domingo, 22 de junho de 2025

A Alma Lorpa

 Valter Hugo Mãe, hoje, no Jornal de Notícias:


"Estamos a assistir à derrocada moral da sociedade e o Governo, presidente da República e tribunais estão a assobiar para o lado, como se não tivessem dado conta. A ilegalização do partido fascista que hoje tem montanhas de cadeiras na Assembleia da República era elementar desde o primeiro instante. Todas as alocuções, gestos, saudações nazis, incitação à violência e racismo são contrários à Constituição. Estamos a deixar passar. Não podemos ser tolerantes com os intolerantes. Nesse caso, a tolerância não faz sentido. Estamos a jogar limpo com alguém que está a jogar sujo. Sabemos que o lado de lá está a fazer batota e nem sequer estamos a fazer cumprir as regras que estão estabelecidas. Não sei se estamos a ficar com a alma lorpa...


A entrevista pode ser lida na íntegra aqui.

Uma Era de Extermínio

Capa da revista "New York" (e de seguida excertos sobre o genocídio em curso na Palestina que todos fazem de conta que não está a existir):

«Desde os horrores da Segunda Guerra Mundial, o mundo tem tentado evitar, mesmo em tempos de guerra, o que é moralmente inconcebível: o assassinato deliberado de não combatentes, a destruição de propriedades civis, a negação de ajuda humanitária. Israel de Netanyahu, com o apoio de duas administrações norte-americanas, terá provavelmente cometido centenas, talvez milhares, de crimes de guerra em Gaza, desafiando de forma descarada o corpo de leis que, embora aplicado de forma imperfeita ao longo das décadas, visava proteger a santidade da vida humana. No seu lugar, emergiu uma era de brutalidade sem controlo.»


Os Crimes de Guerra à Vista de Todos

New York Magazine, 16 de junho de 2025
Por Suzy Hansen

Em Gaza, crianças estão a ser massacradas, as zonas seguras tornaram-se campos de extermínio, e as normas destinadas a proteger civis estão praticamente destruídas. (...)

Em dezembro, Israel já tinha matado 20.000 pessoas, segundo o ministério da Saúde de Gaza, incluindo 8.000 crianças, 60 jornalistas e 130 trabalhadores humanitários. Surgiram fotos de prisioneiros nus, amarrados e empilhados na parte de trás de camiões. Foi nessa altura que a África do Sul apresentou o seu processo de genocídio contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça. Pouco depois, o TIJ concluiu que havia méritos plausíveis no caso e ordenou que Israel tomasse medidas para evitar o genocídio (...)

Em março de 2024, surgiram notícias de que recém-nascidos estavam a morrer de desnutrição. Em abril, soube-se que Israel recorria a inteligência artificial, muitas vezes falível, para identificar alvos no terreno, e que estava a privar Gaza de alimentos. Os EUA, incapazes de convencer os seus parceiros israelitas a agir com humanidade, começaram a lançar comida do ar e, eventualmente, construíram um cais para transportar ajuda - que acabou por ser arrastado pelo mar.

Em maio, o Tribunal Penal Internacional anunciou pedidos de mandados de captura para os líderes do Hamas e de Israel. Em julho, Israel largou oito bombas de 2.000 libras na zona costeira sul de Al-Mawasi, supostamente uma zona segura. As armas mataram 90 pessoas e feriram 300, segundo o ministério da Saúde de Gaza.

Havia sempre mais. Nesse verão, médicos regressaram de Gaza a relatar que snipers estavam a disparar contra bebés na cabeça. “Nenhum bebé é alvejado duas vezes por engano,” disse o cirurgião ortopédico Mark Perlmutter, da Carolina do Norte. Em 30 anos a trabalhar em zonas de conflito, nunca tinha visto crianças “incineradas” ou “esfrangalhadas” como as de Gaza. 

“Em cada 70 pessoas que entram no hospital por hora, 40 são crianças. Nunca vi nada assim.” As crianças diziam ao pessoal médico que estavam à espera da morte. Surgiram siglas e expressões: WCNSF, para “criança ferida, sem família sobrevivente,” e a “zona das crianças mortas.” Unni Krishnan, da Plan International, contou que percebeu que Gaza era diferente quando um médico lhe disse, numa chamada, que tinha de operar o próprio filho.


Em novembro, a médica americana Tanya Haj-Hassan testemunhou nas Nações Unidas que “tudo o que é necessário para sustentar a vida está sob ataque” e que Gaza é o “prólogo para o fim da humanidade.” Transmitiu o testemunho de um enfermeiro chamado Saeed, que foi detido e torturado pelas forças israelitas:

Estamos a ser enterrados, a cada minuto estamos a ser enterrados, a cada minuto desaparecemos, a cada minuto somos raptados, estamos a viver coisas que a mente humana nem consegue compreender. Morremos e não há ninguém para nos enterrar. Peço que partilhem a minha história, toda a minha história, com o meu nome. Quero que o mundo inteiro saiba que sou um ser humano... sou um ser humano criado por Deus.

(...)  Hoje, Gaza é mais assustadora do que nunca, como escreveu Abu Toha, porque uma nova fase da exterminação da vida palestiniana começou. A 18 de março, o governo israelita rompeu unilateralmente o cessar-fogo e lançou tantos bombardeamentos que matou 436 pessoas numa única noite, incluindo 183 crianças e 94 mulheres, segundo o ministério da Saúde de Gaza. Israel impôs um cerco total durante 77 dias, impedindo qualquer entrada de comida, combustível e ajuda médica — o mais longo dos seus muitos atos de privação — o que significou “nem um grão de trigo, nem uma gota de água, nem medicamentos, nem vacinas para crianças,” contou-me Juliette Touma, diretora de comunicação da UNRWA. Os israelitas cortaram a eletricidade, inutilizando máquinas médicas vitais e as plantas de dessalinização numa área onde a água é salobra e imprópria para consumo. Praticamente toda a terra agrícola foi destruída, tal como a indústria pesqueira, o sistema de esgotos, quase todas as escolas e mais de 90% da habitação, obrigando as pessoas a viver em tendas, no chão dos hospitais ou em edifícios colapsados. Os 2,2 milhões de habitantes de Gaza, encurralados e incapazes de fugir, estão em risco de fome provocada pelo homem. “À medida que a ajuda desapareceu, os portões do horror voltaram a abrir-se,” disse o Secretário-Geral da ONU, António Guterres. “Gaza é um campo de extermínio — e os civis estão presos num ciclo interminável de morte.” 

