segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Ser Pobre Não é Crime...

Ser Pobre Não é Crime e o Rendimento Mínimo foi a Melhor Coisa que se Fez  em Portugal nos Últimos Trinta Anos


No tasco que serve presunto com mão - sim, não me enganei, devem ser uns três centímetros de presunto fatiado fininho, com pão - fiquei a saber que, apesar de no ano passado quase todo o concelho ter ardido,  andava a arder novamente aqui na união de freguesias, mas não propriamente aqui na minha aldeia. 

E é curioso que foi preciso, no dia anterior ter ido treinar, para ficar a saber que por lá andava a arder, primeiro porque vi o monte a arder, e depois o colega que ia treinar, escrever no grupo do Whatsapp, que não ia treinar porque tinha ficado de prevenção. 

E no dia seguinte, enquanto almoçava no tasco, fiquei a saber, porque na televisão mostrava o incêndios entre Penafiel e Gondomar. 

De imediato a simpática senhora que serve às mesas diz:

"Era meter os do rendimento mínimo a apagar incêndios".

E logo me ferveu o sangue!

O Rendimento Mínimo, criado por Guterres (que depois a direita como nada sabe fazer nada mudou o nome para Rendimento Social de Inserção) foi a melhor coisa que se fez em Portugal depois de António Arnaut (também do Partido Socialista) ter criado o Serviço Nacional de Saúde. 

Mas não sei porquê, nunca foi um apoio muito popular, pelo contrário! O Estado pode gastar milhões de euros seja lá no que for, por exemplo, num palco para a vinda do Papa, mas se dá 155€ a um pobre, que não dá sequer para se alimentar convenientemente durante um mês, ui que é o fim do mundo!


E é verdade, o rendimento mínimo são 155€, não são, como o outro acólito mentiroso passa a vida a dizer, que são mil euros e dá para ter um BMW à porta. É que cada pessoa que recebe o rendimento não é o Macaco que tem um Pinto da Costa que, apesar de declarar o salário mínimo, consegue construir uma casa de dois milhões de euros!

Mas, para esta senhora pobre - porque se vivesse bem não andava a servir à mesas - ser mais pobre do que ela, e, infelizmente, precisar de ajuda do Estado, é crime.

Para muitas pessoas, receber o rendimento mínimo é como se fosse um crime! E então têm que ser punidos! 

Tenho horror a Pobre!, dizia Caco Antibes!

Que os mais ricos, tenham horror aos pobres, e até calcem botas e vistam calças de ganga quando visitam um bairro social, até aceito, que outros pobres criticam os apoios a outros pobres, mais pobres do que eles, acho verdadeiramente aberrante. 

Eu nasci numa família, que, fruto das circunstâncias era muito pobre. Não passei fome, mas comi muita sopa e a minha mãe teve de trabalhar muito, porque, ao contrário do meu pai, quis pôr-me a estudar. 

E sempre tive apoio escolar. Se calhar, para estas pessoas, também deveria ter ido apagar incêndios! Ou, sei lá, varrer as ruas! Para me punir por eu ser pobre! Afinal eu tive culpa de ter nascido numa família extremamente pobre, que precisou inclusive da ajuda da família para poder ter um abrigo. 

Sim, foi o esforço da minha mãe, mas o Estado deve existir para diminuir as desigualdades e não aumentá-las e perpetuá-las. Senão para que serve um governo? 

Pequenos apoios, tal como, por exemplo, os que Lula da Silva implementou no Brasil, conseguem tirar milhões de pessoas da pobreza. E depois é lamentável que sejam os próprios pobres a criticar os apoios que se dão a outros pobres como eles. 

E, nem de propósito, deixo aqui uma análise de uma longa entrevista que saiu no Jornal de Negócios na semana passada à historiadora Josephine Quinn:

“É do interesse dos ricos e poderosos que os pobres e menos poderosos se ataquem entre si”

Os nacionalismos crescentes e os discurso anti-imigração apoiam-se nesse pressuposto?

