"You know, I think that book that I wrote, in a way,
was like building something.
So that I wouldn't forget the... details of the time that we spent together.
You know, like just a reminder that...
that once we really did meet!
You know, that this was real! That this happened!"
(Jesse)
Havíamo-nos cruzado por aí, por mero acaso, nesse infindável mundo cibernético e foi por minha iniciativa, sim, fui eu que, com uma mera mensagem despoletei tudo. Bom, na verdade não é bem assim. Tens toda a razão! Foi preciso também tu teres decidido responder-me! Tal como responderias a qualquer pessoa que contigo quisesse trocar umas ideias chamemos-lhe assim. E é interessante analisar, como nos comportamos de formas muito semelhantes por lá. Somos ambos pessoas minimamente interessantes e bem parecidas (modestas também!) - "fala por ti"! Não, desculpa, eu até estava era a falar por ti e não por mim! - mas acho que temos a mesma humildade, sem a mania que somos superiores aos outros. Mas foi assim. Eu consegui chamar a tua atenção, ficamos curiosos, e depois de ambos passarmos pelo fino crivo seletivo do outro, e depois de algumas semanas, passando horas e horas em frente do computador, analisando e desvendando verdadeiramente o outro - e como nós analisamos o que o outro escrevia! - e mais à frente, acabamos mesmo por nos apaixonar.
Foi um simples clique. Um simples toque na tecla submeter, e as minhas palavras chegaram até ti. Um simples bater de asas de uma borboleta que pode causar um tufão... E um pequenino gesto, tão insignificante, haveria de virar a minha vida do avesso.
Demo-nos se calhar conta do que se estaria a passar naquele fim de ano, naquela passagem de ano - não achas? Eu ainda me lembro bem. "- O que é que esta mulher, a estas horas, neste dia, enquanto soam as doze badaladas, está a fazer, (enquanto engole as doze passas à pressa!) conversando com um homem desconhecido na internet, que deverá, no entender dela, ser só mais um que ela vai descobrir que só lhe quer saltar para cima o mais depressa possível"? Somos ambos caseiros, mas eu sou muito mais solitário que tu. Tu não. Faltava uma hora para a meia-noite, e estavam as tuas amigas a ligar-te, tentando-te convencer para ires com elas para se divertirem. E eu nem vou cometer a ousadia de dizer que quiseste ficar comigo. Seria de uma enorme presunção. Sei bem que não. Sei que quiseste mesmo ficar com os teus pais, e com a tua família. As pessoas mais importantes da tua vida.
E tu, que havias conversado, certamente com imensas pessoas, de diversas proveniências que não portuguesas, por esse admirável mundo cibernético a fora, mas nunca que tinhas querido encontrar-te com alguma pessoa. Gostavas de as ouvir, de conhecer as "suas teorias interessantes", e eu ficava com um pouquinho de ciúme quando me falavas nisso... E nunca to disse, nunca assumimos não é? Mas ficava. Afinal, eu não me tenho pela pessoa mais interessante do mundo não é? Quantos homens mais interessantes, mais bonitos, mais ricos do que eu (e que claro falo de riqueza espiritual) não terás tu conhecido? Mas conversavas com essas pessoas, mas só lá, dentro do Matrix, na segurança dessa realidade ilusória da internet, onde tudo é virtual e os sonhos são sempre cor-de-rosa, onde podemos ser quem quisermos para conseguirmos atingir os nossos intentos.
E sempre frontal, disseste-me certa vez:
"Eu não quero ser tua amiga e desculpa a minha frontalidade".
E isso magoou-me profundamente... Foi como se me espetasses uma faca no peito.
"Tenho aqui 20 contactos de homens, 19 quiseram ir para a cama comigo".
Tudo bem... Mas eu disse-te. Tu nunca podes partir das experiências pessoais para o geral. E bem sabes o quanto eu sempre odiei generalizações. Tu podias conhecer todos os homens do mundo. Mas terias também de me conhecer a mim, para dizer que não acreditas nas amizades que se fazem na net. Porque eu também não sou um "homem qualquer". Na altura não podias saber (mas no fundo eu sei que sabias) mas agora sabes certamente! Eu não sou nem melhor nem sou pior que as outras pessoas. Tu mais do que ninguém bem sabes o quão humilde que eu sou. E eu posso não ser melhor, e estou bem ciente dos meus defeitos, mas certamente não sou igual aos outros todos. Eu sou eu, com todas as minhas especificidades estranhas, como diria a Celine. Terias de me conhecer primeiro... Eu teria de te desiludir como os outros todos desiludiram, para depois então me dizeres que eu era como eles.
Mas tu sem que me conhecesses pessoalmente, e apesar de todo aquele historial que obviamente te deixaria defensiva, no fundo tu hoje sabes que eu sei, que tu já sabias que eu era diferente ainda antes de me conheceres pessoalmente. Porque tu sentias isso. E era por isso que também me querias conhecer, era também por isso que te sentias entusiasmada com a minha (anormal) insistência para que nos conhecêssemos. Sim, porque toda aquela insistência minha para te conhecer, assim tão rápido (apesar das inúmeras horas em conversas na net) não era normal em mim. E até toda aquela curiosidade para saber como eras... conhecendo-me como conheço, quase que isso era ridículo. A mim bastar-me-ia aquela mini-foto, em que te via uns cabelos mais ou menos compridos, e uns óculos pretos que te tapavam metade da cara!
