tão Bom que era o Patrão Belmiro

Agora que o Belmiro de Azevedo morreu, ouvem-se tantos elogios ao empresário-modelo, que pagava salários miseráveis, que quase fico comovido. Passemos os olhos em alguns testemunhos de quem trabalhou nas suas empresas e que certamente só boas coisas terá a dizer:


Sair a horas é impossível

O ordenado é a mesma miséria, 3€ à hora e é se quero, senão põem outra pessoa no meu lugar, de momento não tenho outra hipótese senão continuar

Trabalho há vários anos na Worten, sou permanência de loja, sou responsável de uma secção, trabalho a tempo inteiro e recebo 3€/hora

Trabalho num Continente-Modelo e subscrevo tudo que foi dito anteriormente, despediram metade dos meus colegas e faço o turno da noite sozinha, querem que faça sozinha o trabalho que faziam 3 pessoas. Devia sair às 22h mas nunca saía a horas, saía quase sempre às 23h. Relativamente às horas a mais nunca me foram pagas nem nunca foram gozadas

Quanto aos contratos é verdade 3 e rua…uma vergonha

Trabalhei em lojas da Sonae em que chegava a trabalhar 10 dias seguidos, com uma folga por semana ou então umas cinco horas sem ir comer ou à casa de banho por me encontrar sozinha em loja

Vendo o meu trabalho há 23 anos como Operadora de Caixa num Hipermecado do Grupo Sonae . Sim, sempre pedi para ir ao WC e muitas das vezes ignorada indo á rebelia das chefias

Tenho uma anemia crónica e ainda assim insistiam em meter-me 2 dias a trabalhar 5h e sem comer…

Fui ensinada se possível a comer de 5 em 5 horas ou mais


Comerr? mesmo que tenhas problemas de saúde (estômago) que impliquem comer vezes amiúde não podes!!! tens que aguardar as tuas ditas 4h que é para estragar mais ainda o estômago…

Cheguei a fazer horários de 8 horas na caixa e só ao fim de 6 horas de trabalho ia jantar ou almoçar. EX: 12h00 às 21h00, só comia das 18h00 às 19h00 e no meu horário estava das 14h00 às 15h00; falei à minha chefe e a resposta delas era ‘não tenho operadoras suficientes, aguenta’… depois há erros de que os clientes não têm culpa…

Na loja onde trabalhei, o director proibiu a água. Qual o motivo? Não foi explicado, mas era fácil perceber que a ideia era limitar as idas à casa de banho o mais possível

Uma colega gravida (gravidissima) com diabetes gestacionais estava a sentir-se mal porque não a deixavam fazer uma pausa para ir sequer comer, beber ou à casa de banho

Isto para já não falar das colegas mulheres que estão com o período e chegam a ficar todas sujas porque não lhes permitem ir ‘mudar o penso

Reconheço todas as queixas e ainda acrescento algumas: na loja onde trabalhei, o aquecimento era desligado e só era ligado nos dias em que vinham auditorias à loja

Eu deixo já a sugestão para que a Igreja Católica canonize Belmiro de Azevedo e o ponha no altar! Todos os elogios ao patrão-maravilha podem ser lidos aqui.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Não Me Morras

Eu gostava de saber mais. Muito mais. Sobre isso e sobre tudo o resto. Gostava de saber muito mais sobre ti. Sei pouco. Às vezes também não é preciso saber. Basta sentir. E gostava de saber de onde é que vem todo esse sofrimento que carregas e que tanto te consome. Um sofrimento que tem de ser quase insuportável a ponto de achares preferível deixar de viver a teres de enfrentar esse peso a cada novo dia que passa. Eu sei que não consigo imaginar o quanto estarás a sofrer, porque sei muito bem que é preciso estar a sofrer muito para nada mais interessar. Como se quisesses acabar tudo para quem sabe recomeçar de novo de forma diferente.