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, Israel matou quase 56.000 palestinianos desde 7 de Outubro, incluindo 15.613 crianças, 8.304 mulheres e 3.839 idosos, e feriu 116.991 — muitos desses ferimentos, como amputações, são graves e com impacto para toda a vida. O projecto Costs of War estima que todos esses números sejam muito superiores, tal como indicam peritos médicos: numa carta dirigida ao Presidente Biden em Outubro de 2024, um grupo de médicos norte-americanos sugeriu que o número real de mortos poderá estar mais próximo dos 118.000. A revista médica britânica The Lancet estimou que o número cumulativo, incluindo mortes indirectas e desaparecidos, poderá ultrapassar os 186.000 — e isto foi em Julho de 2024, há quase um ano. Uma das razões pelas quais é difícil determinar o número exacto é o facto de milhares de pessoas estarem provavelmente soterradas sob os escombros; numa área com o tamanho de Filadélfia (...)

Pela sua força aniquiladora e ambição, a campanha israelita é única entre os conflitos modernos. Na verdade, o termo crime de guerra nem é adequado ao que está a acontecer em Gaza, pois sugere que existe uma guerra e que há alguns crimes dentro dela. Gaza é diferente — o número de crimes de guerra é virtualmente incalculável, e o que se passa não é propriamente uma guerra, mas sim o bombardeamento incessante de um lado sobre o outro. “Se o que estamos a ver na Faixa de Gaza for o futuro da guerra,” disse Pierre Krähenbühl da Cruz Vermelha em Abril, “então todos devíamos estar muito preocupados - aterrorizados.” (...)

O que trouxe muita atenção para Gaza é o facto de se tratar de um exército altamente sofisticado apoiado pelos Estados Unidos, que bombardeia e provoca fome à vontade. A indignação prende-se com a natureza implacável e completamente unilateral do conflito.”

sábado, 21 de junho de 2025

A Riqueza Obscena

"Para contar de 1 a um milhão sem parar é preciso 11 dias. 

Para contar a fortuna de Musk sem parar levaria mais de 13 mil anos. 

Quem é que precisa de tanto dinheiro"?

(1a página da revista The New Republic)


"No início deste ano, soube que Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg valiam agora todos bem mais de 200 mil milhões de dólares. A notícia que li referia que, nos três casos, as suas fortunas tinham pelo menos duplicado na última década, e a de Musk aumentara até dez vezes.

Este é um aumento incompreensível. Passar, por exemplo, de 30 mil milhões para 300 mil milhões não é o mesmo que passar de 30 para 300 dólares, ou de 30 mil para 300 mil. Sim, todos são aumentos por um factor de 10. Mas ter 300 dólares significa que pode oferecer um bom jantar a si e a um convidado. Ter 300 mil permite comprar um bom barco. Ter 300 mil milhões significa que poderia comprar vários países pequenos.

A desigualdade de riqueza neste país atingiu proporções obscenas e claramente antidemocráticas. Nem sempre foi assim. Na verdade, nunca foi assim. Há cinquenta anos, J. Paul Getty era o homem mais rico do país, com 6 mil milhões de dólares. Hoje, mesmo ajustando à inflação, os mais ricos dos Estados Unidos mal considerariam convidar Getty para jantar.

Nesta edição especial, examinamos como é que isto aconteceu, o que pensam os americanos sobre esta realidade, e como poderá eventualmente ser revertida. O jornalista Timothy Noah apresenta o relato sombrio e épico de como chegámos até aqui. A cineasta e escritora Abigail Disney (neta de Roy, irmão de Walt) faz um apelo emocionado ao aumento dos impostos sobre ela e os seus pares. O veterano jornalista Joe Conason analisa a corrupção de Trump, argumentando que esse tipo de autoenriquecimento é característico dos regimes autoritários. E, por fim, encomendámos uma sondagem exclusiva, analisada pelo editor executivo Ryan Kearney, sobre o grau de consciência dos americanos em relação à desigualdade de riqueza (muito elevado) e o quanto gostariam de ver isso mudar (bastante).

As palavras de Louis Brandeis continuam a ser verdadeiras: “Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter as duas coisas.” De formas que Brandeis nunca poderia ter imaginado, podemos estar prestes a descobrir qual das duas prevalecerá. 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Onde Estão os Patriotas que Queiram Trabalhar?

A minha amiga está a cuidar da tia que regressou a casa depois de umas semanas de internamento e está bastante doente. Ela precisa de alguém que ajude a tia com as máquinas e que dê um jeito na limpeza da casa das 8 às 5h da tarde. Entrevistou umas trinta pessoas, mas só apareceram duas portuguesas, que queriam 1500€ para ser damas de companhia, para limpar torceram o nariz e teriam que ser precisos uns dois mil euros! 

E depois disse-me que gostaria de saber junto do senhor André Ventura onde é que arranja portugueses que queiram trabalhar, porque só lhe apareceram estrangeiras e acabou, claro, por contratar uma brasileira.

Dias depois perguntei-lhe: 
Então, que tal a senhora que contrataste?
"Olha, acho que vou ter que a despedir". 
- Então, o que é que se passou? 
"Trabalha depressa demais, acho que amanhã já não tenho nada que lhe dar a fazer"!



domingo, 15 de junho de 2025

O Terceiro Cagalhão

"Não consegues mudar as massas. Elas serão sempre as mesmas: estúpidas, vorazes e desmemoriadas."
(Goebbels)

Revista Adbusters

sábado, 14 de junho de 2025

A Pressa Suicida dos Jovens



Primeiro apercebi-me que começaram a ouvir audios e ver vídeos e filmes em velocidade aumentada e ninguém achou mal... 