"Vemos isso acontecer ao mais alto nível político – nos discursos intermináveis de Putin e nos discursos bizarros de Trump, nos comunicados oficiais – e, ao mesmo tempo, assistimos a um movimento mais “popular” de isolacionismo, populismo e, acima de tudo, de medo de contaminação ou até de aniquilação cultural. Esse medo deixa-me furiosa, porque é um medo fabricado e alimentado pelas classes políticas. Parece um movimento vindo das bases, mas não é. Não é do interesse de 99% de nós estarmos a lutar uns contra os outros. É do interesse dos ricos e poderosos que os pobres e menos poderosos se ataquem entre si. Por isso, se conseguirmos pôr de parte a ideia de civilizações fixas, deixa de haver algo “a defender”, algo “a temer”. E já não há propriamente motivo para lutar. Podemos simplesmente viver juntos, neste mundo que é de todos.

(Josephine Quinn)

domingo, 3 de agosto de 2025

Boas Ideias Pelo Clima

 


Não é sempre, mas às vezes tenho boas ideias. 

Hoje estiveram 41º aqui em Gondomar. 

Se acima de trinta graus nenhum trabalhador pudesse trabalhar e o patrão fosse obrigado a pagar, aposto que se começavam a tomar medidas a sério pelo ambiente.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

As Pessoas de Direita Não Fodem?

 


As urgências dos hospitais continuam fechadas e as grávidas continuam a parir em ambulâncias, mas o tema discutido toda a semana - enquanto os filhos da puta dos israelitas matam os palestinianos à fome e os bebés com tiros na cabeça - foi a exclusão da sexualidade das aulas de cidadania. 

No jornal O Público li este excelente título:

"Deus, pátria e família. Sexo não"

De imediato surgiu-me outro excelente título?

"As pessoas de direita não fodem"?

E depois lembrei-me quando a Natália Correia, em 1982, que era deputada pelo PSD, num debate na assembleia da República sobre a despenalização do aborto, em resposta ao deputado João Morgado do CDS, sobe à tribuna para lhe dar uma resposta em forma de poema e em que, segundo se lê sobre o sucedido, as gargalhadas foram tantas que foi preciso proceder à interrupção dos trabalhos. 

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

(Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Camaradas é o Que Somos


Essa é a minha luta e é a luta de muitos camaradas (aprende-se no primeiro dia de redação que “colegas” são as senhoras de má vida, “camaradas” é o que somos).

Margarida Davim / Visão (3 de julho)

sábado, 19 de julho de 2025

É o Que dá Escrever Discursos no ChatGPT, Luís!

 


Eu borrava a minha cara com merda e não saía mais de casa. 

Montenegro quer fazer bonito e cita Sophia, que até foi deputada do Partido Socialista, mas acaba a citar o maior comunista de todos: Saramago!

Mas esta até a burrice artificial já sabe.



sexta-feira, 18 de julho de 2025

Limbo

 O que é o Limbo, papá?

Limbo, meu filho, é o sítio para onde vão os Papeis do Panamá, os clientes da Spinunviva, os ficheiros do Epstein e tudo o resto que se quer enterrar vivo. 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Merditocracia

 Merditocracia é fazeres uma valente merda no ministério da saúde e depois não seres reconduzida mas o governo arranja-te um valente tacho noutro sítio para continuares a tua carreira merdosa.




terça-feira, 15 de julho de 2025

Os Melhores 50 Anos de Sempre

Por estes dias, a separar tralhas para o lixo, dei de caras com um trabalho que fiz na escola e encontrei cópias da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que, recorde-se, em Portugal, só foi ratificada trinta anos mais tarde. Tão simplesmente porque tivemos quarenta e oito anos de ditadura, período no qual o único direito que as pessoas tinham era de estar caladinhas, isto se não queriam que a vida lhes corresse mal. 


