quinta-feira, 27 de julho de 2017

A melhor cena de engate de sempre

E por falar em viagem, comboios e estações, encontros e desencontros:

Pensa assim. Avança no tempo, dez, vinte anos e estás casada.

Só que o teu casamento já não tem a mesma energia. Começas a culpar o teu marido.

E começas a pensar em todos os gajos que conheceste na tua vida e no que teria acontecido se tivesses escolhido um deles. Bom, eu sou um desses gaijos. Sou eu! Podes pensar nisto como uma viagem no tempo, de lá até agora, para ver o que estarias a perder. Vê isto como um grande favor para ti e para o teu futuro marido do que isto poderia ser. Uma hipótese de veres como realmente não perdeste nada. Que afinal eu sou uma merda como ele, tão desmotivado e chato quanto ele, e tu fizeste a escolha acertada e estás muito feliz.



Acho que descer do comboio com este desconhecido seria praticamente impossível de recusar, tivesse ela namorado ou não. E se tivesse namorado, e sendo ele um homem, deveria ela recusar? Será que a partir do momento em que estamos numa relação (no caso dos heterossexuais) só podemos conhecer pessoas do mesmo sexo que o nosso? Se calhar essa é a teoria da burka..

E se não tivesse namorado, o que fazer com este desconhecido que tanto impacto causou, mas que vive lá do outro lado do mundo?
- Nem sequer pensar nisso porque depois vamos sofrer imenso?
- Vamos-lhe dar uma oportunidade e logo se vê?
- Ou se gostarmos muito dele, não há entraves para o amor?

É um dos meus filmes preferidos, e no meu modesto entender, esta é provavelmente uma das melhores cenas de engate de sempre.


Antes de Amanhecer / Richard Linklater / 1995

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A Jurisprudência Taliban dos Tribunais Portugueses

A justiça deveria ser justa e deveria ser igual para todos. Deveria ser igual tanto para ricos e pobres, como para homens e mulheres. Mas claro que não é! Há a justiça para o homem que rouba um polvo e um shampô no Fisco Doce, e depois há a justiça que, depois de andar oito anos a investigar o caso dos submarinos comprados pelo Paulinho das Feiras (que há muito deveria estar atrás das grades) acaba por arquivar o processo. Enquanto isso na Alemanha quem os vendeu está preso, tal como os políticos que os compraram na Grécia. Aqui quase ninguém vai preso, especialmente se é rico ou político, ou então, prende-se arbitrariamente primeiro para investigar depois.

Mas ninguém precisa fazer um curso de Direito para saber que as pessoas devem ser tratadas por igual, independentemente do seu sexo, raça, cor língua, religião ou opinião política. Estou em crer que  todos aprendemos na escolinha a Declaração dos Direitos Humanos.


Mas em Portugal, um coletivo de juízes (dois homens e uma mulher) do Supremo Tribunal Administrativo reduziu o valor da indemnização que a Maternidade Alfredo da Costa teria de pagar a uma mulher (menos 61 mil euros) devido a negligência médica, fruto de uma operação mal sucedida que ali  realizou há 19 anos, com o argumento brilhante que "já tinha mais de 50 anos e dois filhos, uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens". 

E hoje de manhã, como todas as manhãs, tenho por hábito passar pelas capas dos jornais, e dar uma vista de olhos no site do The Guardian e foi com regozijo que abri uma notícia que dizia "Para o Tribunal Europeu, o sexo é igualmente importante nas mulheres mais velhas". E as minhas suspeitas confirmavam-se, a notícia do site do jornal inglês, referia-se ao sucedido em Portugal. E hoje, a justiça portuguesa é motivo de chacota por todo o mundo graças e estes juízes iluminados.

E o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos europeu considerou os juízes portugueses culpados de descriminação sexual e de género:

"A igualdade de género ainda é um objectivo a atingir, e uma das formas de o fazer é abordando as causas profundas da desigualdade gerada pelos estereótipos", pode ler-se na sentença.


E o que eu pergunto é: afinal que merda de juízes é nós temos em Portugal? Quem é que anda a formar esta gentalha? O que é que esta gente afinal aprende nas universidades? O que é que estes juízes sabem da vida? 