Nós nascemos sozinhos. Vivemos juntos. Morremos sozinhos. Ninguém pode morrer por nós. Ninguém pode sofrer por nós. O que tivermos de passar, teremos de ser nós a passar. Ninguém poderá passar por nós. E eu sei que nada do que eu te disser agora te animará. Não interessará que eu diga que és uma pessoa encantadora, certamente muito querida por todos, e de quem, certamente, toda a gente gostará. Nada adiantará eu dizer que toda a gente vai sentir muito a tua falta. Os teus pais, amigos e todos aqueles que te querem bem. Sei bem que nada disso interessa porque estás a sofrer e o sofrimento não desaparecerá com as bonitas palavras e incentivos dos outros. 



E eu não tenho que saber de nada. E o mais importante eu já sei, que é saber que não estás bem. Que queres acabar com tudo e ir-te embora. E isso é mesmo muito triste para mim. Sinto-me impotente, porque, mais uma vez, nada posso fazer. E eu sei que nada do que eu possa dizer te fará sentir melhor. E isso é muito triste para mim. 

Tu sabes melhor do que eu. Certo dia, faz hoje precisamente dois anos, aproximaste-te de mim. Aproximaste-te só para me mostrar que havia alguém, que mesmo não me conhecendo, que se importava com a minha tristeza. E só isso já diz muito sobre a pessoa que és. Hoje, sou eu que te quero dizer que estou aqui para ti. Sempre. Tens-me sempre aqui para ti. Desculpa já não ser um desconhecido para ti. Já me conheces, já sabes como eu sou, não te posso motivar a conhecer alguém alguém novo. Mas por outro lado já sabes como eu sou. Sabes com o que podes contar. E eu sempre achei que é para isso que servem os amigos. Pois é. Durante tanto tempo não conseguimos encontrar definição para o que éramos um do outro. Amigos sempre me pareceu bem. E para mim os amigos são para estarem lá quando precisamos deles.

E o que eu gostava era de poder estar agora contigo. Agora, que precisas. Gostava de poder abraçar-te e deixar-me abraçar por ti, com toda a força que entendesses, mesmo que me deslocasses duas ou três costelas! Entende que, mesmo ninguém possa resolver o que te aflige, tu não tens de lutar sozinha. É mais fácil se dividires o fardo com aqueles que te querem bem. E eu quero-te muito. E bem.

domingo, 26 de novembro de 2017

Reciclar é Aliviar a Consciência Pesada

The Guardian
Reciclar não é ser sustentável. Ser sustentável é não comprar. Ser sustentável é usar o máximo tempo possível. Não é sustentável comprar um telemóvel a cada seis meses só porque saiu um novo. Não é sustentável comprar uma nova consola de jogos sempre que sai uma nova para o mercado. Não é sustentável comprar um batalhão de roupa nova, muita nem se vai usar, só porque está barata. Está barata mas alguém, pago miseravelmente, teve de a produzir. A Natureza foi, irremediavelmente prejudicada com essa produção. 

E depois, no fim disto tudo, da produção e da poluição, fala-se na reciclagem. Mas reciclar é mais ou menos como o bom cristão que peca, que comete um pecado grave e depois vai ao padre para confessar os seus pecados. E sente-se aliviado. Ou como aquelas pessoas que enchem o bandulho ao fim-de-semana, e comem um monte de porcarias, e depois na segunda-feira, com a consciência pesada, decidem aparecer no ginásio. E reciclar é mais ou menos isso: aliviar a consciência pesada.  

Conversas Improváveis 10


Via Google Images
No trabalho:

"Eu tenho de pedir um atestado médico para fazer exercício e ir para um ginásio que é algo que faz bem à saúde. Mas ninguém tem de pedir um atestado médico para dar cabo da saúde! Por acaso alguém é obrigado a pedir um atestado médico para começar a fumar ou para ir ao Macdonald's? Mas isto faz algum sentido"?

Tu Votas em Partidos que Defendem as Touradas?

É muito curioso que não se fez eco desta notícia, eu pelo menos não ouvi nada. Parece que a notícia que interessava badalar no final da semana, era que o INFARMED se ia mudar de Lisboa para o Porto. Desta notícia, bem mais importante por sinal, não se fez qualquer eco, e não terá sido por coincidência que os maiores partidos em Portugal, todos, votaram da mesma forma. Estranha unanimidade diria! E quando não se faz eco na comunicação social é como se as coisas não tivessem acontecido. Mas vamos então à notícia:

esquerda.net

No segundo dia de votações na especialidade do Orçamento do Estado para 2018, o Bloco de Esquerda apresentou uma proposta para que as touradas e os toureiros deixassem de estar isentos do pagamento de IVA. Mas a proposta, que à partida é de uma enorme sensatez, foi rejeitada no parlamento. Porquê?

