"Dois milênios antes do debate atual sobre justiça tributária, a palavra latina “tributum” já queria dizer aquilo que só pés-rapados pagavam.
Tributo é um dos frutos de “tribus”, tribo, divisão do povo romano que, como em outras culturas da Antiguidade, englobava pessoas ligadas por território e parentesco.
Ainda no latim clássico, o sentido geográfico de “tribus” se desdobrou no sentido classista de “povo, classe pobre (em oposição aos senadores e aos cavaleiros)”. As palavras estão no dicionário latino-português de Santos Saraiva, obra do século XIX insuspeita de ser veículo da esquerda populista.
Encontramos o DNA de “tribus” em vocábulos como contribuição (o que se dá para o bem de todos), distribuição (a repartição de algo entre os membros da coletividade), retribuição (o que se devolve em paga a um benefício recebido de outro) e, claro, tribuno (magistrado que defendia os interesses do povo no Senado romano).
No entanto, é no “tributo”, no imposto, na taxação que se revela o fosso estrutural entre quem tem muito e quem tem quase nada. O tributo nasceu em tempos perdidos nas amnésias da história para nomear a grana que os membros mais pobres de uma tribo tinham de pagar à elite, aos donos da terra, para nela poderem trabalhar, fazer negócios, viver.
O tributo se chamava imposto porque era imposto mesmo, de impor, “imponere”.
Sérgio Rodrigues | Folha de São Paulo