É que o que transparece, é que esta gente tomou uma decisão, como de uma conversa de café se tratasse. "Ah, esta mulher já teve dois filhos, já não precisa foder. Já cumpriu a sua função. Já passou do prazo. Que vá mas é para a cozinha e que cuide dos filhos." 
Tomaram uma decisão ridícula, com argumentos sem qualquer base científica que os sustente!

Estamos a falar de uma decisão que demorou 19 anos! Não há justiça quando só se toma uma decisão 19 anos depois. E depois os juízes não têm de fazer juízos de valor, nem têm de usar argumentos que poderiam muito bem sair da boca de um qualquer bêbado machista e misógino em plena conversa de café. Em Portugal a justiça não é justa, e infelizmente os juízes fazem jurisprudência à moda dos Taliban.


A Viagem

Nunca fui de me apaixonar facilmente. Talvez isso também tenha a ver com o facto de eu não ser a pessoa-tipo por quem facilmente os outros se apaixonam. Ou talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, afinal, o facto de nos apaixonarmos por alguém nada tem a ver com os outros se apaixonarem ou não por nós. Mas ainda assim, nestes jogos, há sempre um que corre mais atrás do outro e o outro pode-se deixar apanhar, pode fugir, pode ficar no seu canto, ou pode simplesmente aceitar jogar o jogo e ver no que a coisa vai dar. 

Se eu corri mais ou deixei-me apanhar mais vezes? Não sei, mas acho que a coisa deve estar mais ou menos a fazer. Acho que na maior parte das vezes nem nós mesmos sabemos se estamos a correr atrás ou se estão a correr atrás de nós. Simplesmente, às vezes, é bom ter uma companhia ao longo do caminho, e não sabemos muito bem se essa companhia vai chegar ao fim da viagem ou se vai sair umas estações antes.  

As viagens são longas. E muitos são os caminhos que cada pessoa percorre e os diferentes caminhos de diferentes e desconhecidas pessoas cruzam-se constantemente, muitas vezes sem sequer esperarmos ou estarmos predispostos para que nos acompanhem. Eu não sei se é karma, se é destino ou nenhum dos dois, mas ainda assim, somos sempre nós que decidimos se determinada pessoa pode entrar nas nossas vidas ou não. E se entra, somos sempre nós que decidimos caminhar junto com ela, ou quando é que ela terá de seguir a sua viagem sozinha. 

Comigo, infelizmente, nesta longa viagem que é a vida, tem-me acontecido inúmeras vezes de eu cruzar no caminho de outras pessoas, que também elas andam nas suas viagens e, muitas vezes sem nos apercebermos, decidimos seguir viagem juntos. Mas digo infelizmente, porque algum tempo depois, passe muito ou pouco tempo, muitas acabam por embarcar por outras linhas e decidem não me acompanhar.

Via Pinterest
No que ao amor diz respeito, é preciso (pelo menos para mim é) que eu caminhe durante um bom tempo sozinho até que deixe alguém acompanhar-me. Para mim tem sempre sido preciso tempo. Muito tempo. Não é tempo para esquecer porque eu nunca vou esquecer, mas é preciso que o tempo cicatrize e me cure de alguma forma. E não é de uma enfermeira que eu preciso, ainda que brincar aos médicos pudesse ser engraçado. Mas é mesmo de tempo, só de tempo que eu preciso. 

Lembro-me perfeitamente que já tinha passado muito tempo, quando certa noite, num bar do Porto, uma jovem que lá trabalhava a recolher copos, que eu tinha acabado de conhecer (apesar de termos combinado qualquer coisa num fórum da net) e que já estaria bem bebida, de repente, começa-me a meter a mão, por dentro da roupa. Parecia que era tudo dela. Mas não era. Aquilo além de me causar arrepio, deixou-me um pouco desconfortável. Tanto tempo depois, era a primeira vez que uma mulher me punha a mão no pelo. Literalmente. Até então, durante muitos anos, eu só havia sido tocado pelas mesmas mãos que eu tão bem sabia como me tocavam. E aquelas eram umas mãos estranhas para mim. No fundo, senti-me até como se estivesse a trair. Evidentemente que não a mulher que há muito já havia decidido seguir viagem por outra linha, rumo a um novo destino, na companhia de outra pessoa, mas era como se me estivesse a trair a mim. Como se traísse o sentimento por aquela pessoa,e que estava tão enraizado dentro de mim. Era como se eu não pudesse. E eu podia. Podia tudo que eu quisesse com aquela jovem alcoolicamente com o pito aos saltos. Podia mesmo tudo.

