"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
sábado, 30 de dezembro de 2023
Desejo
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
Engordaram Todos!
Tudo que dá Milhões Não Prejudica o Ambiente (2)
"A mina de lítio do Romano, em Montalegre, está prevista para locais que o lobo-ibérico escolhe, há 30 anos, para se reproduzir por terem condições únicas. A exploração pode mesmo fazer desaparecer toda uma alcateia já a sofrer de furtivismo, destruição de habitat e com sucesso reprodutor muito baixo, alertam os conservacionistas" (wilder.pt)
Tudo Que Dá Milhões Não Prejudica o Ambiente (1)
domingo, 24 de dezembro de 2023
Porque Estamos Tão Individualistas?
"O ênfase no sucesso pessoal, relacionamentos líquidos, abuso da palavra liberdade, ascensão dos chamados libertários. Todos são sintomas de um individualismo em ascensão, enquanto as famílias do filho único proliferam e a epidemia de solidão indesejada se espalha. Na internet, florescem filosofias individualistas extremas na forma de gurus da cultura da competição e esforço individual, ao mesmo tempo que os influenciadores ultraliberais propagam suas ideias contrárias ao público e ao comunitário. Como chegamos aqui? Qual a origem da ascensão da ideologia individualista?
sábado, 23 de dezembro de 2023
Nem Duas Vezes, Nem Uma - Agora o Carteiro Nunca Bate à Porta
Uma das muitas horríveis coisas que o governo de Passos Coelho e Paulo Portas fez foi a privatização dos Correios. Um setor estratégico que nunca deveria ter saído da esfera pública. Um dos melhores serviços públicos que tínhamos, e um dos melhores do mundo, que, de repente, ficou quase ao nível do Burkina Faso. O jornal espanhol La Vanguardia trouxe esta semana uma interessante crónica sobre a privatização dos correios britânicos, o Royal Mail, que poderia ser uma triste crónica sobre os nossos CTT. Aqui fica em tradução livre:
domingo, 17 de dezembro de 2023
Manual do Ditador Moderno
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
Se Me Traíste Não Precisas de Me Contar Pormenores
" São cada vez mais raros estes amores.
O que eu acho é que agora as pessoas confundem paixão com amor. E depois quando a paixão acaba - que é por natureza uma coisa efémera, muito intensa, avassaladora e felizmente as pessoas unem-se pela paixão e fazem um projeto de vida - mas depois a paixão tem as suas vicissitudes e acaba. E o que eu digo a muitos casais jovens que me procuram numa situação de rotura ou mesmo depois de separados e me dizem "o amor acabou", eu costumo dizer "não, o amor não começou", porque o amor é uma construção e essa construção demora tempo e, no meu entender, é preciso ultrapassar as crises.
Eu não sou nada contra as relações curtas e casuais, não tenho nenhuma posição moralista sobre isso, o que eu acho é que uma relação amorosa longa é uma relação que confere estabilidade emocional e confere segurança psicológica. E essa é uma dimensão importante da nossa vida. Nós temos a sobrevivência biológica (comer e beber) mas depois há outra parte muito importante que é a sobrevivência psicológica e, no meu entender isso deriva muito das relações que nós tivemos com os nossos pais na infância (que são importantes emborra não totalmente determinantes) e depois as nossas relações com o par romântico. São relações muito importantes e estruturantes da nossa maneira de estar no mundo.
O casamento como instituição eu acho que está em crise e teve um peso muito grande na vida das pessoas. É como se as pessoas tivessem que ser como as princesas e os príncipes, tivessem que casar e ser felizes para sempre. O livro abre com uma citação de um mestre americano que diz que "o casamento é um estado horrível, a coisa pior é ser solteiro". Eu concordo muito com isso. É muito difícil ter uma relação ao longo do tempo com uma pessoa, mas, como eu lhe dizia é estruturante, transmite serenidade e é um antídoto para a ansiedade das nossas vidas. Sobretudo se formos capazes de partilhar a vulnerabilidade que todos nós temos com a pessoa que está ao nosso lado. Há vários ingredientes dessa relação estável. Um deles é a delicadeza no trato. É muito interessante porque nós verificamos que muitos casais não se tratam bem. Não têm gentileza, amabilidade. Isso é fundamental numa relação a dois. Pensarmos o que é que as nossas palavras vão provocar no outro. E depois há outra coisa também que é muito característica da sociedade atual, que é a pessoa estar muito auto centrada. Ser muitas vezes narcísica, cultivar o seu bem estar pessoal, o bem estar do seu corpo e do seu espírito. Isso também é um ingrediente contra a relação a dois porque temos que pensar no outro.