De repente percebeu-se que as crianças começaram a falar sem os verbos e muitos especialistas acham que é só uma mutação da língua quando, na verdade, os jovens estão tão apressados que já nem sequer pronunciam os verbos.

Mas o que eu ainda não percebi é qual é a urgência dos jovens. Bom, ir para o comboio não deve ser certamente, porque andam todos de UBER, aquela empresa que corrompeu grande parte dos líderes mundiais, mas que, ironicamente, ninguém a "cancelou", como dizem os jovens. 

Ao mesmo tempo, no mundo inteiro, todos os adolescentes entraram em modo de ansiedade. 

Ao mesmo tempo todos passaram a ver filmes e ouvir audios com a velocidade aumentada (e só o fazem porque houve um idiota ou génio qualquer que achou boa ideia disponibilizar essa ferramenta. 

Ao mesmo tempo, os jovens de todo o mundo começaram a aderir à extrema-direita... 

E agora alguém que me responda, porquê? Porque é que ao mesmo tempo, qual vírus, por todo o mundo, os jovens começaram a aderir à extrema-direita?

Ah, já sei, a culpa foi da Esquerda. Foi a Esquerda que deixou os jovens ansiosas e que criou as redes sociais, e que aumentou a velocidade dos filmes, e que propalou mentiras que os jovens, que não sabem história, acreditaram. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

A Grande Substituição - Para Onde Caminha o Português?

E pensar que há quinze todos pareciam querer defender a língua portuguesa e o grande problema era o Acordo Ortográfico de 1990. Gostava de saber por onde andam agora todos esses defensores. Excertos da reportagem no Jornal de Notícias de domingo passado.


 “Mãe, posso água?”, “mãe, posso pão?”, “eu te amo”, “eu telefonei a ele”. Pode soar estranho hoje, mas talvez, num futuro próximo, estejamos a falar assim. Estes são alguns dos fenómenos que estão a acontecer na língua. A economia da linguagem generalizou-se entre os miúdos, a influência do Brasil é cada vez mais evidente e o inglês está a entrar a toda a velocidade.

“Vivemos numa era muito rápida, as crianças não sabem esperar, há uma grande ansiedade de resposta e encurtam a mensagem, quase como se fosse um chat.” Para isso, acredita, também contribui o facto de os pequenos lerem cada vez menos. “Só leem o que veem em reels e tiktoks, onde a mensagem também é muito abreviada.”

Na sala de aula, de cada vez que os alunos lhe perguntam “posso dicionário?”, a resposta da professora é invariavelmente a mesma. “Queres comer o dicionário?”, questiona. “Se lhes perguntar o que querem fazer com o dicionário, ficam a pensar, têm dificuldade em chegar ao verbo. Perguntando se o querem comer, sendo mais objetiva, resulta melhor.”

Ana Soares, também professora do 1.° Ciclo, tem vindo a travar a mesma batalha com Isabel, a filha mais nova, de sete anos. “Ela teria cinco anos e pouco quando começámos a notar esta omissão dos verbos. Já tinha notado isso na escola, mas em casa não. Ao falar com a educadora e com amigos que têm filhos da mesma idade, percebi que isto começa logo no pré-escolar.” A génese é difícil de identificar, mas há fatores que lhe parecem alimentar a nova tendência. “O facto de atualmente ser tudo muito urgente, é sempre tudo à pressa, tudo muito rápido. Nós próprios, os pais, também vivemos assim e sinto que lhes transmitimos essa urgência.”


“Os alunos de hoje têm muitas dificuldades do ponto de vista linguístico e lexical, têm um vocabulário muito reduzido. Pela primeira vez na vida, não tenho um único aluno que tenha lido ‘Os Maias’. Eles não conseguem ler uma obra tão complexa.”


Curiosamente, diz o investigador, hoje temos até mais palavras do inglês no nosso vocabulário do que do português do Brasil. “E não nos preocupamos tanto. Já usamos a palavra tributo sem ser no sentido de impostos, agora significa homenagem. Usamos realizar no sentido de perceber. Nem nos questionamos.

E é inegável que o inglês está cada vez mais presente. A professora Carmo Oliveira relata até que, nos corredores da escola, já há alunos do secundário a conversarem inteiramente em inglês entre eles, e irrita-se com a subserviência a uma língua que não é nossa. O linguista Marco Neves diz mesmo que “a grande pressão na língua não é do Brasil, é do inglês, que está a ter um impacto muito superior”. Algo que não é novo, o que é novo é ser numa proporção tão grande. “Por exemplo, sabemos que as taxas de leitura em Portugal não são maravilhosas, mas quem lê, lê cada vez mais em inglês.”

Marco Neves não tem medo dos estrangeirismos, a questão é que atingimos um novo patamar. “Não é impossível pensar numa situação em que o inglês começa a ter uma presença tão forte ao ponto de os próprios pais falarem em inglês com os filhos. Podemos chegar a um ponto de substituição. Parece absurdo agora, mas não é tão descabido assim. Claro que o inglês é um grande instrumento de comunicação internacional, mas não como substituição da nossa própria língua.”

sábado, 7 de junho de 2025

Os Números da Nossa Vergonha

Vou começar por este número mágico:

Acabar com a Pobreza custaria 1,3% do PIB

"Em Portugal, 1,761 milhões de pessoas vivem com menos de 632 euros por mês. Uma em cada dez famílias vive em pobreza extrema. E um em cada quatro pobres trabalha a tempo inteiro. Sem as transferências sociais, mais de 40% da população estaria naquela condição. Mas, afinal, quanto “custaria” erradicar este flagelo, no sentido de subir os rendimentos daqueles quase dois milhões de portugueses ao limiar de pobreza? Cerca de 3,5 mil milhões de euros, aproximadamente 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional". (Jornal de Notícias 4 de Junho de 2025)



Acabar com a Pobreza ou gastar quatro vezes mais em armas?




"As empresas em Portugal gastam em média 14% em salários".


