quarta-feira, 30 de junho de 2021

Sinto o Tempo Passar... II


Há muitos anos, e terá sido, de facto, há muitos anos pois ainda não tinha os cabelos compridos, eu apanhava a camioneta das sete menos dez, e passava cerca de quarenta e cinco minutos na conversa com os colegas cá da aldeia, incluindo alguns do outro lado do rio, que tinham inclusive de o atravessar de barco para entrar na primeira paragem.

Daquele conjunto de adolescentes e pré-adultos havia uma loirinha de cabelos muito compridos. Talvez tivesse quinze ou dezasseis anos. Era muito nova mas pareceu-me depois que, como dizia o Pedro Lamy, já era muito rodada. Foi com ela que comecei a treinar melhor a exploração de bocas alheias bem como a transferência de oitenta milhões de bactérias de uma boca para outra. Eu era demasiado ingénuo nestes treinos cronometrados, mas ela já fazia as voltas mais rápidas no warm-up de classificação dos treinos livres. Eu estava a descobrir e ela como estava numa de se divertir. Rapidamente foi-se divertir para outra paróquia ou várias paróquias ao mesmo tempo. Um ano depois disseram-me que estava grávida. "Eu não tive nada a ver com isso" respondi à minha avó. Soube que casou, que se separou depois, que estava muito gorda e perdi-a de vista.

Eu confesso que não achei nada estranho quando comecei a namorar com uma mulher de cinquenta anos. Pelo contrário, achei até muito estimulante. E até sorri quando constatei que agora o meu novo coleguinha com quem travei amizade também tem os mesmos cinquenta anos, e levei-o comigo para os treinos. Parecíamos os mesmos dois putos (eu mais do que ele subentendido) quando jogávamos há vinte e cinco anos no salão da sede do rancho folclórico, simplesmente com mais ferrugem nas movimentações. 

Mas quando me deparo com o resultado daquela gravidez daquela loirinha transformada num homem de barbas de vinte e quatro anos, que me tratou na terceira pessoa, confesso que isso me deixou a pensar. Não que me sinta propriamente "velho", mas sinto o tempo a passar num abrir e fechar de olhos... 

Sinto o Tempo Passar

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Por Quem me Tomas, Expresso?


Não sei se se passa o mesmo convosco, mas eu que estou com imensa curiosidade em saber o que se estará a passar  de muito grave neste momento no país, mas que o Expresso - jornal que é dono do fundador do PSD - só irá divulgar algumas semanas antes das legislativas de 2023 ou a dois meses das autárquicas de 2025.

Quando, em vez de se fazer jornalismo se tem uma agenda política, parece que há um tempo certo para as notícias saírem. Por exemplo, a coisa mais grave que aconteceu no país no ano passado - o assassinato do cidadão ucraniano às mãos do SEF - só começou a ser notícia nove meses depois. E certamente que estas coisas não acontecem por acaso. 

Hilary Clinton teve os e-mails, Fernando Medina teve a partilha de dados. 

Eu confesso que nem prestei grande atenção a este caso, por um lado porque não voto em Lisboa,  e depois - mesmo não simpatizando muito com o autarca lisboeta - percebi logo o que estava em causa, mas, de facto esta história tem contornos tão hilariantes que merece ser mencionada, nem que seja para memória futura, porque diz muito como a guerrilha e a manipulação política passa muito pelos media que continuam a querer ganhar eleições.

O enquadramento. Saem as primeiras sondagens sobre as autárquicas em Lisboa e, surpresa, o mordomo de Passos Coelho que fez a venda e privatização dos CTT, parece não encantar os eleitores e Medina continua destacado. Bom, se o candidato de direita não dispara, se calhar o melhor é arranjar um escândalozito para ver se a coisa se inverte, não? Ó Expresso, não tens aí nada que se possa arranjar?

Em Janeiro uma emigrante russa falou aos jornalistas e reportou esta situação da partilha de dados na Câmara de Lisboa, mas simplesmente ninguém ligou, talvez porque, no entender dos jornalistas, a questão não fosse relevante. Ora bem, mas então que tal lançarmos agora essa notícia para ver se atolamos o Medina na lama e o nosso candidato de direita se chega à frente? Bora lá então!

E é então que, seis meses depois de uma emigrante russa se ter queixado, como que por milagre das coincidências, aparece a notícia plantada na primeira página do Expresso, logo em vésperas da campanha eleitoral para as autárquicas! Não há mesmo coincidências e se calhar podiam disfarçar um bocadinho melhor!