E o tempo vai passando e novas pessoas cruzam o nosso caminho e interagem connosco. Ao mesmo tempo, a estação daquela pessoa que antes caminhava connosco e desceu para seguir viagem sem nós fica cada vez mais para trás, mais distante. Às vezes até é confuso.Temos saudades do passado e ao mesmo tempo saudades do presente. Mas o novo começa a ficar cada vez mais presente nas nossas vidas, dia após dia, após dia. Passado e presente distanciam-se lentamente. Novas e frágeis ilusões se criam, muitas vezes para se desmoronarem mais à frente de novo. Mas seja como for, nós temos sempre de prosseguir viagem...

sábado, 22 de julho de 2017

Um Ginásio é um Sítio que Cheira a Chulé

Até ontem, eu nunca tinha entrado num ginásio. Nem numa sala de judo, de boxe ou num ringue de hóquei em patins. "Isto é tudo muito old-school" disseram-me no ginásio.  E de facto reparei que aquelas máquinas diabólicas que estavam naquele ginásio já deviam ser quase tão antigas como as G3 portuguesas usadas na guerra colonial! 

Quando desconhecemos determinada coisa, como eu desconhecia (e ainda desconheço) o que é um ginásio, vamos criando uma imagem (certa ou errada) baseado em tudo aquilo que ouvimos acerca. E até hoje o que eu sempre achei, é que um ginásio é um sítio onde ninguém gosta de ir para fazer o que se lá faz. A ideia que tenho (e que pode ser errada) é que as pessoas pagam uma mensalidade, que automaticamente sai da conta bancária, para se obrigarem a fazer algum exercício físico que na verdade não gostam de fazer, porque se gostassem iam correr, andar de bicicleta, ou compravam até uma ou duas máquinas de treino para ter e usar confortavelmente em casa quando lhes apetecesse.

Então, para se obrigarem a fazer algo que detestam, as pessoas pagam bom dinheiro, todos os meses, para se obrigarem a fazer exercício. Porque se não mais lá puserem os pés, o dinheiro continuará a sair e ficam com a consciência pesada, e lá vão elas, quando calha, uma ou duas vezes por semana, forçarem-se a fazer algo que não gostam.
E isto só pode ser um negócio genial, afinal, vende-se algo que as pessoas não precisam, que não gostam de fazer, mas só porque é moda e fica bem fazer, lá vão para os ginásios fazer o que não gostam de fazer e que podiam fazer sem gastar um tostão.


E até ontem nunca tinha entrado num ginásio, numa sala de judo, de boxe nem num ringue de hóquei em patins.

Lá, vi diversos quadros nas diferentes salas. Alguém supostamente famoso, frases motivacionais e desenhos dos músculos do corpo humano. No chão da sala de judo, placas azuis, que pareciam peças de um puzzle gigante a cobrir todo o espaço. E na sala de boxe estavam pendurados vários sacos. Não pude resistir, apalpei-os e dei dois ou três golpes com as mãos. Mas achei mais interessante experimentar com os pés. E depois de pontapear vários sacos a meia altura, dei um pontapé no saco mais pequeno, todo preto, e o resultado foi achar que podia ter partido o pé de tão duro que aquilo era!

Até ontem nunca tinha entrado num ginásio, mas agora já fiquei a saber um pouquinho melhor como é. E uma das coisas que pensei foi: um ginásio é um sítio que cheira a chulé.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Sonhos Destruídos


"Crescer e tornarmo-nos adultos é ver todos os nossos sonhos serem destruídos". 
(N.)

Para o Meu Anjo Caído


As I draw up my breath,
And silver fills my eyes.
I kiss her still,
For she will never rise.

On my weak body,
Lays her dying hand.
Through those meadows of Heaven,
Where we ran.

Like a thief in the night,
The wind blows so light.
It wars with my tears,
That won't dry for many years.

"Loves golden arrow
At her should have fled,
And not Deaths ebon dart
To strike her dead."


For My Fallen Angel / Like Gods of the Sun / My Dying Bride (1996)

domingo, 16 de julho de 2017

Tragédias? Como era no governo de Passos Coelho?!