"Empresas estrangeiras em Portugal pagam mais 61% dos que as portuguesas"

Um estudo publicado na Revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal (BdP), com base em dados de 2014 a 2022, conclui que as multinacionais, em média, pagam salários médios quase 61% mais elevados, são cerca de 57% mais produtivas, utilizando a produtividade do trabalho, e 65% utilizando a receita por trabalhador.


O preço dos produtos alimentares básicos subiu, em média, 35% desde 2022. O aumento está acima do verificado no salário mínimo nacional, que cresceu 23,4% no mesmo período:


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Política é fazer opções, é onde aplicar o dinheiro dos impostos que todos pagamos. E eu olho para este cenário e vejo que tudo é demasiadamente mau. As pessoas não têm juízo nenhum na cabeça, comem as barbaridades que se diz nas televisões - e por isso eu sempre fui contra a democracia - e depois escolhem para as representar quem lhes vai meter o pé no pescoço. E andamos eternamente nisto. 

Vêm com a cantilena falsa que as empresas não podem aumentar salários senão vão todos à falência mas ficamos a saber que o custo da exploração da mão de obra dos trabalhadores custa às empresas essa enorme quantia de 14%!

Depois vendem a cartilha que o nosso problema são os impostos, que se baixassem os impostos todos ganhávamos mais, mas ficamos a saber que as empresas estrangeiras chegam cá a Portugal e, pagando os mesmos impostos que as empresas portuguesas, pagam logo à cabeça mais de 60% que as empresas portuguesas. 

Sim, eles defendem que devemos baixar os impostos mas é para as empresas pagarem menos impostos e lucrarem muitos mais milhões. Os trabalhadores que se fodam, que fiquem na miséria e continuem a receber cada vez menos, porque o aumento do salário mínimo não acompanhou sequer o aumento do custo do cabaz de alimentos básicos. 

Podíamos facilmente acabar com a pobreza em Portugal, mas ah e tal, como um país pobre, mas depois vamos gastar quatro vezes mais do que isso na indústria da morte, e comprar armamento aos americanos para ver se eles melhoram a economia deles porque estão todos fodidos. 

É simplesmente revoltante o estado de coisas atual e estar rodeado de atrasados mentais que não sabem pensar e que, por causa disso, e dessa coisa linda da "democracia"  (mas não há democracia sem pessoas bem informadas e que votem de forma esclarecida) acabam por nos prejudicar a todos. Voltarão a torcer as orelhas, mas depois não valerá a pena chorar. 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Crime é Currículo


 
Então diga-me lá porque é que acha que deveria fazer parte deste governo do grande Luís...

- Bom, assim de repente, como bem se lembra, no governo anterior e, de forma totalmente incompetente, consegui matar ao desmazelo 12 pessoas doentes que só estavam a dar despesa ao Estado e com a maior lata do mundo ainda consegui dizer que a culpa não foi minha. Conta?

Está contratadíssima!

As Gatas Não Tiram Selfies



 Tinha acabado de sair da Adega, um dos restaurantes onde almoço e que também serve petiscos, e eis se não quando um gato (os meus colegas disseram que pelas cores é uma gata) começa a chamar por mim. Aproximo-me e começo a fazer-lhe umas festas e por aí estive um bom bocado, até reparar que faltavam quatro minutos para pegar ao trabalho. 

"Bem, tenho que ir", e ela salta do muro para o passeio e começa a vir atrás de mim, e fê-lo ainda uns quantos metros. 

As gatas da rua reparam em nós porque não andam com a cabeça curvada no telemóvel ou a tirar selfies, porque, infelizmente, hoje já ninguém repara em ninguém na tua. Só mesmo os animais. 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

O Que a Ciência nos Diz Sobre a Força do Corpo Feminino

Crónica de Starre Vartan no jornal Washington Post, autora do livro "The stonger sex", que será publicado no próximo mês de julho:


"Em setembro, Tara Dower tornou-se a pessoa mais rápida de sempre a completar o Trilho dos Apalaches. O seu recorde - 40 dias, 18 horas e 6 minutos - foi 4 dias e meio mais rápido do que o anterior detentor do recorde, um homem. Nesse mesmo ano, Audrey Jimenez, de 18 anos, fez história no Arizona ao tornar-se a primeira rapariga a vencer um título estadual de wrestling do secundário da Divisão 1 — competindo contra rapazes.

Em diversas modalidades, as mulheres não estão apenas a recuperar terreno após gerações de exclusão do desporto - estão a ditar regras. Nas ultramaratonas, as mulheres superam regularmente os homens, especialmente em distâncias extremas. Jasmin Paris, que em 2024 se tornou numa das únicas vinte pessoas a terminar a brutal corrida Barkley Marathons, de 160Km, em menos de 60 horas - enquanto extraía leite materno.

Na natação de longa distância, as atletas femininas destacam-se de tal forma que, dentro da comunidade, os seus recordes já são considerados parte integrante da modalidade. Na escalada, no ano passado, Barbara “Babsi” Zangerl tornou-se a primeira pessoa, homem ou mulher, a fazer um “flash” - escalar sem prática prévia e sem quedas - a imponente formação rochosa El Capitan, em Yosemite, em menos de três dias.

Estes não são apenas feitos atléticos. São mudanças culturais. Especialistas afirmam que estamos finalmente a despertar para o que os corpos femininos são realmente capazes de fazer.

E não são apenas mulheres jovens a abrir novos caminhos físicos.

“Na categoria Masters 70+, acabou de ser estabelecido um novo recorde feminino de levantamento de peso morto”, diz Stacy Sims, fisiologista do exercício que leciona na Universidade de Stanford e na Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia. “As mulheres mais velhas estão a demonstrar que ‘sou forte e consigo fazer isto’.”

Feitas para resistir

Normalmente, as discussões sobre “força” têm-se centrado na força bruta e na velocidade em curtas distâncias - qualidades historicamente associadas à fisiologia masculina. Mas resistência, recuperação, resiliência e adaptabilidade são igualmente essenciais para o desempenho atlético. E nessas áreas, a fisiologia feminina apresenta verdadeiras vantagens, segundo especialistas em ciência do desporto, fisiologia humana e antropologia biológica.