Como facilmente se percebe não há aqui uma intenção de denunciar algo que está mal, e é verdade que está e precisa ser corrigido - mas porquê só Lisboa? Sim Lisboa tem embaixadas - mas e o que se passa nas outras centenas de municípios por esse país fora? Se eu organizar uma manifestação também não quero que os meus dados pessoais sejam públicos! E curiosamente, e não que me surpreenda, já ficamos a saber que mais de metade das câmaras viola o código de proteção de dados, tal como Lisboa! - Não, não há aqui o dever de informar, o que há aqui no jornal Expresso é uma agenda política, não escondida pois como se vê até é por demais evidente, para enlamear um candidato para que o outro possa tirar dividendos. E isto não é jornalismo, é outra merda qualquer. E sem jornalismo isento também não existe democracia, existe sim outra merda qualquer. 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

MILAGRE!! Tenho Uma Mandala Que Chora!


 O milagre deu-se ontem. Por acaso até estava a chover mas isso não interessa nada para o caso. Andava eu a fazer a ronda pelas suculentas que estão na varanda da minha mãe e eis senão quando vi uma Echeveria mandala siamesa a chorar! Uma planta a chorar vejam só!

Isto só pode ser um milagre! Uma aparição! Foi logo o que eu pensei!

Deus Nosso Senhor Seja Louvado que recebi a graça do Espírito Santo! 

Mas eu como sou uma pessoa que gosta de partilhar, tenho que mostrar isto para todo o mundo ver! Quem quiser ver pode vir cá a casa rezar à Santa Mandala siamesa. Até tem uma boa escadaria com esquinas vivas para andar a fazer penitência de joelhos e se se esbardalharem pelas escadas abaixo a santa ainda ficará mais contente!

Depois no final estão todos convidados a deixar uma boa oferenda, especialmente em dinheiro, para a Mandala claro! não é para mim!, porque sabem como é, a vidinha custa a todos e a planta não se cuida sozinha!

Também estou aberto ao marketing social, e posso até vender o "naming" (como agora se diz em estrangeiro). Sei lá, assim de repente pode passar a chamar-se "Santa McMandala" ou "Santa MandalaBock". 

Todas as possibilidades estão em cima da mesa, mas o mais importante é escutar, e espalhar a palavra da Santa Mandala aos quatro cantos do mundo e trazer muitos peregrinos ao grande Porto!

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Quando te Conheci Não Pensei que Gostasses de Futebol


 Se eu fosse remexer nas dezenas de cartas que trocamos, por certo que lá pelo meio encontraria uma em que ela me diz "quando te conheci pensei não gostasses de futebol". Ora, isto não deixa de ser curioso, porque foi precisamente numa conversa de futebol entre amigos comuns que nos cruzaram pela primeira vez diretamente (porque indiretamente há muito que os meus olhos tinham reparado naquela adolescente de quatorze ou quinze anos, tal como há muito ela já tinha reparado em mim, principalmente quando eu me sentava na mesma soleira da porta, da mesma casa da rua Barão de São Cosme, onde ela também gostava de se sentar enquanto espvaera a camioneta). 

E foi nas traseiras duma camioneta que ambos apanhamos, que estivemos uns quantos à conversa. Lembro-me bem da Vânia, a mais afoita defensora do seu FC Porto, bem como da Patrícia, sua prima, que mora aqui na aldeia, e talvez também o Mauro estivesse presente; se não esteve nessa ocasião, esteve depois, em muitas outras conversas, nas traseiras de muitos outros autocarros, que naquela altura chamávamos de camioneta ou carreira. Nessa tal conversa sobre futebol, retenho na minha minha cabeça que terei mantido uma postura de Álvaro Cunhal, que, perante a argumentação do Mário Soares, lá ia soltando, de vez em quando, um "Olhe que não, doutor, olhe que não". 

E se eu encontrasse a tal carta em que ela me diz que quando me conheceu não pensava que eu gostasse de futebol, procurando bem, nas outras dezenas de cartas que lhe escrevi, encontraria também a carta em que lhe respondi (porque ela mas devolveu, todas, como se tivessem sarna) em que lhe terei respondido que, sim, gostava de futebol, mas que não me tinha por fanático. Que gostava de analisar o jogo dentro das quatro linhas e que tinha as minhas opiniões.

Mas não deixa de ser muito curioso e até irónico. Quando me conheceu ela pensava que eu gostava de futebol; já eu, quando anos depois começamos a namorar, nunca pensei que um dia ela me pedisse para a levar à festa do "Penta" porque queria-se juntar à multidão em festa com as amigas da escola. "O Jardel até me disse adeus!". E eu que nem imaginava que ela fizesse ideia de quem era o Jardel. 

Relembrei esta passagem da minha vida quando, por estes dias, começou o Europeu de futebol. Como que me perguntei se deveria - sei lá, por dever patriótico? - ver os jogos da seleção, ou se iria cometer a heresia e o pecado mortal de ignorar os jogos da seleção. 