Já agora, para recordar como estes últimos cinquenta anos foram os melhores da nossa História basta ler alguns factos na crónica de Filipe Luís na Visão do dia 3 de julho:

"Os últimos 50 anos, período que coincide com o regime democrático, foram, provavelmente, aqueles em que o nível de corrupção, em Portugal, terá sido mais baixo (...) Os cartazes e os discursos populistas – sim, refiro-me ao Chega – que falam de 50 anos de corrupção são desmentidos pelos factos: houve imensa corrupção, como há, em todos os regimes, mas nunca ela tinha sido tão sistematicamente prevenida, investigada e, no final – o mais difícil e, portanto, ainda com caminho para andar –, punida. Os portugueses mais velhos, com boa memória, lembram-se do País da “atençãozinha”, do “empenho”, do untar as mãos ao fiscal, ao polícia de trânsito ou ao simples manga de alpaca das Finanças. Tudo isto ainda se passa? Sim, pontualmente. Mas é muito mais arriscado. Na pirâmide de favores, cunhas e endogamia sistémicos, a dimensão da metástase corruptiva aumentava consoante crescia a importância do detentor do cargo público ou do servidor do Estado, até à dimensão da oligarquia pura e simples. Antes disso, desde os Descobrimentos, passando pela Monarquia Constitucional e pelos desmandos da I República, é bom nem falar. No Estado Novo, a inexistência de imprensa livre e a ficção de uma separação de poderes que não existia eram sinónimo de inexistência, também, de exemplos de corrupção. Claro, nunca apareciam à luz do dia. E até um escândalo sexual, o caso Ballet Rose, em que altas figuras do regime estiveram comprovadamente envolvidas numa terrível organização de pedofilia, quando foi denunciado, pela oposição, à imprensa internacional, valeu aos seus denunciadores perseguições políticas implacáveis, ordenadas pelo governo e pela polícia de Salazar.

# Ao Menos no Tempo de Salazar Não Havia Corrupção

Liverpool Pagou Imposto pela Morte de Diogo Jota

 Nem de propósito, e refiro-me à publicação anterior, para ilustrar como, de repente, parece que "tributo" mudou de significado, vejamos a mesma notícia pelo olhar de dois jornais diários portugueses:

Comecemos pelo tabloide Correio da Manhã: "Tributo - emoção no primeiro dos "reds" sem Diogo". Um gajo lê isto e o que pensa? Pá, mas então mas o Liverpool pagou imposto por causa da morte do Diogo Jota?


Mas depois vemos a mesma notícia tratada pelo Jornal de Notícias:


E percebemos que não era um imposto, mas unicamente uma homenagem!

domingo, 13 de julho de 2025

Tributo é Imposto



"Dois milênios antes do debate atual sobre justiça tributária, a palavra latina “tributum” já queria dizer aquilo que só pés-rapados pagavam.

Tributo é um dos frutos de “tribus”, tribo, divisão do povo romano que, como em outras culturas da Antiguidade, englobava pessoas ligadas por território e parentesco.

Ainda no latim clássico, o sentido geográfico de “tribus” se desdobrou no sentido classista de “povo, classe pobre (em oposição aos senadores e aos cavaleiros)”. As palavras estão no dicionário latino-português de Santos Saraiva, obra do século XIX insuspeita de ser veículo da esquerda populista.


Encontramos o DNA de “tribus” em vocábulos como contribuição (o que se dá para o bem de todos), distribuição (a repartição de algo entre os membros da coletividade), retribuição (o que se devolve em paga a um benefício recebido de outro) e, claro, tribuno (magistrado que defendia os interesses do povo no Senado romano).

No entanto, é no “tributo”, no imposto, na taxação que se revela o fosso estrutural entre quem tem muito e quem tem quase nada. O tributo nasceu em tempos perdidos nas amnésias da história para nomear a grana que os membros mais pobres de uma tribo tinham de pagar à elite, aos donos da terra, para nela poderem trabalhar, fazer negócios, viver.

O tributo se chamava imposto porque era imposto mesmo, de impor, “imponere”.

Sérgio Rodrigues | Folha de São Paulo