sábado, 27 de novembro de 2021

Bruxaria: uma Profissão de Futuro


 A Bruxa de Matosinhos, que eu não faço ideia de quem seja, só de um cliente, Pinto da Costa, o bom católico e crente das Encenações de Fátima, recebe 50 mil euros por mês. Eu não faço ideia quantas horas a senhora trabalha por mês, e sei lá que sortilégios serão precisos só para aconselhar o presidente do Futebol Clube do Porto, mas assim à partida, não me parece nada mau salário!

Já um jovem que passa tantos anos  estudar - temos a geração mais formada de sempre não é? - chega ao mercado de trabalho e vai ganhar menos de 950€ / mês (menos que um salário mínimo em Espanha). E depois estranhem que um terço dos jovens queira emigrar e os patrões andem agora, todos os dias, a choramingar nos jornais que não conseguem contratar ninguém para trabalhar ser explorado. 

Concluindo.

Puto, se queres ser alguém na vida, não te mates a estudar medicina, engenharia, arquitetura, direito ou outras tretas quaisquer para acabares no bicha do centro de emprego. Se não tens jeito para dar uns pontapés na bola, então o melhor é começares já a ler o livro de São Cipriano e aprender a fazer umas bruxarias, porque isso sim é uma profissão com futuro!

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

25 de Abril Traído

"Tiveste razão, querido Jorge, quando refletiste ao telefone: "A tua raiva parece a de um podengo a quem arrancaram as orelhas". A tua voz soa-me ao ódio de um pária a quem roubaram o último pedaço de pão". Era verdade. Naquele breve momento de hoje às seis da tarde, ao responder ao teu telefonema vindo de Paris, não sabia que dizer-te. Achava-me tão confuso, tão incapaz de compreender o que se passava! Mas agora, amigo, o Acontecimento já não tem os tantos mistérios de há pouco. Talvez ainda não esteja tudo tão devidamente claro, talvez não. No entanto um halo de amargura se estende por todo este país, (o nosso País, Jorge! a nossa pátria mais uma vez macerada e convertida num redil!), onde uma certeza se desenha inconsutil: o 25 de Abril foi traído!

Não. Não acredites nas histórias que hão-de fazer-te chegar aí como verdades factuais. Lerás, ouvirás, que houve um golpe de esquerda, que nós tentámos  o assalto ao poder, que estava tudo preparado para liquidarmos a democracia. Oh, oh, meu querid Jorge! Espero que não caias as asneira de crer em tais patranhas. Recorda-te que quase toda a Informação de que dispões é paga pelos nossos inimigos, serventuários da mistificação e da represália. Tu próprio mo disseste muitas vezes, quando descíamos o Chiado, nas tardes mornas daquele Outono de antes do teu forçado exílio: "Só a mentira lhes permite a sobrevivência". 

E é com enorme mentira que eles escondem a sua traição, é com um monstruoso ato cénico que eles tentam mais uma vez enganar este pobre povo. Porque, na realidade, o que sucedeu, Jorge, foi apenas o abrir do pano para a ocorrência de uma das cenas da tragi-comédia que o capital encomendou para representar (com a mais cruas das realidades, acredita) o fim deste belo sonho que a História relembrará, através de um título simplista: "O 25 de Abril". 

