Ontem fui à tua cidade. À cidade onde vivias quando te conheci. Se pensares um pouco até saberás muito bem o que fui lá fazer. Bem sabes que não há muitas coisas que eu vá fazer aquela cidade ventosa e ainda por algo que poderia muito bem fazer noutra cidade qualquer, perto de casa ou até perto do emprego. Mas tu conheces-me, bem sabes que sou muito fiel às minhas coisas. Se estou bem não vou arriscar mudar, só por ser mais perto de casa.
O tempo não tem estado bom para andar na estrada, chove cântaros. E bem sabes como eu sou cuidadoso. Até acabei por decidir sair mais cedo do trabalho, para ir com calma, e chegar bem antes da hora marcada. Bem sabes como tenho esse defeito insuportável, sou obcecado por chegar a horas. Às vezes fazias-me sentir na pele do Eugene Simonet, e lembravas-me de quando o Trevor dizia à mãe para ela não se atrasar pois iria fazê-lo sentir que ela não o respeitava. Bem sabes que te atrasavas sempre, mas eu sabia dos teus afazeres, e depois, claro, uma mulher como tu, que é meticulosamente obsessiva com a aparência, e com os cuidados que tem na seleção da indumentária... e eu imagino que essas coisas demorem tempo!
E só lá estive, naquela que já foi a tua cidade, uma hora. E porque ainda estive um bocado na conversa. Bem sabes como eu sou! E vim embora, desta feita um pouquinho mais depressa é verdade, mas também já havia poucos carros na estrada. E a meio da viagem, e porque até ficava quase em caminho (era só um pequeno desvio) ainda me lembrei de ir comprar umas coisas para a minha mãe. E sabes onde fui? Precisamente. Naquele mesmo centro comercial, onde nos servíamos do parque de estacionamento, para então depois seguirmos juntos, para onde quer que nos apetecesse ir.
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E de repente dou por mim a perceber que estava a fazer o caminho que farias, já não da tua cidade, mas da cidade onde mora a pessoa mais importante do mundo para ti. E de repente, sabes que comecei a imaginar-me na tua pele? Não foi nada de mais, mas de repente, algo mexeu comigo, ao perceber que estava a fazer o caminho, que tu tantas vezes fazias para vir ter ao meu encontro.
E imaginei-me no teu corpo. Dentro do teu carro. Imaginei que eu eras tu, a guiar o teu carro a vir ter comigo. Eu sei o que pensava quando ia ter contigo. Tu também sabes! E por momentos eu, eras tu, a caminho de ir ter comigo. "E o que é que ela pensaria quando vinha ter comigo?" E se calhar nem pensavas nada! À velocidade que tu andas, se calhar nem dá muito tempo para pensar! Mas certamente pensarias qualquer coisa daquele homem, que era eu, com quem ias ter.
Depois lá saía do teu corpo e voltava ao meu. Eu olhava para ti, e claro, tu lá não estavas, no banco ao lado, onde tanta vez estiveste. Mas sabes? era como se lá estivesses. Tu sorrias para mim. E eu sorria. Feito estúpido! Sozinho. A caminho do centro comercial.
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