Mais dia menos dia a eutanásia acabará por ser legal em Portugal. Portugal está sempre à frente nestes temas quentes. Fomos dos primeiros a abolir a escravatura; dos primeiros a abolir a pena de morte; dos primeiros e até apontados como exemplo a despenalizar o consumo de droga; dos primeiros a descriminalizar o aborto; dos primeiros a permitir o casamento de pessoas do mesmo sexo; Veja-se que Portugal até também foi dos primeiros países a avançar com o vídeo-árbitro no futebol! Portugal está sempre um passo à frente, só é pena não querer estar à frente nos baixos níveis de corrupção!
Mas, como se vê, não é de agora que os políticos portugueses gostam de estar sempre na vanguarda, à frente dos outros neste tipo de coisa, e já se vai falando de eutanásia há algum tempo, logo, é de esperar novidades para breve. E toda a gente opina, a favor ou contra, mas há questões muitíssimo importantes que ainda não ouvi ninguém colocar. Questões parvas é verdade, que só eu me lembro sim!, mas mesmo assim, questões muito pertinentes!
Desde logo, vamos imaginar que alguém, por este ou aquele motivo, decide morrer. O ex-futuro contribuinte tem de pagar taxas "moderadoras" ou não? Para morrer vai ser preciso pagar ou não?
Eu, doente crónico, tenho de pagar taxas moderadoras na saúde e o argumento é mais ou menos este. Malandro do doente crónico, que fica doente só para dar despesa ao Estado, vai mas é começar a pagar taxas para ver se vai menos vezes ao hospital, para ver se fica curado! Foi mais ou menos o mesmo argumento que Passos Coelho e Paulo Portas também usaram para roubar os desempregados que, apesar de terem descontado para terem um subsídio de desemprego, aplicaram uma lei que cortava 10% do subsídio de desemprego ao fim de seis meses! Não havia ofertas de emprego, diziam para os portugueses não serem piegas e emigrarem, mas sendo roubados, como que por magia as pessoas iam encontrar trabalho, o tal trabalho que não havia para ninguém!
Então, vamos imaginar que alguém decide morrer, vai ter de pagar para morrer, ou é como no aborto, em que este novo parlamento aboliu a taxa moderadora? Doenças crónicas "moderam-se", abortos podem-se fazer quantos se quiser que ninguém paga nada! Ao menos na eutanásia a pessoa só pode ir à consulta de morte uma vez! "Ah e tal eu morri uma vez mas não fiquei satisfeito, olhe queria morrer outra vez!"
E quem é que vai fazer este trabalho? Será só o Sistema Nacional de Saúde ou os hospitais privados também vão poder entrar no negócio de matar as pessoas?
É que eu já estou a ver as campanhas dos hospitais privados! "Venha morrer connosco, com todo o conforto e comodidade"! Até pode filmar a sua morte se quiser! Deve ser mais ou menos como os partos, em que de repente é moda pagar para ter a cria no privado, "porque é melhor"! Não sei em quê, mas vende-se a ideia que é melhor, e que quem tem os filhos nos hospitais públicos é pobre!
E por "melhor" significa pagar quatro ou cinco mil euros! A pessoa paga por algo que poderia ser totalmente gratuito e com maior segurança até porque, com se sabe, os hospitais privados não têm serviço de urgência, e se algo corre mal, toca a ser transladado para o hospitalzinho público que inicialmente não prestava!
Curioso. De repente lembro-me de novo das "taxas moderadoras"! Ser doente implica pagar para moderar as doenças, como se o doente pudesse escolher ficar bom de um dia para o outro para não sobrecarregar o SNS! Como se o doente tivesse prazer em ser doente! Já decidir ter um bando de filhos não implica qualquer gasto, pelo contrário, até é incentivado e não se pagam consultas nenhumas. Porquê? Porque as pessoas estão a fabricar novos contribuintes e os trabalhadores até pagam bem menos IRS por isso e tudo. Quando na verdade, na maioria dos casos, quem tem muitos filhos é porque tem maiores rendimentos para os poderem ter! Irónico não é?
E numa eutanasiação (acabei de inventar agora a palavra!) depois se é aplicado um tratamento de morte mas por incompetência a pessoa não morre? Pode muito bem acontecer! Quantos condenados à morte, nesse país de terceiro mundo que são os Estados Unidos, não morrem depois de serem injetados com a injeção letal ou depois de terem levado um belo choque na cadeira elétrica? Ah pois é! Como é que vai ser?
Será que as seguradoras vão ter seguros específicos? "Faça já o seu seguro de morte e tenha uma morte segura"!
Vamos imaginar que alguém está paraplégico e quer morrer, mas leva uma injeção e depois em vez de morrer fica num estado vegetativo? Como é que é? Vem depois alguém de machado em punho e corta a cabeça à pessoa para acabar com o trabalho?
E se a pessoa não morre em condições, quem é que vai apresentar reclamação ou levar o hospital a tribunal por esta pessoa? Isto vai ter de estar escrito no testamento vital? Ou será que a pessoa a partir do momento que decidiu morrer não tem mais direitos? Isto são tudo perguntas que gostaria de ver discutidas! Ou talvez não!