Tenho ouvido, aqui e ali, com grande surpresa, a propósito da tragédia de Pedrógão Grande, algumas declarações dos dirigentes dos partidos de direita, criticando a atuação dos atuais ministros, quando ainda há pouco mais de um ano eram eles que estavam na cadeira de poder. 

E a minha pergunta é: será que já ninguém se lembra do que se disse no governo de Passos Coelho no Outono de 2015? Uma grande inundação abateu-se sobre Albufeira, com grandes prejuízos e uma vítima mortal a lamentar.



No meio de todo aquele cenário, eis que chega o ministro da Administração Interna Calvão da Silva e profere as seguintes pérolas:

“Deus nem sempre é amigo e de vez em quando dá-nos a provação”

Sobre a vítima mortal, disse que o homem de 79 anos "Entregou-se a Deus" e "com certeza que lhe reserva um lugar adequado".



E segundo ele, as inundações no Algarve deveram-se a uma "fúria demoníaca", a um “ato de Deus, um "act of God" como se diz numa língua estrangeira que a maioria das pessoas desconhece. 

E sobre quem ficou com prejuízos avultados, as pessoas tinham era que ter um seguro:

"Sei o que é ser pobre e tentar ser alguém. A mobilidade social funciona para todos e todos temos de ter a nossa responsabilidade também no sentido de dizer ‘eu tenho um negócio, vou fazer o meu seguro, para que, se o infortúnio me bater à porta, tenha valido a pena pagar o prémio"


Em face disto, aos olhos dos partidos de direita, ficámos a saber que o incêndio de Pedrógão Grande deveu-se à ira de Deus ou à fúria do Diabo. Um dos dois, tanto faz! No fundo devíamos era ficar felizes porque aquelas pessoas todas entregaram-se a Deus, mas Ele reserva-lhes um lugar melhor! Com jeitinho os familiares ainda deviam era pagar! 

"Se tem um familiar do agregado familiar que se "entregou a Deus" e foi para o Hotel Celestial, não se esqueça de declarar no IRS e pagar o impostozinho"!

E quem ficou sem casa? Bom, certamente que a maioria das pessoas guardou um dinheirinho para ter um seguro que cubra os prejuízos. Quem não tinha? Olha, azar. É a vida... (escrever aqui outra expressão religiosa qualquer)!

Estamos conversados sobre a sensibilidade dos fascizóides. 

Café Frio

Ora bem, depois de em 2016 a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter vindo alertar que beber café (quente) provocava cancro, e agora, apenas dois anos depois, já vir dizer, apresentando um estudo que, supostamente, o comprova, que quem bebe mais cafés vive mais anos, então só posso concluir uma coisa:
Há por aí muita gente a beber muitos cafés frios! Ou então beber café quente provoca cancros que prolongam a vida, mas até do que ser saudável e não ter cancros!


"Por favor, era um cafézinho... mas numa chávena bem gelada!"

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O Natural deveria ser o Normal

"Neste livro explica também qual é que é a diferença entre um parto natural e um parto normal...


Pois, porque o normal está muito longe do que é natural. Nós hoje já consideramos normal um sumo de laranja artificial. Um sumo natural custa muito mais dinheiro. Não devia.
Portanto, pegando um pouco nesse exemplo, o que as pessoas hoje chamam de parto normal, são partos altamente intervencionados e que se nós fôssemos perguntar a um bebé, se um bebé falasse no final desse parto, se calhar nós não iríamos gostar de ouvir aquele bebé. Por isso nós temos de ter algum cuidado e tentar desconstruir aquilo que é normal para que seja mais natural. Tal e qual como se está a fazer em tantas áreas da sociedade, nomeadamente a agricultura. O que é normal, já não é natural também. E está-se a procurar isso. E vários países da Europa também já estão a crer que o natural seja o normal por uma questão de saúde das pessoas, porque sabemos que o natural é mais saudável. E quem duvida disso, realmente, tem de procurar informação. 



sexta-feira, 7 de julho de 2017

7-7-7

Passam hoje dez anos que estive em Panóias (Braga) para um concerto de Orphaned Land com as bandas portuguesas Thanatoschizo e Thee Orakle.

Há dez anos eu era como um pássaro que viveu toda a vida numa gaiola, e que de repente, quando é libertado sente-se preso. Bom, é verdade que eu nunca fui pássaro para saber ao certo o que eles sentem, mas eu só sei que depois de tantos anos numa relação, a abrupta separação deixou-me perdido, como o tolo no meio da ponte. Sem saber o que fazer. Mas saía muito, acompanhado e também sozinho, e ia a muitos concertos, nem que fosse só para não estar metido em casa a pensar sempre no mesmo.

