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terça-feira, 2 de novembro de 2021

O Jardineiro, o Médico e a Gisela João


Elis Regina disse numa entrevista que, se conversarmos a fundo com um jardineiro que está a cuidar do nosso jardim, aprendemos mais do que se lermos "O Capital" de Karl Marx.  

No último "Fala com Ela" da Antena 1, Inês Menezes entrevistou Gisela João que, ao que parece, e felizmente, já encontrou um homem que a convidasse para sair pois está a namorar.

Gostei de a ouvir, e parece-me que, é precisa uma grande sensibilidade para, apesar de ter nascido pobre, e ser agora uma mulher bem sucedida, figura pública, sentir-se que ainda a invade uma grande revolta com as injustiças. É mais fácil sermos revoltados quando só temos sopa para comer ou dormimos numa casa fria no Inverno do que quando não nos falta conforto material. 

A determinado momento da entrevista a Gisela refere que não lida bem com essa coisa de ser "especial" ou ter um "dom", porque se valoriza muito isso nos artistas. 

"O padeiro não está habituado a sentir que nasceu com um dom. Não é apontado na rua por isso. Então vive a achar que eu sou mais especial do que ele. E eu não gosto desse lugar". 

- Vamos batalhar pela igualdade de dons?, interrompeu Inês Meneses e avança:
 
"Para mim tem tanto valor o jardineiro como o médico. Cada um na sua arte. Porque um médico não saberia estar num jardim e falar com as plantas e as flores como o jardineiro e, obviamente, o jardineiro não saberia pegar nos mesmos utensílios do médico".

Mas se bem percebi (e posso ter percebido mal) mas pareceu-me que aqui no caso não estamos tanto a falar da valorização que damos a determinadas profissões em detrimento de outras. Parece-me que estamos mais a falar desse magnetismo que as figuras públicas causam nos outros, que não são figuras públicas.

A Gisela João poderia continuar a "contar as suas histórias" por aí em bares, que, se não fosse conhecida, talvez nunca lhe fizessem sentir que é diferente e "especial". Um médico ou um jardineiro podem ser excelentes naquilo que fazem, que se não forem à televisão ou não tiverem exposição mediática não são apontados na rua como "especiais".

A atração das pessoas vem da exposição, do mediatismo. Um Zé Ninguém ganha o Big Brother e, de repente é seguido por todo o lado. E qual foi o dom que ele teve? Ser recrutado para aparecer num programa? Só que um dia esse brilho, essa luz mediática apaga-se. Perde-se o dom, deixa-se de ser especial. E fica só mesmo aquilo que somos. 

Mas se a luz nunca se apagar - e que nunca se apague - não há volta a dar. Quem aceita jogar o jogo da exposição mediática tem de aceitar que nunca será olhado como igual pelos outros, principalmente dos que vivem nas trevas. E por vezes as trevas do anonimato são uma bênção. 


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Alguém tem o Número de Telefone da Gisela João?



Ó Gisela, quando estiveres em casa, sozinha, a reclamar que nenhum homem te convida para sair, diz, que eu convido-te. Tens é que estar por Barcelos que eu não vou a Lisboa frequentemente. E se queres saber, tu não me metes medo nenhum. Talvez a Fernanda Câncio me metesse mais medo, mas tu não. Tudo bem, tu és uma fadista desta nova geração, e se sairmos juntos se calhar muita gente te vai reconhecer... Mas isso não me vai deixar amedrontado. Tu é que podes não estar preparada para sair comigo!

Mas deixa-me que te diga que tu deves-te dar com uns homens um bocado estranhos pá! Até te digo mais, amedrontado eu ficaria se fosse uma figura pública. Se eu fosse aqui ou acolá e toda a gente me reconhecesse. Isso sim deve ser horrível. Acho ótimo o anonimato. É um descanso! Agora sair com uma gaja conhecida? Era o que me havia de faltar, afinal eu ficaria sempre na penumbra. Sair contigo deveria ser tão entusiasmante como andar a passear com a namorada com as mamas ao léu na  praia... Mas só experimentando -queres experimentar?

Mas concordo totalmente contigo, apesar de, como foste um bocado atropelada pelo Bruno Nogueira e pelo Miguel Esteves Cardoso, não percebi totalmente onde irias chegar com "os portugueses são muito contidos". Mas é verdade, nós somos muito contidos, e eu revejo-me nisso. Posso ver qualquer pessoa conhecida que faço sempre vista grossa. Não vou lá a correr importuná-la. Mas não achas que isso pode ser bom? Ou preferes que um bando de gente, sempre que dobras uma esquina, vá ter contigo para te chatear com autógrafos e fotografias e mais não sei o quê? Não é positivo dar descanso ao artista? A mim parece-me que é mas percebi que pensas de maneira diferente.

Sobre a questão dos homens não te abordarem, bom, acho que eles têm razão. Tem que ver com insegurança. Uma gaja conhecida pode escolher quem quiser, por que é que haverias de te interessar por mim? Acho que é mesmo por aí. Então para não levarem um não, os homens preferem ficar quietos no seu cantinho, e enquanto isso tu vais chuchando no dedo. 

Mas pronto, já sabes. Quando estiveres aí em casa, sozinha, a deprimir, liga-me. Não me convides é para ires dançar! Mas podemos sair, jantar - se quiseres até te deixo pagar ! vê lá como eu sou moderno! - e podes-te rir e falar alto. Estás à vontade! E eu não tenho problemas nenhuns com isso, nem com mulheres independentes!

Já agora, tu foste daquelas fadistas que andou a posar nua para o Bryan Adams? Ele é que não é nada parvo não! Olha... eu também gosto muito de fotografia, por isso é mais um tema de conversa!  E tu chamas-te mesmo Gisela João ou é nome artístico?  Pronto está bem, quando sairmos contas-me isso tudo, e eu conto-te aquilo da Fernanda Câncio! Combinado?