Porque CDS, PSD, PS e PCP votaram contra. Fica aqui preto no branco quais são os partidos que em Portugal defendem as touradas. E defendem também que um sem abrigo tenha de pagar IVA na compra de um pedaço de pão para comer, enquanto que, aqueles que fazem espetáculos bárbaros que implicam o sacrifício e a morte de animais não paguem IVA. Sou só eu que achei isto aberrante?

Tu votas em partidos que defendem as touradas? 

sábado, 25 de novembro de 2017

Gostamos mais de Animais do que de Pessoas?

Pandora
Comecei a pensar neste assunto quando a minha mãe me falou que a Pandora, a cadela, anda com alguns problemas de saúde. Apesar da idade avançada, ainda muito rija anda ela. Mas a minha mãe não quer que ela sofra, e apercebi-me que estaria a falar em eutanasiar a bicha caso perceba que ela vá terminar os seus dias em sofrimento. E depois pus-me a pensar qual seria a pessoa que, por ver um ente querido a sofrer horrores, seria o primeiro a dizer uma coisa destas? Pelo contrário. O que vejo é as pessoas prolongarem o mais possível uma vida humana, mesmo que, muitas vezes só esteja artificialmente viva ligada a máquinas. E porque será então que queremos prolongar ao máximo a vida de uma pessoa, ao passo que com um animal, por mais que gostemos dele, preferimos que não sofra?

Outra situação. Recentemente uma amiga, que sabe muito de animais e que nem sequer ouso questionar os seus conhecimentos, disse-me que dar a pílula a gatas é muito errado pois vai-lhes criar muitos problemas de saúde. Eu nem coloco isso em discussão, mas depois pus-me a pensar: então mas e nas mulheres? Às mulheres já as podemos entupir, mês após mes de pílulas contracetivas, que não lhes faz mal nenhum? Às mulheres, até se aconselha, mal iniciem a atividade sexual a fazer uma consultazinha de planeamente familiar e a prescrever-lhe a píula! Não haverá aqui qualquer coisa errada?

Por último apanhei uma conversa no refeitório da empresa, sobre como os restos de comida não são alimentação saudável para os animais. E na verdade sempre fui ouvindo dizerem isso. Até tenho amigas em que os bichos têm de comer ração de determinada marca senão podem-se sentir mal. Mas, curiosamente, todos os humanos que estavam naquele refeitório, comiam sobras do dia anterior aquecidos no micro-ondas.

E os animais abandonados? Qualquer pessoa que vê um animal na rua, abandonado à sua sorte, de imediato fica com o coração partido e o trás para casa, para cuidar dele. Mas alguém que encontra uma pessoa desnutrida na rua, alguma vez no seu juízo perfeito a vai trazer para a sua prórpia casa? Então por que será que somos tão indiferentes para com o sofrimento humano alheio? O que é que isto significa afinal? Não queremos que um animal sofra em fim de vida, mas ai de quem abra a boca para dizer isso de um filho ou familiar. Ai de quem dê pílula aos animais que é um desnaturado, mas ninguém se importa que as próprias mulheres a tomem toda a vida. E não se podem dar restos de comida aos animais que é errado, mas nós mesmos, animais-pessoas comêmo-los todos os dias. Afinal o que é que isto significa? Que gostamos muito mais dos animais que das pessoas? 

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Poeira das Estrelas

Há umas semanas cruzei-me de novo no espaço onde nos conhecemos. Tinha combinado com uns colegas que escolheram especificamente aquele sítio. E como sabes, eu tenho o péssimo hábito - para bom português bem entendido! - de ser muito pontual. Claro que fui o primeiro a chegar, e ainda esperei uma meia hora até que chegasse mais alguém. Pude então perder-me nos meus pensamentos, e foi-me impossível que, naquele espaço físico, por onde deambulamos uma quantas vezes, não me transportasse de imediato no tempo. Para o tempo em que segurar na tua mão e olhar nos teus olhos, era o suficiente para me fazer feliz. Era impossível que a nostalgia não me deixasse com o coração apertado. Cruzar aqueles espaços era como se eu estivesse ali, a assistir a uma peça de teatro, de um determinado período da minha vida, em que nós os dois éramos os protagonistas. 