E no dia 7 de Julho de 2007 rumei a um hotel à entrada de Braga, onde me encontrei com um casal amigo. Deixámos os pertences, e dirigimo-nos para o concerto. E há dez anos, como se pode ver no vídeo, as pessoas curtiam mesmo os concertos, não passavam o tempo todo de pequenas televisões na mão para filmar ou fotografar, como agora. E não que não houvessem boas máquinas fotográficas que também filmavam bons vídeos, mas o Youtube ainda só nasceria em 2005 e as redes sociais ainda não eram o que são hoje. Então, para quê filmar se não se pode mostrar aos outros? Essa é a questão. 

E foi a primeira e única vez que vi os israelitas Orphaned Land ao vivo:

 

Nora El Nora, ne'ezar begvura shuvi elay malki
Dodi refa, nafshi nichsefa, lebeitach malchi
Nora El Nora, ne'ezar begvura

Nora Ashira, Lach akabira, shir mahalali
Lecha etna menat chevly vegoraly

Bekol zman azor el nora, geza avraham, netzer tifa'ara,
Ata el hai noten torah

Em 2007 saiu também o EP "Secret" dos transmontanos Thee Orakle. Haveria de os ver a primeira vez em Maio na Fábrica do Som, no Porto. Vi o concerto a um ou dois metros dos vocalistas, e tanto gostei que até comprei logo o EP à saída.

Micaela Cardoso - Thhe Orakle (7.7.2007)
Foi uma banda que acompanhei em inúmeros concertos, e quase que me tornaria uma espécie de groupie, pois acabaria de privar com alguns elementos da banda, e ainda haveria de descobrir que o baixista vivia (enquanto estudava no Porto) a duzentos metros do meu trabalho.



...Bela era a cena
Ou de ter ainda o sentir
Deslumbrante a paisagem
Nessa onda levava-me serena
Á vela solta em plácida viagem...


E tu, por onde é que estavas há dez anos?



quinta-feira, 6 de julho de 2017

Carneiro daquele que sabe mesmo a Carneiro

Hoje levei carneiro para comer no trabalho. Mas atenção, era daquele carneiro que sabe mesmo a carneiro. Daquele que a Judite de Sousa comeu no Paquistão. Vamos lá ver se nos entendemos... É mesmo daquele que sabe a carneiro, não é daquele que sabe a peixe-espada!


domingo, 2 de julho de 2017

Monogamia ocorre em Menos de 5% dos Mamíferos... e nem os Arganazes são fieis!

"O amor monogâmico acontece em algumas aves (como o mandarim) e em menos de 5% das espécies dos mamíferos. Entre elas, claro, estão os seres humanos, os castores, as lontras, os lobos e os arganazes-do-campo. 

E eu admiro extraordinariamente a sua fé nos seres humanos... para os pôr nesta lista com essa tranquilidade toda!


Arganazes-do-campo  (Todd Ahern)

Eles (os arganazes-do-campo) assim que acasalam, os machos e as fêmeas preferem sempre a companhia do se parceiro, andam sempre lado-a-lado e zelam muito pelos seus filhos. 

Mas repare uma coisa que disse, que é importante: assim que acasalam. Tem de haver acasalamento. Agora vamos pela estrada do costume nestes trabalhos, que é: e como é com os humanos?
A transposição imediata é dizer assim: a primeira pessoa com quem nós tivermos relações sexuais, nós ficamos com ela em relação monogâmica até ao fim da vida. 

O que acontece é que, como nós já dissemos (e neste artigo não vem mencionado e na minha opinião devia) é que mesmo nos arganazes monogâmicos, aquilo que se verifica é uma "monogamia social, porque pela análise genética dos bebézinhos arganazes, chegou-se à conclusão que em famílias monogâmicas, havia crias que não eram daquele pai. Ou seja (...) muitos deles são socialmente monogâmicos, mas sexualmente não são monogâmicos.  