O mito da fragilidade feminina é relativamente recente. Durante grande parte da história humana, as mulheres carregavam equipamentos, seguiam presas e caminhavam entre 13 e 16Km por dia - frequentemente grávidas, menstruadas, a amamentar ou a carregar crianças (uma estimativa indica que mulheres caçadoras-recoletoras percorriam mais de 4.800 km nos primeiros quatro anos de vida de um filho).

Essa base evolutiva sustenta os feitos atuais, dizem os especialistas. “Os corpos femininos têm uma resistência superior à fadiga”, afirma Sophia Nimphius, vice-reitora do desporto na Universidade Edith Cowan, em Perth, Austrália.

Teste após teste, os músculos femininos superam os masculinos quando se trata de trabalho repetitivo com pesos mais leves, segundo a investigação pioneira de Sandra Hunter, fisiologista do exercício na Universidade de Michigan. A investigação de Hunter - e outras posteriores - mostrou que os músculos das mulheres se cansam-se mais lentamente, permitindo-lhes realizar mais repetições de forma consistente. Os homens podem começar com mais força, mas quando o treino se prolonga? As mulheres conseguem continuar, por vezes o dobro do tempo, ou mais, superando até os homens mais musculados.

Essa capacidade de resistência deve-se provavelmente ao facto de os corpos femininos utilizarem preferencialmente gordura (de combustão lenta) em vez de hidratos de carbono (que se esgotam rapidamente), tanto em atletas como em pessoas menos desportistas.

Os nossos músculos fazem mais com menos”, diz Nimphius. Para além de usarem gordura para manter o rendimento, as fibras musculares de contração lenta - resistentes à fadiga - são geralmente mais comuns nos corpos das mulheres (embora todos os corpos variem consoante a genética individual). Este tipo de fibra também é mais eficiente do que as de contração rápida, que são mais comuns nos homens.

Recuperação e Resistência

Para além da resistência, vários estudos indicam que as mulheres também recuperam mais rapidamente de treinos intensos, como sprints e levantamento de pesos pesados. As fibras de contração lenta têm, por si só, uma maior capacidade de recuperação, mas a vantagem feminina poderá também dever-se a uma cicatrização mais rápida: um estudo demonstrou que os músculos de ratos fêmea recuperam duas vezes mais depressa (embora estudos com ratos nem sempre se traduzam diretamente em humanos). A razão? Há fortes indícios de que o estrogénio reduz a inflamação e favorece a reparação muscular (uma das razões pelas quais Sims recomenda que mulheres na pós-menopausa recebam treino e apoio à recuperação adequados).

Contudo, alguns estudos indicam que as mulheres são mais propensas a certos tipos de lesões desportivas, especialmente ao nível dos joelhos e ligamentos cruzados anteriores (LCA), embora ainda não se saiba se isso se deve a diferenças biomecânicas, hormonais ou a métodos de treino inadequados.

Alguns investigadores afirmam que as maiores taxas de lesão nas mulheres se devem ao facto de a investigação existente ter sido baseada em corpos masculinos: “Os corpos femininos são diferentes - digo às [mulheres] que os protocolos que estão a seguir não foram feitos para o seu corpo”, diz Sims.

Acredito que há uma força mental, um fator de resistência que ajuda as mulheres a alcançar um estado mental que lhes permite continuar a ultrapassar os limites”, diz Emily Kraus, diretora do Programa de Ciência e Investigação Translacional da Atleta Feminina (FASTR) da Universidade de Stanford.

Um futuro em mudança

Os homens têm, historicamente, definido a força pelas capacidades em que se destacam — como pesos máximos no supino ou tempos rápidos em sprints — mas estas são apenas algumas das formas de medir o corpo humano. Se, em vez disso, focássemos a resistência, a resiliência, a longevidade e a recuperação, a narrativa sobre quem é “forte” teria provavelmente uma forma feminina, dizem muitos especialistas.

Atualmente, as jovens atletas ainda não recebem o mesmo nível de incentivo, treino e atenção científica que os rapazes, afirma Nimphius. A investigação sobre a saúde de raparigas e mulheres, embora lentamente em progresso, continua atrasada — apenas 6% da investigação em desporto e exercício focou exclusivamente corpos femininos, segundo um estudo de 2021.

Tendo em conta todas as vitórias já conquistadas por mulheres, como seria o panorama se a ciência desportiva fosse desenhada à medida da fisiologia feminina em vez de adaptar rotinas criadas para homens? A geração atual de atletas está a desafiar toda a estrutura do desportivismo. Em breve, dizem os especialistas, terão melhor informação para compreender e treinar os seus corpos e isso será verdade tanto para atletas de elite como para quem corre apenas aos fins de semana. Estudos em curso e futuros em ciência do desporto serão “um ponto de viragem para raparigas e mulheres - não só agora, mas daqui a cinco, dez, quinze anos”, diz Kraus. “E isso é verdadeiramente entusiasmante.”


Quatro coisas que os corpos femininos fazem excecionalmente bem

● Tolerância à dor:

Os corpos humanos suportam diversos tipos de dor - desde cólicas menstruais e parto até lesões nas costas e ossos partidos. A dor é subjetiva e difícil de medir, mas a maioria dos estudos concorda com as nossas avós - as mulheres parecem lidar melhor com a dor. Atletas são especialistas em dor, e inúmeros estudos mostram que têm uma tolerância superior à dor em comparação com não atletas — e, entre os sexos, a pesquisa limitada indica que as atletas femininas não diferem significativamente dos seus colegas masculinos, apesar de uma maior sensibilidade à dor. As mulheres são também mais propensas a continuar a competir mesmo lesionadas. Isto deve-se provavelmente tanto à biologia como à experiência, afirma Nimphius. Um estudo de 1981 foi direto: “As atletas femininas apresentaram a maior tolerância e limiar de dor.