Decidi ignorar porque a paixão, aquele fogo que arde sem se ver, há muito que se extinguiu completamente e o rescaldo, aqueles trabalhos que se fazem para que não haja reacendimentos, foram muito bem feitos nos últimos quase dez anos, e, entretanto, os eucaliptos foram substituídos por carvalhos e azevinhos, e não há forma do interesse ser reacendido. 

Posso afirmar que ser um um ex-adepto de futebol como sou hoje, é como se tivesse deixado de fumar e já conseguisse ver com clareza a estupidez que cometi durante tantos anos a gastar dinheiro que me faz falta e a dar cabo da saúde com os cigarros. 

Hoje, se alguém me conhecesse assim, ignorando o futebol e toda a irracionalidade que envolve o fenómeno, muito estranharia que um dia gostei de futebol, que vibrei com as vitórias ou ficava pior que estragado nas derrotas. Se hoje fosse uma criança, ninguém me iria querer chatear porque o clube da minha simpatia perdeu - ou poderia dar também o exemplo do emprego, sim, porque parece que crescemos, mas continuamos a ter os mesmos comportamentos de criancinha, em que se fica calado como um rato quando o nosso clube perde, até se diz que não se gosta de futebol, mas depois, subitamente, já gozamos com os outros, quando é o clube dos outros a perder. Tristes aqueles que ficam felizes com o mal dos outros, é o que vos digo. 

E, se hoje alguém me tivesse conhecido a ignorar este aborrecido espetáculo de hora e meia - porque a verdade é essa, hoje em dia o futebol é uma verdadeira seca! - e em que a vitória é tantas vezes decidida pelos homens do apito, e em que todos ganham salários pornográficos à custa do pobre que vai ao estádio ou tem uma assinatura de televisão, quando mal ganha para comer - quanto muito, o que me poderia dizer, uns tempos mais à frente, seria: "nunca imaginei que um dia tivesses gostado de futebol". 

*na imagem Sócrates, antigo jogador de futebol brasileiro, médico e filósofo, que ficou conhecido por Doutor Sócrates e pelas suas convicções políticas

# O Benfica Deixou de Ter Seis Milhões de Adeptos

# Quando o Meu Avô Rasgou o Cartão de Sócio

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Conversas Improváveis (60) - Figurante na Praça da Alegria

A minha amiga Pu:

- Então, e emprego, que tal?

Olha, vi mais dois anúncios hoje que vou responder. 

Vai fazer de figurante na Praça da Alegria. Com esses teus cabelos, ainda te arranjavam uma novela de época!


Que Animal Inteligente és Tu?

  Tinha encontrado este passatempo no site da BBC e resolvi fazer. Tem lá muitos mais questionários divertidos, mas eu resolvi fazer só este. E então, pronto, eu sou um corvo! Gosto!



Então e vocês?




domingo, 13 de junho de 2021

O Carteiro Veio Entregar uma Pizza!!

 Não fazia ideia que se podiam enviar pizzas pelo correio e fiquei surpreendidíssimo quando na 6a feira o carteiro veio entregar uma! 

Na verdade no interior não vinha uma pizza mas sim o livro "Até amanhã, camaradas" de Manuel Tiago.

sábado, 5 de junho de 2021

Maria João Abreu e a Última Ida ao Teatro

Como bom acumulador de tralha, costumo guardar todos os bilhetes de concertos, idas ao cinema, até pulseiras de festivais! E por estes dias andava aqui no quarto a fazer umas grandes arrumações, quando encontrei este folheto da peça de teatro "Boudoir". 

Tinha visto que a peça, que se inspira na obra do Marquês de Sade iria estar em cena no Teatro Constantino Nery em Matosinhos e comentei na altura com namorada se ela não quereria ir comigo. Quando li "sete diálogo libertinos" pensei que fossem diálogos de vários livros da obra, não estava propriamente à espera que fossem diálogos exclusivamente da "Filosofia na Alcova" (La Philosophie dans le boudoir)! Porque de facto é bastante arrojado e a peça retratou-o muito bem.

A peça foi protagonizada pela Maria João Abreu que interpretou a depravada Madame de Saint-Ange. Eu não sou crítico de teatro, ainda por cima porque contam-se pelos dedos as vezes que fui ver uma peça, mas gostei e acho que a atriz e restante elenco esteve bem. 

Ironicamente, pouco tempo depois de protagonizar esta peça de Sade, que para além dos diálogos filosóficos é como se sabe de cariz sexual e bastante explícito, a protagonista Maria João vê-se envolvida numa sátira à sua pessoa por causa da expressão "chuva dourada" que usou num programa de televisão quando um outro ator esteve internado entre a vida e a morte. 


A segundo ironia é que, com a chuva dourada ou não, o tal ator lá acabou por se salvar e a Maria João Abreu acaba por morrer relativamente jovem, e, se calhar, todos aqueles que a gozaram, acabaram depois por se mostrar todos muito comovidos com a sua partida antecipada.