quinta-feira, 24 de junho de 2021

Por Quem me Tomas, Expresso?


Não sei se se passa o mesmo convosco, mas eu que estou com imensa curiosidade em saber o que se estará a passar  de muito grave neste momento no país, mas que o Expresso - jornal que é dono do fundador do PSD - só irá divulgar algumas semanas antes das legislativas de 2023 ou a dois meses das autárquicas de 2025.

Quando, em vez de se fazer jornalismo se tem uma agenda política, parece que há um tempo certo para as notícias saírem. Por exemplo, a coisa mais grave que aconteceu no país no ano passado - o assassinato do cidadão ucraniano às mãos do SEF - só começou a ser notícia nove meses depois. E certamente que estas coisas não acontecem por acaso. 

Hilary Clinton teve os e-mails, Fernando Medina teve a partilha de dados. 

Eu confesso que nem prestei grande atenção a este caso, por um lado porque não voto em Lisboa,  e depois - mesmo não simpatizando muito com o autarca lisboeta - percebi logo o que estava em causa, mas, de facto esta história tem contornos tão hilariantes que merece ser mencionada, nem que seja para memória futura, porque diz muito como a guerrilha e a manipulação política passa muito pelos media que continuam a querer ganhar eleições.

O enquadramento. Saem as primeiras sondagens sobre as autárquicas em Lisboa e, surpresa, o mordomo de Passos Coelho que fez a venda e privatização dos CTT, parece não encantar os eleitores e Medina continua destacado. Bom, se o candidato de direita não dispara, se calhar o melhor é arranjar um escândalozito para ver se a coisa se inverte, não? Ó Expresso, não tens aí nada que se possa arranjar?

Em Janeiro uma emigrante russa falou aos jornalistas e reportou esta situação da partilha de dados na Câmara de Lisboa, mas simplesmente ninguém ligou, talvez porque, no entender dos jornalistas, a questão não fosse relevante. Ora bem, mas então que tal lançarmos agora essa notícia para ver se atolamos o Medina na lama e o nosso candidato de direita se chega à frente? Bora lá então!

E é então que, seis meses depois de uma emigrante russa se ter queixado, como que por milagre das coincidências, aparece a notícia plantada na primeira página do Expresso, logo em vésperas da campanha eleitoral para as autárquicas! Não há mesmo coincidências e se calhar podiam disfarçar um bocadinho melhor!

Como facilmente se percebe não há aqui uma intenção de denunciar algo que está mal, e é verdade que está e precisa ser corrigido - mas porquê só Lisboa? Sim Lisboa tem embaixadas - mas e o que se passa nas outras centenas de municípios por esse país fora? Se eu organizar uma manifestação também não quero que os meus dados pessoais sejam públicos! E curiosamente, e não que me surpreenda, já ficamos a saber que mais de metade das câmaras viola o código de proteção de dados, tal como Lisboa! - Não, não há aqui o dever de informar, o que há aqui no jornal Expresso é uma agenda política, não escondida pois como se vê até é por demais evidente, para enlamear um candidato para que o outro possa tirar dividendos. E isto não é jornalismo, é outra merda qualquer. E sem jornalismo isento também não existe democracia, existe sim outra merda qualquer. 

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