Está bem. Poderás dizer-me que era de esperar, posto que o próprio "25 de Abril" não passou de uma outra manobra. Mas escuta: nem todos os que, de soldado vestidos, saltaram sobre os mais-que-pôdres bastiões fascistas, eram títeres. Muitos deles (substituo: digo alguns deles, e se quiseres aponto-te os nomes) vieram para a rua dispostos a lutar e a morrer pelas mesmas razões que tu e eu defendemos. Depois, o povo desperto, deu-lhes carta de alforria e a revolução começou. E foi assim, e porque o povo quis, que os que não almejavam senão um virar de página do mesmo livro, se aperceberam de que o processo lhes fugia das mãos frustradas. A planta do poder da popular (frágil ainda mas ameaçando tornar-se pujante  e erradiça) apavorou a hidra. Tornava-se imperioso matá-la, antes que fosse árvore robusta, floresta indstrutível. O 28 de Setembro e o 11 de Março, vamos compará-los ao retesar do arco: o 25 de Novembro foi o tiro nas espáduas. Repito: nas espáduas. Aliás, não desconhecesses como eles sabem usar a traição. E assim a Revolução cambaleou, caiu por terra. O espírito nazi espezinhou-a. Esquartejou-a. Espalha-lhe agora os membros por doquier. Depois rega-os com o querosene da infâmia. "Contra-revolucionários" começam a chamar os nossos pequenos neo-nazis, os que disseram um alto não à miragem vassala do passado. E tentam queimar-lhes os restos. De todos. Militares e civis. Do Povo inteiro.

Nota Para um Posfácio Coerente

Diz-se que o 25 de Novembro veio restituir o 25 de Abril à sua pureza. Diz-se isto com demasiada frequência (não isenta de certo ar demagogo), assim à maneira de quem teme que seja fácil provar o contrário. E parece que que chegou o momento de dizer que, de facto, é fácil provar o contrário (...)

No que diz respeito às intenções deste meu relato, não procuro a Verdade Absoluta - o que seria estulto e por isso contento-me com uma verdade relativa. Mas uma verdade relativa que, para além das situações subjectivas nela implicadas, permite aos factos que tenham voz por si mesmos. Vi, ouvi, tive em mãos dados concretos. E, mais importante ainda, assisti, quero dizer, testemunhei. Direi, sem receios a contradições, que pelo menos em determinado momento, fui certamente o jornalista mais bem informado sobre os acontecimentos do 25 de Novembro. Isto bastaria para me levar à tentação de escrevinhar rapidamente, oportunisticamente, um livreco a atirar para o sensacionalista, de que se venderiam, tenho a certeza, muitos milhares. Preferi deixar correr o tempo. Fora dois artigos publicados no estrangeiro em cima da hora, não voltei a servir-me dos meus apontamentos - até porque houve uma altura em que falar do 25 de Novembro, só nos comunicados oficiais. Era tabu. Triste, porém, será o país onde, sobre um acontecimento que interessa a todos os cidadãos, só a verdade oficial tenha voz (...)

Por acaso, até houve quem lançasse o aviso muito a tempo. No início do chamado Verão Quente de 75, quando já eram visíveis os sintomas do pleno levantar a cabeça da reação, um homem que, se achava largamente informado do que se passava nos bastidores políticos e militares, disse-me durante um breve encontro: "Existe um plano de direita que está a ser integralmente cumprido" (...)

Tínhamos ultrapassado o 28 de Setembro e também o 11 de Março, determinados pelo espantoso irromper do poder popular. Confiávamos nos homens do 25 de Abril e nas promessas de um Portugal irreversivelmente rumo ao socialismo. Ingenuamente. Ignorávamos a manobra oculta, a navalha escondida na manga. Sabíamos, lá isso sabíamos, que havia forças que se moviam - até algumas que se apelidavam de esquerda - no intuito de matar o 25 de Abril. Mas sempre pensávamos que a traição pura não estaria com elas. E estava. 

A Descoberta de uma Conspiração - A Ação Spínola 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Quando a Caminhada Fica Dura Só os Duros Continuam a caminhar


Foi em 2016 que fui, com os meus colegas e patrões, fazer uma instalação na empresa Martifer. Naquela fábrica produziam-se aqueles postes com ventoinhas gigantes para a produção de energia eólica.

Nunca soube ao certo o comprimento da fábrica, não e que fosse propriamente muito, mas entre o colega arquiteto e o patrão aquilo deveria andar em torno de 700-900 metros de comprimento. 