Mas também defende que há coisas que não devemos dizer...
Sim, isso é também outro mito, que se deve dizer tudo ao parceiro(a) com quem estamos. Eu acho que há coisas que são do nosso íntimo, por exemplo fantasias que nós temos a meio da noite, pensamentos estranhos que nos aparecem... Não temos que partilhar tudo. E, muitas vezes, essa partilha vai ferir o outro. Na história desse livro "Para tão curtos amores tão longa vida" entre o João e a Luísa, eu fiz de propósito e os dois foram infiéis, porque a infidelidade é um tema muito importante na relação prolongada e então pus um a contar e o outro a não contar. Isso foi propositado para suscitar a discussão sobre um tema que me interessa muito que é, justamente, revelação, o que é que nós devemos contar. E quem ler o livro fica com essa dúvida. O que é que é certo contar ou não contar. Não tenho uma resposta para isso, o que eu acho é que, em cada situação cada pessoa deve refletir sobre o que deve contar e não deve ter o mito de contar tudo o que se passa à pessoa com quem vive.
É muito difícil superar de uma traição?
O caso do João e da Luísa do meu livro ilustra isso. Ele soube da infidelidade da mulher e muitos anos depois continua a falar sobre isso. Eu acho que nós temos que desdramatizar um pouco a monogamia e a infidelidade e não temos que dar um cunho tão crítico a certas situações de infidelidade porque elas são muito diversas. Por exemplo, eu digo no livro que há casais felizes onde aparecem traições. E as pessoas não sabem porquê. Foi uma situação que ocorreu, não sabem explicar porquê. Por exemplo, o caso da Luísa que foi um caso que durou um ano, não é tão pouco quanto isso, ela, de facto nunca quis pôr em jogo o seu casamento. Foi uma coisa que aconteceu, que foi seguramente importante para ela, não foi uma relação de curta duração, para uma relação extra conjugal uma relação de um ano é significativo, mas nós podemos pensar que a ligação com o João era a relação mais importante para ela. Ela nunca quis pôr isso em causa. O problema é que ele pôs em causa quando se sentiu traído. Esse casal tem que fazer um movimento que é um movimento de reparação no caso de quererem continuar juntos e esse movimento de reparação é difícil de fazer porque as pessoas ficam muito magoadas.
O ciúme do homem é diferente do ciúme da mulher. O homem tem muito ciúme ligado à sexualidade. Portanto ele fez muitas perguntas "quantas vezes fizeste amor com ele"? "como é que foi"?, e ela nunca respondeu. E fez muito bem em não responder. Porque não se pode alimentar essa situação porque a pessoa que está a fazer perguntas é insaciável e, se faz dez a seguir faz trinta. Portanto, é preciso dizer "isto aconteceu, vamos agora projetar-nos no futuro". Não esquecer porque isso não é possível, mas vamos avançar no sentido da reparação do nosso sofrimento. Agora, se a pessoa está permanentemente a atualizar o que se passou nessa altura não é possível continuar.
Acredita na monogamia ou é uma construção cultural e social?
É uma construção social e cultural. O que eu diria sobre isso é que a monogamia é desejável mas é difícil.
Entrevista de Inês Menezes a Daniel Sampaio no programa Fala com Ela a propósito deste seu último livro.
domingo, 10 de dezembro de 2023
Desculpa Pela Enorme Carta Que Não Te Escrevi
O Espírito de Natal está No Centro Comercial
Apenas 15% dos portugueses participam em iniciativas religiosas durante o Natal. Claro que a maioria faz a árvore e o presépio - e coitados dos pinheiros, arbustos e musgo do monte! - mas quase ninguém, provavelmente só mesmo meia dúzia de velhos, é que ainda vai à igreja.