Durante todo aquele tempo que por ali estive à espera, fiz-me várias perguntas. A mais importante acho que foi perguntar-me no porquê de não teres querido seguir viagem comigo. E eu sei que tu quiseste, no tempo devido, que eu te fizesse todas as perguntas que quisesse fazer, pois querias esclarecer todas as minhas duvidas. E eu acho que consegui perceber, pelo menos em parte mas...

A minha pergunta ia no sentido de eu me questionar se fiz algo de errado. Enquanto por ali estive, questionei-me se, desde o dia que nos encontramos, naquele mesmo local, se eu pudesse, agora, como que por magia, fazer voltar o filme atrás, se eu poderia corrigir alguma coisa. E tu sabes que isto é um exercício meramente académico. Mas sabes o que eu respondi a mim mesmo? Eu respondi aquilo que tu mesma me responderias: "Tu não fizeste nada de errado"!

Mas algo não resultou para que tivesses decidido que cada um de nós seguiria em viagens separadas ou em vidas paralelas. Daí que, se puxássemos o filme atrás, e eu agisse da mesma forma, "não fazendo nada de errado", claro que tudo se repetiria de novo! Alguma coisa eu teria de ter feito diferente. Mas e se eu tivesse mudado algumas cenas ao nosso argumento? Será que teria havido alguma forma de termos seguido viagem juntos?



E queres saber a que conclusão eu cheguei, enquanto estava ali, sentado numa mesa, com vista para um dos quaisquer cantinhos que escolheste para nos sentarmos? A triste conclusão a que cheguei, é que o resultado seria sempre o mesmo. Verdade. E isto não tem nada a ver com eu acreditar que o destino já estava traçado. Não, isto tem só a ver com o teu livre arbítrio, com a decisão que tu achaste por bem tomar. E eu estou em crer que, mesmo que eu até fosse moreno, de cabelo preto e de olhos escuros, tal como tu gostas, sei lá, mesmo que até tivesse feito tudo de maneira diferente para melhor, eu acho que o resultado seria o mesmo. Porquê? Porque seria sempre Eu que estive contigo. 

E eu acho que é em mim que eu devo procurar resposta. Não que ache que tenha de mudar, até porque com esta idade já acho que isso seria muito difícil! E na verdade eu até gosto de ser como sou. É verdade! Claro, apesar dos defeitos, mas também era o que faltava se não tivesse! Mas eu sou como sou. E claro que ambos sabemos que o problema não foi a cor dos meus cabelos nem dos meus olhos. E às vezes quase me conseguias convencer, quando me olhavas com ternura e me dizias que eu era um homem muito bonito. E, sabendo eu, que não era nada o estereótipo de beleza que te atraía, tinha a sua graça. Acho que gostava mais de acreditar sobre o que dizias da minha Luz... Gostava mesmo...

E por falar em Luz, diz-se que todos nós somos feitos de poeira das estrelas. Olha, se calhar, pensei nisso enquanto esperava pelos meus colegas, talvez tu fosses estrela demais para a minha poeira! Sei lá! Na volta, talvez todas as estrelas de quem a luz me fez aproximar tenham luz demais para mim. Ou então eu carregue o karma de ser uma poeira estrelar que tenha de andar por aí sempre à deriva...

sábado, 18 de novembro de 2017

Medo. Tenham Muito Medo...

Acreditar no Destino



Mulher de coragem a sua mãe, porque muitas vezes no campo arriscou a vida, passou comida através da cerca eletrificada, comida e medicamentos a outro preso, assumiu a culpa pelo desaparecimento de alguma comida, e correu sempre risco de vida...