● Imunidade:

Entre os mamíferos, incluindo os humanos, é amplamente aceite que as fêmeas têm sistemas imunitários mais fortes do que os machos. Isso deve-se ao poder do estrogénio e também ao cromossoma XX, presente nas mulheres, que confere maior variabilidade na função imunitária. Como escreveu Marlene Zuk, bióloga evolucionista da Universidade do Minnesota, num artigo de 2009: “Não há dúvidas quanto à identidade do sexo mais doente - são os homens, quase sempre. Toda a gente sabe que os lares de idosos têm mais viúvas do que viúvos, mas a disparidade vai muito além dos idosos.” (Há, no entanto, um lado negativo: a maioria dos doentes com doenças autoimunes são mulheres. É o preço de um sistema imunitário agressivo.)

● Resistência:

Os corpos femininos parecem ser mais bem preparados para o longo prazo - menos desgaste, maior capacidade de manutenção, segundo a pesquisa disponível. Os dados sobre exercício a longo prazo sugerem que as mulheres podem pagar um preço mais baixo pelo esforço físico. Por exemplo, a Fundação Britânica do Coração estudou a condição vascular de 300 atletas Masters (com mais de 40 anos), entre corredores, ciclistas, remadores e nadadores. Nos homens, o envelhecimento vascular aumentou - por alguns marcadores até 10 anos, aumentando o risco de problemas cardíacos. Nas mulheres, verificou-se o contrário: tinham sistemas vasculares biologicamente mais jovens, reduzindo o risco cardiovascular.

● Longevidade:

Provavelmente, o teste mais verdadeiro para qualquer corpo é a longevidade. E com raras exceções, independentemente da espécie ou cultura, as mulheres vivem mais tempo. Isso deve-se em parte a fatores comportamentais - os homens tendem a correr mais riscos - mas também a fatores biológicos. As mulheres tendem a sobreviver melhor a doenças, fome e lesões do que os homens. Estudos mostraram que o cromossoma Y, exclusivo dos homens, pode degradar-se ao longo do tempo - um fenómeno conhecido como perda em mosaico do Y. Essa degradação tem sido associada a vários problemas de saúde nos homens, incluindo maior risco de doenças cardíacas e cancro.

Make Tendas de Campismo Great Again

Depois de oito anos em que o PS de António Costa no poder nada quis fazer pelo problema da habitação, que se estava a adensar, eis que, na sequência do golpe de Estado de 7 de Novembro, o povo achou por bem que o ideal seria colocar no governo uma agência imobiliária. Pá, uma agência imobiliária, é que ia resolver o problema dos portugueses serem os que no mundo mais dificuldade têm para comprar casa em proporção ao salário que ganham.

E o sucesso está à vista: cada vez mais portugueses a viver em tendas de campismo porque não conseguem fazer face às despesas. A reportagem é do Jornal de Notícias:


"Há pessoas que não conseguem encontrar casa digna a preços que podem pagar e estão a procurar alternativas nos parques de campismo para terem ao menos um teto. Ainda que seja a lona de uma tenda. Os grupos que acompanham os problemas da habitação em Portugal e vários campismos confirmam a situação, mas é difícil perceber a sua verdadeira dimensão. Está escondida debaixo do manto da vergonha, de quem se vê apanhado num momento de fragilidade, e da lei, já que não é permitida a residência permanente neste tipo de espaços.

“É uma realidade com a qual nos vamos deparando, pessoas a procurarem alternativas cujo custo seja inferior às habitações”, diz André Escoval, do movimento Porta a Porta, explicando que tem conhecimento de pessoas “em parques de campismo, autocaravanas, em garagens ou lojas devolutas”. São na sua maioria cidadãos nacionais, cujos rendimentos não chegam para as despesas.

Pode ser lido na íntegra aqui

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Conversas Improváveis 87 - Diferença entre Público e Privado

O meu colega foi uma semana de férias a Pariu. Como ia com as expectativas em baixo comentou que tudo correu bem e até ficou agradavelmente surpreendido, não se confirmando algumas coisas que lhe diziam como "os franceses só falam francês" ou "há muita criminalidade e insegurança por todo o lado". "Senti-me tão seguro como aqui no Porto, apesar de passarem muitas carrinhas da polícia e os franceses falam inglês como nós". 

Tudo correu bem exceto na viagem de regresso. E quando começa a narrar as peripécias e a ansiedade que foi conseguir embarcar no avião a tempo, e uma viagem que não acabou no Porto mas sim Espanha começa por contar:

"Estávamos a tentar apanhar um UBER para o aeroporto e estavam sempre a cancelar".
De imediato, e porque tudo na vida das pessoas é politica, eu respondo:

"Isso é a diferença entre público e privado. O serviço público é para servir os interesses de toda a gente; já o serviço privado é exclusivamente para gerar lucro". 


No que se refere aos transportes públicos, estes têm horário marcado e rotas pré-definidas, quer vão ter muitos ou poucos passageiros. Está assim definido para servirem a população em geral. O serviço privado de transporte, como tudo que é privado, é feito para gerar lucro. Ora, se o motorista acha que aquele percurso não lhe gerará receita, simplesmente rejeita-o.

Acontece nos transportes, na alimentação, tal como, mais importante na saúde, e vimo-lo melhor na pandemia quando os hospitais privados fecharam as portas a tratamentos que não lhes interessavam. 

Quando vamos ao hospital privado, este não está interessado em curar-nos, está interessado em retirar do cliente o maximo lucro possível. Por isso é que, por exemplo, há tantas cesarianas, não que seja o melhor para as grávidas, mas é o melhor para os acionistas. 

Mas, infelizmente, parece que não aprendemos nada e as pessoas continuar a votar em massa em partidos que querem privatizar tudo, só falta mesmo - como disse Saramago - privatizar também a puta que os pariu a todos.

terça-feira, 3 de junho de 2025

Pergunta do Dia: O que é um Militar Pró Vida?


 O candidato à presidência da república, O Enforcado I, Gouveia e Melo, de quem ninguém sabe quase nada, tirando que a facharia toda gosta muito dele, veio dizer que é contra a eutanásia e "pró vida".

A minha pergunta é: o que é um militar pró vida? Um militar que vai para a guerra com um pauzinho para não matar ninguém?