Mas certamente que 99% dos portugueses vai às lojas porque o verdadeiro espírito de Natal está no Centro Comercial!
*Notícia publicada no Jornal de Notícias de 10/12/2023
sábado, 9 de dezembro de 2023
Conversas Improváveis (77) - O Filho do Empresário
Os encontros acontecem quando menos se espera, mas acontecem mais com aqueles que falam mais com estranhos. Dois estranhos, dois homens, encontram-se na rua e ficam tanto tempo a conversar que os telemóveis de ambos acabam por tocar várias vezes, como se fosse a realidade a chamá-los à razão.
Um dos candidatos à liderança do PS assumiu-se como "neto de sapateiro e filho de empresário". Ora se eu tivesse que me assumir com uma frase semelhante diria que sou neto de criança que aos quatro anos teve que andar a pedir e filho de mulher que, muitas vezes, ainda tinha que chamar os bois antes de ir para a escola sem calçado de jeito.
O desconhecido que tinha à minha frente, bem mais jovem do que eu, e conforme a conversa foi avançando confessou que nasceu num berço de ouro. Filho de empresário daqueles que tem fábrica e emprega pessoas. Foi muito interessante. Dois berços completamente diferentes e, não terá sido por isso mesmo surpreendente que me tenha confessado ter votado no CH. Mas, entretanto, arrependeu-se. Ao que parece apercebeu-se que só contestam mas não apresentam soluções.
Falamos bastante de política. Perguntou-me o que achei de Passos Coelho... Bom, muito haveria a dizer sobre Passos Coelho. O primeiro-ministro mais impreparado no momento mais difícil da nossa democracia. O político, como tantos outros do PSD, que mentiu em campanha eleitoral. Passou a vida a gritar "chega de austeridade" e depois foi o que se viu. Salivavam quando se falava na eventualidade de se ter que se chamar o FMI, chumbou-se o PEC4, o governo caiu, veio o FMI e fomos para eleições. PSD e CDS formaram governo e logo se seguida chegaram os cortes de salários e o aumento "colossal" de impostos e o discurso do temos que empobrecer. E eu não quero um primeiro-ministro que a única solução que dá é: não sejas piegas, se não estás bem emigra. Um filho quando chora porque tem de comer, os pais têm que fazer de tudo para pôr comida na mesa, e não se virar e simplesmente dizer: "se não estás bem põe-te"! E no entanto, depois de todos esses roubos de salários, reformas feriados, encerramentos de hospitais, tribunais, maternidades e privatizações mal amanhadas, depois de tudo isso, o país ainda teve mais dívida do que em 2011.
Percebi também que tem quase um ódio a António Costa que no entanto acabou por não explicar. No entanto, curiosamente, nutria simpatia por José Sócrates.
Falou-se ao de leve sobre a questão da habituação e, no entender dele, o Estado deveria construir mais casas. Mas depois ficou calado quando lhe coloquei as coisas em perspectiva. Explica-me então, como é que, se Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo, se há escolas a encerrar por falta de alunos - lembrar por exemplo que eu treino ténis-de-mesa numa antiga escola primária que não está a ser utilizada - e então, se a população é cada vez menor, porque raio agora faltam casas? Mas eu expliquei, o problema foram os vistos Gold do tempo de Passos Coelho que este governo PS não quis travar, e o turismo e empresários a comprar ruas inteiras e milhares de pessoas a ser expulsas dos centros das cidades para fazer hotéis e alojamentos locais para turistas. O preço das casas disparou, as pessoas têm de sair do centro das cidades onde trabalham e sair para a periferia (onde os preços também disparam) e os jovens nunca na vida que conseguirão comprar casa com a merda dos salários que se pagam em Portugal, ainda que o salário mínimo tenha sempre subido com este governo.