Sim. A minha mãe é uma mulher muito corajosa e eu tento analisar isso no livro, e eu acho que grande parte dessa coragem se deve ao facto de ela acreditar completamente no destino. Então ela nunca se preocupa "ah eu vou morrer" ou "eu vou apanhar alguma doença"ou "vai acontecer alguma coisa comigo". Ela entrega a vida dela para o destino e eu acredito que é isso que lhe confere tanta coragem e que fez também com que ela conseguisse sobreviver, porque ela não ficava se poupando, e privando de uma forma egoísta ou vaidosa. Ela sempre soube ser humilde e aceitar as coisas como elas vinham, e até hoje ela é assim. 

Noemi Jaffe, autora do livro "O que os cegos estão sonhando?" no programa À volta dos livros" de 16 de Novembro na Antena 1.


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Gostava de ter sido Eu a escrever isto:




Márcio, deixa eu te contar uma coisa:
Uma vez eu estava andando na rua, e aí do nada apareceu um maluco com uma Bíblia na mão, e ele tacou o livro assim, com toda a força, na minha direção. E aquela Bíblia ia tendo atingido diretamente o meu coração..
- Sabe qual foi a minha sorte?
É que eu estava com um casaquinho, tipo um blazer desses que tem um bolsinho assim, e dentro do bolso tinha uma bala de revolver. Aquela Bíblia teria atingido diretamente o meu coração se não fosse aquela bala. Acredita?

(da série País Irmão)

E Nós? Estaremos preparados para quando a chuva chegar?


Na Grécia morreram, pelo menos quinze pessoas na sequência de uma semana de chuvas torrenciais. Em Portugal, por agora fala-se de seca extrema. Mas estaremos preparados para quando a chuva chegar? É que, tal como é no Inverno que se previnem os incêndios é no tempo seco que se devem prevenir as inundações...

domingo, 12 de novembro de 2017

A Armada Turística Portuguesa




Barcos Fernão de Magalhães, Infante D. Henrique e Vasco da Gama no Rio Douro. Ponte do Freixo, Ponte São João e Ponte Dona Maria. 

Gondomar: A Cidade Europeia do Desporto que Não Gosta de Ciclovias

Em Gondomar inaugurou-se a primeira ciclovia junto ao Rio Douro em 2009. É um percurso de cerca de três quilómetros, que vai desde o Palácio do Freixo até Gramido. 

Era uma via com alguns metros de largura, dividida a meio, em que a metade do lado do rio era de uso de quem pretende caminhar ou passear, enquanto que, a parte do lado da estrada marginal, que estava pintada de cor mais escura, até para se perceber bem que era uma ciclovia, era de uso exclusivo de quem quisesse andar de bicicleta. Este espaço de usufruto, bastante aprazível, também rapidamente foi vandalizado. As casas de banho até foram fechadas, e roubaram de tudo um pouco, desde torneiras, até, pasme-se, os corrimões de aço inox. 

É uma zona que sempre fui visitando, se bem que, cedo, comecei a evitar de andar de bicicleta. Não há respeito. As pessoas vão passear e não respeitam nada nem ninguém. A ciclovia sempre esteve bem sinalizada mas ninguém respeita nada. Se as pessoas não respeitam os outros quando andam de carro nas estradas, iam agora respeitar uma sinalização num passeio? Era o que havia de faltar!

Se for uma família de quatro ou cinco pessoas a passear, pois têm de ir os quatro ou cinco parolos, lado-a-lado, a ocupar toda a largura do passeio, estando-se verdadeiramente a cagar para o que aquilo é. Então, já sabendo de antemão da ocorrência deste tipo de situações desagradáveis, comecei a evitar por lá andar de bicicleta, principalmente ao domingo, quando grandes multidões de pessoas por ali se juntam. 


No entanto hoje, já depois de ter andado na ciclovia de Oliveira do Douro, bem menos frequentada, apesar dos mesmos parolos que têm os mesmos comportamentos, na vinda para casa acabei mesmo por estacionar o carro, e ir dar mais umas quantas voltas por ali, servindo-me de todo aquele maralhal de pessoas, como prova de obstáculos! E na verdade aquilo até dá alguma adrenalina, contornar toda aquela gente, como se fossem pinos de obstáculos!