Não é que fosse muito (há fábricas muito maiores) mas, para ir de um lado ao outro fazia-se a pé entre um quilómetro e meio e dois quilómetros! Os técnicos da manutenção, por exemplo, deslocavam-se lá dentro de bicicleta! Ainda que, muitas tinhas os pneus furados por causa das limalhas no chão. Se calhar hoje em dia deslocam-se de trotinete! Eu, comecei a deslocar-me de porta-paletes, usando-o tal e qual um skate ou trotinete (não elétrica) e posteriormente de empilhador. 

As regras de higiene e segurança para lá entrar eram rigorosas e tinha que ser. Acidentes mortais iam acontecendo com o manuseamento de cargas e era obrigatório entrar lá dentro com botas de biqueira de aço. Eu levei umas botas da empresa que havia para lá, mas ainda por cima, era um ou dois números acima do meu. Coitadas das minhas pernas e pés a fazer tantos quilómetros naquela fábrica.

Já na altura me lembrei das minhas queridas Doc Martens, que, em tempos, usava 365 dias por ano. Fizesse muito frio, chuva ou muito calor, era o que eu usava. Sempre! Houve um interregno na altura em que, com 23 anos comecei a ter aulas de condução. E eu achava que, com umas sapatilhas, conseguiria sentir melhor os pedais. De resto, eram extremamente confortáveis, e tanto me acompanhavam para as aulas como nos concertos de Heavy Metal, ainda que, nesse tempo, basicamente a indumentária cavernosa era sempre a mesma! 

E já na altura tinha pensado: e se eu arranjasse umas botas usadas para estes trabalhos pontuais da empresa? Isso é que era! Mas  tempo foi passando e acabei por nunca comprar nada.

E a verdade é que já nem estou mais nessa empresa e acabei mesmo por comprar umas novas Doc, que até são usadas. Não sei se a algumas pessoas chocará comprar calçado usado, a mim não me choca minimamente, até porque, desde pequeno fui sempre habituado a usar roupa e calçado usado, proveniente de outras  pessoas. Chocava-me mais dar 200€ por umas Doc Martens novas!

Não sei se é crise de meia-idade ou síndrome de Peter Pan. Mas o que me interessa é que estou contente com as minhas novas Doc Martens!

terça-feira, 16 de novembro de 2021

"Deviam Estar na Cozinha"


Três miúdas de 14 anos, muçulmanas, num país com uma cultura ultra conservadora. Foi numa espécie de Aulas de Cidadania  (programa extra curricular de arte) que às três alunas foi apresentado o Heavy Metal. 

Hoje, meia dúzia de anos volvidos, já deveriam estar casadas aos vinte anos, ou, no mínimo noivas e a aprender a serem boas donas de casa. Mas não. Atraíram as atenções de vários músicos mundialmente conhecidos como Tom Morello, Slash ou Flea a fazer "música de Satanás". 

Mas que mania que os adolescentes têm de pensar pela própria cabeça, não é?! Porque é que não são todos iguais uns aos outros, uns belos carneiros obedientes para o mundo continuar sempre exatamente o mesmo?

etal.

sábado, 13 de novembro de 2021

A Verdadeira Experiência Real

Muitos disseram que isto nunca seria possível. Mas há uma revolução a acontecer na forma como nos podemos contactar. Uma experiência tão real que não precisa de internet, eletricidade, muito menos de óculos e auscultadores bizarros que fazem as pessoas parecer idiotas.

Para ter uma experiência verdadeiramente real basta ir para o mundo real, em que a água é molhada e onde há humanos de carne e osso para nos conectarmos. Tal como há milhões de anos.

domingo, 7 de novembro de 2021

Como Agir Perante um Fascista?


 Vamos imaginar que, subitamente, apanham um susto do caralho, porque vos aparece uma pessoa contaminada por ideias fascistas com a tanga de que o outro diz as verdades. Como proceder para salvar a vida?

É dar-lhe logo imediatamente com os pés para ver se ele vai dar meia volta e tentar contaminar outra pessoa com as suas ideias. 

Se não resultar é tentar por todos os meios tapar-lhe a boca, porque, como é óbvio, impedindo-o de falar a probabilidade de serem contaminados por tais ideias é mínima!