Foi uma conversa muito interessante, de perspectivas e vivências e de classes sociais muito diferentes. Aliás, lá pelo meio lembrei-lhe que em Portugal, e são dados oficiais da OCDE, um pobre precisa de cinco gerações para subir um degrau na escola social. Portanto, não é bem assim essa tanga do esforço e do mérito. Um pobre tem que subir numa escada rolante que está a descer, ao passo que alguém da classe média ou alta sobre uma escada rolante que está a subir consoante o dinheiro que os papás têm.
E houve empatia. Se não houvesse os dois estranhos não ficariam na rua e ao frio a conversar infinitamente. Ele até falou de coisas pessoais. De ter ido ao psiquiatra do causa do défice de atenção. E que então, finalmente, e vinte e oito anos depois, percebeu como funciona uma pessoa normal. Mas deixou de tomar a medicação porque tomar a droga fá-lo ser outra pessoa. E ele quer continuar a ser a mesma pessoa de sempre, criativa, e que pensa num monte de coisas ao mesmo tempo... (mas eu também penso num monte de coisas ao mesmo tempo e a minha cabeça nunca para de pensar...)
E, mesmo não tendo a mínima simpatia pelo governo, achou ridículo que os media tivessem noticiado que o ministro tinha ganza em casa. Qual é o problema, é proibido? O que é que nós temos que ver com isso? E ele mesmo confessou que, por vezes, também fuma umas cenas. Ainda que, por estes dias, lhe tenha dado uma crise de pânico...
Orgulhosamente falou do mesmo telemóvel que mantém há sete anos. Ah, que pena que já não ando com o Nokia! Mas não deixa de ser curioso. Disse-lhe que se os iPhones forem para três ou quatro mil euros não duvido que as pessoas iriam comprá-los na mesma, mesmo que tenham salários de mil. O que é absolutamente insano e revelador das prioridades trocadas com que vive esta sociedade consumista. E não deixa de ser curioso porque ele, filho de empresário e que vive sem quaisquer dificuldades, não sente necessidade de ostentar, e não ostenta porque não precisa. Porque todos os que o rodeiam sabem que pode ter o que quiser.
Achei delicioso quando ia dizer pret... e censurou-se. Parou, quase que olhou em volta e perguntou se poderia dizer "pretos" a propósito de uma viagem do pai a um país africano. Eu não tenho problemas que digam pretos, eu mesmo o digo. O racismo não está em apontar uma característica pessoal, está sim, depois, em discriminar alguém que vai ver uma casa e nega-se o arrendamento por constatar que essa pessoa é... preta.
Não sou psicólogo e posso estar errado mas pareceu-me que talvez não se integre bem onde está. Ele mesmo disse que não se identifica com os amigos. Talvez esteja ainda à procura de si mesmo e do seu lugar no mundo. Deixou de beber café e começou a tomar banhos gelados - "se toda a gente anda a tomar banhos gelados vou experimentar" e quer-se disciplinar.
Quando lhe falei que mantinha um blogue de jardinagem há uns quantos anos, disse que eu tinha uma pequena mina. "Pesquisa por SEO" (Search Engine Optimization) e disse-me que deveria rentabilizar, fazendo críticas de coisas que poderia comprar e fazer parcerias e depois ganharia dinheiro sempre que as pessoas clicassem nos links. Mas eu sei tudo, só que eu nunca quis fazer do meu blog um trabalho e impingir merdas às pessoas. Os meus blogs são diários. Não quero obrigações, não me interessa ter mais ou menos leitores. Se ninguém me ler, ótimo. Isto é essencialmente para mim. Nem tudo tem que ser feito a pensar em fazer dinheiro.
E, curiosamente, também ele começou a escrever um diário. E será que ele também irá escrever sobre mim?
domingo, 3 de dezembro de 2023
Um Cheirinho a Salazarismo no Ar
Há duas semanas a polícia retirou à força estudantes universitários de uma universidade que estavam a cometer o crime de dar uma palestra sobre o clima:
Não menos grave haver também notícias que a polícia andou a incomodar associações e a identificar pessoas que defendem a Paz na Palestina.