O Amor é... (Diário)  - Júlio Machado Vaz


Se calhar foi o Raio que vos Parta Ou Factos Alternativos à moda Portuguesa

Primeiro foi o raio, o único responsável pelo incêndio de Pedrógão Grande:



Agora, mais de duas semanas depois da tragédia, o Instituto de Meteorologia vem contrariar a tese da polícia judiciária, e afirma que não pode ter sido um raio, visto que as primeiras descargas elétricas só foram registadas três horas depois do início do incêndio! Uns encontram a suposta prova, a árvore atingida pelo suposto raio, outros afirmam que não houve raio nenhum! 




Se calhar, quem começou o incêndio que vitimou 64 pessoas foi o raio que vos parta a todos!

Ou factos alternativos à Portuguesa:

De há quinze dias para cá, que isto tem sido um fartote de notícias e logo a seguir outras notícias a contrariar as anteriores!

Caiu um avião no combate ao incêndio.
Caiu? Não caiu nada! Nenhum avião caiu no combate aos incêndios!

Há pessoas a suicidar-se por falta de apoio psicológico.
Não há nada. Nenhuma pessoa se suicidou. Aliás, o apoio psicológico tem sido excelente!

Agora ontem ficámos a saber que material militar foi roubado da base de Tancos.

Vai uma aposta, que ainda vamos ficar a saber que afinal nenhum material foi roubado?
Deve ter sido só o tipo que fez o inventário que contou mal!

É  o rigor político e jornalístico no seu melhor.

As nossas rotinas dão poemas e filmes

Durante o dia apanhei na rádio - por duas vezes! - o programa CineMax, e daquela revista dos filmes que estão em cartaz, só um acabou por me captar a atenção. E começou por prender-me a atenção por causa do nome Jim Jarmusch, porque o último filme que tinha ido ver - sim já foi há muito tempo! - foi precisamente deste realizador, mas também já tinha visto pelo menos um outro, o "Homem morto".

E por grande coincidência, ao fim da tarde, uma amiga minha pergunta-me se não quero ir ao cinema ver o filme Paterson, precisamente o tal filme que me tinha chamado a atenção, e que tinha ficado a saber no programa, que se tratava do relato do quotidiano de um casal, durante uma semana. 


Escolhemos uma sala de um teatro onde eu nunca tinha estado, em detrimento das salas mais confortáveis dum num grande centro comercial, sem direito a pipocas nem refrigerante cancerígeno, nem a stress para estacionar o carro ou enorme bicha para a bilheteira.

Eu gostei do filme:

      

Não nos conta uma história com princípio e fim, conta-nos simplesmente o dia-a-dia, de Segunda-feira a Domingo, na vida de um de casal comum, desde o momento em que Paterson (Adam Driver) acorda, sempre depois das seis horas, mas sempre (como eu) sem despertador, até ao fim do dia, em que pega no cão Marvin (que a mulher terá querido comprar porque agora está muito na moda) e vai dar o seu passeio noturno, parando sempre no mesmo bar onde bebe a sua cerveja, e quando a sua cerveja chega ao fim ele sente-se feliz. Volta para casa, para no dia seguinte ter um dia exatamente igual ao anterior

O filme mostra-nos que a beleza da vida está nas pequenas coisas, nos pequenos detalhes. 

Paterson é motorista de autocarro na cidade onde nasceu e que se chama também Paterson. Todos os dias sai de casa, com a sua lancheira na mão, daquelas típicas que se vê nos filmes americanos, feitas de chapa (da marca Stanley, pormenor completamente irrelevante em que reparei) onde guarda a sande que a sua bonita, criativa e sonhadora mulher Laura (Golshifteh Farahani) lhe faz todos os dias, e onde vê a fotografia dela (que ela lá terá colocado) sempre que abre a tampa da lancheira. 


Peterson é motorista de autocarro numa cidade chamada Peterson. Peterson é também um livro de poemas escrito por William Carlos Williams que Peterson, o motorista, leu e tem na sua estante, juntamente com muitos outros livros só de poesia. No bar, o dono, coloca na parede todos os recortes de jornais de gente famosa que se relacionam com a pequena cidade Peterson, que nunca terá direito a autocarros novos. 