Mas aquela tua frase, que não acreditavas na amizade, com alguém, ainda por cima um homem, que viesse da net, no fundo, um tipo que parecia ser porreiro, mas que achavas que se iria comportar como os outros. E isso, além de me ter magoado, porque só eu sabia que tu estavas errada, teve por outro lado o condão de me desafiar. Conhecer-te, dar-me a conhecer, mostrar-te que não sou um homem igual aos outros que tinhas conhecido, isso para mim, foi um enorme desafio pessoal. E tu sabe-lo bem.
Os horários nem sempre eram compatíveis e nem sempre era fácil encaixar nas nossas agendas um encontro com algum tempo, sem grandes pressas como convinha. O mais importante estava feito. Tu havias decidido que eu seria a primeira pessoa que conhecerias pessoalmente vinda da net. E olha a responsabilidade que me puseste em cima dos ombros! Tínhamos tempo, se não fosse já esta semana, seria na outra. Não era preciso apressar as coisas.
E lá se arranjou um dia. O teu último dia de aulas, do curso que estavas a fazer, dos vários que fizeste, em diferentes áreas, por desenvolvimento pessoal. Mas que, ambos sabemos que um dia irás exercer não é? - E ainda te lembras do que eu te disse quando me disseste que me poderias ter por cliente, quando estivesses mais "pro"? Eu ainda me lembro bem do que me disseste em resposta:
"Entendo-te tão bem".
Havíamos combinado em determinado dia ao fim da tarde, junto ao mar. Tu gostas muito daquela zona. Curiosamente agora que penso, durante todo este tempo, nunca para lá fui. Tenho de ir... depois conto-te. E não é para ver se encontro por lá a tua amiga, aquela que gosta de ficar a torrar na praia. Não, não é para ver se a encontro e lhe olhar para as mamas! Mas tenho de ir até lá... junto ao teu mar. E não é certamente para ver te "vejo" por lá. Bem sabes que não é nada disso. Sabes, é só por saber que aquele local te é especial. Entendes? É o teu mar, o mar salgado que acalma, o sal que nos limpa de todas as energias negativas. Talvez andar por lá me faça estar mais perto de ti... ainda que só espiritualmente.
E então ficou combinado que seria nesse dia, às 18h ou um pouco depois, junto ao mar. Disseste-me para não ir muito cedo, estavas preocupada que pudesses apanhar trânsito, não querias que eu apanhasse uma seca. Mas qual seca? Eu iria conhecer-te, como poderia achar que os minutos que iria perder fossem uma seca? Eu sou ansioso, nunca que quereria chegar em cima da hora. Iria cedo, com muito tempo, para não correr o risco de chegar atrasado. Iria imaginar aquele encontro dezenas de vezes.
Mas íamo-nos encontrar sem que eu tivesse o teu número de telemóvel. Mas tu tinhas o meu, ou pelo menos eu pensava que sim! E repara, nem sequer dissemos os carros que tínhamos! Já viste que parvos que fomos? Eu cheguei cedo, e estive sempre sobressaltado com todos os carros, que não eram muitos, e que iam chegando ali ao parque do restaurante. Eu saí do carro, claro, para que me reconhecesses e viesses ter comigo, porque eu não te iria reconhecer certamente! E por ali fiquei a andar de um lado para o outro, aproveitando para observar todas as plantas que por lá havia no canteiro junto à estrada. Mas o tempo passava e tu não chegavas, e eu estava prevenido para o teu atraso.... mas os minutos iam passando e nada. Estava frio e chuviscava. Ia para dentro do carro... voltava a sair, voltava a caminhar e a andar de um lado para o outro para ver se chegavas.
Vi um carro chegar, devagarinho, com uma mulher lá dentro, como que a averiguar, como se me estivesse a procurar. Achei que poderias ser tu. Mas tu tinhas o meu número de telefone, tinha-to dado na noite anterior. Bastava-te ligar e já nos encontraríamos. Aquele carro deu a volta, e foi estacionar junto dos prédios. O telefone não tocou. E o tempo continuava a passar.... e eu esperei e esperei... mas tu não vinhas.
E estranhamente comecei a ficar triste. Tão triste. E acho que não tinha motivos para tanto não é? Era só um desencontro. Há imprevistos que acontecem, poderia ter acontecido qualquer coisa, eu não precisava de ter ficado tão triste não é? Mas fiquei. Quase me apetecia chorar de tão triste que estava. Mas cheguei à conclusão, que poderia esperar até à meia-noite que tu não virias nesse dia.
Mas tu vieste. Tu eras aquela mulher que passou naquele carro, devagarinho, que deu a volta por trás do restaurante e estacionou, lá ao fundo, junto dos prédios. Eu esperei por ti, tal como tu esperaste por mim... E ali estivemos os dois, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.E não nos encontrámos porque nem te apercebeste que eu te havia dado o meu número de telemóvel.
Todas as pessoas têm o seu primeiro encontro. Nós acabamos por ter o nosso primeiro desencontro. Não haveria de ser naquela dia 10 de janeiro que nos haveríamos de reencontrar nesta vida - porque aquilo foi um reencontro não foi? E não foi naquele dia, não muito bom, que nos encontramos. Mas haveria de ser muito brevemente...