No último "Fala com Ela" da Antena 1, Inês Menezes entrevistou Gisela João que, ao que parece, e felizmente, já encontrou um homem que a convidasse para sair pois está a namorar.
Gostei de a ouvir, e parece-me que, é precisa uma grande sensibilidade para, apesar de ter nascido pobre, e ser agora uma mulher bem sucedida, figura pública, sentir-se que ainda a invade uma grande revolta com as injustiças. É mais fácil sermos revoltados quando só temos sopa para comer ou dormimos numa casa fria no Inverno do que quando não nos falta conforto material.
A determinado momento da entrevista a Gisela refere que não lida bem com essa coisa de ser "especial" ou ter um "dom", porque se valoriza muito isso nos artistas.
"O padeiro não está habituado a sentir que nasceu com um dom. Não é apontado na rua por isso. Então vive a achar que eu sou mais especial do que ele. E eu não gosto desse lugar".
- Vamos batalhar pela igualdade de dons?, interrompeu Inês Meneses e avança:
"Para mim tem tanto valor o jardineiro como o médico. Cada um na sua arte. Porque um médico não saberia estar num jardim e falar com as plantas e as flores como o jardineiro e, obviamente, o jardineiro não saberia pegar nos mesmos utensílios do médico".
Mas se bem percebi (e posso ter percebido mal) mas pareceu-me que aqui no caso não estamos tanto a falar da valorização que damos a determinadas profissões em detrimento de outras. Parece-me que estamos mais a falar desse magnetismo que as figuras públicas causam nos outros, que não são figuras públicas.
A Gisela João poderia continuar a "contar as suas histórias" por aí em bares, que, se não fosse conhecida, talvez nunca lhe fizessem sentir que é diferente e "especial". Um médico ou um jardineiro podem ser excelentes naquilo que fazem, que se não forem à televisão ou não tiverem exposição mediática não são apontados na rua como "especiais".
A atração das pessoas vem da exposição, do mediatismo. Um Zé Ninguém ganha o Big Brother e, de repente é seguido por todo o lado. E qual foi o dom que ele teve? Ser recrutado para aparecer num programa? Só que um dia esse brilho, essa luz mediática apaga-se. Perde-se o dom, deixa-se de ser especial. E fica só mesmo aquilo que somos.
Mas se a luz nunca se apagar - e que nunca se apague - não há volta a dar. Quem aceita jogar o jogo da exposição mediática tem de aceitar que nunca será olhado como igual pelos outros, principalmente dos que vivem nas trevas. E por vezes as trevas do anonimato são uma bênção.
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