Certo dia o autocarro avariou. Não, "não explodiu numa bola de fogo", foi só um problema elétrico. E então Peterson tinha de contactar a empresa para rebocar o autocarro e uma menina perguntou-lhe se ele não tinha um smartphone, ao que ele respondeu que não. Ela ofereceu-lhe o seu para ele telefonar, que tinha um formato de boneco de criança. "Se calhar deverias comprar um", disse-lhe em casa a mulher. Ao que ele respondeu: "Durante milhões de anos o mundo viveu bem sem eles". Já a sua mulher tem computador portátil, Iphone, Ipad e essas bugigangas eletrónicas todas. 


Peterson é um motorista de autocarros,  mas é também um poeta. E em todos os tempos mortos, Peterson pega no seu caderninho secreto e põe-se a escrever poemas, que nem rimam, tal como ele gosta. No início da semana ele começa a escrever um poema para a sua mulher, e se é para ela, como ele diz, então é um poema de amor, mesmo que comece a descrever os fósforos preferidos do casal.  


A mulher há muito que insiste com ele, que ele deveria fazer alguma coisa com aqueles poemas, que ele guarda secretamente, até mesmo dela. E ela acha que "todo o mundo deveria conhecer". E isto deixou-me a pensar na minha última querida namorada... Também ela achava que eu deveria fazer qualquer coisa com a minha escrita, pois achava mesmo que eu escrevia muito bem, apesar de eu sempre lhe ter dito que achava que não, que só sabia escrevinhar, não sabia escrever. Pus-me também a pensar em todas as pessoas anónimas, com quem nos cruzamos todos os dias, pessoas com quem até podemos trabalhar e que pensamos que conhecemos, mas que não sabemos que, por baixo daquela camada da rotina de todos os dias, e muitas vezes de empregos pouco relevantes, escondem-se pessoas com dons que ninguém imagina. Um simples motorista de autocarros, pode ser um grande poeta e ninguém sabe. Nem ele mesmo. 


Para reler depois dos 60

Não que eu ache que vá chegar aos sessenta anos, afinal, desde pequenino que cresci a ouvir dizer que não passaria dos vinte. E depois a doença, todas as drogas que já tomei e continuo a tomar, e que me podem matar de mil maneiras diferentes, que sempre me fez ter a lucidez de me preparar para não morrer de velho. E é curioso que já me falaram de uma pessoa, com a mesma doença que eu, e que ao que parece tem os mesmos desabafos... Quem sabe talvez seja uma espécie de defesa que as pessoas doentes têm, de se preparem e verem a morte mais próxima que as outras pessoas que, cheias de saúde, não têm essa preocupação. Ainda assim, também acho que só morremos quando tivermos de morrer. 

Via Pintrest

Mas se lá chegares lembra-te disto:

Não te tornes um velho toleirão que se baba por qualquer rabo de saia e que faz figurinhas deprimentes como se atirar à auxiliar ou enfermeira do hospital, à empregada de mesa do restaurante, à massagista das termas, à mulher-a-dias, ou outra qualquer com quem te cruzes. Sim, é verdade que muitos homens sempre tiveram esse tipo de comportamento pouco civilizado desde jovens - ainda por estes dias uma amiga, quando passávamos por determinado local contava-te que se tinha cruzado ali por um homem a masturbar-se no carro - mas sempre ouviste histórias (muitas contadas pela tua mãe) de homens mais velhos que mais parece que chega ali uma altura e dá-se um clique. Perdem a noção do ridículo e parece que querem à força toda copular com tudo o que mexe, mesmo que muitas vezes já não tenham com o que mexer.  E lembra-te do que aconteceu com o teu próprio tio, aquele que foi o irmão que não tiveste, e que perdeu completamente o juízo.

Se chegares aos sessenta anos e estiveres sozinho, como é o mais provável que vá acontecer, não penses que de repente uma qualquer boazona de trinta ou quarenta anos, de repente se vai apaixonar por ti! Não, ela não vai interessar-se por ti. Não, não ela está interessada em ti por pareceres o Gandalf e não vai achar que tudo o que dizes é a coisa mais inteligente do mundo. Ela provavelmente só estará interessada em sugar-te o mais que puder. E se passaste toda a vida adulta sem recorreres a putas, não vais começar agora depois dos sessenta, pagando um preço ainda mais caro. Compra uma boneca mecânica robotizada. Nesse tempo qualquer adolescente terá uma pelo que custa agora um telemóvel. 

Confia em mim, o teu Eu de quarenta anos, que tem agora um cérebro em melhor estado do que oque vais ter. Sim, eu vou-te dando Ginkgo bilova a beber até lá!