Quem é "pró vida" é objetor de consciência e não pega numa arma para matar outra pessoa. Mas vindo de alguém que também disse que "não é não", e que pedia que lhe dessem uma corda para se enforcar se fosse para a política, espera-se de tudo. 

O Monólogo da Sara e o Céu da Língua do Gregório

O ano vai a meio e fui duas vezes ao teatro, nenhuma ao cinema, zero concertos e não acabei nenhum livro, mas fui uma vez ao Salão do Reino das Testemunhas de Jeová. Ah, pois, quão fixe isso é como experiência social?

Perdão. Escrevi sem pesquisar na internet e saiu merda. Mas agora fica assim. Não ando com cabeça para escrever e não me apetece ter agora de apagar e fazer uma nova introdução, afinal, só eu é que vou ler isto. Suspeito que já nem fantasmas leem este blog - ainda por cima tendo em conta que, ultimamente, e de há algum tempo para cá só abordo o tema política. 

Corrigindo. Não fui duas vezes ao teatro este ano porque, afinal, a penúltima vez que fui não foi neste inverno de 2025 mas sim em dezembro do ano passado. 

Fui ao Teatro Sá da Bandeira ver a peça "O Céu da Língua" do Gregório Duvivier. Quando li na imprensa acerca da peça, que desde logo me interessou, pensei, sei lá, que os bilhetes custassem uns 50€, afinal, agora parece que estamos todos ricos (na verdade eu estou mas já nem é rico em sonhos) porque tudo que é evento cultural esgota e a preços absurdos. Não é ter ou não ter dinheiro para dar, é achar um abuso. Ainda assim, bilhetes entre 12 e 22€ para o artista que é nem me pareceu assim muito exagerado, e a verdade é que ele estará agora mesmo em digressão pelo país com a mesma peça, e os preços duplicaram. 

Fui ver a peça sozinho. Ainda falei com um colega de trabalho mas ele acabou por não querer ou não poder ir. Estando sozinho podemos sempre entreter-nos a olhar em volta. A sala esgotou. À minha frente vários jovens, que pelo sotaque seriam, certamente, de famílias de "bem" e pareceu-me que nem sabiam muito bem ao que iam. Não me cruzei com ninguém conhecido meu, só vi mesmo a Capicua a passar e a dirigir-se ao seu lugar. 

Sobre a peça posso dizer que gostei bastante e, no final, até pensei: "isto está tão bom que até gostava de ter este texto e, caso estivesse em livro até o comprava". 

E voltei ao teatro há duas semanas para ver a peça "Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa" da Sara Barros Leitão. Da mesma forma já a tinha visto na imprensa, mas foi depois em  conversa (via net) com minha ex-colega de trabalho que acabamos a combinar ir ver a peça juntos (com o marido dela e meu colega de trabalho). 


“Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa" é o título roubado clandestinamente a um texto do livro “Novas Cartas Portuguesas”, e que dá o mote para este espetáculo.Partimos da criação do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico em Portugal para contar a história, ainda pouco conhecida, pouco contada, pouco reconhecida, pouco valorizada, do trabalho das mulheres, do seu poder de organização, reivindicação e mudança.
É a história das mulheres que limpam o mundo, das mulheres que cuidam do mundo, das mulheres que produzem, educam e preparam a força de trabalho.
Esta é a história do trabalho invisível que põe o mundo a mexer."

Bom, eu não posso dizer que sou entendido em teatro visto que ao longo da vida fui poucas vezes ao teatro. Também pouco acompanhei dos trabalhos televisivos desta atriz. Lembro-me de no ano passado, ou já há dois anos, de a ter apanhado na série da RTP "Dentro" que vi em semana que estive acamado. Vou acompanhando sim, um ou outro dos seus discursos políticos, sempre com uma enorme carga de emoção e magnetismo, e também já a apanhei numa ou outra entrevista na rádio. Sobre a peça, apesar de pouco entendido, posso sempre dizer se gostei ou não. E a verdade é que gostei muito. Achei a atuação da atriz (sozinha em palco) muito boa e tal como achei excelente todo o trabalho de pesquisa que se fez para dar vida e palco à luta destas mulheres. O espectador sai dali muito mais rico de conhecimento do que no momento em que tinha entrado. 

No final, e porque a peça estava inserida no programa do FITEI, houve direito a uma sessão de perguntas e respostas. Eu mantive-me caladinho, porque fico sempre muito tímido na presença de figuras públicas, ainda para mais com a luz que esta atriz irradia. 

O mais interessante de tudo é que ela mencionou que poderíamos adquirir o livro com o guião da peça, na sua própria livraria (Cassandra) e isso deixou-me bastante interessado e, de repente, fez-me lembrar da peça do Gregório Duvivier e do texto que gostaria de ter.

E porque agora já não estamos a seis pessoas de qualquer pessoa do mundo mas sim a uma mensagem nas redes sociais, vai daí, enviei-lhe mensagem e, do outro lado - não sei se foi ele mesmo ou alguém que lhe gere a rede social - respondeu que sim!, que está a vir para Portugal e que trará alguns exemplares. E assim sendo, mal veja que a peça passa cá pelo Porto tentarei saber como posso adquirir o texto. 

domingo, 1 de junho de 2025

Que Alguém os Mate

Entrevista de Xavier Mas de Xaxás (La Vanguardia) a Patricia Evangelista, jornalista, acerca do seu  livro "Alguém que os mate". É nas Filipas mas poderia bem ser em Portugal. O meu discurso populista, as mesmas soluções fáceis para problemas difíceis. O perigo de em democracia se acreditar em salvadores da Pátria que vêm com discursos de ódio. 

"A partir de julho de 2016 e durante seis anos, Patricia Evangelista cobriu a guerra contra a droga nas Filipinas, uma campanha de violência e populismo lançada pelo presidente Rodrigo Duterte para chegar ao poder e consolidá-lo. Até ao momento, mais de 30 mil pessoas foram assassinadas por justiceiros e polícias à paisana, embora o governo só reconheça 6252. Evangelista publica agora Que alguém os mate, um relato arrepiante sobre a violência impiedosa exercida pelo Estado - um testemunho que também revela o perigo que qualquer democracia corre e o enorme valor do jornalismo para a salvar.