Mas qual não foi o meu espanto quando pude constatar a nova sinalização que ali meteram! Como a cor da ciclovia entretanto desapareceu, a autarquia deve então ter entendido que seria bem mais fácil acabar com a ciclovia e colocar vários sinais ao longo do percurso dizendo que os peões têm prioridade!! No entanto, o ridículo da situação é que, temos agora um enorme passeio, dividido ao meio, onde um ciclista não sabe por onde andar. É pela esquerda ou pela direita? Não interessa. O que interessa é que os peões têm sempre prioridade!

Gondomar, para quem não sabe, é neste ano de 2017 Cidade Europeia do Desporto. Ironicamente ficamos agora a saber, que esta cidade do desporto não gosta de ciclovias. Prefere os parolos que ocupam as ciclovias todas. Lamentável. 

A Perfeição e o Desastre


A perfeição é isto. Estacionar a um fio de cabelo da parede. Mas convém termos presente que a perfeição também está, muitas vezes, a um fio de cabelo do desastre. E por alguma coisa se diz que o ótimo é inimigo do bom. 

sábado, 11 de novembro de 2017

Não estudes, Corrompe!

Querido leitor: 
Nunca penses servir o teu país com a tua inteligência, 
e para isso em estudar, em trabalhar, em pensar! 
Não estudes, corrompe! Não sejas digno, sê hábil! 
E, sobretudo, nunca faças um concurso; 
ou quando o fizeres,
 em lugar de pôr no papel que está diante de ti
 o resultado de um ano de trabalho, de estudo, escreve simplesmente:
 sou influente no círculo tal e não me façam repetir duas vezes!
(Eça de Queiroz / As Farpas / 1871)


Quando eu era criança, ouvia muitas vezes dizer que era preciso estudar para se ser alguém na vida. Que quem não estudava nunca que iria sair da cepa torta. Queres estudar ou ir carregar baldes de massa? Mas hoje quando penso nisso, acho que é uma barbaridade! Uma indecência! A mentirem descaradamente às crianças logo desde pequenas. Até porque, vamos lá ver uma coisa, o que não falta para aí, é gente a trabalhar na construção civil e ganhar bem mais que licenciados! Uma empregada de limpeza ganha hoje, sem grande dificuldade, 7€ à hora, que é bem mais do que muito licenciado ganha, muitas vezes a dobrar roupa numa loja de centro comercial. 

E do que eu tenho visto, nunca foi bem assim como dizem. Aliás, desde miúdo que ouço falar de gente da minha aldeia, os "brasileiros", que foram para o Brasil  e que em poucos anos ficaram muito ricos. Conta-se que eram donos de ruas inteiras. Mas certamente que não ficaram ricos com a ajuda dos poucos estudos que tinham. E desconfio até, que não ficaram ricos a suar. Eu pelo menos nunca vi ninguém ficar rico de um dia para o outro graças ao esforço físico. E neste caso, até era público, pois uma dessas pessoas que enriqueceu contava que tinha tanto dinheiro, que dava para as suas duas filhas (da idade da minha mãe) e para os netos viverem sem nunca terem de trabalhar. Curiosamente este senhor morreu esmagado pelo próprio carro, quando este, destravado ia rua abaixo e ele foi a correr tentando sustê-lo com o seu corpo. E ele, que era tão rico, acabou esmagado contra uma parede. Não é irónico? Alguém tão riquíssimo que morre a tentar salvar algo que não lhe fazia diferença nenhuma? Mais, quase todos esses irmãos, acabaram por morrer cedo, igualmente de acidentes estúpidos.

Mas se esta afirmação nunca fez muito sentido, então hoje em dia nem se fala! Hoje em dia, cada vez mais o trabalho é mal pago. A título de exemplo, estamos em 2017 e eu tenho um salário inferior ao que ganhava em 2008. Será isto razoável? Não, não é porque o custo de vida está cada vez mais caro. A eletricidade está mais cara; a água está mais cara; o gás está mais caro; a internet está cada vez mais cara. Os transportes estão cada vez mais caros. Tudo está cada vez mais caro, mas os salários não acompanham. Porquê? E o que vejo é que, mesmo com muitos estudos, as pessoas ganham cada vez menos dinheiro, quando comparado ao que se ganhava há décadas atrás. É preciso empobrecer, gritam-nos os radicais-capitalistas! É preciso que os trabalhadores ganhem cada vez menos, para que os ricos ganhem cada vez mais! 