Caso não consigam realizar estas manobras, então será o vosso fim. Começarão com os primeiros sintomas como dizer que o aumento do preço dos combustíveis é do governo e muito rapidamente já estão a dizer que o principal problema do país é os ciganos e que precisamos de voltar à Idade Média e aplicar a pena de morte. 

Caso se consigam manter a uma boa distância de segurança do fascista, também se podem salvar se lhe conseguirem dar a ler um bom livro de história.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

O Jardineiro, o Médico e a Gisela João


Elis Regina disse numa entrevista que, se conversarmos a fundo com um jardineiro que está a cuidar do nosso jardim, aprendemos mais do que se lermos "O Capital" de Karl Marx.  

No último "Fala com Ela" da Antena 1, Inês Menezes entrevistou Gisela João que, ao que parece, e felizmente, já encontrou um homem que a convidasse para sair pois está a namorar.

Gostei de a ouvir, e parece-me que, é precisa uma grande sensibilidade para, apesar de ter nascido pobre, e ser agora uma mulher bem sucedida, figura pública, sentir-se que ainda a invade uma grande revolta com as injustiças. É mais fácil sermos revoltados quando só temos sopa para comer ou dormimos numa casa fria no Inverno do que quando não nos falta conforto material. 

A determinado momento da entrevista a Gisela refere que não lida bem com essa coisa de ser "especial" ou ter um "dom", porque se valoriza muito isso nos artistas. 

"O padeiro não está habituado a sentir que nasceu com um dom. Não é apontado na rua por isso. Então vive a achar que eu sou mais especial do que ele. E eu não gosto desse lugar". 

- Vamos batalhar pela igualdade de dons?, interrompeu Inês Meneses e avança:
 
"Para mim tem tanto valor o jardineiro como o médico. Cada um na sua arte. Porque um médico não saberia estar num jardim e falar com as plantas e as flores como o jardineiro e, obviamente, o jardineiro não saberia pegar nos mesmos utensílios do médico".

Mas se bem percebi (e posso ter percebido mal) mas pareceu-me que aqui no caso não estamos tanto a falar da valorização que damos a determinadas profissões em detrimento de outras. Parece-me que estamos mais a falar desse magnetismo que as figuras públicas causam nos outros, que não são figuras públicas.

A Gisela João poderia continuar a "contar as suas histórias" por aí em bares, que, se não fosse conhecida, talvez nunca lhe fizessem sentir que é diferente e "especial". Um médico ou um jardineiro podem ser excelentes naquilo que fazem, que se não forem à televisão ou não tiverem exposição mediática não são apontados na rua como "especiais".

A atração das pessoas vem da exposição, do mediatismo. Um Zé Ninguém ganha o Big Brother e, de repente é seguido por todo o lado. E qual foi o dom que ele teve? Ser recrutado para aparecer num programa? Só que um dia esse brilho, essa luz mediática apaga-se. Perde-se o dom, deixa-se de ser especial. E fica só mesmo aquilo que somos. 

Mas se a luz nunca se apagar - e que nunca se apague - não há volta a dar. Quem aceita jogar o jogo da exposição mediática tem de aceitar que nunca será olhado como igual pelos outros, principalmente dos que vivem nas trevas. E por vezes as trevas do anonimato são uma bênção. 


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Brandon Lee


"What would there be
As the river of sadness turns into sea
Could there be
Another thousand stories like you and me
Wanted a heart, wanted a soul
More than anything else in this world
But we are doomed
Our flesh 'n' wounds
I would never give in

Just like the moon does
We rise'n'shine'n'fall
Over you
That I rise'n'shine'n'crawl
Victims aren't we all

What would there be
Beyond the eyes of Brandon Lee
Could there be
A revenging angel left to bleed
Wanted the truth, wanted the faith
More than anything else in this world
But we are doomed body and soul marooned
I would never give in

Just like the moon does
We rise'n'shine'n'fall
Over you
That I rise'n'shine'n'crawl
Victims aren't we all!

Brandon Lee / The 69 Eyes (2000)