Como trabalha?

No início da guerra contra a droga havia mortos todos os dias. Às vezes cinco, outras vezes vinte e cinco. Eu trabalhava para o jornal digital Rappler, em Manila, no turno da noite, com uma equipa de jornalistas e fotógrafos. Corríamos de um crime para outro, alertados pela polícia. Ao chegar, aprendi a ficar imóvel, em silêncio, à espera dos gritos que indicavam onde estavam os familiares. Então, com muita calma e humildade, perguntava-lhes sobre a vítima. Eram perguntas simples e diretas, porque não se pode perguntar como se sentem, nem se quer causar-lhes mais dor do que aquela que já estão a sofrer.

Imagino que os testemunhos ainda ecoam na sua mente.

Não posso nem quero esquecer, mas, ao mesmo tempo, tenho de continuar. E, sempre que a emoção me vence, digo a mim mesma que não sou eu quem está a sofrer, mas sim eles — os sobreviventes.

E sente então culpa, a sensação de os ter traído.

Exatamente. Penso que algo lhes pode acontecer por terem falado comigo. Eu posso entrar e sair do seu mundo, mas eles ficam, e não têm proteção. A maioria das vítimas da guerra contra a droga eram os mais pobres entre os pobres, e tu sabes que não podes ajudá-los. É um remorso que, como tantos jornalistas, ultrapasso com cafeína, nicotina e álcool. Também com a ajuda de outros colegas. O jornalismo é uma comunidade. Há outros repórteres a fazer o mesmo que tu, e apoiamo-nos uns aos outros.

Por que há tantas mulheres jornalistas nas Filipinas? Trabalhou com Maria Ressa, diretora do Rappler, que ganhou o Prémio Nobel da Paz por enfrentar Duterte.

O jornalismo nas Filipinas é feminino. Durante a ditadura dos anos 70 e 80 era mais masculino, mas os homens foram detidos, assassinados ou acabaram por ceder ao governo. As melhores histórias começaram a ser escritas pelas mulheres que trabalhavam nas secções de moda, estilo, e que mesmo assim entrevistavam dissidentes e denunciavam a corrupção e a violência do sistema.

É importante a sensibilidade feminina perante o trauma?

As mulheres sabemos o que sente uma filha, o medo e a responsabilidade que cai sobre ela ou sobre o irmão mais velho ao ver que os pais foram assassinados. As vítimas tendem a sentir-se mais à vontade com uma jornalista mulher. Sou sincera com elas e não lhes dou conselhos.

Acredita que o jornalismo ajuda a mudar as coisas?

Se acreditasse que o que escrevo ajuda a evitar mais crimes, sentiria um fracasso tão grande que já teria desistido há muito tempo. O jornalismo não ajuda a mudar nada.

A culpa: “Ultrapasso remorsos com cafeína, nicotina e álcool, como tantos jornalistas.”


Escrevo para registar o que aconteceu, e faço-o da forma mais honesta e precisa possível, para honrar as pessoas que me deram a informação. E, embora não sirva para mudar as coisas, é útil para preservar a memória.

E para preservar a dignidade das vítimas.

Duterte passou seis anos a dizer que as pessoas assassinadas por alegadas ligações ao narcotráfico e ao consumo de droga não eram humanas. E os familiares dos mortos tiveram de lutar muito para provar que eram. O jornalismo ajudou a deixar isso claro.

Duterte está agora numa cela do Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Sim. As vítimas estão contentes, mas não totalmente, porque ainda há assassinos à solta.

O presidente Ferdinand Marcos entregou-o depois de se desentender com a sua filha, a vice-presidente Sara Duterte.

Sim, a política é muito turva. Esta semana houve eleições e, desde a sua cela em Haia, Rodrigo Duterte venceu as autárquicas em Davao. Ronald “Bato” dela Rosa, o arquiteto da guerra contra a droga, foi eleito senador. O povo considera que estas pessoas, mesmo acusadas de crimes contra a humanidade, merecem estar no poder.

A democracia não está no seu melhor momento.

Nas Filipinas sofremos o terror nas mãos de um autocrata democrata - e isto pode acontecer em qualquer democracia. Veja os Estados Unidos. A política reduziu-se a um homem carismático com uma história para contar a um povo que precisa de acreditar. Somos muito vulneráveis.

A droga não era um problema tão grave nas Filipinas quando Duterte fez campanha com a promessa de eliminar traficantes e consumidores.

Todo autocrata precisa de um inimigo. Com a sua narrativa, Duterte tocou em todos os medos e queixas dos filipinos nas últimas décadas: o fracasso das instituições e do Estado social, a corrupção e a pobreza extrema. E disse que tudo se devia às drogas, e que ele mataria para nos proteger desse mal. Votamos em narrativas, ou seja, em personagens imaginários. Foi assim que Duterte esmagou nas urnas e é por isso que a sua filha pode vir a ser presidente.

Como desmontar as narrativas dos autocratas?

Informando no terreno, a partir da rua, registando o que acontece.

Xavier Mas de Xaxás | La Vanguardia (28 de Maio de 2025) 

Partido Fascista Chega


 "Há em Portugal um Partido Comunista, um Socialista, Social Democrata, Democrata Cristão, Liberal, há pequenos partidos de “trabalhadores” ou “revolucionários “. E há um Partido Fascista chamado Chega - o único que dá a si próprio o nome não de uma ideia mas de uma interjeição. Essa esparrela onde tantos caíram tem que ser revertida. Ninguém deve escrever ou dizer o Chega ou o Partido Chega. Deve dizer-se sempre o “Partido Fascista Chega”. Parte da propaganda deste Partido é ocultar o seu programa com um nome genérico. A ideologia, ação, programa e direção deste Partido é fascista - ainda que muitos dos seus votantes possam não ser. Que os media aceitem tratar Ventura pelo que ele diz que é e não pelo que é resulta da crise do jornalismo. Na esfera científica , pública e democrática não podemos ceder na forma - trata-se de um Partido fascista, assim deve ser nomeado.