"Se fosse hoje nunca que tinha feito um curso superior. Passas tantos anos a queimar a pestana, para depois não arranjares trabalho na tua área e a ganhar uma porcaria". Quem mo disse foi uma ex-colega,  licenciada em engenharia química de 24 anos.

Antigamente, como a maioria das pessoas não tinha dinheiro para poder pôr os filhos a estudar (nunca que haverá igualdade de oportunidades) no máximo as pessoas ficavam-se pela instrução primária. Esse mérito de poder estudar ia para os filhos das gentes endinheiradas, que tinham sempre muitos escravos, que trabalhavam 16 horas por dia,  por uma bucha de pão e por uma malga de vinho. Mas hoje em dia, felizmente, que as pessoas já podem estudar mais um bocadinho, apesar de, não raras vezes com muito esforço.

E se agora muito mais gente estuda, a oferta, ainda por cima com taxas de desemprego altíssimas, o que não falta às empresas é por onde escolher, pagando sempre o mínimo possível, muitas vezes optando até por recrutar estagiários e nunca colocando as pessoas nos quadros da empresa. E nunca como hoje o emprego foi precário. Quase que o anterior governo tornou o despedimento livre ao sabor dos desmandos dos patrões, como se as pessoas fossem uma mercadoria.



E cada vez menos é a estudar ou a ser honesto que se vai longe. O Relvas chegou a doutor sem nunca sequer ter posto os pés numa universidade. Em Portugal (talvez como na maioria dos outros países é assim) chega-se longe a mentir, a aldrabar, a corromper. Chega-se longe fazendo-se rodear das pessoas certas nos sítios certos que fazem as coisas acontecer.

Foi precisamente isso que Eça de Queiroz escreveu n' As Farpas de Novembro de 1871, tendo sido preterido num concurso público para o Consulado da Baía: "Não estudes, corrompe! Não sejas digno, sê hábil! "

Portanto, se quereis dar uma boa vida aos vossos filhos, não os mandeis estudar porque, muito provavelmente, acabarão os dias a ter um trabalho para o qual não precisavam de nenhum curso superior, e a ganhar um salário de merda. Se quereis mesmo dar um bom futuro aos vossos filhos ensinai-os a mentir e a corromper. Por certo que terão o futuro garantido. 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Mulher Virgem Extra

Esta semana, enquanto conduzia no caminho do trabalho para casa, apanhei o programa À volta dos Livros da Antena 1 e que versava sobre o livro "A Vida Virgem Extra" de Cláudia Vilax. 



O que é que distingue este azeite virgem extra dos outros, Cláudia?

O azeite virgem extra é um azeite que tem melhor qualidade. É um azeite que não tem defeitos e só tem qualidades. E quando é um azeite que é bem feito de verdade, é um azeite cheio de nutrientes bons que nos fazem bem à nossa saúde. Como por exemplo a Vitamina E que, hoje em dia, está provado cientificamente, é muito melhor ingeri-la através dos alimentos do que artificialmente através de suplementos vitamínicos; tem também ácidos gordos monoinsaturados que são essenciais à nossa saúde; outros anti-oxidantes além da Vitamina E; têm vitaminas lipossolúveis; O azeite é de facto algo que nos faz muito bem. 

E fiquei a pensar nisto no que é que distingue o melhor azeite dos outros. Com que então o azeite virgem extra só tem qualidades e nenhuns defeitos e que só nos faz bem à saúde? Mmm.. é isto! O que eu preciso é de uma mulher como o azeite! Mas tem de ser uma Mulher Virgem Extra! 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Drama e o Horror de Sair com um Anti Social como EU!



Acabas de me conhecer, lógico, o homem perfeito, mas não estavas preparada para o pior pesadelo da tua vida. Não, eu não estou no Facebook, nem sou muito de redes sociais. Não me vais encontrar em sítio nenhum da Internet. Nem vais poder pesquisar fotografias das minhas ex-namoradas. E a única forma que vais ter de ver o gémeo grande é mesmo ao vivo e a cores. Ah pois é! E quando tirares uma fotografia espetacular das tuas mamas, e ma quiseres mostrar, não!, não vais ter para onde mandar!

E não vais ter forma de saber o que eu fiz no verão passado porque não está no Facebook! Eu não tenho pegada digital! Ok, na verdade eu tive um Myspace, mas lá ninguém usava o seu nome próprio, por isso estás fodida na mesma!

Quem sou eu? Bom, se calhar não existo! Ah ah ah (gargalhada maléfica!)
E se fores cuscar os meus albuns de fotografias vais perceber que lá não existem caixas de comentários e nunca vais saber o que as pessoas acham de mim! 

Se calhar eu não sou quem digo ser e só te quero envolver romanticamente. Na volta até sou um psicopata! E vai ter medo, muito medo! Nem sequer tens como saber o que eu trouxe para comer ao almoço, a menos que, me perguntes pessoalmente! Ah ah ah!!
Ok, eu existo, mas sou um Anti-social do caralho!!

domingo, 5 de novembro de 2017

Para Ti Meu Amor



Poema de amor, escrito por Mário Soares a Maria Barroso em 1962, quando se encontrava detido na prisão do Aljube.


Telecrã

Saí do centro comercial em frente do Estádio do Dragão e, já depois de me terem perguntado se eu queria "Tickets?", dirigi-me para o carro que tinha ficado estacionado no exterior. Já dentro do carro e com os vidros fechados, um sujeito aparentando ser de etnia cigana, aproxima-se e começa-me a chatear, mostrando-me um telemóvel (ou telecrã como diz agora uma amiga minha que acabou de ler o 1984 do Orwell) e onde eu só reconheci a marca a prateado Samsung (lá está, uma marca que reconheço dos televisores), enquanto que o vou ignorando. 

Até que, perante tanta insistência, tenho mesmo de lhe dizer:
"Ó amigo, isso não vale nada. Eu tenho um telemóvel muito melhor que esse. Não quero isso para nada". E enquanto isso, vou ao bolso e mostro-lhe o meu Nokia 6630 de 2004 e digo-lhe: "Isto é que é que uma máquina!"

Ele riu-se e eu arranquei e fui-me embora. 

Um Estado que Premeia os Preguiçosos

Arderam centenas de casas este ano e muitas empresas também. E o Estado, que somos todos nós, vai pagar isso tudo porque coitadas das pessoas, ficaram sem casa. 

Mas imaginemos a seguinte situação:
Eu pego numa mala cheia de dinheiro, e deixo-a dentro do carro, aberta, com as notas a verem-se. E resolvo deixar as janelas abertas para entrar o ar, enquanto vou dar um passeio a pé. Mas quando chego, fico muito surpreendido ao ver que me roubaram a mala cheia de dinheiro. Então, reclamo veementemente que a culpa é do meu país que é o uma merda, porque o meu país não defende as pessoas. O meu país falhou comigo. Afinal, uma pessoa já nem pode deixar o carro na cidade com o vidros abertos porque é logo roubado! Vou para a rua gritar que a culpa é do Estado! O meu país falhou! O meu país deveria colocar um polícia junto de cada carro, para que nenhum carro possa ser roubado! E vou exigir que o Estado me pague os prejuízos. 

Não acham que isto seria realmente muito estúpido?


É mais ou menos a mesma estupidez que eu acho que o Estado pague casas a particulares e danos em empresas, a pessoas que deixaram o mato entrar pelas casas e empresas adentro. Nem as pessoas  cumpriram a lei, nem as câmaras municipais fizeram com que a lei se cumprisse. Mas pela incúria de uns, todos vão pagar. E afinal o desleixo e a preguiça compensam sempre. É mais ou menos como quando o mesmo Estado beneficia quem não paga os impostos a tempo e horas e depois aplica perdões fiscais permitindo que os incumpridores paguem, sem juros, o que já deviam ter pagado aquando todos os outros. E quem cumpre acaba sempre por sair prejudicado. 

Este Outono eu tinha planeado limpar o terreno em volta da minha casa, como o faço todos os anos, se bem que, desta vez, tinha mesmo pensado cortar vários pinheiros, para estar a salvo de qualquer incêndio no futuro. Mas afinal não preciso de o fazer. Se a minha casa arder, não há problema, todos ma vão pagar!